Estação Ferroviária de Tavira

Tavira
Estação Ferroviária de Tavira
dístico azulejar de Tavira, em 2004
Identificação: 73320 TAA (Tavira)[1]
Denominação: Estação de Tavira
Administração: Infraestruturas de Portugal (sul)[2]
Classificação: E (estação)[1]
Tipologia: C [2]
Linha(s): Linha do Algarve (PK 371+127)
Altitude: 30 m (a.n.m)
Coordenadas: 37°7′15.41″N × 7°39′20.67″W

(=+37.12095;−7.65574)

Mapa

(mais mapas: 37° 07′ 15,41″ N, 7° 39′ 20,67″ O; IGeoE)
Município: TaviraTavira
Serviços:
Estação anterior Comboios de Portugal Comboios de Portugal Estação seguinte
Porta Nova
V.Real S.Ant
  R   Luz
Faro

Conexões:
Ligação a autocarros
Ligação a autocarros
40 42 49 67 105 121
Serviço de táxis
Serviço de táxis
TVR
Equipamentos: Bilheteiras e/ou máquinas de venda de bilhetes Lavabos Bar ou cafetaria Sala de espera
Endereço: Largo de Santo Amaro, s/n
PT-8800-703 Tavira
Inauguração: 10 de março de 1905 (há 119 anos)
Website:
 Nota: Não confundir com o Apeadeiro de Luz, também conhecido como Luz de Tavira, nem com o Apeadeiro de Conceição, igualmente conhecido como Conceição de Tavira.

A Estação Ferroviária de Tavira é uma interface da Linha do Algarve, que serve a cidade de Tavira, no Distrito de Faro, em Portugal.

Monumento ao emigrante, no exterior da Estação de Tavira.

Descrição

Exterior da gare de Tavira, vista do Largo de Santo Amaro, em 2004.

Localização e acessos

A estação tem acesso pelo Largo de Santo Amaro, na cidade de Tavira.[3][4] Dista cerca de um quilómetro do cais fluvial, na foz do Rio Gilão, onde tem terminal o transporte público de acesso à Ilha de Tavira.[5]

Infraestrutura

Esta interface apresenta apenas duas vias de circulação (I e II) com comprimentos entre 171 e 204 m de extensão e cada uma acessível por plataformas com comprimentos entre 190 e 210 m, ambas mormente com 685 mm de altura; existe ainda uma via secundária, identificada como III, com comprimento de 46 m.[2] O edifício de passageiros situa-se do lado poente da via (lado esquerdo do sentido ascendente, para Vila Real de Santo António).[6][7]

Serviços

Em dados de 2023, esta interface é servida por comboios de passageiros da C.P. de tipo regional tipicamente com treze circulações diárias de Faro a Vila Real de Santo António e doze no sentido oposto.[8]

Mapa do Plano da Rede ao Sul do Tejo, decretado em 27 de Novembro de 1902. O caminho de ferro já chegou até Faro, estando programada a sua continuação ao longo da costa até V. R. de S. António.

História

Ver artigo principal: História da Linha do Algarve

Antecedentes

Até aos princípios do século XIX, o principal meio de transporte na região do Algarve era a navegação costeira, sendo as vias rodoviárias muito deficientes; a situação só começou a mudar com a regeneração, quando são construídas algumas estradas, como a de Tavira a Faro, concluída em 1856.[9] A falta de vias de comunicação colocava uma barreira ao desenvolvimento de vários centros importantes na região, como Tavira.[10] Na década de 1860, são dados os primeiros passos na rede ferroviária no Sul do país, com início no Barreiro, atingindo Faro em 1889.[11]

Entretanto, um alvará de 2 de Dezembro de 1878 autorizou o empresário inglês Joseph William Henry Bleck a construir um caminho de ferro entre Lagos e Vila Real de Santo António, com uma estação servindo Tavira.[10] No entanto, este projecto foi cancelado, tendo a concessão sido considerado como caduca em 19 de Dezembro de 1893.[10]

Planeamento, construção e inauguração

Durante o planeamento da via férrea no Algarve, o deputado Domingos Pinheiro Borges defendeu que o traçado devia seguir as margens da Ria de Faro, passando perto das localidades de Tavira, Olhão, Fuseta.[12]

Horários dos comboios em 1905, onde a estação de Tavira ainda surgia como o terminal da linha no Algarve.

Em 12 de Dezembro de 1903, teve lugar a arrematação para várias empreitadas para a construção da Linha do Sul, incluindo a instalação de uma estação servindo Tavira, que deveria incluir uma gare coberta e outra descoberta, retretes e uma fossa; esta empreitada tinha o valor de 5.800 Réis.[13]

Esta interface foi inaugurada em 10 de Março de 1905, com a categoria de estação de segunda classe, e como terminal provisório da Linha do Sul.[14] A ocasião foi amplamente festejada na cidade, tendo a estação sido enfeitada.[14] No entanto, o primeiro serviço nesta estação só foi feito a 19 de Março, tendo sido um comboio tranvia com origem na estação original de Portimão.[15] Nesta época, a estação situava-se à entrada da cidade, junto ao entroncamento entre a estrada real e o acesso à localidade de Santo Estêvão.[14] Entre 1904 e 1905, foi aberto o Largo de Santo Amaro, em frente à estação,[16] e foi construída uma avenida para melhorar o acesso ao centro de Tavira.[14] Em Agosto de 1905, previa-se a criação de um comboio tramway adicional entre Tavira e Faro, aproveitando uma marcha diária em que uma locomotiva sozinha fazia em cada sentido.[17]

A secção seguinte da linha, até Vila Real de Santo António, abriu à exploração em 14 de Abril de 1906.[18]

Década de 1910

No dia a seguir à Revolução de 5 de Outubro de 1910, o novo governador civil viajou de comboio entre Tavira e Faro.[19] No dia 8 de Outubro, fez-se uma reunião na Câmara Municipal de Tavira, que deliberou que a avenida até à gare ferroviária fosse renomeada para Rua de Lisboa,[20] entretanto[quando?] renomeada como Avenida Dr. Mateus Teixeira de Azevedo, mas da qual remanesce uma travessa afluente com o mesmo nome.[5]

Vista da estação, na primeira metade do século XX.

Após o início da Primeira Grande Guerra, verificou-se, em geral, uma diminuição do volume de mercadorias expedido desta estação.[21]

Ligação planeada a São Brás de Alportel

Durante a primeira metade do século XX, a autarquia de Loulé e outras entidades desenvolveram um esforço para que as localidades de Loulé e São Brás de Alportel fossem melhor servidas pelo caminho de ferro; uma das hipóteses pensadas foi a construção de um ramal entre as estações de Tavira e Loulé, passando por São Brás, cuja construção foi pedida ao governo na sessão de 18 de Janeiro de 1911.[22] Em 23 de Fevereiro de 1923, a autarquia foi convidada para uma reunião conjunta com a de São Brás de Alportel, para debater a construção deste ramal junto do governo.[23]

Um projecto similar foi apresentado pelo escritor José Graça Mira, que defendia a construção de um ramal entre Tavira e São Bartolomeu de Messines, servindo Alte, Salir, Querença, São Brás de Alportel, Santa Catarina da Fonte do Bispo, e Santo Estêvão.[23][24]

Vista da estação, em 2008.

Transição para a CP

No dia 3 de Fevereiro de 1927, durante uma tentativa falhada de golpe militar, os militares de Vila Real de Santo António tomaram um comboio com destino a Faro, passando pela estação de Tavira, onde embarcou o Regimento de Infantaria n.º 4; esta força militar, acompanhada por um grupo civil, tinha ocupado a estação, com o pretexto de a guardar.[25]

Em 11 de Maio desse ano, os Caminhos de Ferro do Estado foram integrados na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que passou a explorar a rede do Sul e Sueste.[26]

Em 1933, a Companhia realizou várias obras nesta estação, no âmbito de um programa de reparação e modernização das antigas interfaces do Estado.[27] No ano seguinte, fez obras de reparação em toda a estação.[28]

Dresina da REFER na estação, em 2008.

Movimento de passageiros e mercadorias

Em Junho de 1969, o Conselho de Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses autorizou a organização de comboios em regime de excursão entre Lisboa e Vila Real de Santo António, que passava por Tavira, Faro e Tunes, de forma a combater a crescente concorrência do transporte rodoviário na região Sul do país.[29]

Em 1972, a estação servia de interface para o carregamento e descarregamento de gado, especialmente do tipo suíno, com destino ao Montijo.[30] As descargas, normalmente de gado vindo do Alentejo, aumentavam entre Agosto e Setembro, quando aumentava a população nesta zona, e, consequentemente, a procura nos talhos; o gado carregado nesta estação destinava-se quase por completo para o Montijo.[30] Também se carregava sal, com destino a Aveiro, e trigo, para Faro, Lisboa e outras localidades com moagens. Estas mercadorias eram normalmente expedidas em grandes volumes (vagões completos).[21] As principais mercadorias recebidas eram adubos (especialmente no Outono), palha, materiais de construção (especialmente cimento), papel (originário de Cacia), azeite, arroz e batatas (para o Quartel da Atalaia), e trigo de semente.[31]

Em termos de passageiros, esta estação foi muito utilizada por grupos de veraneantes, que se deslocavam para Monte Gordo, e também se verificou um tráfego de passageiros considerável com Luz de Tavira, Conceição, Cacela, Olhão, Faro e Lisboa.[32]

Gare de passageiros, em 2004.

Século XXI

Em 2004, esta estação apresentava a tipologia D da Rede Ferroviária Nacional,[33] sendo já C em 2021.[34] Em 2007, um protocolo assinado entre a Rede Ferroviária Nacional e a Câmara Municipal de Tavira preoconizou a eliminação de várias passagens de nível junto à estação.[35]

Uma proposta de 2008 do Projecto Mobilidade Sustentável, organizado pelo Instituto de Dinâmica do Espaço da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, propôs a construção de uma nova interface rodo-ferroviária em Tavira, junto à localização da estação.[36] Em 2008, a Rede Ferroviária Nacional previa executar diversos trabalhos de remodelação nesta estação no ano seguinte,.[37] e em Dezembro de 2011, tinha programadas obras de alteamento das plataformas em várias gares da Linha do Algarve, incluindo Tavira.[38]

Em 2007, a estação contava com um serviço de informação ao público.[39] Em 2009, era servida por três vias de circulação, tendo a primeira 258 m de extensão, e a segunda e a terceira 174 m cada uma; as duas gares tinham 135 e 131 m de extensão e 50 cm de altura.[40] Em Janeiro de 2011, já se tinham verificado alterações nas plataformas, passando a primeira a apresentar 136 m de comprimento e 45 cm de altura, e a segunda, 133 m de comprimento e 40 cm de altura; não se realizaram quaisquer modificações em termos de comprimento de vias.[41] Estes valores foram mais tarde[quando?] alterados para os atuais.[2]

Ver também

Referências

  1. a b (I.E.T. 50/56) 56.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50 : Rede Ferroviária Nacional. IMTT, 2011.10.20
  2. a b c Diretório da Rede 2024. I.P.: 2022.12.09
  3. «Tavira». Comboios de Portugal. Consultado em 29 de Novembro de 2014 
  4. «Tavira - Linha do Algarve». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 21 de Novembro de 2015 
  5. a b OpenStreetMaps / GraphHopper. «Cálculo de distância pedonal (37,12096; −7,65550 → 37,12527;−7,64679)». Consultado em 26 de maio de 2023 : 1030 m: desnível acumulado de +2−24 m
  6. (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
  7. Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1988), C.P.: Direcção de Transportes: Serviço de Regulamentação e Segurança, 1988
  8. Horário dos Comboios : Vila Real de S. António ⇄ Lagos («horário em vigor desde 2022.12.11»). Esta informação refere-se aos dias úteis.
  9. GUITA (2005), p. 13-17
  10. a b c «Há Quarenta Anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1198). 16 de Novembro de 1937. p. 541-542. Consultado em 7 de Março de 2016 
  11. SERRÃO (1980), p. 188-197
  12. MARQUES (1999), p. 390-391
  13. «Arrematações» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (383). 1 de Dezembro de 1903. p. 402. Consultado em 15 de Fevereiro de 2012 
  14. a b c d «Olhão a Tavira» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 18 (412). 16 de Março de 1905. p. 84-85. Consultado em 15 de Fevereiro de 2012 
  15. MARQUES (1999), p. 391
  16. ANICA (1990), p. 12
  17. «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 18 (423). 1 de Agosto de 1905. p. 234-235. Consultado em 15 de Fevereiro de 2012 
  18. MARTINS et al (1996), p. 252
  19. MENDES (2010), p. 25
  20. MENDES (2010), p. 41
  21. a b Cavaco (1976:II), p. 438
  22. FREITAS (1991), p. 303
  23. a b FREITAS (1991), p. 306
  24. PALMA (2009), p. 235
  25. MENDES (2010), p. 80-83
  26. REIS et al (2006), p. 63
  27. «Rêde do Sul e Sueste» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1127). 1 de Dezembro de 1934. p. 593-594. Consultado em 12 de Setembro de 2012 
  28. «O que se fez nos Caminhos de Ferro Portugueses, durante o ano de 1934» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1130). 16 de Janeiro de 1935. p. 50-51. Consultado em 7 de Março de 2016 
  29. MARTINS et al (1996), p. 272
  30. a b CAVACO (1976:I), p. 167
  31. CAVACO (1976:II), p. 439
  32. CAVACO (1976:II), p. 436-438
  33. «Classificação de Estações e Apeadeiros de acordo com a sua utilização». Directório da Rede Ferroviária Portuguesa 2005. Rede Ferroviária Nacional. 13 de Outubro de 2004. p. 81-83 
  34. Diretório da Rede 2021. I.P.: 2019.12
  35. VIEGA, Domingos (26 de Setembro de 2007). «Cinco passagens de nível a eliminar». Expresso. Consultado em 21 de Novembro de 2015 
  36. «Relatório de Propostas: Município de Tavira» (PDF). Instituto de Dinâmica do Espaço – FCSH/UNL. Novembro de 2008. p. 32-34. Consultado em 21 de Março de 2010. Arquivado do original (PDF) em 4 de outubro de 2009 
  37. «Principais intervenções programadas». Directório da Rede 2009. Rede Ferroviária Nacional. 3 de Abril de 2008. p. 92-110 
  38. «Principais intervenções programadas». Directório da Rede 2012 1.ª Adenda. Rede Ferroviária Nacional. 30 de Dezembro de 2011. p. 80-86 
  39. «Anexo 15 - Localização das Instalações de Serviços, Portos e Terminais de Mercadorias». Directório da Rede 2007 - 1.ª Adenda. Rede Ferroviária Nacional. 26 de Junho de 2007. p. 88-91 
  40. «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2010. Rede Ferroviária Nacional. 22 de Janeiro de 2009. p. 67-90 
  41. «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2012. Rede Ferroviária Nacional. 6 de Janeiro de 2011. p. 71-85 

Bibliografia

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  • CAVACO, Carminda (1976). O Algarve Oriental. As Vilas, O Campo e o Mar. I. Faro: Gabinete de Planeamento da Região do Algarve. 204 páginas 
  • CAVACO, Carminda (1976). O Algarve Oriental. As Vilas, O Campo e o Mar. II. Faro: Gabinete de Planeamento da Região do Algarve. 204 páginas 
  • FREITAS, Pedro de (1991). Quadros de Loulé Antigo 3.ª ed. Loulé: Câmara Municipal de Loulé. 523 páginas. ISBN 972-9064-03-2 
  • GUITA, José (2005). Uma Família Algarvia. Quadros de um viver antigo 1.ª ed. Vila Nova de Gaia: Editora Ausência. 149 páginas. ISBN 9789895532100 
  • MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas 
  • MARQUES, Maria; et al. (1999). O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias. Elementos para a sua História. Lisboa: Edições Colibri. 750 páginas. ISBN 972-772-064-1 
  • MENDES, António (2010). Faro. Roteiros Republicanos. Matosinhos: Quidnovi, Edição e Conteúdos, S. A. e Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. 95 páginas. ISBN 978-989-554-726-5 
  • PALMA, Jorge (2009). Dicionário Toponímico: Cidade de Loulé. Loulé: Câmara Municipal de Loulé. 408 páginas. ISBN 978-972-9064-30-2 
  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
  • SERRÃO, Joel (1980). Cronologia Geral da História de Portugal 4.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte. 247 páginas. ISBN 978-972-9064-30-2 
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