Discurso de adeusO Discurso de Adeus ou Discurso de Despedida é um trecho do Evangelho de João, ao final da Última Ceia, que cobre os capítulos 14 ao 17. Nele, Jesus fala aos onze discípulos (Judas já havia saído para traí-lo) na noite anterior à sua crucificação.[1] Este discurso é rico em conteúdo cristológico, reiterando a pré-existência de Cristo (João 17:5) quando ele diz que teve a glória do Pai "antes que houvesse mundo".[2] Estrutura do discursoEmbora todo o trecho entre os capítulos 13 e 18 de João possam ser vistos como uma única narrativa, a maior parte do capítulo 13 pode ser interpretada como uma preparação para o adeus e a oração do adeus no capítulo 17, como sua conclusão.[3][4] Após a introdução em João 13:31–38,[5] o discurso pode ser separado em quatro componentes[6]:
Porém, esta divisão em quatro partes não é universal entre os acadêmicos e alguns afirmam que a terceira começa no início de João 16.[8] Outros estudiosos propõem uma estrutura em três partes, unificando os capítulos 15 e 16 numa única estrutura.[9] A VideiraO discurso inclui uma extensa metáfora de Jesus como a verdadeira videira. Deus é descrito como o agricultor que cuida das videiras e seus discípulos, como seus galhos, que precisam "residir" nele para gerar frutos. Os discípulos são alertados que galhos secos são podados pelo agricultor. Esta imagem foi muito influente na arte e iconografia cristãs. Os discípulos são lembrados do amor de Deus por Jesus e deste por eles (especialmente o "discípulo amado") e são instruídos a "amar um ao outro" da mesma forma. Ele segue falando do "maior amor" sendo a disposição de "dar a vida" por um amigo, sendo esta passagem amplamente utilizada para afirmar o sacrifício dos mártires e dos soldados na guerra, sendo muito comum em cemitérios e monumentos sobre a guerra. O sermão segue falando de Jesus "prometendo outro Paracleto" (em grego: ἄλλο Παράκλητον), um "Espírito da Verdade" que irá "testemunhar sobre" Jesus (João 14:16). Paracleto (ou "Paráclito") vem do grego koiné παράκλητος (paraklētos - "aquele que consola, aquele que intercede por nós, um confortador ou advogado"). Quando a definição dogmática de Trindade se tornou necessária no século III, a passagem se tornou central para os argumentos sobre o papel do Espírito Santo. Argumentos sobre a cláusula Filioque, que foram parcialmente responsáveis pelo Grande Cisma do Oriente entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, girou em torno deste tema também. AutenticidadeO Jesus Seminar defende que João 14:30–31 seria a conclusão do discurso e que os três capítulos seguintes teriam sido inserções posteriores. Este argumento considera do Discurso de adeus como falso e postula que ele teria sido construído depois da morte de Jesus.[10] De forma similar, Stephen Harris questionou a autenticidade do discurso pelo fato de ele aparecer apenas em João e não nos evangelhos sinóticos.[11] Porém, estudiosos como Herman Ridderbos enxergam João 14:30-31 como um "fim provisório" apenas daquela seção e não o final de todo o discurso.[12] Fernando Segovia argumenta que o discurso originalmente consistia apenas do capítulo 14 e que os demais capítulos teriam sido adicionados depois, mas Gary M. Burge contrapõe-se a este argumento reafirmando a unidade teológica e literária da obra e indicando que o discurso tem muito em comum com o Evangelho como um todo, como, por exemplo, nos temas da morte e ressurreição de Jesus e seu cuidado com "os seus".[13] Em 2004, Scott Kellum publicou uma análise detalhada da unidade literária de todo o Discurso de adeus e afirmou que ela prova não apenas que ele teria sido escrito por um único autor como também que sua localização dentro do Evangelho de João é consistente com o restante da obra.[4][14] Manuscritos
Ver tambémReferências
|