Cumbi-Salé
Cumbi-Salé ou Cumbi Salé[1][2] (K(o)umbi Saleh ou K(o)umbi-Saleh) é o sítio duma cidade medieval arruinada ao sudeste da Mauritânia que pode ter sido a capital do Império do Gana. Desde o século IX, os autores árabes fazem menção ao Império do Gana em conexão com o comércio transaariano de ouro. Albacri, escrevendo no século XI, descreveu a capital do Gana como consistindo de duas cidades, com seis milhas de distância uma da outra, onde em uma habitavam os mercadores muçulmanos e na outra o rei do Gana. A descoberta em 1913 duma crônica africana do século XVII que fornece o nome da capital como Cumbi levou os arqueólogos franceses às ruínas de Cumbi-Salé. Escavações no sítio revelaram as ruínas duma grande cidade muçulmanas com casas construídas de pedras e uma mesquita congressional, mas nenhuma inscrição inequivocamente identifica o sítio com a capital do Gana. As ruínas da cidade régia descritas por Albacri não foram encontradas. A datação por radiocarbono sugere que o sítio foi ocupado entre o final do século IX e o XIV. Fontes árabes e capital do Império do GanaO autor mais antigo a mencionar Gana é o astrônimo persa Ibraim al-Fazari que, escrevendo no final do século VIII, refere-se ao "território de Gana, a terra do ouro".[3] O Império do Gana situava-se na região do Sael ao norte dos campos de ouro do Sudão Ocidental e foi capaz de enriquecer mediante o controle do comércio transaariano de ouro. A história precoce de Gana é desconhecida, mas há evidências de que o Norte da África começou a importar ouro da África Ocidental antes da conquista árabe em meados do século VII.[4] Nas fontes árabes medievais a palavra "Gana" pode referir-se ao título real, o nome duma capital ou um reino.[5] A referência mais antiga de Gana como cidade está na obra de Alcuarismi, que faleceu cerca de 846.[6][7] Dois séculos depois uma descrição detalhada da cidade é fornecida por Albacri em seu Livro das Rotas e Reinos que ele concluiu em torno de 1068. Albacri nunca visitou a região, mas obteve sua informação de escritores mais antigos e de informantes que encontrou no Alandalus:
As descrições fornecidas pelos autores árabes carecem de detalhamento suficiente para apontar a localização exata da cidade. De fato, as fontes parece contraditórias com Dreses colocando a cidade em ambos os lados do rio Níger.[6][10][11] A crônica africana muito posterior do século XVII, a Tarikh al-fattash, alega que o Império do Mali foi antecedido pela dinastia Caiamagna (Kayamagna) que tinha como capital a cidade de Cumbi.[12] A crônica não usa a palavra Gana. A outra crônica relevante do século XVII, a História do Sudão, menciona que o Império do Mali veio após a dinastia de Caiamaga (Qayamagha) e que sua capital situava-se na cidade de Gana.[13] Assume-se que a dinastia "Caiamagna" e Caiamaga governou o Império do Gana mencionado nas fontes árabes mais antigas.[14] Na tradução francesa do Tarikh al-fattash publicada em 1913, Octave Houdas e Maurice Delafosse incluíram uma nota de rodapé na qual comentaram que a tradição local também sugeriu que a primeira capital de Caiamagna foi em Cumbi e que a cidade estava na região de Uagadugu, a nordeste de Gumbu sobre a estrada que leva de Gumbu para Néma e Ualata.[15] Sítio arqueológicoSuas extensas ruínas foram relatadas pela primeira vez por Albert Bonnel de Mézières em 1914.[16] Começando com Bonnel em 1914, o sítio foi escavado por grupos sucessivos de arqueólogos franceses. Paul Thomassey e Raymond Mauny escavaram entre 1949 e 1951,[17][18] Serge Robert durante 1975-76 e Sophie Berthier durante 1980-81.[19] Ele localiza-se na região do Sael a sul da Mauritânia, 30 quilômetros ao norte da fronteira do Mali, 57 quilômetros a sul-sudeste de Timbédra e 98 quilômetros da cidade de Nara no Mali. A vegetação é de gramíneas baixas com matagal espinhoso e ocasionais árvores acácias. Na estação úmida (julho-setembro), a chuva limitada preenche algumas depressões, mas para o resto do ano não há chuva e nenhuma superfície com água. Sua principal seção está sobre uma pequena colina que atualmente ascende aproximados 15 metros acima da planície circundante. A colina teria originalmente sido mais baixa e sua atual altura é resultado do acúmulo de ruínas.[20] As casas eram feitas com pedra local (xisto) usando adobe em vez de argamassa[21] e devido a grande quantidade de escombros presentes é possível afirmar que alguns dos edifícios tinham mais que um andar.[22] As salas internas foram bastante estreitas, provavelmente devido a ausência de grandes árvores para produção de longas vigas para apoiar os telhados.[23] As casas foram muito próximas umas das outras e eram apenas separadas por vias estreitas. Em contraste, uma ampla avenida, de 12 metros de comprimento, corria na direção leste-oeste através da cidade. Na extremidade oeste há um sítio aberto, talvez usado como mercado.[24] A principal mesquita da cidade estava centralmente situada na avenida. Ela media aproximadamente 46 metros de leste a oeste e 23 metros de norte a sul e sua extremidade era provavelmente aberta para o céu; seu mirabe, consequentemente, defrontava o leste.[25] A seção superior da cidade cobria uma área de 700 por 700 metros. A sudoeste situava-se uma área mais baixa (500 por 700 metros) que teria sido ocupada por estruturas menos permanentes e ocasionais edifícios em pedra.[26] Houve dois grandes cemitérios fora da cidade sugerindo que o sítio foi ocupado por período prolongado. Datação por radiocarbono de fragmentos de carvão de uma casa perto da mesquita fornece datas no intervalo entre o final do século IX e o XIV.[27] O arqueólogo francês Raymond Mauny estimou que teria acomodado 15 000 a 20 000 habitantes,[28] reconhecendo que a população era enorme para uma cidade no Saara com suprimento limitado de água.[24] A evidência arqueológica sugere que Cumbi-Salé foi uma cidade muçulmana com forte conexão com o Magrebe. Nenhuma inscrição foi encontrada nas ruínas para ligá-la inequivocamente com a capital muçulmana do Gana descrita por Albacri. Contudo, as ruínas da cidade real de al-Gaba não foram encontradas.[29] Isso levou a alguns historiadores a duvidarem da identificação de Cumbi-Salé como capital do Gana.[30][31] Estatuto de Patrimônio MundialO sítio arqueológico foi adicionado à Lista Indicativa do Patrimônio Mundial da UNESCO em 14 de junho de 2001 na categoria cultural.[32] Referências
Bibliografia
|
Portal di Ensiklopedia Dunia