Companhia Vinícola Rio-GrandenseA Companhia Vinícola Rio-Grandense foi uma empresa brasileira produtora e comercializadora de vinho fundada em Porto Alegre em 1929. Nasceu como o braço executivo do Sindicato Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul, criado em Caxias do Sul em 1928. A grande maioria dos acionistas era descendente de imigrantes italianos, os grandes responsáveis pelo florescimento da vitivinicultura no país. Em seu auge, foi a principal vinícola do Brasil. Com uma estrutura sólida, um sistema de produção descentralizado e eficiente, grande capacidade de ação, e contando com um forte apoio do Governo e participação direta dos maiores empresários do setor, sua proposta de modernizar a vitivinicultura desencadeou uma ampla mudança nos hábitos e normas da produção da uva e fabricação do vinho, representando o abandono definitivo da produção artesanal e intuitiva dos imigrantes e a introdução de um sistema industrial e baseado na ciência. Seus vinhos foram muito apreciados em muitos estados do Brasil, criando todo um novo mercado consumidor, pois até então a população brasileira de origem lusa era pouco acostumada com esta bebida. Na década de 1970 iniciou seu declínio, devido ao surgimento de diversos concorrentes de peso, e depois de muitos problemas encerrou suas atividades em 1997, deixando uma marca importante na história da vitivinicultura brasileira. HistóriaFoi fundada em Porto Alegre em 5 de junho de 1929ver nota[1] por iniciativa de José Moraes Vellinho, com o nome de Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda. e um capital inicial de 3 mil contos de réis, com o objetivo de ser o braço comercial do Sindicato Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul, criado em Caxias do Sul no ano anterior. De acordo com seus estatutos, a Sociedade visava defender os interesses dos vinicultores, comprar, fabricar e vender o vinho, e "constituir a indústria capitalista na vinicultura, até então dominada pelo artesanato doméstico ou pelas manufaturas dos comerciantes".[2] Para alcançar esses objetivos, a Sociedade promoveu o aperfeiçoamento, modernização e sanitarização da tecnologia, além de estabelecer uma forte parceria com o Poder Público, fundamental para que a entidade pudesse operar o controle e normatização do mercado e praticamente monopolizar o comércio do vinho estadual, reunindo os maiores produtores, centralizando a produção, sendo isenta do imposto bromatológico e recebendo facilidades para exportação. A empresa usava as cantinas dos associados em Caxias, Bento Gonçalves, Garibaldi, Farroupilha e arredores, e alugava outras, e construiu diversos outros postos de vinificação. Cerca de dois terços dos integrantes da Sociedade eram caxienses.[2][3] No decorrer da década de 1930 sua produção se diversificou, incluindo champanhas, vermutes, sucos de uva, vinhos espumantes, filtrados doces, graspa e bagaceira, e foram iniciados experimentos no vinhedo Granja União para adaptar novas castas europeias ao clima e aos terrenos regionais, com vistas à produção de vinhos finos. Contudo, o esmagador predomínio da Sociedade no mercado levantou protestos dos pequenos produtores e das cooperativas, que se viam prejudicados. Assim, em 1935, quando a Sociedade já dominava o mercado nacional exportando mais de 10 milhões de litros, foi criado, com a participação da Sociedade, o Instituto Rio-Grandense do Vinho, a fim de solucionar o problema da concorrência e qualificar o produto, mas seus objetivos só foram alcançados parcialmente, as exigências técnicas impostas, consideradas rigorosas demais, provocaram o fechamento de muitas pequenas cantinas rurais, e o instituto foi extinto em 1950.[2][3] Até a década de 1950 o principal produto da Sociedade foi o vinho Castelo. Neste período continuava sendo a maior organização nacional no setor vitivinícola, produzindo 32 milhões de litros e exportando 13 milhões. Cada uma das suas unidades dispunha de uma tanoaria para confecção de barris, uma fábrica de garrafas foi instalada em São Sebastião do Caí e uma fábrica de insumos químicos em Caxias do Sul.[4] Foram fundadas filiais em Rio Grande, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador, mas sobretudo foram importantes as filiais de São Paulo e Rio de Janeiro, que constituíam os principais mercados de exportação. Em 1951 foi adquirido um navio para o transporte do vinho, completando o processo de total controle da sua rede distribuidora. Nesta ocasião a razão social foi alterada para Indústria, Comércio e Navegação — Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda. Com o naufrágio do navio em 1957, foi feita uma parceria com cooperativas de Forqueta e Garibaldi para criarem uma empresa de navegação, a Navinsul, que comprou um navio-tanque na França.[2] Na década de 1960 a Sociedade tinha mais de 60 cantinas sob sua direção.[2] Em 1964 abriu seu capital, tornou-se uma sociedade anônima e sua razão social foi mais uma vez alterada, adotando a forma Companhia Vinícola Rio-Grandense S/A., que perdurou até sua extinção.[5] A partir de 1969 foi incrementada a produção de vinhos varietais, mas a sua comercialização era terceirizada. Segundo Anete Jalfim, no período 1929-69 a Companhia foi "a empresa mais dinâmica e inovadora no conjunto das agroindústrias vinícolas do Rio Grande do Sul". Desta época em diante iniciou uma associação com a empresa Martini & Rossi, para a qual a Companhia se responsabilizava por todas as etapas da produção até o engarrafamento, cabendo à Martini rotular e vender sob a marca Chateau Duvalier, que se tornou famosa no Brasil.[2] A Companhia manteve sua linha própria Granja União, que já tinha tradição e um bom mercado no sul do país, especialmente o Granja União Grand Rouge, o Granja União Champanha e o Granja União Moscato Seco, e também permaneciam favoritos no sul o Castelo, o Quinta do Monte, o Parreira, o Campeiro e o Vencedor, vinhos de mesa para consumo mais popular. No fim dos anos 1960 foi contratado o agrônomo Onofre Pimentel, especializado na França, que foi um valioso colaborador na área de prospecção de terrenos adequados para vinhedos finos e combate às pragas da uva, além de coordenar a importação de 150 variedades europeias.[6] O contrato com a Martini propiciou a continuidade da liderança nacional no setor do vinho, com 12 % da produção total,[6] e dominando cerca de 70% do mercado estadual.[5] Se esta parceria por um lado facilitou o escoamento do produto e aumentou sua rentabilidade, teve o aspecto negativo de no médio prazo minar sua capacidade competitiva autônoma no mercado de vinhos finos, do qual a empresa passou a se retirar progressivamente.[2] Em 1979 a Martini quebrou unilateralmente o contrato e deu continuidade à linha Chateau Duvalier, tornando-se um competidor poderoso. Outras empresas importantes também já operavam no setor com grande sucesso, e a crescente concorrência acabou por lhe tomar a maior parte do terreno conquistado, chegando a 1989 com apenas 3% do total da produção estadual. Para contornar as dificuldades, a direção da Companhia procurou diversificar seus interesses, investindo principalmente no ramo imobiliário e vendendo boa parte do seu patrimônio.[2][7] Foi tentada uma revitalização das linhas Granja União e Quinta do Monte, mas com pouco sucesso, numa conjuntura nacional de crise econômica. Em 1990 foram fechadas as instalações no Nordeste, e em meados da década foi feito um grande enxugamento na máquina administrativa e operacional, ao mesmo tempo investindo em publicidade, mas também com resultados insuficientes. Em 1996 foram fechadas as filiais de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Rio Grande, a matriz foi transferida para Bento Gonçalves, e a parte de engarrafamento foi terceirizada. Nenhuma dessas soluções emergenciais foi capaz de evitar os prejuízos, que levaram ao encerramento das atividades em 1997.[7][5] De qualquer maneira, a Companhia marcou época na história do vinho brasileiro, impondo novos padrões de qualidade, inaugurando o cultivo de diversas variedades finas, conquistando um expressivo público que não estava acostumado ao consumo de vinho e exercendo uma influência determinante sobre o mercado.[5][3] Referências
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