Companhia Carris Porto-Alegrense Nota: Para a operadora municipal de Lisboa, veja Companhia Carris de Ferro de Lisboa. Para a operadora de âmbito supra-municipal portuguesa, veja Carris Metropolitana.
A Companhia Carris Porto-Alegrense (conhecida por Carris) é uma das empresas operadoras do transporte coletivo de Porto Alegre, que inclui também os consórcios Viva Sul, Mob, Via Leste e Consórcio Mais. Sua frota é composta por 347 ônibus e atende grande parte da cidade, com cerca de 30 linhas. Fundada em 1872, em 1953 se tornou empresa pública, uma sociedade de economia mista com o controle acionário da prefeitura de Porto Alegre, que detinha 99,9% das ações. A Carris foi considerada pela Associação Nacional dos Transportes Públicos como a melhor empresa de ônibus urbano do Brasil em 1999 e 2001.[1] Em 2021 a sua privatização foi aprovada pela Câmara de Vereadores, entre muitos protestos,[2] e, em 2 de outubro de 2023, foi leiloada para a Empresa de Transporte Coletivo Viamão, de Viamão.[3] Representa, em 2023, 22,4% do sistema de transporte coletivo de Porto Alegre.[4] HistóricoÉ a mais antiga empresa de transporte coletivo do país em atividade, e nasceu graças à autorização do imperador Dom Pedro II, via decreto, publicado em 19 de junho de 1872. Na época, Porto Alegre era uma cidade de apenas 34 mil habitantes e que recém completara cem anos de fundação.[5] Uma primeira empresa havia atuado, de forma precária, com um bonde a partir de 1864, saindo da região da atual Praça Argentina e passando pelas atuais avenidas João Pessoa e Azenha, entrando na rua Botafogo e seguindo pela avenida Getúlio Vargas até a frente da igreja Menino Deus.[6] O primeiro diretor-presidente da Carris foi Themistocles Petrocochino, eleito em assembleia geral dos acionistas. Os bondes foram importados dos Estados Unidos, andavam em trilhos de madeira e eram puxados por mulas ou burros. A garagem ficava na atual avenida João Pessoa. A linha foi inaugurada em 4 de janeiro de 1873, com seis carros embandeirados puxando a primeira viagem oficial, com o presidente da província e o bispo no primeiro bonde.[6] Uma concorrente foi criada em 1893, chamada Companhia Carris Urbanos, que operava as linhas Independência, Partenon e São João. As duas empresas se fundiram em 1906, criando a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, responsável também pela geração de energia elétrica.[6] Em 1908 a companhia inaugurou o serviço de bondes elétricos, que seria desativado somente em 1970, mas manteve o uso de animais até 1914. O período de hegemonia dos bondes foi até a década de 1920, quando começaram a circular os primeiros automóveis movidos a gasolina, querosene ou óleo. Em 1926 passou a oferecer transporte por ônibus. Em 1928 foi comprada pela norte-americana Electric, Bond & Share, recebendo seu nome atual, e em 29 de novembro de 1953 a empresa foi encampada pela prefeitura.[5] A empresa teve no final da década de 1960 diversos Trólebus (ônibus elétricos) que substituíram os bondes, os veículos eram equipados com chassi FNM, carroceria Massari e componentes elétricos Villares. Em 1970 ainda operavam os últimos bondes elétricos, nas linhas Teresópolis, Partenon e Glória. Sua aposentadoria em 8 de março ocorreu com festividades. Nesta década a Carris operou os primeiros ônibus com ar condicionado da história de Porto Alegre, os veículos operavam serviço seletivo que atendia a região do bairro Bela Vista e eram equipados ainda com rodomoça, cafezinho e jornal a bordo. Alguns trólebus que rodaram na cidade paulista de Araraquara pela CTA, pertenceram à Carris e rodaram até a década de 2000. Em 1974 foi implantada uma escola para motoristas.[5] Em 1980 foi implantada a tarifa única. Em 2007 foi introduzida a bilhetagem eletrônica e os veículos passaram a circular com biodiesel. Recentemente foram criadas linhas temáticas. A Linha Turismo no Centro Histórico em 2004; Linha Social para escolares e e entidades sociais em 2009; Linha Territórios Negros em 2010; Linha Bicho Amigo, para animais de famílias carentes, e Operação Balada Segura da Linha C4 em 2011. Neste ano foi inaugurada sua Unidade de Documentação e Memória. Também nesta década foram realizados investimentos em renovação da frota, segurança e conforto dos passageiros e qualificação dos funcionários. A empresa Carris lançou as linhas circulares e transversais da cidade. Foi a primeira empresa de Porto Alegre a utilizar veículos que facilitavam o acesso às pessoas portadoras de deficiência, inicialmente com elevadores hidráulicos.[7] Conforme os balanços financeiros divulgados pela empresa, a Carris registrou déficit de R$ 74,2 milhões em 2016, valor diminuído para R$ 43 milhões no ano seguinte e R$ 19,2 milhões em 2018. Em 2019, a empresa registrou lucro pela primeira vez desde 2012.[8] ReconhecimentoA Carris é a única instituição municipal a conquistar o Prêmio Nacional de Gestão Pública do Governo Federal e, em 2005, obteve o primeiro lugar na categoria Empresa Pública Eficiente da Pesquisa Top of Mind, realizada em Porto Alegre. Em 2014 recebeu o título de Empresa Cidadã, do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro.[5] CorrupçãoEm 2013, uma sindicância interna denunciou a existência de desvios de quase um milhão de reais da Carris por meio de fraude na bilhetagem eletrônica.[9] Em 2018, o Ministério Público divulgou denúncia de que Ivsem Gonçalves, que ocupara cargo comissionado na empresa, desviara R$ 1,7 milhão da empresa através de indenizações pagas indevidamente a um homem falecido.[10] O dinheiro serviu, entre outras finalidades, para realizar doações eleitorais, em nome do falecido, para campanhas de candidatos do MDB, incluindo a do governador José Ivo Sartori em 2016 e a do candidato a prefeito de Porto Alegre em 2016, Sebastião Melo, partido ao qual o denunciado era filiado.[11] Compra de ônibus novosAs maiores aquisições da Carris ocorreram em 1987, quando vieram mais de 50 novos veículos monobloco e com carrocerias Marcopolo e Thamco, equipados com mecânica Mercedes-Benz. Em 2006 com a chegada de 62 novos ônibus Neobus Mega 2006 Mercedes-Benz OF-1722M. Durante todo o ano de 2008, entraram 76 novos, dentre eles Mega 2006 Low Entry com chassi Agrale; Millennium II e Viale, ambos chassi Volkswagen 17-260 EOT; juntos de Urbanuss Pluss Articulado Volvo. Em 2010 houve a aquisição de 82 veículos novos, como Neobus Mega 2006 Articulado Mercedes-Benz O500MA (7 veículos) e Gran Viale Low Entry Volvo e Mercedes-Benz (75 veículos com Ar condicionado). Já a maior aquisição das últimas cinco décadas ocorreu em 2020, com a chegada de 98 ônibus Mascarello Gran Via Midi, com chassi Mercedes-Benz.[12] Em janeiro de 2019, oitenta e três veículos da Carris completaram treze anos e não poderiam mais circular, de acordo com lei municipal alterada no ano anterior, que aumentou de dez de doze anos a vida útil dos coletivos.[13] A empresa lançou edital para erenovação da frota em março,[14] medida seguida de um decreto assinado em maio por Marchezan Júnior para aumentar a vida útil dos ônibus de doze para quatorze anos.[15] Apesar da promessa de que ônibus novos estariam circulando em outubro, a dificuldade em obter financiamento atrasou a compra. Em novembro, a Câmara Municipal autorizou a empresa a contratar quase quarenta e um milhões de reais de crédito para a compra de oitenta e sete ônibus e administração municipal prometeu que os coletivos iriam para as ruas em fevereiro do ano seguinte.[16][17] No entanto, um novo edital foi lançado somente em fevereiro do ano seguinte, no momento em que a legislação obrigava a troca de noventa e sete coletivos.[17] Os novos ônibus só começaram a rodar em agosto de 2020, cerca de um ano e meio depois do prometido pela administração municipal.[18] PrivatizaçãoDurante a campanha, em 2016, Marchezan Júnior negou que tivesse a intenção de privatizar a Carris.[19] Contudo, em junho de 2017, o prefeito afirmou que a Carris poderia ser privatizada.[20] No mês seguinte, ele voltou a sustentar que a empresa deveria ser privatizada ou que deveria licitar linhas.[21] Em junho de 2018, a prefeitura contratou uma consultoria para analisar a Carris e o prefeito novamente defendeu que a privatização era uma das opções para a companhia.[22] O sucessor de Marchezan, Sebastião Melo, deu continuidade ao projeto de privatização. Em meio a muitos protestos de funcionários e comunidade, a privatização da Carris foi aprovada pelos vereadores em 8 de setembro de 2021, autorizando a prefeitura a alienar seu patrimônio e conceder as linhas para privados. As oito emendas, todas da oposição, foram rejeitadas. A prefeitura poderá, também, "ceder, no todo ou em parte, sua participação na sociedade, o controle de ações na bolsa de valores, seu poder de decidir em nome dela e de escolher quem vai comandar a empresa, transformar, fundir, dividir, fatiar, incorporar, liquidar, dissolver, extinguir ou desativar a companhia. Tem o direito, inclusive, de aceitar ser substituída, na hora de gozar de algum benefício ou receber algum crédito proveniente de algum financiamento". Em resumo, o principal argumento foi que a empresa era deficitária e ultrapassada, não tendo conseguido se adaptar às novas demandas contemporâneas.[23] A prefeitura alegou que em 2022 teria de injetar meio bilhão de reais para cobrir as dívidas acumuladas.[5] Mesmo antes de efetivada a privatização, a proposta já vinha recebendo numerosas criticas, uma greve foi organizada pelos funcionários em protesto, circulou um abaixo-assinado, e 16 entidades e sindicatos se reuniram numa Frente Ampla em Defesa da Carris e do Transporte de Qualidade, mas era uma opinião corrente que o transporte público estava com grandes problemas, com envelhecimento da frota, redução acentuada do número de usuários, passagens caras. A prefeitura insistiu na privatização como a única saída possível, e garantiu que a população seguirá sendo atendida sem nenhum prejuízo, mas a Frente Ampla ofereceu diversas alternativas de gestão para reverter a crise e manter a empresa como pública. Os críticos ainda têm muitas incertezas sobre a qualidade e acessibilidade dos serviços nessa nova etapa. A Carris opera 22 linhas e atende 25,3% dos 423 mil usuários de ônibus de Porto Alegre, segundo dados de 2021. Antes da pandemia de covid-19, que reduziu passageiros em todo o mundo, atendia cerca de 193 mil passageiros. É de ressaltar que alguns problemas derivam em parte de contextos mais amplos, como a pandemia e a crise econômica global, mas também foi apontada má administração. Os críticos alegam que os governos recentes têm adotado uma prática de sucateamento deliberado dos serviços públicos para justificar sua concessão à iniciativa privada, organizando um grande programa de desestatizações.[2][24][25][26][27] O Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União no Rio Grande do Sul publicou nota alegando que as justificativas oficiais são mentirosas e parte de um processo "que faz ressonância ao desmonte promovido no âmbito federal pelo governo de Jair Bolsonaro". A Carris é "um patrimônio da cidade e fundamental para a busca pela democratização do transporte". Fabrício Loguércio, diretor do sindicato, disse que "a luta em defesa da Carris pública é, na verdade, uma luta em defesa do transporte público. A Carris, fundada em 1872, já foi exemplo de transporte público. Ganhou prêmios de melhor empresa de transporte coletivo do Brasil. Sempre serviu pra regular o sistema em Porto Alegre. Porém, após uma sequência de gestões desastrosas, com vários escândalos de corrupção (segundo a mídia), foi sendo sucateada. Apesar de tudo isso, ainda é a melhor de Porto Alegre".[2] Para André Augustin, do Observatório das Metrópoles,
Em 2 de outubro de 2023, a prefeitura realizou a sessão pública de leilão da Carris. Com uma proposta de R$ 109.961.560,00 (R$ 100 mil acima do lance mínimo, após ter oferecido somente R$ 2 mil a mais), a Viamão venceu a disputa. A segunda interessada, Viação Mimo, de Várzea Paulista, foi desclassificada por não apresentar a documentação necessária para as garantias do negócio.[4] O valor acertado deverá ser pago em 121 parcelas. A concessão por duas décadas inclui venda de ações e bens (ônibus e terrenos) e a operação de 20 linhas.[3] PresidentesOs presidentes da Carris são nomeados pelo prefeito de Porto Alegre.
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