Casa de Criadores
A Casa de Criadores é o principal evento dedicado à moda autoral brasileira e também lançador de novos talentos. Trata-se de uma plataforma emblemática onde tendências e debates são experimentados e discutidos num ambiente inclusivo em que estilistas, artistas e profissionais do mercado produzem, provocam e criam coleções, desfiles e imagens que retratam suas existências, suas causas e seus trabalhos. Foi na Casa de Criadores que questões sobre gênero, raça, inclusão, sustentabilidade, empreendedorismo, responsabilidade social, novas tecnologias, novos formatos, arte, cultura e até mesmo arquitetura surgiram com força e propriedade nesse cenário, elevando o conceito e a busca por uma moda genuinamente nacional. As edições presenciais do evento acontecem duas vezes por ano na cidade de São Paulo e, desde 2020, a plataforma tem promovido edições híbridas (com transmissão ao vivo) através de seu site oficial. HistóriaO evento surgiu em maio de 1997, quando um grupo de jovens estilistas decidiu, em parceria com o jornalista, diretor artístico e curador André Hidalgo, promover um evento para lançar suas coleções. O objetivo principal era o de criar um espaço que permitisse a estes estilistas uma proximidade maior com o mercado da moda brasileira. Desde o começo o foco sempre foi a criação autoral genuína e a revelação de novos talentos que, a partir do evento, tivessem a oportunidade de impulsionar suas carreiras. Centrado, inicialmente, num movimento nascido na cena underground paulistana que aliava moda, comportamento e música eletrônica, a Casa de Criadores ampliou seu universo e foi incorporando estilistas e criadores de outros estados brasileiros -nos mais variados estágios de carreira.[1] Desde então, a Casa de Criadores já lançou e/ou projetou nomes como Isaac Silva, Rober Dognani, Vicenta Perrotta, Marcelo Sommer, Cavalera, Ronaldo Fraga, Jum Nakao, Another Place, Neriage, André Lima,[2] Karlla Girotto, Lorenzo Merlino, Fábia Bercsek, Fernando Cozendey, Rita Wainer, Juliana Jabour, Walério Araújo, Guma Joana e João Pimenta entre várias outras marcas de expressão no cenário da moda nacional.[3] O evento acontece em locais que, em geral, são ícones arquitetônicos da cidade São Paulo. No livro História da Moda no Brasil,[4] os historiadores João Braga[5] e Luis André do Prado ressaltam essa característica. "Ao longo de sua trajetória o evento percorreu diferentes espaços, fechados ou mesmo ao ar livre, como o Viaduto do Chá[6] (em 2005) ou a quadra do Estádio do Pacaembu.[7] Em 2006, ocupou a Galeria Prestes Maia[8] (Masp Centro), com a escadaria servindo de passarela". A Casa de Criadores também já realizou duas edições no Memorial da América Latina,[9], no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e na Praça das Artes e o Centro Cultural São Paulo (CCSP), entre diversos outros. A plataforma também já realizou importantes trabalhos ligados à área social, como a campanha Homofobia Fora de Moda,[10] promovida em parceria com a Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo[11] (Gêneros e Etnias)[12] e o concurso BtoBe,[13] voltado a jovens profissionais do mercado de moda, feito em conjunto com a Abit[14] (associação brasileira da indústria têxtil), com o programa Texbrasil[15] e com a agência Apex Brasil,[16] do governo brasileiro. EdiçõesAté hoje foram realizadas 52 edições da Casa de Criadores, todas em São Paulo, mantendo a tradição do evento em itinerar pelos mais diversos pontos e ícones arquitetônicos da cidade.
Instituto Casa de CriadoresOrganização sem fins lucrativos, braço educacional da Casa de Criadores para a promoção de cursos, oficinas, palestras e workshops.[33]
O Instituto promoveu, em 2022, o curso gratuito e online "Qual Moda Para Qual Mundo",[34] com duração de seis meses, voltado para 300 alunos de todo o Brasil, feito para pensar e produzir moda desde as perspectivas e desafios macro e micro políticos do contemporâneo. Essa primeira edição teve como professores e curadores nomes como Erika Palomino, Goya Lopes, Gustavo Silvestre, Hanayra Negreiros, Jota Mombaça, Maurício Ianês, O-e Kaiapó, Silvio Almeida, Suely Rolnik e Vicenta Perrotta, entre diversos outros.
Segundo seus idealizadores,[35] a missão do Instituto é "criar novas bases para a educação em moda e design no Brasil a partir de um entendimento de que não há um centro do mundo nem uma cultura que deva servir de base colonizadora para todas as demais. Escutar e transformar a partir de culturas que têm sido sistematicamente silenciadas. Democratizar o acesso ao estudo e à pesquisa cultural, não por meio de mecanismos de “inclusão” ditos neutros, mas tendo como guia a demanda social para que a voz de grupos oprimidos e subalternizados seja ouvida e possa pautar novas manifestações de moda e design que não se acovardem diante das questões e conflitos de seu tempo. Investir em processos que abram caminho para novas gerações de criadores em condições e dinâmicas que considerem os fundamentos e o desenvolvimento de uma economia solidária".
Divulgado no site oficial, esse é seu estatuto:[36] "O Instituto Casa de Criadores nasce como um espaço de ocupação e semeadura para novas formas de compreender, transmitir e fazer moda. Entendemos a criação não como ato simplesmente individual ou a serviço de um mercado, mas como algo atravessado por uma dinâmica de afetos capaz de enlaçar relações pessoais, sociais, políticas e econômicas. Nesse contexto, desejamos promover novos encontros a partir de uma reorganização radical de saberes. É nosso dever fomentar e desenvolver pesquisas e dispositivos de escuta no sentido de transformar nossa prática educacional coletiva em um espaço fértil e extremamente permeável a linguagens, lógicas, estéticas, tecnologias, histórias e formas de organização e afetividade que têm sido sistematicamente marginalizadas, corrompidas e silenciadas. Acreditamos em uma formação permanente, não no sentido de um monumento sólido e inteiro, mas de algo em constante movimento, algo que encontra sua verdade no processo vivo de construção. Um processo que enxerga diferenças, desvios, obstáculos e contradições como espaços de disputa na luta contra a desigualdade de direitos e suas estruturas colonizadoras. Nesse sentido, nossas iniciativas, que poderão se apresentar nos mais variados formatos e propostas, devem ser pensadas para abraçar um público cada vez mais amplo, com o compromisso inegociável de chegar às pessoas que mais sofrem com os mecanismos de segregação econômica, racial e de gênero. Mais do que projetos gratuitos e acessíveis, o Instituto quer criar espaços de mudança e de abertura para novas ideias e outros paradigmas de protagonismo. Ocupação artística, ocupação cultural, ocupação criativa, espaço onde a partir de vazios, excessos, transbordamento e transformação algo de novo possa se fazer dizer. Hackear as velhas estruturas da moda, analisar, absorver, derrubar, reprogramar, destruir para recriar em outras bases comuns. Nosso trabalho é direcionado a artistes e estilistes, mas também a outres profissionais do setor. Acreditamos que modelagem, costura, pilotagem e tantas outras áreas desvalorizadas e subalternizadas em um mercado de status elitista devem ser reconhecidas em seu lugar verdadeiro de extrema importância criativa. Contra a gestão social do medo e do apartheid afetivo, apostamos na potência radicalmente solidária da criação e da arte, em todas as suas possibilidades e também em seus horizontes impossíveis. Acreditamos que o caminho da utopia está conectado ao fluxo da coragem. É esse o compromisso que assumimos."
Coordenadoras Pedagógicas
Fashion MobEm 2009, a Casa de Criadores lançou o evento Fashion Mob,[37] a primeira passeata de moda do Brasil. Com caráter democrático, uma vez que acontece no meio da rua e é gratuito, o Fashion Mob é anual e aberto a quem quiser participar, estudantes, costureiras, profissionais de moda etc. É um desfile a céu aberto promovido pelas ruas do centro da cidade de São Paulo e é também um concurso, já que o vencedor passa a integrar o casting de estilistas e marcas que desfilam na Casa de Criadores. De seu júri, participam nomes da moda brasileira como a editora e apresentadora Lilian Pacce (presidente do juri), a empresária Costanza Pascolato, o estilista Dudu Bertholini, a editora Erika Palomino, o empresário Alberto Hiar (Cavalera) e o estilista João Pimenta, entre vários outros. Referências
Ligações externas |
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