Associação Feminina Portuguesa para a Paz
Associação Feminina Portuguesa para a Paz foi uma associação pacifista feminina criada em 1935 e dissolvida pelo Estado Novo em 1952. Teve delegações em Lisboa, Coimbra e no Porto. Declarava-se apolítica e não religiosa, sendo, no entanto, muitas das suas sócias antifascistas. As suas actividades envolviam missões de ajuda a exiladas/os de guerra, palestras, exposições, saraus culturais e outros eventos culturais como forma de divulgarem os princípios da Paz Universal. Na última década de existência o carácter oposicionista acentuou-se em resposta ao aumento da repressão (geral e particular contra movimentos de mulheres não próximos do regime). Publicou um órgão de informação, o Boletim da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e contou com um coro infantil dirigido por Francine Benoît. HistóriaCriada a 10 de Novembro de 1935, e homologada pelo Governo Civil de Lisboa a 8 de Fevereiro do ano seguinte, a Associação Feminina Portuguesa para a Paz (AFPP) foi inicialmente constituída em Lisboa, com sede provisória na Rua de Passos Manuel, nº 20, e mais tarde na Rua Latino Coelho, nº 25, 2º andar, por um conjunto de vinte mulheres activistas, jovens e alunas de cursos superiores, que atentas às "constantes ameaças que pairam sobre o mundo e põem em sobressalto o coração de todas as mulheres - esposas, mães, filhas, irmãs e noivas - que teriam a lastimar, mais uma vez, a sorte dos seus entes queridos"[1], decidiu unir-se e trabalhar para o desenvolvimento da Paz Universal.[1] Coincidindo com o eclodir da Guerra Civil em Espanha, e no rescaldo de constantes crises políticas em Portugal, que demarcaram o fim da Primeira República e a ascensão do Estado Novo, a associação feminina inicialmente tomou como seu principal objectivo a procura de soluções para espalhar ideias de paz e de solidariedade humana, "desviando o espírito da mocidade de preocupações bélicas", através da realização de conferências, saraus, exposições, projecções cinematográficas e a organização de uma biblioteca, entre outras actividades de cariz cultural e educativo. Anos mais tarde, em finais de 1942 e princípios de 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, e devido a uma proibição do estado português, a AFPP que contribuía no envio de bens, encomendas e donativos para os campos de concentração e zonas devastadas pelo conflito, viu-se obrigada a cessar as suas acções solidárias e a concentrar-se novamente no campo cultural nacional. Com a adição de novos membros, tomaram em plenário a decisão de aceitar como nova missão a formação cultural da mulher. Defendendo que era na família que se desenvolviam os valores do pacifismo e que a mulher para além de mãe, filha e esposa, era também educadora e membro interveniente e pró-activo da sociedade, passaram a abordar a luta pela melhoria da condição de vida das mulheres em todas as esferas da sociedade portuguesa, a igualdade de direitos e liberdades constitucionais, o combate ao analfabetismo, à fome, à doença, ou ainda à pobreza nas suas palestras culturais[2], para além da realização de cursos de dactilografia, cultura musical, francês, inglês, enfermagem e puericultura. Sendo um espaço legal e autónomo de cidadania entre mulheres, de cariz feminista, apolítico e não religioso, a associação que funcionava como ponto de encontro e discussão entre muitas mulheres que não se enquadravam na linha ideológica dos outros espaços ou instituições femininas criadas ou apoiadas pelo Estado Novo, tais como a Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN) ou a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF), não se opunha à participação e inscrição de sócios do sexo masculino, sendo contemplado nos seus estatutos as categorias de sócios auxiliares e honorários para aqueles que quisessem dela fazer parte e contribuir para a sua causa.[3] Não era portanto caso raro encontrar, entre os seus sócios, militantes comunistas ou antifascistas, ou ainda, entre as suas sócias efectivas, figuras proeminentes da causa feminista, sendo a grande maioria afiliada noutros movimentos republicanos, democráticos ou sufragistas, como o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), o Movimento de Unidade Democrática (MUD), ou ainda nas campanhas políticas de Norton de Matos e de Ruy Luís Gomes.[4] Por esse motivo, durante os seus anos de actividade, e com a intensificação de poder do Estado Novo em Portugal, a associação feminina sofreu um forte escalar de restrições e perseguições pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), levando finalmente ao seu encerramento e proibição de actividade em 1952. A organização que contava com dezassete anos de existência, tornou-se então na última grande associação feminista a fechar as portas, durante o Estado Novo. MembrosNa sua lista de sócios efectivos, auxiliares e honorários, constavam os nomes de figuras proeminentes da sociedade portuguesa como Maria Barroso, Virgínia Moura, Maria Lamas[5][6], Stella Piteira Santos[7], Maria dos Santos Machado[8], Francine Benoît, Maria Isabel Aboim Inglês, Ilse Losa[9], Eurico Tomaz de Lima, Vitorino Nemésio, Irene Lisboa[10], Maria Palmira Tito de Morais, Maria Alda Nogueira[11], Maria Candida Ventura[12], Amélia Cal Brandão, Maria Lúcia Vassalo Namorado, Manuela Porto, Laura Lopes[13], Maria da Graça Amado da Cunha, Maria Lucília Estanco Louro[14], Teixeira de Pascoais[15], Elina Guimarães, Lima de Freitas, Júlio Pomar, Ruy Luís Gomes, Joao Maia de Loureiro, Mário Dionísio. Referências
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