Esta série caracteriza-se por não dar uma grande atenção aos detalhe mas por outro lado apresentar uma história bastante rica e realista. Foi na altura um bom ensaio para fazer uma série policial com conteúdo credível mesmo com um orçamento baixo. Foi usada ainda como chamariz para a estreia da "nova" RTP2, canal que foi autonomizado em 1979 e que até então era um mero retransmissor da emissão da RTP.
Sinopse
Lisboa, 1979. Depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, a liberdade trouxe alguns aspectos menos positivos. A cidade tem os seus meandros sujos, com "histórias" da noite (e do dia…), crime, negócios escuros, traficantes de droga, assassinos e pirataria e é aí que entra o Zé Gato.
Zé Gato (Orlando Costa) é um agente de Polícia, cínico e conhecedor destes meandros. Caracteriza-se pela sua rectidão, coragem e pelos métodos pouco ortodoxos que usa para apanhar os criminosos. Não era comum na altura o trabalho sob disfarce e quando tinha de bater em alguém também o fazia. Uma das suas marca mais características é fazer "dançar" uma moeda pelos seus dedos.
O seu chefe é o Inspector Duarte (António Assunção). Austero, exigente e sempre com "duas pedras na mão". No fundo acabava por apreciar o seu subordinado pela sua coragem e confiava nele para os casos mais perigosos que chegaram mesmo a ser arriscados e que exigiam esperteza e subtileza. O superior de Duarte é o comissário da polícia (Baptista Fernandes).
O principal informador de Zé é um marginal com a alcunha de "Matrículas" (Luís Lello). Com aquele jeitinho de "desenrasca" e vendedor ambulante tipicamente português (os "negócios" de ocasiao e os menos claros, os totobolas…). É o melhor amigo de Zé fazendo-lhe favores que põem em risco a sua própria vida (num episódio, Zé é internado num hospital - depois de o tentarem matar - e é Matrículas que marca presença numa das suas operações policiais). Trata Zé e Duarte com respeito, chamando chefe a Zé e Senhor Doutor ou apenas Doutor a Duarte.
Um outro grande amigo de Zé é um ex-Agente a quem Zé trata por "Mestre" (Canto e Castro). Já reformado, é como um guru para Zé, dando-lhe dicas e conselhos de como prosseguir o seu trabalho da melhor forma.
Tal como outras realizações de Rogério Ceitil da altura a série teve poucos meios e ainda era gravada em rolos de filmes. Na abertura indica que se trata de "um filme de Rogério Ceitil" até porque era produzida pelo Centro Português de Cinema. [1]
A elevada quantidade de falhas tinham de ser colmatadas no decorrer das gravações devido à falta de meios e de dinheiro por parte da equipa técnica de Rogério Ceitil.
Rogério Ceitil comprava constantemente rolos de fitas de filmes para a câmara que gravava a série pois o gasto da fita de rolo dependia da forma como os atores se comportavam. Se houvesse algum engano por parte do ator, o rolo era gasto mais depressa por ser necessário cortar uma pequena parte do rolo onde havia a falha do(s) ator(es) por isso era muito importante que os atores fizessem bem as cenas à primeira.
Os 12 primeiros episódios apresentam denominadores comuns (Há um crime a decorrer/ Zé investiga e intervém/ Zé pede conselhos a Mestre/ Zé pede favores a Matrículas/ Zé é admoestado por Duarte/ Zé e Duarte agem perante o caso/ Zé enfrenta "de peito aberto" os bandidos/ Zé sai - quase sempre - vitorioso).
O último episódio ("O Agente Americano") é totalmente humorístico. Neste, Duarte (António Assunção) recebe uma ordem do comissário (Baptista Fernandes) para ir receber um suposto agente do FBI (Rui Mendes) e servir-lhe de cicerone na visita à cidade de Lisboa.
A forma como o episódio está escrito, a forma como ambos os actores (António Assunção e Rui Mendes) se entrosavam, o facto dos "gags" serem de facto hilariantes, revela que poderá ter estado na origem da série "Duarte e Companhia" que foi da autoria da mesma equipa de escrita e realização (Rogério Ceitil, João Miguel Paulino, etc.) e que teve os dois actores como protagonistas.
Curiosidade
Duarte e Companhia também teve bastantes atores em comum com Zé Gato. Os atores António Assunção e Canto e Castro e o referido Rui Mendes do episódio: o agente americano), Ema Paul (episódio: A Vermelhinha), Baptista Fernandes (episódios: O Inquérito e o agente americano) e ainda Luís Alberto (episódio: Lembras-te, José). Orlando Costa foi escolhido pelo realizador Luís Filipe Costa para uma pequena participação na série Uma cidade como a nossa de 1981 onde voltou a desempenhar o mesmo papel.
A união de Luís Lello e António Assunção
Como Orlando Costa estava internado no hospital acontece uma maior união entre Matrículas e o Inspetor Duarte. A união deles no episódio A Vermelhinha teve alguns toques de comédia pois Duarte (António Assunção) disfarça-se de marginal e joga à vermelhinha e ainda desafia os participantes que queiram entrar na aposta. Também quando está com duas raparigas fala de uma forma bastante cómica e diz que veio de França para Portugal. Essas cenas cómicas teriam ajudado à ideia de Rogério Ceitil, a fazer a união de Rui Mendes e António Assunção no último episódio.
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Inicialmente esteve para se chamar Um Gato no Caixote do Lixo mas depois o título foi abreviado para simplesmente Zé Gato.[3]
Foi produzida para a RTP pelo Centro Português de Cinema, extinta cooperativa cinematográfica, com a assinatura de Rogério Ceitil.[3]
A série começou por ser exibida nas noites de quinta-feira, na RTP2. Estreou a 6 de dezembro de 1979.[4]
No decorrer das filmagens, Orlando Costa sofreu um acidente e partiu uma perna, o que o impediu de prosseguir com o ritmo normal das gravações. A exibição da série teve de ser interrompida após o 6º episódio (exibido em 17 de janeiro de 1980) e voltou a ser exibida cinco meses depois mas agora às terças-feiras mas ainda no mesmo canal. Nos episódios 5 e 6, Zé Gato teve uma participação pouco activa, pois Costa encontrava-se numa cama de hospital.[3]
Muitas vezes a imprensa referia-se aos episódios 7 a 13 como uma segunda série mas Rogério Ceitil esclareceu: “Não gostaria de dividir a série em duas partes, pois considero ser uma divisão fictícia, provocada por um acidente de percurso que foi o Orlando Costa partir uma perna”.[3]
Devido às datas em que foi exibida, a série teve a sua primeira parte exibida a preto e branco, enquanto que quando voltou ao ar em junho de 1980, as emissões já eram feitas a cores.[3]
O episódio Uma pessoa importante, cujo tema era a pirataria discográfica, contou com a participação de Paulo de Carvalho, Carlos Vidal e Tozé Brito, no papel de cantores cujas atuações num bar eram gravadas e vendidas em cassetes piratas. [1]
Também Manuela Moura Guedes marcou presença, como cançonetista de um bar no episódio Baptismo de Fogo
Manuel Luís Goucha, que na época se dedicava à representação, aparece no episódio A vermelhinha.
Uma das histórias foi gravada em Macau, preenchendo a segunda metade do episódio Liberdade condicional.[3]
O genérico da série foi imortalizado com o tema interpretado por Pedro Brito, e que foi lançado em single. Mais recentemente, foi incluído na coletânea O melhor dos anos 80 – as músicas dos filmes.
O famoso refrão (“Quem és tu, Zé Gato, e o que te faz correr pelos cantos mais sujos desta terra…”) foi adaptado para o genérico do programa "Zé Carlos", dos Gato Fedorento, que estreou na SIC em outubro de 2008. A letra foi transformada em: “Quem és tu, Zé Carlos, e o que te faz ir pró ar aos domingos…”.
Zé Gato marcou um ponto de viragem na produção televisiva portuguesa. À semelhança de "Retalhos da Vida de um Médico", que foi para o ar na mesma época. Foi considerada uma das primeiras séries de ficção nacional a obter um êxito assinalável junto do público.[3]
Um outro facto inédito foi ter sido feita a produção de um episódio piloto para avaliação por parte da RTP.[3]
O último episódio de Zé Gato (onde, inusitadamente, Zé Gato não aparece!) foi, na sua concepção, bastante diferente dos outros. Aqui desabrochava a ideia para uma das séries de maior sucesso da RTP: Duarte & Cª…[3]
Luís Lello, o intérprete do caricato Matrículas, faleceu em Dezembro de 1980, pouco tempo após o término da série.[3]
A série foi reposta na RTP1 em 1984, nas férias da Páscoa, e em 1986, no verão.
A série tem sido reposta regularmente na RTP Memória. Foi reposta em 2016, às 8:30 e com repetição às 22:00 e em 2017 às 20h00. Ambas as vezes após a reposição da série Duarte e Companhia.
Em 2019, os episódios foram todos remasterizados e disponibilizados na RTP Arquivos, passando assim a poder ser vista em qualquer altura.
Armas usadas em Zé Gato e Duarte e Companhia
Em Fevereiro de 2013, a PSP de Vila Franca de Xira apreendeu em casa de Rogério Ceitil na freguesia de Alhandra, um revólver de calibre .32 e uma espingarda de cano liso ('shotgun') de calibre 12 utilizadas nas filmagens das séries Zé Gato e Duarte e Companhia, entregues voluntariamente pelo produtor. O produtor manifestou a vontade de as armas ficarem expostas em algum local, tendo em conta o seu valor histórico.