Vila Dianteira
Vila Dianteira é uma aldeia portuguesa da Freguesia de São João de Areias, Município de Santa Comba Dão, no Distrito de Viseu, em Portugal. Não se conhece a origem do seu nome. É tradição, entre os naturais de Vila Dianteira, escrever Vila Deanteira. O nome Vila Deanteira poderá ser decomposto em “Vila de Anteira”. O termo Anteira derivará de «anta» + eira, correspondendo, por isso a uma edificação dolménica. O termo Vila remontará ao período romano. Teríamos então uma "villa" num local onde já existia uma anta. Neste facto, residiria a tradição, entre os naturais da aldeia, de escrever Vila Deanteira em vez de Dianteira e de no mais antigo documento que a cita, as "Inquirições de D. Afonso III", se escrever "villa d'anteyra”. O padroeiro é São Silvestre. GeografiaO território de Vila Dianteira situa-se entre S. João de Areias (a Sudeste e a Sul), o limite com a freguesia de Parada/ Carregal do Sal (a nascente), Guarita e Casa Nova (a Norte) e Cancela (a Oeste). A aldeia formou-se ao longo da antiga estrada que ligava Cancela e Silvares a S. João de Areias e que daí seguia para Tábua, isto desde muito antes de, no último quartel do século XIX, se construir a também já antiga estrada entre a Cancela e Tábua, que passava pela ponte antiga do rio Mondego. Duas primitivas estradas que vinham, respectivamente, da Cancela e do Sardoal/Silvares encontravam-se na Quinta da Formiga e, daí, a estrada única seguia pela Chave até ao Cimo do Povo, depois descia o “povo de cá”, atravessava o pontão velho junto ao Serradinho (ainda não existia o actual pontão que só foi construído na década de 30 do século XX) até à capela de S. Silvestre, seguia ao longo da casa de Silva Carvalho para o Povo d’ Além e depois ia em direcção ao Cemitério e, atravessando S. João de Areias, seguia para Tábua. Foi ao longo desta estrada que, talvez desde os séculos VIII-IX, foram sendo construídas as primeiras casas que, ao longo dos séculos seguintes, a foram ladeando e depois se foram ramificando para ruelas secundárias e para outras vias que entretanto se foram abrindo. Vila Dianteira tem a felicidade de ser atravessada por um ribeiro, um fio de água no Verão e um turbilhão no Inverno; num mapa antigo é denominado pelo belo e poético nome de Ribeiro da Rainha, que nasce nas Relvas, passa por Vila Dianteira e vai desaguar na Ranha. A aldeia possuía um importante património botânico, tanto pela variedade como pela existência de notáveis exemplares de árvores centenárias, que foram, no entanto, desaparecendo… HistóriaVila Dianteira teve uma origem remota, como provam os vestígios arqueológicos encontrados na área das Regueiras, da Roda, do Coturo/Barrocas e das Lajes. Até ao momento não são conhecidas evidências da Pré-História, mas nos sítios arqueológicos referidos encontram-se abundantes vestígios da Época Romana e da Alta Idade Média: materiais de construção e de cerâmica romanos, um possível “penedo de culto” e, ainda, um conjunto de 9 sepulturas escavadas na rocha. É certo, por isso, que na Época Romana por aqui tenha existido uma Villa Romana, que amanharia os terrenos férteis e muito irrigados do vale inicial do ribeiro de Vila Dianteira, englobando as Regueiras, a Dégua, as Pocinhas e as Lajes, e que, nos séculos seguintes, continuaram a ser cultivados e constituíram a grande Quinta Alto-Medieval, propriedade de uma família alargada, rica e culta, que mandou abrir num penedo uma importante necrópole constituída por 6 sepulturas escavadas na rocha onde se sepultaram os membros dessa família, sendo que uma dessas sepulturas foi aberta para uma criança de cerca de 4-5 anos. Nesta altura, o povoamento era disperso por quintas e casais, que aproveitavam as melhores terras, onde residiam proprietários que viviam bem e se davam ao luxo de mandar abrir sepulturas escavadas na rocha para aí descansarem “para sempre” e que eram ajudados por um grupo de trabalhadores dependentes, certamente a maioria escravos. Num período de desorganização da gestão do território, por volta de finais do século VIII, primeira metade de IX, ter-se-á formado a aldeia de Vila Dianteira com pessoas que se autonomizaram da grande quinta das Regueiras e dos casais aqui existentes e vieram construir a sua habitação, certamente humilde, coberta de palha, ao longo do antigo caminho entre Silvares e S. João. Por esta altura forma-se também a Paróquia de S. João Baptista e os “concelhos” de S. João de Areias e de Silvares. O primeiro documento escrito em que é mencionado o nome de Vila Dianteira consta das Inquirições de D. Afonso III e data de 1258. Nele se escreve que "villa d'anteyra" pertencia, com outras aldeias da actual freguesia, ao bispo e à Sé de Viseu, por doação que lhes fizeram os reis de Portugal. Sendo assim, estas terras tinham que pagar as respectivas rendas ao bispo e cabido de Viseu. Vila Dianteira volta a ser referida em documentos medievais datados de 1331, 1347, 1391 e 1396. O documento de 1347, a Inquirição de D. Afonso IV ao couto de S. João de Areias, apresenta o nome de vários homens da aldeia que tinham pertencido aos cargos concelhios, tendo mesmo alguns exercido o cargo de Juiz do Concelho de S. João de Areias, uma espécie de presidente da câmara, mas com funções judiciais e administrativas. O culto a S. Silvestre na aldeia deverá remontar à Idade Média e, em finais desta época ou no início do século XVI o povo de Vila Dianteira terá encomendado em Coimbra uma nova imagem do santo (que é a que ainda actualmente se venera e é muito querida da população). A capela que a recebeu era ainda a antiga, mais pequena do que a actual. O "Cadastro da População do Reino", de 1527, indica-nos que "villa diamteyra" possuía 19 “moradores", ou seja, 19 fogos, tendo por isso uma população de cerca de 76 pessoas. Nos séculos seguintes, XVII e XVIII, vive-se um período de grande apogeu na aldeia: destacam-se as famílias dos Capitães-mores (casa de Dona Georgina), do Dr. Caetano de Carvalho (avô do Dr. José da Silva Carvalho) e do capitão José Correia de Almeida, pai do Dr. Francisco José de Miranda Duarte (casa actual do Sr. Leonel, do Sr. José da Silva e da sua filha Sílvia Costa). No século XVIII formaram-se mais pessoas de Vila Dianteira na Universidade de Coimbra do que durante todo o século XX até ao 25 de Abril de 1974!! Em finais do século XVIII, o povo da aldeia manda edificar uma nova capela para S. Silvestre (que é a actual) e que vai custear inteiramente, doando 1/20 anual dos bens que produzia em terra lavrada. No século XX constrói-se o pontão em pedra e o chafariz em cantaria (na década de 30). O pontão, ao ameaçar (parte dele) ruir foi substituído por um de betão. O chafariz em cantaria foi destruído pelo operador da máquina, por desleixo e falta de acompanhamento das autoridades locais. Este chafariz nunca foi reposto, como deveria ser obrigação da autarquia. Nas últimas décadas deste século, destaca-se a homenagem que a aldeia e a freguesia prestaram ao mais importante filho de Vila Dianteira — o Dr. José da Silva Carvalho (1782-1856) — perpetuando a sua imagem em busto num jardim construído para o efeito e que ficou com o seu nome. Já no século XXI, durante a presidência da junta de freguesia de António Antunes, foi acrescentada a zona junto ao ribeiro (em terrenos doados para o efeito pelas senhoras Dona Novelina Costa e Dona Isabel Rocha), que aguarda, desde então, que sejam concluídas as obras de calcetamento de uma pequena parcela junto aos lavadouros públicos. Património
Personalidades célebres
Jardim e busto a Silva CarvalhoJardim e busto do Dr. José da Silva Carvalho construído durante as Comemorações do Bicentenário do Nascimento deste estadista. A aldeia organizou-se para comemorar condignamente os 200 anos do nascimento de Silva Carvalho e soube agregar à iniciativa toda a freguesia e até, mesmo, o concelho. O busto é de autoria do escultor santacombadense, David de Oliveira. A inauguração decorreu a 11 de Setembro de 1983 e teve a presença do Presidente da Câmara e de membros dos diferentes órgãos autárquicos, da GNR, de representantes das Associações da Freguesia e de familiares de Silva Carvalho. A RTP filmou e noticiou o acontecimento, que também foi notícia nos principais Jornais Nacionais. Testamento que nunca foi cumpridoDona Georgina Loureiro, última descendente dos capitães-mores, deixou a casa, a quinta e outros muitos bens que possuía nesta aldeia à Fundação D. José da Cruz Moreira Pinto, de Viseu, com a “…obrigação de criar e manter (…) um asilo para velhos em Vila Deanteira…” (transcrição do testamento). Dona Georgina da Conceição Loureiro faleceu a 27 de Janeiro de 1973 (!!) e a Fundação, apesar de fazer milhares de contos em vendas que efectuou na freguesia de S. João de Areias, nunca cumpriu o testamento no que respeita à criação do asilo em Vila Dianteira. Mais, a Fundação nunca fez obra alguma de recuperação do edifício e deixou que fosse vandalizada a capela particular dedicada a Nosso Senhor, que lhe fosse roubado o altar e, por fim, por falta de pequenas obras de reparação do telhado, permitiu que toda a casa ruísse, restando apenas a frontaria. Um grupo de naturais desta aldeia, liderado pelo falecido António Correia Relvas, envidou todos os esforços para que o testamento se cumprisse, mas a Fundação, apesar da sua origem religiosa e ligação ao Bispo, é uma entidade com a qual o trato é difícil e esquiva à justiça. Uma acção em tribunal envolvia custos impossíveis de suportar por particulares. E assim, com raiva, assistimos impotentes a este estado de incumprimento da vontade da doadora e à alienação de património pertencente à freguesia. A Fundação depois de delapidar o património que pertencia a todos nós… vendeu a casa e a quinta a uma empresa de criação de gado. Tradições e Festividades
Associação
Parque das MerendasPropriedade da Paróquia, situa-se no limite de Vila Dianteira com S. João de Areias, em terrenos que pertenceram à Quinta de Dona Georgina Loureiro, e constitui um bom local de encontro, de convívio e de lazer. Bibliografia
Referências
Ligações externas
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