Para cada conjunto existe o conjunto unitário . Para cada conjunto e para cada conjunto
existe o par (não ordenado) .
Na sua publicação de 1908, Zermelo enuncia o Axioma II com o nome "Axioma dos conjuntos elementares"[2]. Esse axioma tem três partes, que correspondem ao conjunto vazio, conjunto unitário e conjunto de pares. Se interpretamos "dois objetos" do enunciado original de Zermelo do axioma de pares, como dois objetos diferentes, ficaria:
Apesar desse último não ser logicamente equivalente (em primeira ordem) à forma usual anterior, os outros axiomas permitem afirmar a existência de e de usando .
Se a propriedade está definida para todos os elementos de um conjunto , então existe um subconjunto
de que contém os elementos de
que satisfazem a propriedade . Em termos
atuais, dada uma fórmula de primeira
ordem da linguagem de ZF com a variável livre e
os parâmetros :
Existe um conjunto que contém o conjunto vazio
, e para cada , o conjunto também pertence a . Note que Zermelo usa como o sucessor de na sequência numérica (Zahlenreihe):
A definição habitual, que provém de von Neumann, estabelece sucessor de maneira diferente como .
O axioma do infinito tal como ele é enunciado por Zermelo, poderia ser interpretado modernamente como:
Se é um conjunto de conjuntos não vazios e disjuntos
dois a dois, então existe um conjunto de escolha
contido na união de , tal que para cada elemento
de , tem um único elemento
em comum com . A ideia intuitiva é que o conjunto
"escolhe" um elemento de cada em
:
Contribuição de Zermelo
Axioma de extensão. Foi idealizado por Bolzano[3], mas como esse trabalho só foi publicado em 1975, possivelmente era desconhecido por Zermelo. Entretanto, Zermelo possivelmente conhecia o trabalho de Dedekind[4] publicado em 1888, que contém um enunciado desse axioma[5].
Axioma da separação. É original de Zermelo[6]. Skolem propõe, por volta de 1920, que no lugar da "propriedade definida" que aparece na formulação de Zermelo, seja usada uma fórmula da linguagem (de primeira ordem)[7].
Axioma do conjunto vazio. Zermelo utiliza a palavra "impróprio" (uneigentliche) para se referir ao conjunto vazio, pois não está claro se se ajusta à definição de Cantor de conjunto[5]. Não usado por Cantor nem por Dedekind, possivelmente seja uma definição original de Zermelo.
Axiomas do conjunto unitário, do par, da união e da potência. Cantor usa esses procedimentos de maneira não formalizada.
Axioma do infinito. Cantor não dá uma definição formal dos números naturais, mas assume a existência do conjunto deles. Dessa maneira assume a existência de conjuntos infinitos. Além disso, Cantor afirma:
Que as multiplicidades "enumeráveis" são conjuntos acabados, parece-me um enunciado axiomático seguro.[8]
Na apresentação de Dedekind de 1888 do Princípio de indução matemática[9], ele concebe o conjunto dos números naturais como contendo e o sucessor de cada elemento desse conjunto. Entretanto, Dedekind define "infinito" de uma maneira diferente, hoje conhecida como infinito de Dedekind[10].
Axioma da escolha. Introduzido pelo próprio Zermelo em 1904[11] para demonstrar que todo conjunto pode ser bem ordenado.
Independência e consistência relativa dos axiomas
O Axioma do conjunto vazio pode ser demonstrado a partir dos outros axiomas, basta usar o Axioma de separação com a fórmula ≠ que não é satisfeita por nenhum elemento.
Se o Axioma dos pares não pedir explicitamente que ≠ para a existência do par , então a existência do conjunto unitário segue-se da
existência de . A independência do
Axioma de pares (se os outros axiomas são consistentes) foi
demonstrada por Boffa[12],
resultado interessante, pois esse axioma não é independente em
Zermelo-Frankel.
Fraenkel introduziu o método dos modelos de permutação para demonstrar
a independência relativa do Axioma da Escolha[13].
A independência do Axioma de infinito é demonstrada de maneira similar a ZF, é um modelo da teoria de Zermelo sem o Axioma de infinito.
Os axiomas de união e partes são independentes, igual que em ZF. Diferentemente de ZF o axioma da união e consistente relativo aos demais axiomas, se eles foram
consistentes. Assim, o axioma da união é uma extensão forte em ZF, mas uma extensão fraca na teoria de Zermelo. O Axioma de pares também é consistente relativo[14].
↑"Daß die 'abzählbaren' Vielheiten fertige Mengen sind, scheint mir ein axiomatisch sicherer Satz zu sein.", Zermelo 2010, p. 175. Felgner considera esse enunciado um axioma de infinito (Ibid.).
Maurice Boffa (1972). «L'axiome de la paire dans le système de Zermelo». Archive for Mathematical Logic (em francês). 15 (3−4): 97−98
Bernard Bolzano (1975). Einleitung zur Größenlehre und erste Begriffe der allgemeinen Größenlehre (em alemão). II A 7. Stuttgart: Frommann-Holzboog
Richard Dedekind (1932). «Was sind und was sollen die Zahlen?». Gesammelte mathematische Werke (em alemão). III. Braunschweig: Friedr. Vieweg & Sohn. p. 335−391
Jean van Heijenoort (1967). From Frege to Gödel: a source book in mathematical logic, 1879−1931 (em inglês). Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press
Ernst Zermelo (1904). «Beweisß, da jede Menge wohlgeordnet werden kann». Mathematische Annalen (em alemão). 59 (4): 514−516 Reimpresso com tradução ao inglês em Zermelo 2010, pp. 114−119, e tradução ao inglês em van Heijenoort 1967, pp. 139−141.
Ernst Zermelo (1908). «Untersuchungen über die Grundlagen der Mengenlehre. I». Mathematische Annalen (em alemão). 65 (2): 261−281 Reimpresso com tradução ao inglês em Zermelo 2010, pp. 188−229, e tradução ao inglês em van Heijenoort 1967, pp. 199−215.
Ernst Zermelo (2010). Collected Works — Gesammelte Werke (em alemão e inglês). I. Heidelberg: Springer. ISBN978-3-540-79383-0