Tema Opsiciano
Tema Opsiciano (em grego: θέμα Ὀψικίου; romaniz.: thema Opsikiou) ou simplesmente Opsício (em grego: [θέμα] Ὀψίκιον; romaniz.: Opsikion, do em latim: obsequium) foi um tema (uma província civil-militar) bizantino localizada no noroeste da Ásia Menor. Criado a partir de um destacamento do exército, o Tema Opsiciano era o maior e o mais prestigioso dos primeiros temas também por ser o mais próximo de Constantinopla. Envolvido em diversas revoltas no século VIII, foi dividido após c. 750 e perdeu muito de sua proeminência e sobreviveu com uma importância intermediária até a Quarta Cruzada. HistóriaO Tema Opsiciano foi um dos primeiros quatro temas e teve sua origem no exército "presencial" do Império Romano do Oriente.[a] O termo opsício deriva do latim obsequium ("séquito") que, já pela metade do século VII, passou a designar as unidades que escoltavam o imperador quando em campanha.[1] É possível que, num primeiro momento, o opsício estivesse aquartelado na própria capital imperial.[2] Na década de 640, porém, após as desastrosas derrotas sofridas durante a primeira onda das conquistas muçulmanas, os restos dos exércitos foram recuados para a Ásia Menor e passaram a guarnecer grandes distritos chamados de temas.[3] Assim, o Tema Opsiciano seria a região onde o opsício imperial foi aquartelado, que abrangia todo o noroeste da Ásia Menor (Mísia, Bitínia, partes da Galácia, Lídia e Paflagônia) do Dardanelos até o rio Hális, com a capital em Ancira. A data exata da fundação do tema é desconhecida; a referência mais antiga aponta para a criação ainda em 626, mas a primeira ocorrência confirmada foi em 680.[4][5] É possível que ele também incluísse uma área na Trácia, que parece ter sido administrada juntamente com o Opsício no final do século VII e início do VIII.[6][7] A origem peculiar do Tema Opsiciano aparece em diversos aspectos da organização do tema. Assim, o título de comandante não era estratego como em todos os outros, mas conde.[6] Além disso, ele não era dividido em turmas, mas em domesticados formados pelas tropas de elite do exército, como os Optimates e os Bucelários, ambos termos que datam da época do recrutamento dos federados godos nos séculos IV e VI.[8] Seu prestígio é ainda ilustrado pelos selos de seus comandantes, nos quais o tema é chamado de "Opsício imperial guardado por Deus" (em grego: θεοφύλακτον βασιλικόν ὀψίκιον; em latim: a Deo conservandum imperiale Obsequium).[5] Sendo um dos temas mais próximos da capital Constantinopla e sendo o mais proeminente deles, os condes do Opsício geralmente eram tentados a se revoltarem contra o imperador. Já em 668, com a morte de Constante II (r. 641–668) na Sicília, o conde Mecécio tentou um golpe.[9] Sob o patrício Barasbacúrio, o tema era a base de poder principal do imperador Justiniano II (r. 685-695 e 705-711).[5] Justiniano também assentou muitos eslavos capturados na Trácia ali numa tentativa de aumentar o poderio militar do tema. A maioria deles, porém, desertou para os árabes na primeira batalha que travaram.[10] Em 713, o exército opsiciano se levantou contra Filípico (r. 711–713), o assassino de Justiniano, e alçou Anastácio II (r. 713–715) ao trono, apenas para também derrubá-lo em 715 para colocar Teodósio III (r. 715–717) no trono.[11][12] Em 716, os opsicianos apoiaram a ascensão de Leão III, o Isauro (r. 716–740) ao trono mas, em 718, o conde local, o patrício Isoes tentou sem sucesso se revoltar contra ele.[5] Em 741-742, o curopalata Artavasdo (r. 741–742) utilizou os opsicianos como base para sua breve tentativa de usurpar o trono de Constantino V Coprônimo (r. 741–775). Em 766, outro conde foi cegado após um motim fracassado contra Constantino.[4] Neste período, as revoltas do Tema Opsiciano não eram apenas resultado da ambição de seus condes: os opsicianos eram fervorosos iconódulos e se opunham às políticas iconoclastas dos imperadores isauros.[13] Consequentemente, Constantino V Coprônimo buscou enfraquecer o tema dividindo-o nos novos temas, chamados de Bucelário e Optimates.[14][15] Em paralelo, o imperador recrutou um novo regimento de guarda de elite, ferozmente iconoclasta, os tagmas.[14][16] Assim, o já reduzido Opsício foi rebaixado de uma formação de guarda para um tema comum de cavalaria: suas forças foram divididas em turmas e seus conde caíram para o sexto lugar na hierarquia dos governantes dos temas, chegando a ser renomeado ao título ordinário de estratego no final do século IX.[5][17] Neste século, o governante aparece recebendo 15 quilos de ouro e comandando 6 000 homens (a comparar com os 18 000 do antigo Opsício).[18][19] A capital se mudou para Niceia e o imperador Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959), em seu Sobre os Temas, menciona outras nove cidades no tema: Cotieu, Dorileia, Midaion, Apameia, Mirleia, Lampasco, Pário, Cízico e Abidos.[5] Na grande Revolta de Tomás, o Eslavo, no início da década de 820, o Opsício permaneceu leal ao imperador Miguel II, o Amoriano (r. 820–829).[20] Em 866, o estratego opsiciano, Jorge Pegánes, se revoltou, juntamente com o Tema Tracesiano, contra Basílio I, o Macedônio (r. 867–886), então o coimperador júnior de Miguel III, o Ébrio (r. 842–867) e, em c. 930, Basílio Mão-de-Cobre se revoltou contra o imperador Romano I Lecapeno (r. 920–944). Ambas as revoltas, porém, foram facilmente sufocadas e foram as últimas das revoltas golpistas do século VIII.[5] O tema persistiu durante todo o período Comneno[21] e foi fundido com o Egeu em algum momento do século XII.[22] Ele, aparentemente, sobreviveu como parte do Império de Niceia; Jorge Acropolita relata que, em 1234, o Tema Opsiciano caiu frente aos "italianos" (Império Latino).[5][18] Notas
Referências
Bibliografia
|