Stanislas Dehaene
Stanislas Dehaene (Roubaix, 12 de maio de 1965))[1] é um neurocientista francês, professor do Collège de France e diretor da Unidade de Neuroimagem Cognitiva do INSERM. Ele atua em diversas linhas de pesquisa, em especial cognição numérica, as bases neurais da leitura e os correlatos neurais da consciência. Dehaene foi um dos dez cientistas premiados com o Centennial Fellowship da James S. McDonnell Foundation em 1999 pelo seu trabalho sobre "Neurociência Cognitiva das Habilidades Numéricas". Em 2003, juntamente com Denis Le Bihan, Dehaene recebeu o Grande Prêmio Científico Louis D. do Institut de France.[2] FormaçãoDehaene começou sua carreira como matemático, graduando-se em matemática na Escola Normal Superior de Paris entre os anos de 1984 e 1989.[1] Obteve um mestrado em matemática aplicada e ciências da computação em 1985 na Universidade Pierre e Marie Curie.[1] Inspirado após sua leitura do livro L'Homme neuronal (O homem neuronal: A biologia da mente) do notável neurocientista francês Jean-Pierre Changeux, Dehaene mudou de área e passou a desenvolver pesquisas em neurociência e psicologia, inicialmente colaborando com Changeux no desenvolvimento de modelos computacionais de redes neurais da cognição humana, colaboração que se mantém ativa.[1] Dehaene realizou seu doutorado em Psicologia experimental sob a orientação de Jacques Mehler na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), defendendo sua tese em 1989. Após receber o título de doutor, Dehaene passou a trabalhar como pesquisador no INSERM, no Laboratório de Ciências Cognitivas e Psicolinguística (Laboratoire de Sciences Cognitives et Psycholinguistique), dirigido por Mehler.[1] Durante os anos de 1992 e 1994, Dehaene fez um estágio pós-doutoral no Instituto de Ciências Cognitivas e Tomada de Decisão (Institute of Cognitive and Decision Sciences) dirigido por Michael Posner da Universidade de Oregon. Após seu retorno para a França, Dehaene passou a coordenar seu próprio grupo de pesquisa, o qual atualmente inclui cerca de 30 estudantes de pós-graduação, pós-doutorado e pesquisadores.[1] Em 2005, Dehaene foi eleito para a nova cátedra de Psicologia Experimental e Cognitiva do Collège de France.[1] EspecialidadesCognição NuméricaDehaene é mais conhecido por seu trabalho em cognição numérica, uma disciplina que ele popularizou e sintetizou com a publicação em 1997 do seu livro O Senso Numérico (La Bosse des maths), com o qual foi premiado com o Prix Jean Rostand de melhor livro de divulgação científica em língua francesa. Dehaene começou seus estudos sobre cognição numérica com Jacques Mehler, examinando a frequência de palavras numéricas entre diversas línguas,[3] a natureza analógica da representação numérica[4][5] e as inter-relações entre número e espaço.[6] Juntamente com Changeux, ele desenvolveu um modelo computacional da percepção e representação numérica, o qual previa a existência de neurônios especificamente dedicados a processar informações numéricas com curvas de ativação de natureza log-gaussiana,[7] previsão que já foi empiricamente confirmada com a utilização de métodos eletrofisiológicos de registro unicelular em macacos.[8] Através de uma colaboração que já se estende há anos com Laurent Cohen, neurologista do Pitié-Salpêtrière Hospital em Paris, Dehaene identificou pacientes com lesões em diversas regiões do lobo parietal que apresentavam déficits em operações de multiplicação, mas preservação das habilidades de subtração (associados a lesões no lobo parietal inferior) e outros com preservação das habilidades de multiplicação, mas déficits na subtração (associada a lesões no sulco intraparietal).[9] Essa dupla dissociação sugeriu a existência de diferentes substratos neurais para o processamento de cálculos aritméticos extensivamente treinados e linguisticamente mediados, como a multiplicação, processada pelas regiões do lobo parietal inferior, e cálculos computados online, como a subtração, processada pelas regiões do sulco intraparietal. Logo em seguida, Dehaene começou a realizar estudos de EEG[10][11] e neuroimagem funcional[12][13][14] das habilidades numéricas, os quais demonstraram os mecanismos neurocognitivos subjascentes ao processamento numérico. Juntamente com Pierre Pica e Elizabeth Spelke, Dehaene estuda as habilidades numéricas dos Mundurucus (grupo indígena que vive no estado do Pará, Brasil) e que, apesar de não terem palavras para designar números exatos maiores do que 5, são capazes de realizar julgamentos numéricos e cálculos aproximativos.[15] ConsciênciaDehaene subsequentemente direcionou sua linha de pesquisa para estudar os correlatos neurais da consciência, levando a publicação de uma série de artigos científicos e a edição de do livro "A Neurociência Cognitiva da Consciência" ("The Cognitive Neuroscience of Consciousness"). Ele desenvolveu modelos computacionas da consciência, baseados na Global Workspace Theory de Bernard Baars, a qual sugere que apenas algumas partes das informações podem ganhar acesso no espaço neural global.[16] Para explorar as bases neurais do espaço neural global, Dehaene conduziu experimentos de ressonância magnética funcional utilizando o método de masking e attentional blink, os quais mostraram que as informações que atingem percepção consciente levam a um aumento da ativação da circuitaria neural envolvendo regiões do lobo parietal e frontal.[17][18] As bases neurais da leituraDehaene utiliza imageamento cerebral para estudar o processamento da linguagem em indivíduos monolíngues e bilíngues em colaboração com Laurent Conhen. Eles iniciamente se concentraram em investigar a contribuição das regiões cerebrais da via ventral do reconhecimento visual de palavras, em particular no papel da lateralização à esquerda do córtex temporal inferior na leitura de palavras. Seus estudos identificaram uma região que eles chamaram de "área visual da palavra" ("visual word form area", VWFM), que é sistematicamente ativada durante a leitura.[19][20][21] Eles também mostraram que a ablação dessa área em pacientes que passaram por cirurgia para tratar formas graves de epilepsia prejudica severamente as habilidades de leitura.[22] Dehaene, Cohen e seus colaboradores demonstraram subsequentemente que, ao invés de ser uma área isolada, a "área visual da palavra" é o estágio hierárquico final da extração de informações visuais no reconhecimento de letras e palavras.[23][24] Mais recentemente, eles começaram a investigar como a leitura depende de um processo chamado "reciclagem neural", que faz com que circuitos cerebrais originalmente selecionados durante a evolução para processar o reconhecimento de objetos passam a processar letras, pares de letras e palavras frequêntes.[25] Essa hipóteses foram recentemente demonstradas em um estudo que investigou a resposta cerebral de um grupo de adultos iliterados em tarefas de leitura .[26] Bibliografia
Referências
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