Sobre EscaramuçasSobre Escaramuças (em grego: Περὶ Παραδρομῆς; romaniz.: Peri Paradromēs), convencionalmente referido como Sobre a Guerra de Escaramuça (em latim: De velitatione bellica) é um tratado militar bizantino sobre escaramuças e guerras fronteiriça do tipo guerrilha, composto ca. 970.[1] Contexto históricoEm meados do século VII, o Império Bizantino perdeu muitos de seus territórios no Oriente para as conquistas muçulmanas. Após a repulsão de dois cercos árabes de Constantinopla, a capital imperial, a situação foi estabilizada, e a fronteira entre o Império Bizantino e o Califado Muçulmano foi estabelecida ao longo dos montes Tauro definindo o canto oriental da Ásia Menor. Pelos séculos seguintes a guerra assumiu o padrão de raides maiores ou menores e contra-raides através desta fronteira. Para os árabes, estes raides (razias) foram realizados como parte de sua obrigação religiosa contra seu maior inimigo infiel, e assumiram um caráter quase ritualizado.[2] Os bizantinos permaneceram geralmente na defensiva, organizando a Ásia Menor em províncias civil-militares combinadas chamadas temas. Na fronteira montanhosa, pequenos distritos, as clisuras ("gabinetes, desfiladeiros") foram estabelecidos.[3] Do final do século IX, contudo, a fratura do mundo islâmico e o aumente da força do Império Bizantino causou uma mudança na balança do poder, com campanhas bizantinas penetrando na Cilícia, Armênia, Jazira (Mesopotâmia Superior) e norte da Síria.[4] O último grande inimigo a enfrentar os bizantinos na região foi o hamadânida emir de Alepo Ceife Adaulá. Por dez anos, de 944 a 955, ele conduziu raides na Ásia Menor, infligindo várias derrotas pesadas aos bizantinos no processo.[5] Na década seguinte, contudo, a situação foi revertida, com os irmãos Leão e Nicéforo Focas (logo proclamado imperador como Nicéforo II) infligiu várias derrotas em suas forças e conseguiu invadir e ocupar o norte da Síria no final da década de 960.[6] LivroObjetivo e autoriaO Sobre Escaramuças foi composto como um tratado sobre este tipo de luta fronteiriça, mas ironicamente num tempo quando este tipo de guerra tornou-se obsoleto, devido aos sucessos bizantinos. O autor estava consciente disso, e nota no começo do trabalho que o poder muçulmano havia sido "grandemente reduzido", e que suas instruções poderiam "não encontrar aplicação nas regiões orientais no presente momento", mas que eles estariam "prontamente disponíveis" caso a necessidade para eles emergisse no futuro.[7] O Sobre Escaramuças é assim um trabalho retroativo, único entre os tratados contemporâneos, dedicado a codificação e preservando a experiência adquirida durante os séculos anteriores.[8] Embora o trabalho foi atribuído a Nicéforo Focas, o autor real é desconhecido. Foi certamente um oficial experiente de alta patente, próximo da família Focas, cujos principais membros ele louva por sua proeza marcial. Uma vez que muitos dos eventos usados para ilustrar táticas no Sobre Escaramuças foram na verdade realizados sob Leão Focas, George Dennis considera-o como o provável autor, ou ao menos o a mão guia por trás da composição do livro.[6] CapítulosO livro é dividido em 25 capítulos:[9]
AnáliseO tratado dá ênfase ao bom reconhecimento, o uso e controle das características do terreno, a vontade de conseguir surpreender o inimigo e a anulação de batalhas campais até as forças bizantinos estiverem mobilizas e serem capazes de escolher o tempo e local apropriado para seu ataque. Várias opções são apresentadas, dependendo do tamanho da força disponível bem como o tamanho e composição das forças inimigas.[1] O Tratado é também interessante por revelar o fervor cristão militante do período, particularmente exposto pelo ascético Nicéforo Focas,[1] e por ilustrar, especialmente no Capítulo XIX, a atitude desdenhosa de seu autor, claramente um membro da aristocracia militar provincial, à burocracia constantinopolitana e seus agentes nas províncias.[10][11] EdiçõesO texto grego original está preservado em três manuscritos do século XI, cópias de segunda ou terceira mão do tratado original. Dois deles estão em Roma, e o terceiro, a única versão completa, no Mosteiro e Sítio do Escorial.[12]
Referências
Bibliografia
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