Sapo-de-wyoming
O sapo-de-wyoming (nome científico: Anaxyrus baxteri, antiga nomenclatura: Bufo baxteri)[1][2] é uma espécie de anfíbio anuro da família Bufonidae. É marrom-escuro, cinza ou esverdeado, com cinco centímetros de comprimento. Os machos são ligeiramente menores que as fêmeas e possuem pequenas elevações nos dedos. Os girinos são escuros com pintas. Reproduz-se entre maio e julho, onde se reúnem em pequenos grupos para acasalarem. Sua desova contém entre 1 000 a 6 000 ovos, que são depositados em plantas específicas de lagoas e pântanos. Seu desenvolvimento larval dura um mês. Durante esse período, alimentam-se de detritos orgânicos e inorgânicos, como algas e sedimentos de rochas. Quando adultos, alimentam-se de insectos, de preferência, besouros e formigas. Possui inúmeros predadores em todas suas fases da vida, desde o ovo ao indivíduo adulto. A espécie foi declarada extinta na natureza pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). As causas para sua extinção são atividades antrópicas (como o uso de inseticidas) e naturais (como a dificuldade em se dispersar). A espécie ainda pode ser encontrada em alguns lugares em Laramie Basin e é reproduzida em cativeiro em zoológicos, na Universidade de Wyoming e em refúgios naturais, como Mortenson Lake National Wildlife Refuge. TaxonomiaA espécie foi descoberta pelo professor da Universidade de Wyoming George Baxter em 1946, sendo classificada originalmente como uma subespécie do sapo-canadense (Anaxyrus hemiophrys).[nota 1][3] Mais tarde, em 1968, devido ao isolamento geográfico e por possuir características próprias, Porter a classificou como uma subespécie própria, a Bufo hemiophrys baxteri. Em 1998, Smith a elevou como espécie, recebendo o nome de Bufo baxteri. Debates sobre sua permanência como espécie continuam até hoje, mas é visto pela maior parte da comunidade científica como uma espécie. Mais tarde foi migrada ao gênero Anaxyrus.[4] Estudos demonstram que a espécie se especializou a 10 000 anos atrás, a partir do sapo-canadense.[5] DescriçãoO sapo é marrom escuro, cinza ou esverdeado, com manchas escuras e possui uma linha indiscernivel sobre o dorso. Os machos possuem a garganta escura e as fêmeas são ligeiramente maiores.[6] Possui o corpo com característica granulosa, coberto por verrugas de tamanho médio entre as do Anaxyrus cognatus e Anaxyrus boreas. A união da sua crista neural forma uma estrutura alongada, uma crista no sulco mediano ou com cristas paralelas. Sua forma pode ser cornificada. Seu sulco pós-orbital pode ser indistinto ou ausente. O tímpano é localizado em torno do olho, sendo menor que este. Possui os tubérculos das pontas dos dedos bastante desenvolvidos e a barriga visível. Alguns indivíduos possuem uma linha lateral clara bem definida. A partir de estudos a partir de fotografias, foi descoberto que os indivíduos possuem padrões únicos no matiz de sua pele e no padrão de manchas.[7] Seu tamanho está em torno dos 5 centímetros.[8] Os machos podem se diferenciados da fêmeas por serem menores,[7] pela presença de elevações no indicador e no polegar (diferença que aparece após a maturidade sexual, a um ano de idade), por possuir a garganta com cor sólida e por poder vocalizar.[9] A espécie é diferenciada do sapo-canadense por possuir a estrutura interorbital mais grossa, porosa e ligeiramente mais fechada. A forma do seu corpo também é mais estreita e alta, por possuir a glândula parotóide mais elevada, diferenciada e mais distante da órbita do olho. Suas narinas também são mais rugosas, grossas e porosas. Também é menor que a outra espécie.[10] É diferenciado do A. boreas pela textura e cor da pele, que é mais lisa e grossa, tamanho (7 cm) e diferenças na vocalização e no crânio. O A. boreas não costuma coaxar em grupos de acasalamento como fazem o sapo-de-wyoming, mas podem vocalizar se notar a presença de outro macho. O seu odor também é diferente, com tom almíscarado.[9] Distribuição e habitatA espécie encontra-se restrita a Laramie Basin, no estado de Wyoming, numa área de 2 330 km² a uma altitude entre 304 e 2 133 m. É um animal fossorial, cujas tocas são feitas de gravilha e pedregulhos. Hiberna em vegetações velhas e de dunas de areia durante os meses de outubro e fevereiro.[6][11] São encontrados em pradarias com relvado baixo próximo à corpos d'água. Seu habitat é restrito a áreas a 10 metros d'água, podendo estar associado a baixa umidade dos planaltos de Laramie Basin e a necessidade dos sapos de estarem próximos à água para manterem a hidratação.[4] Segundo o último censo realizado, em 2002, foram encontrados quatro adultos e 124 jovens na natureza.[12] Antigamente, a espécie era encontrada em uma variedade imensa de habitats, como lagos, lagoas, córregos, pântanos, valas em estradas e planícies aluviais. Atualmente usam o litoral do Lago Mortenson assim como usam pântanos e valas. Quando incomodados, eles nadam para o interior da água e submergem. Podem ser noturnos ou diurnos, variando seu nível de atividade devido a temperatura.[4] EcologiaAlimentaçãoOs girinos se alimentam de matéria vegetal, como algas, e quando se tornam adultos, viram carnívoros e se alimentam de insectos, como besouros e formigas e larvas, mas podem se alimentar de qualquer coisa que se mova.[8][13] Quando capturados, são alimentados com grilos e farelo de larvas.[14] Estudos encontram uma grande quantidade de formigas em suas fezes, aparentando que este insecto seja o principal integrante de sua dieta.[4] ReproduçãoO sapo se reproduz durante maio e julho, quando a temperatura está próxima dos 21°C. Os grupos de acasalamento normalmente não possuem mais de 6 machos e algumas fêmeas. Seus ovos são depositados em uma massa gelatinosa e os girinos se desenvolvem em torno de um mês. Seu coaxar pode ser ouvido num raio de 200 metros.[6] São poligâmicos.[9] Tem preferência em desovar em locais onde a vegetação consiste numa mistura entre Carex sp. e Scirpus americanus. Os ovos são depositados em áreas rasas em poças e lagos. Podem ser encontrados entre 1000 à 6000 ovos a cada dois ou três milímetros de ovos, sendo assim estimado uma quantidade de 8 mil ovos por ninhada. Os ovos demoram de 4 a 6 dias para eclodirem.[4] Os girinos possuem de 5 a 7 milímetros ao nascerem, são escuros com pintas. O estágio dura entorno de um mês. Se alimentam de matéria orgânica e inorgânica em suspensão como restos de vegetais e rochas.[4] Seus girinos podem ser diferenciados dos de outras espécies do género Anaxyrus e Bufo pelo valor de sua fileira de dentes, cor e pigmentação da pele e pelo formato do focinho. Mas estas características são impossíveis de se verificar em campo, podendo necessitar de um microscópio.[9] PredadoresA espécie é predada em todos os estágios da vida. Seus ovos podem ser comidos pelo besouro-mergulhador. Seus girinos podem ser predados por pelicanos, savacus, grou-canadianos e pegas. Já foram registados girinos sendo comidos por larvas de besouro-mergulhador e libélulas. Os adultos costumam ser predados por doninhas, guaxinins, coiotes, cangambás, visons, raposas-vermelhas, texugos e gatos domésticos e ferais.[9] EstadoA espécie era comum durante até a década de 1950, havendo um grande diminuição da sua população durante os anos de 1960 e 1970, a partir do uso de pesticidas, perda de habitat e infecções com o fungo Batrachochytrium dendrobatidis.[15] Foi declarada como espécie extinta na natureza no ano de 1980, mas foram encontradas novos espécimes em 1987 e com isso começaram a fazer reproduções em cativeiro. Nos dias de hoje encontra-se poucos indivíduos se reproduzindo na natureza[11] e é considerado o anfíbio mais ameaçado da América do Norte.[16] CausasAs causas da redução de sua população são as mais variadas possíveis, involvendo fatores antropológicos e naturais. Pelos fatores antropológicos, é possível citar o uso de pesticidas para o controle de mosquitos na região, como o Fentião e o Malatião (são usados nos dias atuais insecticidas a base de Peremethrin) e também a irrigação, que causa a destruição do seu habitat natural, reduzindo a qualidade e extensão dos pântanos.[9] Fatores genéticos também são especulados na redução, devido a falta de variabilidade genética causada por uma população pequena. Isso pode fazer com que defeitos no ADN sejam propagados mais facilmente, afetando a capacidade de sobrevivência e reprodução dos indivíduos. Entretanto, nos programas de procriação é tentado se obter a maior variabilidade possível.[9] Há também a hipótese de ter sido causada pelas mudanças climáticas e por ter uma expectativa de vida curta, já no outono de 1988 foram encontrados 450 indivíduos jovens e no verão do ano seguinte, não foram observados nenhum. Estudos foram feitos que nevascas podem adiar, ou até mesmo parar, a reprodução.[9] Também é relatado infecções por partes de bactérias e fungos, como B. dendrobatis, que vitimiza vários indivíduos, e ainda pode infectar algas, plantas e invertebrados. Também foram relatadas infecções pelo Basidiobolus ranarum – sendo este o mais encontrado em indivíduos livres ou em cativeiro – e Aeromonas hydrophila — que possui diagnóstico difícil por estar comumente associados a outras patologias.[9] A espécie possui uma reprodução normal, como a dos outros anfíbios, mas possui uma capacidade de dispersão fraca, deslocando apenas 5 metros por dia. Um indivíduo raramente se afasta para muito longe do litoral do lago, e raramente alguns indivíduos migram para outros lagos, significando que a espécie não migra para corpos d'água não-comunicantes.[9] Outras causas que também podem reduzir seu número, mas numa escala mínima, são a introdução de outras espécies, como a rã-touro-americana, já que o sapo-de-wyoming não suporta ambientes com densidade alta, e a predação, que pode diminuir o número de indivíduos adultos.[9] ConservaçãoMedidas de proteção foram tomadas após o grande declínio de indivíduos, que ocorreu a partir da década de 1980, quando foram encontrados somente um casal. Em 1983 aconteceu o primeiro registo de reprodução desde 1975 e também foi descoberta uma única e pequena população no Lago Mortenson. Com essa queda, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos propôs banir o uso de pesticida na região e após uma discussão com o governador e a USFWS, decidiu-se proteger uma área de 777 km² do uso de pesticidas, criar a Albany County Wyoming Toad Task Force e limpar a área caso em dois anos não se fosse observados indivíduos. Apesar do esforço, nenhum indivíduo foi encontrado. Mas mesmo assim foram realizadas pesquisas bianuais, e em 1995 foram encontrados indivíduos, tendo também a captura. Em 1993, começou-se a captura de espécimes e a reprodução em cativeiro em zoológicos. Em 8 anos, foram liberados 46.000 indivíduos de várias idades. Também foram realizadas proteções em seu habitat com a criação de áreas ambientais como o Mortenson Lake National Wildlife Refuge e o Hutton Lake Wildlife Refuge, que tiveram como actos preservar a vegetação local e impedir a circulação de pessoas.[9] Também se realizaram estudos, descobrindo que os espécimes atingem a maturidade sexual antes que os outros sapos da região, e que possui uma baixa expectativa de vida, de um ou dois anos, e que isso é causado pela infecção pelo fungo B. dendrobatis e que a única forma proteger a população é os capturando. Mas mesmo capturados, os indivíduos não costumam sobreviver mais que 3 anos, e é nessa época que as reproduções dos anfíbios se obtém maior sucesso. Outro problema é a falta de estudos na área já que desde o ano de sua descoberta à 2005 só foram realizados três estudos.[17] Há dificuldades para reproduzí-lo em cativeiro devido a falta de informações sobre sua hibernação e reprodução e também na sua dieta, por estar sendo considerada fraca e por poder causar deficiência de vitamina A.[9] Atualmente a espécie está sendo reproduzida em laboratórios e zoológicos, para que um dia seja possível sua reintrodução na natureza. Mas para isso é necessário se obter informações sobre a espécie e tentar erradicar o B. dendrobatidis do seu habitat.[15] Também é necessário se obter a maior variabilidade genética possível, já que caso isso não aconteça, a população pode entrar em colapso.[9] As instituições que estão realizando a reprodução em cativeiro são: Zoológico de Mountain Cheyenne, Zoológico da Cidade do Kansas, Zoológico de Detroit, Museu do Rio Mississipi, Zoológico Como, Zoológico Henry Doorly, Zoológico de Toledo, Redbuttes Environmental e Incubatório Nacional de Peixes de Saratoga.[18] A Universidade de Wyoming está organizando a reprodução em cativeiro da espécie, capturando indivíduos para se reproduzirem e depois serem liberados na natureza. Além disso, a universidade está estudando o seu habitat e a vegetação, já que estes são necessários para que os sapos sobrevivam e possam escapar dos predadores. É extremamente necessário sua multiplicação, já que consome insectos e serve de comida para grandes pássaros, fazendo parte da cadeia alimentar. A universidade recebeu um incentivo de 800 000 dólares do U.S. Fish and Wildlife Service.[19] No dia 25 de maio de 2016 foram liberados 900 indivíduos resultantes do programa de procriação em uma área livre de produtos químicos.[20][21] No verão de 2017, serão soltos os sapos que foram reproduzidos no Laramie Valley, numa área de 41 acres, por onde passa o Rio Laramie e são encontrados lagoas e pântanos. O local possui uma vegetação densa, e é o habitat natural da rã-leopardo e das pererecas do género Pseudacris que são sensíveis ao ambiente, indicando que este está saudável.[22] NotasReferências
Bibliografia
Ligações externas
|