Santa Dica de Goiás
Benedicta Cypriano Gomes (Lagolândia, 17 de janeiro de 1903 – Goiânia, 9 de novembro de 1970) conhecida como Santa Dica, foi uma líder religiosa e comunitária brasileira. Sua atuação no início do século XX, no distrito de Lagolândia, município de Pirenópolis, Goiás, está associada a um movimento messiânico que combinava práticas religiosas, organização social e resistência política. BiografiaBenedita Cipriano Gomes nasceu em 17 de janeiro de 1903 na Fazenda Mozondó, localizada na região do Rio do Peixe, a cerca de 40 km de Pirenópolis. Filha mais velha de oito irmãos, Benedita cresceu em um ambiente rural marcado pela pobreza e pela forte religiosidade católica. Desde jovem, sua vida foi marcada por eventos considerados sobrenaturais. Aos sete anos, após ser declarada morta devido a uma doença grave, teria "ressuscitado" durante o velório. Este episódio consolidou sua reputação como figura santa na região e atraiu fiéis que buscavam suas curas e bênçãos.[1][2] Com o passar dos anos, Dica começou a atrair seguidores que buscavam suas orientações espirituais. Ela afirmava receber mensagens de anjos e realizava rituais religiosos que mesclavam elementos do catolicismo popular e do espiritismo.[3] Sua liderança carismática levou à formação de uma comunidade em torno dela no povoado que seria conhecido como Lagolândia.[4] O Movimento MessiânicoO movimento liderado por Santa Dica iniciou-se em 1923. A comunidade organizada por ela apresentava características inovadoras para o contexto rural brasileiro da época:
Estima-se que cerca de 15 mil pessoas tenham aderido ao movimento entre 1923 e 1925. A comunidade também formou um exército para proteger Santa Dica e seus ideais.[6] O povoado chegou a ser chamado de "República dos Anjos" devido à organização comunitária e ao caráter espiritual do movimento.[7] Conflito com as AutoridadesO crescimento do movimento chamou a atenção das autoridades locais, da Igreja Católica e dos coronéis da região. A liderança carismática de Santa Dica foi vista como uma ameaça à ordem social estabelecida. Em outubro de 1925, ocorreu uma intervenção policial no episódio conhecido como "Dia do Fogo". Durante o confronto, dezenas de pessoas foram mortas ou feridas. Relatos populares afirmam que as balas disparadas contra Santa Dica não a atingiam ou caíam ao chão transformadas em grãos de milho.[8][9] Santa Dica foi presa após o confronto e condenada a um ano de prisão sob acusações relacionadas à saúde pública e desordem social. No entanto, foi liberta antes do término da pena devido à pressão popular. Apesar disso, o movimento sofreu forte repressão e perdeu força nos anos seguintes.[10] Atuação PolíticaAlém de sua liderança religiosa, Santa Dica teve participação política significativa. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, ela liderou um grupo armado composto por centenas de homens. Sua tropa ficou conhecida por sua disciplina e dedicação. Relatos populares atribuem vitórias militares a intervenções milagrosas realizadas por ela.[11] Santa Dica também exerceu influência política local ao lado do jornalista Mário Mendes, com quem se casou em 1928. Mendes chegou a ser eleito prefeito de Pirenópolis em 1934 com apoio dela.[6] Morte e LegadoSanta Dica faleceu em 9 de novembro de 1970 em Goiânia após complicações médicas decorrentes de uma cirurgia no intestino. Foi sepultada sob uma gameleira em Lagolândia, conforme seu desejo. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação para fiéis e admiradores. [1][12] O legado de Santa Dica continua vivo na memória coletiva da região e é objeto de estudos acadêmicos sobre movimentos messiânicos no Brasil. Em Lagolândia, um busto foi erguido em sua homenagem na praça central. Sua história é frequentemente comparada a outros movimentos messiânicos brasileiros, como Canudos e Contestado.[13][14]
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