A síndrome de Sly, também conhecida como mucopolissacaridose do tipo VII (MPS VII) é uma doença hereditária do metabolismo causada por erros que levam à falta de funcionamento adequado de determinadas enzimas. No lisossomo, existem mais de trezentas enzimas para fazer a digestão de cada substância do organismo e quando existe uma enzima que não funciona temos uma doença de depósito lisossomal, pois como a substância não é digerida será acumulado dentro do lisossomo, deixando a célula grande.
Relação com a biologia celular
O lisossomo é uma organela citoplasmática com função de digerir e transformar, dentro da célula, grandes moléculas em pequenas, para poderem ser utilizadas ou reutilizadas. No interior desse, existem mais de trezentas enzimas para fazer a digestão de cada substância metabólica. Quando existe uma enzima que não funciona direito temos uma doença de depósito lisossomal, pois como a substância não é digerida será acumulada dentro do lisossomo, deixando a célula grande, e consequentemente o órgão que contem esta organela em excesso também aumentará de tamanho.
Genética da síndrome
O gene envolvido na doença é o GUSB, que está localizado no cromossomo 7q11.21, e é de 21-kb de comprimento, e contém 12 éxons. Ocorrem mais de 45 mutações diferentes (90% eram mutações pontuais) no gene GUSB, responsável por fornecer instruções para produzir a enzima beta-glucuronidase (β-glucuronidase), a qual está envolvida na degradação de moléculas grandes de açúcar chamadas glicosaminoglicanos (GAG) - originalmente nomeadas de mucopolissacarídeos, que é onde está a explicação do nome da alteração. Essas mutações reduzem ou eliminam completamente a função de β-glucuronidase, levando à acumulação de GAGs dentro das células, especificamente dentro dos lisossomos.
Quadro clínico
Síndrome de Sly ou mucopolissacaridose tipo VII é uma doença extremamente rara caracterizada por uma deficiência da enzima lisossomal chamada beta-glucuronidase, acumulando nesse caso dermatan e heparansulfatos. Existem diferentes formas clínicas desta síndrome, com a expressão do gene, em alguns casos são apresentadas semelhantes a síndrome de Hurler ou tipo mucopolissacaridose I. É importante expor que "Sly" apresenta graus diferentes de manifestações, que vai do leve ao grave, como um portador ter atraso mental e em outros casos não há esse atraso. Pode-se dividir a MPS VII em três formas:
Forma fetal-neonatal: pode causar óbito do feto; presença de inchaço generalizado no recém-nascido; ao nascimento observam-se fácies grosseira; alterações ósseas comprometendo vértebras e ossos longos; aumento do fígado e baço; opacidade de córneas.
Forma grave: os sintomas podem ter início nos primeiros meses de vida com hérnia umbilical e inguinal, aumento do perímetro do crânio (macrocefalia) e deformidade do tórax. A partir de 2 - 3 anos de vida outras características tornam-se mais evidentes, como: desaceleração do crescimento levando à baixa estatura; parada de crescimento entre 6-8 anos de idade; aumento de pelos (hirsutismo); opacidade de córnea pode estar presente ou não; perda auditiva; aumento do volume da língua (macroglossia); dificuldade respiratória; doença cardíaca (valvular e coronariana); diarréia crônica; aumento do fígado (hepatomegalia); aumento do baço (esplenomegalia); alterações nos ossos (disostose múltipla) com progressivas deformidades e dificuldades de movimentos; alterações no formato da coluna vertebral; limitação progressiva de todas as articulações; comprometimento da inervação das mãos por enrijecimento do túnel por onde passam esses nervos (chamada de síndrome do túnel do carpo); aumento dos locais de inserção dos dentes (hipertrofia dos alvéolos dentários) e da gengiva, dentes pequenos (pode haver atraso no nascimento dos dentes) e retardo mental leve a moderado. O depósito em face continua durante toda a vida, o que vai transformando mais ainda o aspecto (como se houvesse um inchaço), com lábios grossos, aumento e depressão da raiz do nariz.
Forma Leve: todo o comprometimento sistêmico é muito mais leve e a progressão mais lenta.
Doenças de depósito lisossômico afeta 1 em cada 7.000 nascidos vivos e 90 por cento das pessoas com as doenças têm envolvimento cerebral. O que encontramos com Síndrome de Sly tem alguma importância para todas as doenças também.
Terapia
A terapia tem como alvo diretamente areverter a acumulação de substrato que está presente no lisossomo, utilizando da manipulação genética. Desde que William S. MD, Sly (presidente do departamento de bioquímica e biologia molecular na Universidade de Saint Louis), descobriu esta doença rara, em 1969, outros cientistas e o mesmo conduziram pesquisas para saber mais sobre como tratá-la. Ele diz que suas descobertas recentes têm significado para além de tratar a doença extremamente rara que leva seu nome. Atualmente estes trabalhos estão em andamento com abordagem de fármacos (em vários modelos animais, como ratos mutantes, gatos, cães), para reverter a característica principal desta doença: a não cura. O acompanhamento está relacionado com diversas áreas como Fonoaudiologia, Fisioterapia, Pneumologia e com a Odontologia, em que os cuidados devem ser mais intensos, pois são descritas alterações dentárias nos pacientes de todos os tipos de mucopolissacaridoses, principalmente defeitos no esmalte de dentes decíduos e permanentes, alterações no número e anatomia (formato) dos dentes, hipertrofia gengival (aumento do volume gengival), problemas ortodônticos (mordida aberta anterior, mordida cruzada, palato estreito e profundo), limitação articular para abertura bucal, bruxismo (ranger dos dentes), atraso na erupção dentária permanente, cáries, língua em protrusão (para fora da boca).
Cuidados odontológicos
Os pais dos portadores devem ficar atentos e por em prática os seguintes cuidados:
A primeira dentição, a decídua, necessita de cuidados como a dentição permanente. Os dentes decíduos devem ser tratados toda vez que o portador se alimentar, a fim de ficarem saudáveis e fornecer uma boa mastigação e deglutição dos alimentos.
Os pais devem auxiliar a própria criança a escovar seus dentes, sem pasta, tornando a escovação uma atividade agradável para a mesma.
A gengiva pode estar hipertrófica, ou seja, com o seu volume aumentado, mas não deve sangrar. O sangramento pode ser consequência de uma má escovação. Por isso, a escovação deve ser correta. Se o sangramento pós-escovação não parar, os pais devem levar a criança imediatamente ao dentista.
A criança tem que se acostumar a esta limpeza, para que mais tarde permita que os pais e o dentista mexam em sua boca.
O uso de um aparelho para correção da posição dos dentes poderá ser recomendado pelo dentista com o objetivo de facilitar a as forças mastigatórias, a higienização dentária e a fala da criança.
Para acompanhar a evolução da dentição, a visita ao dentista deve ser feita a cada três meses, quando será efetuado um exame bucal de rotina, profilaxia e aplicação tópica de flúor para prevenir o aparecimento de cáries, controlar hábitos de higiene e detectar anormalidades que necessitem de tratamento especializado.
Bibliografia
Prof. Dra. Ana Maria Martins, MUCOPOLISSACARIDOSES, Manual de orientação. Genzyme do Brasil. UNIFESP. Agosto/2002
Victor A. McKusick, OMIM Org. 6 de abril de 1986
News Medical, Nova compreensão da Síndrome de Sly. 26 de julho de 2007
Maryam Banikazemi, MD. Genetics of Mucopolysaccharidosis Type VII Treatment & Management. novembro, 2011