Revista do Museu Paulista
A Revista do Museu Paulista foi um periódico de caráter enciclopédico, publicado entre 1895 e 1938, e vinculado ao Museu Paulista, funcionando como instrumento de extensão e divulgação do acervo disponível na instituição.[1] Ao longo de quatro décadas e vinte três edições, a revista se dedicou a aprofundar temas ligados a história do Brasil, botânica, arqueologia, zoologia, e etnografia, sendo reconhecida como material de referência dos avanços nas pesquisas na área de ciência natural.[2] A maioria dos artigos tinha como foco apresentar descobertas nacionais e internacionais relacionadas a zoologia e botânica.[3] A definição do projeto editorial das coleções ficava sob responsabilidade da gestão do Museu Paulista, sofrendo alterações significativas conforme a perspectiva dos diretores.[1] Dentre eles, os dois primeiros ganharam destaque na condução do material: Hermann von Ihering (1895-1916) - cientista alemão criador da Revista e do Museu Paulista - e seu sucessor, o historiador Affonso d’Escragnolle Taunay (1917-1945).[4] Durante a terceira gestão, o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1946-1956) retomou a veiculação da revista, mas com perfil completamente distinto da anterior. A reformulação da coletânea estabeleceu um plano editorial voltado essencialmente para a antropologia e etnologia indígena. [5] Criada para representar um marco na difusão da cultura e cientificidade, a Revista do Museu Paulista reuniu, em sua primeira fase, colaboradores estrangeiros, pesquisadores que imprimiam seus estudos e visões sobre a fauna e a flora da América do Sul. Com o tempo, as séries foram se reorganizando, aprofundando-se na história e memória[6], até chegarem ao modelo idealizado por Sérgio Buarque de Holanda, simbolizando a identidade em construção do povo brasileiro[7]. Contexto Histórico e primeiras publicaçõesA Revista do Museu Paulista foi inaugurada em 1895, no mesmo ano da abertura do próprio museu.[2] Construído no espaço simbólico onde se assume que a Independência do Brasil foi proclamada, próximo ao Monumento sobre a colina do Ipiranga [3], o Museu reuniu a coleção de espécimes naturais, gravuras, mobiliário e objetos indígenas pertencente à Joaquim Sertório e que passou ao controle do Estado em 1890.[2] O acervo foi entregue , em 1891, aos cuidados da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, instituição da qual Hermann von Ihering (1850-1930) fazia parte. Doutor em medicina e integrante da Sociedade Etnológica de Berlim, Von Ihering chegou ao Rio de Janeiro em 1880, para realizar pesquisas no Museu Nacional.[3] A direção do recém- inaugurado Museu Paulista ficou sob a responsabilidade do cientista, quinze anos após seu desembarque no Brasil. Von Ihering anunciou a criação paralela de um periódico que serviria como referencial dos estudos, pesquisas e conhecimentos desenvolvidos sobre a cultura etnográfica da América do Sul. No discurso do cientista natural para a inauguração do Museu,[8] que foi publicado na primeira edição da Revista do Museu Paulista, fica explícita a preocupação em transformar a instituição em um centro de aprofundamento da história natural, assemelhando-se aos padrões de museus europeus[9]. Os primeiro volumes veiculados sob a edição de Von Ihering traduzem essa preocupação, trazendo temas chave como paleontologia, arqueologia, zoologia, botânica, e difundindo nas capas a imagem do prédio do Museu, sempre acompanhada do Monumento à Independência, buscando reafirmar a suntuosidade da instituição, desde a arquitetura até as atividades que representavam o progresso científico da República brasileira em construção.[1] Segunda fase - Periódico de MemóriaAo longo da gestão de Hermann Von Ihering, muitas polêmicas envolvendo seu posicionamento em relação a questões político-sociais[10] e sua escolha de prioridades para o Museu - voltadas mais à etnografia e menos a historiografia - conduziram o caminho para sua demissão da diretoria em 1916.[10] O posicionamento político do Brasil durante a Primeira Guerra Mundial e o fato de o cientista, apesar de naturalizado brasileiro, estar morando na Alemanha na época também podem ter influenciado a decisão.[11] A partir do décimo volume da Revista do Museu Paulista, a edição foi assumida pelo historiador Affonso d’Escragnolle Taunay (1876 - 1958) no ano de 1917. Engenheiro Civil, Taunay lecionou História Natural no Rio de Janeiro por cerca de vinte anos e era membro do Instituto Histórico e Geográfico Nacional.[12] O plano editorial do novo diretor evidenciou , o foco que seria dado para o acervo do Museu Paulista, agora comprometido em resgatar e dar ênfase a história brasileira, sobretudo do ponto de vista como nação independente que nascera no estado de São Paulo.[3] A História Natural, bem como a botânica e a zoologia, ficaram em segundo plano e foram, aos poucos, extintas como editorias da Revista. [1] Em 1922, Taunay lança a primeira edição dos Anais do Museu Paulista, dedicada a guardar os registros da história nacional. Essas publicações foram responsáveis por alimentar a imagem de certos estereótipos míticos de heróis da nação, como os bandeirantes. Outro período de destaque da gestão do historiador, foi o ano de 1935 quando o Museu Paulista passa a complementar o acervo da Universidade de São Paulo (USP). [6] Com o desligamento da seção de zoologia e botânica do Museu Paulista, a publicação da Revista do Museu Paulista também acabou ficando em segundo plano, sendo substituída por uma publicação intitulada Arquivos de Zoologia de São Paulo, em 1938.[13]A partir desse momento, os volumes permaneceram extintos até o fim do diretório de Taunay em 1945, sendo retomada apenas na gestão de Sérgio Buarque de Holanda sob uma nova configuração. Nova Série - 1946 - 1956A terceira gestão do Museu Paulista foi marcada pelas mudanças na perspectiva trazida por Sérgio Buarque de Holanda, que propôs um reposicionamento da instituição, redefinindo os eixos de atuação. [5] O historiador aprofundou as bases etnológicas indígenas, convidou parceiros de renome para contribuir com o estudo da antropologia e retomou a publicação da Revista do Museu Paulista, extinta em sua 23º edição.[6] Além de voltar a veicular a Revista, Buarque também evidenciou a transformação que a publicação sofreria a partir daquele momento, intitulando a edição de 1947 como: “Revista do Museu Paulista - Nova Série”. O termo “nova série” deixava claro a busca por uma nova fórmula e diferentes intenções para o plano editorial.[6] Tendo se consolidado como fonte de credibilidade entre os leitores, a Revista agora assumia o compromisso de acompanhar o contexto histórico do pós Segunda Guerra Mundial, que afetou culturalmente e socialmente tanto o Estado de São Paulo quanto o Brasil de maneira geral.[6]Sem desprezar a trajetória de relevância que já havia deixado no passado, os artigos unem a tradição à necessidade de estudar a identidade do povo brasileiro.[5] Os artigos mais famosos publicados neste momento da Revista, contaram com grandes nomes da sociologia e historiografia brasileira, como foi o caso de A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá, do sociólogo Florestan Fernandes , publicada em 1952; A Moda no Século XIX, de Gilda de Mello e Souza [2] também foi reconhecida, quando publicada em 1951. Em 1952, Sérgio Buarque de Holanda afasta-se do cargo de diretor do Museu Paulista para dedicar-se a pesquisas e aulas na Itália, deixando em seu lugar o etnólogo alemão Herbert Baldus, contratado já no início de sua gestão. [5] Baldus ficou responsável pela edição da Revista do Museu Paulista até o retorno de Buarque, em 1954.[5] Ver tambémReferências
Bibliografia
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