Reino da Caquécia
O Reino da Caquécia[1] (em georgiano: კახეთის სამეფო; soletra-se também: Kaxet'i ou Kakhetia) foi uma monarquia que governou na Geórgia oriental entre 1465 e 1762. Centrado na província da Caquécia, sua primeira capital foi Gremi e a última foi Telavi. O reino surgiu de um processo de separação do Reino da Geórgia em 1465. InícioA emergência do Reino da Caquécia resultou na divisão da Geórgia, que aconteceu por meio de guerras fratricidas desde a segunda metade do século XV. Isso ocorreu quando o rei Jorge VIII, que era um usurpador do trono da Geórgia, foi capturado pelo servo Qvarqvare III, Duque de Mesquécia, em 1465, e destronado em favor de Pancrácio VI. Ele então se autonomeou líder independente de Caquécia, a província no extremo leste da Geórgia, concentrada nos rios Alazani e Iori, onde permaneceu, como um anti-rei, até sua morte em 1476.[2] Mesmo com essas dificuldades, Constantino II, rei de uma Geórgia reduzida, foi obrigado a sancionar a nova ordem das coisas. Ele reconheceu, em 1490, Alexandre I, filho de Jorge VIII, como rei de Caquécia no leste, e em 1491 Alexandre II, filho de Pancrácio VI, como rei de Imerícia no oeste, deixando para si o controle do Reino de Cártlia. Desse modo uma divisão tripartite do reino da Geórgia foi consumada.[3] Diferente das outras partes da Geórgia, a Caquécia foi poupada, durante aquele tempo, de grandes invasões estrangeiras e agitação interna significativa. Mais na frente, o reino teve vantagens sobre outras partes da Geórgia em participar da rota da seda flanqueando a importante Guilão-Shamakhi-Astracã. O governo da Caquécia participou ativamente dessa troca, tecendo a vida econômica do leste da Transcaucásia e do Irão. As extensas terras férteis da Caquécia resultaram em uma prosperidade que não se observava em outras partes da Geórgia fragmentada. Essa relativa estabilidade aumentou o poder dos monarcas e o número de apoiadores deles entre a nobreza.[3] Com a emergência dos grandes impérios do leste – O Império Otomano e o Império Safávida — os reis da Caquécia usaram uma cuidadosa estratégia de equilíbrio, e tentaram fazer uma aliança com os líderes da Moscóvia contra os shamkhals de Tarki no norte do Cáucaso. Um acordo de paz otomano-safávida ocorreu em Amásia em 1555, e esse acordo deixou a Caquécia sob influência do Império Safávida. Mas os líderes locais ainda possuíam bastante autonomia e estabilidade, mostrando boa vontade para cooperar com seus senhores safávidas. Mesmo assim, em 1589, Alexandre II de Caquécia oficialmente formou uma aliança com o czar Teodoro I da Rússia, a qual nunca se concretizou. Em 1605, com o assassinato de Alexandre em um golpe patrocinado pelo Império Safávida e feito por seu próprio filho Constantino I, convertido ao islã, a estabilidade da Caquécia começou a se reverter. O povo se recusou a aceitar o assassinato de Alexandre e depôs o seu filho, forçando o relutante xá Safávida Abas I a reconhecer como novo rei Teimuraz I, sobrinho de Constantino e governante nomeado pelos rebeldes. Assim começou o longo e instável reinado de Teimuraz (1605–1648) em conflito com os safávidas.[3] Hegemonia IranianaEm meados da década de 1610, o xá Abas I renovou seus esforços para trazer a Geórgia ao Império Safávida e invadiu a Caquécia diversas vezes em 1614, 1615 e 1616. Em várias revoltas georgianas e represálias iranianas, sessenta a setenta mil pessoas foram mortas, e mais de cem mil cidadãos da Caquécia foram deportados para o Irão. A população da Caquécia caiu dois terços; grandes cidades como Gremi e Zagemi se tornaram vilas insignificantes; a agricultura caiu e o comércio sofreu uma paralisação.[3] Em 1648, o infatigável Teimuraz foi finalmente deposto. Os safávidas assumiram o controle da Caquécia e implementaram uma política para juntar a população nativa com tribos turcas nômades. Ao mesmo tempo, os povos montanheses do Daguestão começaram a atacar e colonizar o território da Caquécia. Em 1659, os caquécios iniciaram uma insurreição, massacraram os nômades e entregaram seu território a Vactangue V de Cártlia, um muçulmano georgiano governante do Reino de Cártlia, que tentou obter a permissão do xá para nomear seu filho Archil como rei de Caquécia. Por um tempo, os dois reinos do leste da Geórgia foram unidos por Xá-Navaz e seu filho, e um período de relativa paz foi alcançado. Archil fez de Telavi sua capital, no lugar de Gremi que havia sido arrasada pelos invasores iranianos, e implementou um programa de reconstrução. Entretanto, a situação durou pouco. A ascensão de Archil na Caquécia marcou o começo de uma rivalidade entre duas casas Bagrationi — os Mukhrani, à qual Archil pertencia, e a Casa da Caquécia, que perdeu o trono durante a ascensão de Teimuraz I. De 1724 a 1744, a Caquécia sofreu várias ocupações do Império Otomano e do Império Safávida. Entretanto, os serviços do príncipe da Caquécia a Nader Xá na luta contra os otomanos resultaram na anulação, em 1743, de um grande imposto que era pago à corte iraniana pela Caquécia. A cooperação de Teimuraz II com Nader fez com que ele mantivesse seu poder em Cártlia e na Caquécia, ganhando reconhecimento como rei de Cártlia e de seu filho, Heráclio II, como rei da Caquécia. Ambos os monarcas foram coroados de acordo com a tradição cristã em 1745. Eles expulsaram a influência do Irão na região depois do assassinato de Nader Xá em 1747 e se autoconcederam reinados virtualmente independentes. Seus reinados ajudaram a estabilizar o país; a economia começou a se reativar, e os ataques do Daguestão foram reduzidos, embora não eliminados. Quando Teimuraz faleceu no dia 8 de janeiro de 1762, Heráclio lhe sucedeu, unindo o leste da Geórgia como um único estado pela primeira vez em três séculos.[4] Ver tambémReferências
Bibliografia
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