Quebra de XangôA quebra de Xangô, Dia do Quebra, Quebra de 1912[1] ou ainda Quebra-quebra[2][3][4] foi um evento de intolerância religiosa que ocorreu no dia 2 de fevereiro de 1912 na cidade de Maceió, Alagoas, Brasil, consistindo na destruição de terreiros e perseguição a adeptos de religiões de matriz africana.[5][6] Na época a intolerância contra os cultos afro-brasileiros eram parte da política do Estado Brasileiro.[7] Atualmente o Estado Brasileiro considera a intolerância contra as manifestações das religiosidades afro-descendente e indígena um crime de discriminação. HistóricoInícioMuitos historiadores e estudiosos denominam-a de Quebra de 1912. Consistiu na destruição de todas as casas de culto afro-brasileiro existentes na capital. As referências historiográficas sobre o fato estão nos artigos publicados na sessão Bruxaria, de Oséas Rosas, no já extinto Jornal de Alagoas. Terreiros foram invadidos e objetos sagrados foram retirados e queimados em praça pública; pais e mães de santo foram espancados publicamente.[3][6] A capital tinha papel preponderante pela Igreja católica na formação do território alagoano. Não se sabe ao certo o número de terreiros destruídos, pessoas assassinadas ou os responsáveis pelo fato.[2] O movimento foi insuflado pela Liga dos Republicanos Combatentes,associação civil vinculada ao partido opositor Republicano Democrata, uma entidade que cometia atos ilegais como invasão a casas oficiais, tiroteios, intimidações.[3] Apesar de iniciado em Maceió, o movimento se estendeu pelo interior de Alagoas. Naquele dia, babalorixás e ialorixás tiveram seus terreiros invadidos por uma milícia armada denominada Liga dos Republicanos Combatentes, seguida por uma multidão enfurecida, e assistiram à retirada à força dos templos de seus paramentos e objetos sagrados, que foram expostos e queimados em praça pública.[6] O acontecimento culminou com a invasão e destruição dos principais terreiros de Xangô da capital do estado, populares aliados da Liga dos Republicanos Combatentes, essas pessoas eram constituídas por uma maioria de operários, eram lideradas pelo tenente reformado do exército, veterano da guerra de Canudos, Manoel Luiz da Paz. Os combatentes da Liga, nesse contexto, não deviam obediência a nenhuma autoridade e caíram com fúria sobre os terreiros. O primeiro a ser atingido, pela proximidade em que se encontrava, foi o terreiro de Chico Foguinho, cujos seguidores foram surpreendidos no auge da cerimônia religiosa, alguns deles ainda incorporados. A multidão enfurecida entrou quebrando tudo que encontrava pela frente, fazendo jus à determinação do líder, e batendo nos filhos de santo que se demoraram na fuga.[3] diversos objetos sagrados, utensílios e adornos, vestes litúrgicas, instrumentos utilizados nos cultos.[6] Percorreram a cidade, profanando os terreiros e recolhendo seus objetos sagrados, que tiveram como destino serem jogados em uma grande fogueira em via pública. Ação violenta que se estendeu para cidades vizinhas. Segundo Abelardo Duarte (1974:12) outros terreiros foram atacados entre estes o de Tia Marcelina que recebeu na ocasião do Quebra-Quebra, em sua casa, um golpe de sabre na cabeça, golpe que a deixou banhada em sangue. Uma das consequências deste evento foi a modificação, por parte dos adeptos, das práticas de culto aos Orixás, criando o chamado Xangô rezado baixo.[8] A outra foi que estes partissem das Alagoas em busca de águas mais tranquilas.[9] Este ato, conduzido pela Liga dos Republicanos Combatentes se dá no auge de uma briga política entre a oposição e o Governador Euclides Vieira Malta. Às vésperas da eleição, que tinha como candidatos Clodoaldo da Fonseca para governador e Fernandes Lima para vice, disputando com o oligarca que é acusado por seus opositores de utilizar feitiçarias dos Xangôs para se manter no poder. Na campanha da oposição são atribuídos ao então governador adjetivos como Soba da Mata Grande, Leba, papa do xangô alagoano.[2] Sendo através dessa suposta ligação às práticas religiosas de origem africana, desmoralizado perante a sociedade alagoana.[9] Motivação PolíticaEste ato se dá no auge de uma briga política entre a oposição e o Governador Euclides Vieira Malta.[9] O antropólogo Ulisses N. Rafael explica: É como se finalmente a oposição tivesse encontrado, vamos dizer assim, um foco, tivesse encontrado um ponto vulnerável dentro da atuação do Euclides Malta, porque até então nenhuma das coisas Que se tentou foi suficiente pra que ele ficasse impedido de continuar no poder. E isso parece que tem um efeito devastador. Essas acusações de ligações dele com os terreiros causam realmente um estardalhaço, de modo que ele fica completamente desmoralizado.[2] Intolerância ReligiosaAs acusações ao Governador, de se relacionar com os Xangôs, são vinculadas, principalmente, no periódico oposicionista Jornal de Alagoas. Neste, na série de matérias intituladas Bruxaria, publicada nos dias consequentes ao episódio também conhecido como Operação Xangô, a suposta relação de Euclides Malta com os Xangôs denota a Mãe de santo Tia Marcelina como sua feiticeira protetora segundo as referidas reportagens, o nefasto governo de Euclides Malta e as ditas casas de feitiçaria barata que, segundo este periódico,se encontravam extremamente difundidas pela cidade de Maceió, se relacionavam na mais estreita afinidade.[9][6] De acordo com este jornal o insulto à oligarquia Malta de utilizar feitiçarias para se manter no poder, desencadeia uma violência na sociedade alagoana contra as referências de matriz africana.[2] Como conclui Rachel Rocha em sua entrevista: Por que a oposição de Fernandes Lima teria usado essa argumentação da associação de Euclides Malta às casas de culto para fazer uma contra propaganda do governador? Porque ele sabia que esse argumento ecoava negativamente na população, então essa era uma população preparada secularmente para não gostar dessas referências, para se envergonhar dessas referências, para querer esconder sua africanidade do resto da população, esconder esses traços da nossa suposta africanidade.[3] Pedido de PerdãoO governador do Estado Teotonio Vilela Filho assinou, na quarta-feira dia 1º de Fevereiro de 2012 (cem anos após o massacre), um pedido de perdão oficial do Governo de Alagoas a todas as comunidades de terreiros de Alagoas, pelas atrocidades que marcaram o dia 1º de fevereiro de 1912, conhecido como a Quebra do Xangô ou Quebra de 1912. A assinatura foi feita no final dum cortejo popular, que passou por diversos locais a destacar a Praça D. Pedro II, Rua do Sol até a Praça dos Martírios, trecho este considerado importante ponto de confluência de terreiros de Maceió.[10] Em seu discurso, declarou o seguinte:
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