Filho do também chamado Paulo Leminski e de Áurea Pereira Mendes, seu pai era de origem polonesa e sua mãe filha de pai português e mãe brasileira de origem negra e indígena.[1][2] Paulo Leminski foi um filho que sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade.[6] Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito, o que o fez ser dono de uma extensa e relevante obra.[6] Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados populares.[3]
Em Curitiba, estudou no Colégio Estadual do Paraná.[7] Em 1958, aos quatorze anos,[8] foi para o Mosteiro de São Bento em São Paulo e lá ficou o ano inteiro.[2] Lá adquire conhecimentos de latim, teologia, filosofia e literatura clássica.[1] Leminski queria ser monge, contrariando o desejo de seu pai, que queria que ele seguisse sua carreira militar.[2] Leminski abandonou suas vocações religiosas em 1963.[1][2]
Leminski casou-se em 9 de fevereiro de 1963 com a desenhista e artista plástica Nevair "Neiva" Maria de Sousa, da qual se separou em 1968.[2] Ingressou também nas faculdades de Direito e de Letras.[2] Ainda em 1963, viajou para Belo Horizonte, participando da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, onde conheceu Haroldo de Campos, amigo e parceiro em várias obras, Augusto de Campos e Décio Pignatari, criadores do movimento poesia concreta.[1][2][9]
Estreou em 1964 com cinco poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, em São Paulo, porta-voz da poesia concreta paulista.[1][4] Em 1965 tornou-se professor de história e de redação em cursos pré-vestibulares,[1] após ter abandonado a faculdade,[2] chegando a se tornar o professor mais requisitado da cidade, por sua didática.[9] Essa experiência o motivou a escrever seu primeiro romance, Catatau,[1] que demorou 8 anos para ser concluído.[2]
Em 1966, ficou em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna promovido pelo jornal O Estado do Paraná, desembolsando a quantia de 80 mil cruzeiros.[2] Durante essa época começou a praticar judô, conseguindo a faixa preta 4 anos depois.[2] Além de praticante, Leminski também foi professor de judô.[10]
Em 1967, fundou o Grupo Áporo, que em seu manifesto se propunha a combater o "provincianismo cultural de Curitiba".[11] No mesmo ano, começa a escrever Catatau.[11]
Em 1968, participou do I Concurso Nacional de Contos do Paraná, com um conto intitulado Descartes com lentes. Finalista do concurso, não venceu, o motivando a expandir o texto, que acabaria se tornando Catatau.[11]
Casou-se em 1968 com a também poeta Alice Ruiz.[1][2] Leminski e Alice foram morar em uma espécie de comunidade hippie.[6] Ficaram lá por mais de um ano, e só saíram com a chegada do primeiro de seus três filhos, Miguel Ângelo.[6] De 1969 a 1970 decidiu morar no Rio de Janeiro, trabalhando para jornais e revistas, e retornando a Curitiba para se tornar diretor de criação e redator publicitário.[9]
Na década de 1970, teve poemas e textos publicados em diversas revistas - como Qorpo Estranho, Muda Código e Raposa.[1][3][4]
Em 1975, lançou o seu ousado Catatau,[3][9] que chamou de "prosa experimental".[4][carece de fontes?] Em 2012, Catatau foi traduzido integralmente para o castelhano por Reynaldo Jiménez.[12][13]
Em 1976, publica Quarenta clics em Curitiba em conjunto com Jack Pires. Sendo uma espécie de fotolivro, possui 40 poemas escritos por Leminski e 40 fotos em preto e branco tiradas por Pires.[9][14]
Em 1980, com a iniciativa de amigos, publica Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase.[9][14] No mesmo ano, publica Polonaises.[9][14] Todos os livros publicados por Leminski até esse ponto foram publicados de forma independente.[14] Serão esses dois livros em conjunto com outras poesias escritas mais tarde que formarão a obra Caprichos e relaxos, publicada em 1983 pela editora Brasiliense por iniciativa do editor Luiz Schwarcz.[14]
Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas (como o zen-budismo[9]) e publicou em 1983 uma biografia de Matsuo Bashō (Matsuó Bashô: a lágrima do peixe), autor que o influenciou em seus haicais[5] e do qual traduziu vários textos.[16][17] Além da biografia de Bashō, escreveu também durante a década de 1980 biografias de Cruz e Sousa (Cruz e Sousa: o negro branco), Leon Trótski (Trotsky: a paixão segundo a revolução) e Jesus Cristo (Jesus: a.C.),[2][4][18] todos personagens no qual influenciaram Leminski de certa maneira.[19] Das quatro biografias, duas são baseadas em traduções feitas por Leminski: Jesus possui várias traduções dos evangelhos, e Matsuó Bashô possui mais de 30 traduções de seus haicais, além de trechos de seus diários e outros breves poemas de autores orientais e ocidentais.[17] Publicadas individualmente, as biografias posteriormente foram publicadas em volume único, intitulado Vida.[18]Vida foi traduzido ao castelhano por Joaquín Correa.[20]
Em 1984, publica seu segundo romance, Agora é que são elas.[21]
Em 1985, publicou Hai Tropikais, em parceria com Alice Ruiz.[22]
Publicou o livro infanto-juvenil Guerra dentro da gente em 1986, em São Paulo.[9] 1986 foi o ano de sua última tradução, Malone morre, de Samuel Beckett, e de sua última biografia, Trotsky.[9]
Em 1989, volta para Curitiba, estreando como colunista para a Folha de Londrina em abril.[24]
Dentre suas atividades, criou habilidade de letrista e compositor. Ele aprendeu seus primeiros acordes com seu irmão, Pedro Leminski Neto, e seguiu criando e compondo de maneira autodidata.[25]
Como músico tinha projetos de mostra autoral em Curitiba e abriu diversos shows do músico Jorge Mautner.[25] A música estava ligada às obras de Paulo Leminski, uma de suas paixões, proporcionando uma discografia rica e variada.[25]Gilberto Gil compôs a canção Estrela por ocasião do nascimento da filha do poeta.[25][26]
Leminski era trotskista e muito próximo da Organização Socialista Internacionalista (OSI), grupo que estava em situação de clandestinidade devido à repressão do regime militar. Escreveu um poema para o movimento Liberdade e Luta (Libelu), tendência estudantil universitária fundada em 1976 na USP, cuja OSI era responsável e que atuava no combate ao regime militar, ficando famosa pela palavra de ordem “abaixo a ditadura”. Chamado Para a Liberdade e Luta, o poema refere aos trotskistas como "aqueles que o poder não corrompeu".[29]
De 1968 a 1988 viveu com a poeta Alice Ruiz, que organizou sua obra, e quem inspirou sua primeira composição, Flor de Cheiro, em 1969. Com ela teve três filhos: Miguel Ângelo Leminski (1969-1979), que morreu com dez anos de idade, vítima de um linfoma, Aurea Alice Leminski (1971) e Estrela Ruiz Leminski (1981).[1][2][3] A caçula lançou o álbum Leminskanções[8][30] em 2014, com 25 músicas de Paulo e um Songbook,[25] registrando cerca de 109 composições de seu pai.
Morreu em 7 de junho de 1989, em consequência do agravamento de uma cirrose hepática[1][2] que o acompanhou por vários anos.[3][9]
No ano de sua morte, foram publicadas a segunda edição de Catatau e o livro de poemas de literatura juvenil A lua no cinema.[9]
Em 1991,[31] é publicada postumamente a obra La vie en close, com poemas inéditos e organização de Alice Ruiz.[32] Outros livros de poesia publicados postumamente com conteúdo inédito incluem Winterverno em conjunto com João Suplicy, publicado primeiramente em 1994,[33][34]Metaformose: uma viagem pelo imaginário grego, publicado em 1994[35] e que foi agraciado com o Prêmio Jabuti de Poesia de 1995[36] em 3° lugar,[37] e O ex-estranho, publicado em 1996.[38] Em 2004, foi publicado Gozo fabuloso, livro de contos e crônicas.[9]
Em 2013, a compilação da poesia completa Toda Poesia, também organizada por Alice Ruiz, que acompanhou toda a produção de sua obra, foi um fenômeno de vendas da editora Companhia das Letras e fixou a importância do poeta na literatura brasileira.[39] Em 2022, o livro chega ao mercado norte-americano com a tradução do professor emérito do Departamento de Estudos em Espanhol e Português da Universidade da Flórida, Charles A. Perrone, em parceria com o Doutor em Estudos Literários da Universidade Federal do Paraná, Ivan Justen Santana.[40]
Quarenta clics em Curitiba. Poesia e fotografia, com o fotógrafo Jack Pires. Curitiba, Etecetera, 1976. (2ª edição Secretaria de Estado Cultura, Curitiba, 1990.) n.p.
Polonaises. Curitiba, Ed. do Autor, 1980. n.p.
Não fosse isso e era menos/ não fosse tanto e era quase. Curitiba, Zap, 1980. n.p.
Caprichos e relaxos. São Paulo, Brasiliense, 1983. 154p.
e Ruiz, Alice. Hai Tropikais. Ouro Preto, Fundo Cultural de Ouro Preto, 1985. n.p.
Caprichos e relaxos. São Paulo, Círculo do Livro, 1987. 154p.
1982 - Baile no meu coração - com Moraes Moreira no disco COISA ACESA
1982 - Decote Pronunciado - com Moraes Moreira e Pepeu Gomes no disco COISA ACESA
1982 - Pernambuco Meu - com Moraes Moreira no disco COISA ACESA
1983 - Sempre Ângela - com Moraes Moreira e Fred Góes no disco SEMPRE ANGÊLA de Ângela Maria
1983 - Teu Cabelo - com Moraes Moreira no disco PINTANDO O 8
1983 - Oxalá - com Moraes Moreira no disco PINTANDO O 8
1984 - Mancha de Dendê não sai - com Moraes Moreira no disco MANCHA DE DENDÊ NÃO SAI
1984 - Milongueira da Serra Pelada, O Prazer do Poder, Circo Pirado, Xixi nas estrelas, Cadê Vocês?, Coração de Vidro, Frevo Palhaço, Viva a Vita mina com Guilherme Arantes no disco PIRLIMPIMPIM 2
1985 - Alma de Guitarra - com Moraes Moreira no disco TOCANDO A VIDA
1985 - Vamos Nessa - com Itamar Assumpção no disco SAMPA MIDNIGHT
1986 - Desejos Manifestos - com Moraes Moreira e Zeca Barreto no disco MESTIÇO É ISSO
1986 - Morena Absoluta - com Moraes Moreira no disco MESTIÇO É ISSO
1988 - UTI - com Arnaldo Antunes, gravado por Clínica no disco CLÍNICA
1990 - Oração de um Suicida -com Pedro Leminski, Blindagem no disco BLINDAGEM
VAZ, Toninho. Paulo Leminski - O Bandido Que Sabia Latim. Record, 2001. 378p
Documentários
ALESSI, Cris e MALCHITZSKY, Mario. A Curitiba de Leminski (2017)- Documentário de Curta Curitiba e Prefeitura de Curitiba. Documentário sobre pontos da cidade de Curitiba frequentados por Paulo Leminski.
ANÍSIO Pedro Anísio. Cine-Haikai (1984) de Pedro Anísio. Curta inspirado em Oswald de Andrade com Paulo Leminski e mendigos de Curitiba, filme poema que encontra na poesia o seu roteiro.
GARCIA, Sonia. Paulo Leminski, Um coração de Poeta (1989) de Sonia Garcia. Documentário sobre a vida e a obra de Leminski, prosa, poesia, música, com depoimentos de Boris Schnaiderman, Leila Perrone Moyses, Haroldo de Campos, Cassiana Lacerda, Paulo Vítola, Caetano Veloso e outros.
KNIJINIK, João. POLACO LOCO PACA (1987) Documentário de João Knijinik, com Paulo Leminski. Curta-metragem histórico que cobre a passagem dos Leminski pela cidade de Porto Alegre na década de 1980.
SCHUMANN, Werner. Paulo Leminski - Ervilha da Fantasia (1985) - Documentário de Werner Schumann, com Paulo Leminski. No filme, Leminski fala sobre poesia, cinema, literatura, psicanálise e apresenta a sua obra. Quatro anos depois, ele viria falecer em Curitiba.[42]
Reportagens
Rede Globo: Programa Meu Paraná, especial Paulo Leminski, exibido em 17 de outubro de 2009.[43]
Rede Minas: Programa Diverso, especial sobre Paulo Leminski, exibido em 23 de outubro de 2012.
Estudos sobre sua obra
CARVALHO, Tida. O Catatau de Paulo Leminski: (des)coordenadas cartesianas. Cone Sul, 2000.[44]
LIMA NETO, Manoel Ricardo de. Entre percurso e vanguarda - alguma poesia de Paulo Leminski. São Paulo: editora Annablume, 2002.
MARQUES, Fabrício. Aço em flor: a poesia de Paulo Leminski. Autêntica Editora, 2001. 135p.
MELO, Marcelo J. Leminski e a Cidade: Poesia, Urbanização e Identidade Cultural. Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1996. 61p.
MENDONÇA, Maurício Arruda. O Romance-idéia Catatau de Paulo Leminski - uma Abordagem Literária e Filosófica - Londrina : Universidade Estadual de Londrina - Centro de Letras e Ciências Humanas, 2009. Dissertação de Mestrado.
MOREIRA, Paula Renata. Massa para o biscoito e biscoito para a massa: tensões entre expressão e construção na poética leminskiana. Fortaleza: UFC, 2006. Dissertação de mestrado.
NOVAIS, Carlos Augusto. O rigor da vida e o vigor do verso: o haikai na poética de Paulo Leminski. Belo Horizonte: UFMG, 1999. Dissertação de mestrado.
NOVAIS, Carlos Augusto. As trapaças de Occam: montagem, palavra-valise e alegoria no Catatau. Belo Horizonte: UFMG, 2008. Tese de doutorado.
OLIVEIRA, Fátima Maria de. Correspondência e vida de Paulo Leminski: f(r)icção de (tr)aços ou essa fúria que quer seja lá o que for. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2004. Tese de doutorado.
PEREIRA, Lívia Mendes. Paulo Leminski tradutor: a recriação do Satyricon de Petrônio em Língua Portuguesa do Brasil. Editora Dialética, 2022
REBUZZI, Solange. Leminski, guerreiro da Linguagem. 7Letras
SALVINO, Romulo Valle. Catatau: Meditações da Incerteza. São Paulo: Educ Fapesp, 2000.
SANDMANN, Marcelo. (org.) A pau a pedra a fogo a pique: dez estudos sobre a obra de Paulo Leminski. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, 2010.
SANTANA, Ivan Justen. Paulo Leminski, intersemiose e carnavalização na tradução. São Paulo: USP, 2002. Dissertação de mestrado.
Segundo um dos biógrafos do poeta, Toninho Vaz, em 31 de janeiro de 1968 nascia o bebê de Neiva, primeira esposa de Leminski, o qual foi registrado em 15 de fevereiro de 1968 como Paulo Leminski Neto, filho de Paulo Leminski Filho e Nevair Maria de Souza Leminski.[49] Todavia, em 1976, já separada de seu primeiro marido desde o ano de nascimento da criança, Neiva registrou o filho com o nome de Luciano Costa, tendo Ivan da Costa como pai (que efetivamente criou o rapaz): gerando a polêmica em torno da verdadeira identidade dele. Segundo a mesma, a certidão de nascimento anterior foi tirada por pressão da família do Leminski, com a qual vivia em uma comunidade hippie e que não aceitaria o fato de que ela engravidara de outro homem.[50]
Referências
↑ abcdefghijklm«Paulo Leminski». Enciclopédia Itaú Cultural. 25 de junho de 2020. Consultado em 23 de agosto de 2022
↑Leminski, Paulo (9 de junho de 2016). Caprichos & relaxos. [S.l.]: Companhia das Letras. Na TV Bandeirantes cria e apresenta o quadro “Clic-poemas” no Jornal de vanguarda.
↑Leminski, Paulo (9 de junho de 2016). Caprichos & relaxos. [S.l.]: Companhia das Letras. Volta para Curitiba. 1989: Em abril, estreia como colunista na Folha de Londrina.