Paulo (de Ballester-Convallier)
Paulo, Bispo de Nazianzo, (nascido Francisco de Ballester-Convallier) (Barcelona, 3 de julho de 1927 — Cidade do México, 31 de janeiro de 1984) foi um religioso e acadêmico espanhol. Após alguns anos enquanto monge capuchinho, seus estudos na biblioteca de seu mosteiro levou-o a converter-se ao anglicanismo, posteriormente viajando para a Grécia e adotando o cristianismo ortodoxo, sendo ordenado hierodiácono aos 25 anos. Após servir na Grécia e nos Estados Unidos enquanto hegúmeno, foi consagrado Bispo de Nazianzo no México em 1970, onde, além de sua atividade missionária, tornou-se professor da Universidade Autônoma do México e uma personalidade culturalmente influente no país, fundando a Associação Cultural Santorini e o Instituto Cultural Helênico, além de tomar parte no Sistema Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família, programa de assistência social presente no país. Sua atividade chegou ao fim em 1984, quando foi assassinado a tiros após celebrar a Divina Liturgia dominical por Rafael Román, ex-general mentalmente perturbado que tentou cometer suicídio em seguida. As autoridades locais não descartaram a possibilidade de que o assassino teria sido motivado por alguma espécie de fanatismo religioso, pelo que Paulo é lembrado como um hieromártir por alguns ortodoxos. Além de suas intensas atividades pastorais, o Bispo Paulo foi um historiador, filósofo e humanista. Em adição a seus idiomas nativos (o catalão e o espanhol), ele também sabia grego, francês, italiano, inglês, latim e português.[1] BiografiaFrancisco de Ballester-Convallier nasceu em 3 de julho de 1927, em Barcelona, Espanha, filho do banqueiro Francisco Ballester Galés e da cirurgiã Concepción Convalier Comas, sendo, através de seu pai, membro de uma tradicional família catalano-aragonesa, que produzira personalidades do Ducado de Atenas, onde um de seus membros mais proeminentes foi Antônio Ballester, Arcebispo de Atenas.[2] A desagregação de sua família durante a Guerra Civil Espanhola e a destruição de edifícios religiosos pelos republicanos o impactaram profundamente, levando-o a escolher a vida religiosa. Em 1944, começou a estudar filosofia e teologia entre os Capuchinhos de Sarrià. Após a conclusão do curso, tornou-se um noviço em um mosteiro da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em Arenys de Mar, onde depois seria tonsurado monge.[1][3] Trabalhando na biblioteca do mosteiro, teve contato com um histórico de anátemas da Inquisição contra todos os que apoiavam a validade apostólica autônoma do Apóstolo Paulo, que mais tarde, descobriu serem repetidos pelos papas João XXII, de Clemente VI, Pio X e Bento XV.[4] Sendo assim, desencorajado por seu confessor a estudar a Bíblia e os Padres da Igreja, ele renunciou às doutrinas católicas do Papado, movendo-se para Madri, onde pôde juntar-se à Igreja Anglicana e estabeleceu contato com o Conselho Mundial de Igrejas, com o tempo conhecendo cristãos ortodoxos.[4] A Igreja Ortodoxa tornou-se cada vez mais interessante para o jovem monge Francisco, levando-o a comprar livros gregos e russos de lojas ocidentais, bem como receber alguns fornecidos pelo Arquimandrita Bento Katsenavakis, de Nápoles.[4] Em 1951, ciente de que ainda não havia presença ortodoxa na Espanha, rumou para Paris, onde começou a ter lições pessoais sobre o cristianismo ortodoxo e a língua grega com o Bispo Cassiano da Catânia e o Arquimandrita Timótheos Chalóftis, além de corresponder-se com a Igreja da Grécia e o Patriarcado Ecumênico no período.[5] Vida clerical ortodoxaEm julho de 1952, Francisco foi crismado e tonsurado no Santo Mosteiro da Dormição da Mãe de Deus, em Penteli, Atenas Setentrional, recebendo o nome de batismo de Paulo, e em 26 de dezembro do mesmo ano foi ordenado ao diaconato pelo Metropolita Dionísio de Sérvia e Kozani, tornando-se hierodiácono.[5] Em 1953, moveu-se para Atenas, onde foi recebido pelo Arcebispo Espiridão de Atenas e pelo Metropolita Dionísio, sendo ordenado ao sacerdócio pelo Bispo Crisóstomo de Maratona em 26 de junho de 1954, na Catedral Metropolitana de Atenas.[1][5] Paulo serviu na Igreja de Constantinopla até 1959, ano em que obteve a nacionalidade grega com intervenção do Arcebispo Teócleto II de Atenas, formando-se em teologia ortodoxa em 1955 e sendo elevado a hegúmeno em 1956.[6] Em outubro de 1959, foi enviado para Nova Iorque, para servir como sacerdote na Arquidiocese Greco-Ortodoxa da América, de onde foi encaminhado para a Igreja da Anunciação da Teótoco, em Scranton, onde serviu até 1961, ano em que foi enviado ao México enquanto delegado arquidiocesano.[7] No México, logo se esforçou para a criação de diversas atividades culturais para a população grega, buscando conciliar preservação da memória das gerações mais antigas com a participação da snovas, além de iniciar trabalhos missionários ao longo do país, em cidades como Guadalajara, Culiacán, Veracruz, Cuernavaca e Querétaro.[8] Adicionalmente, a partir de 1964, trabalhou em seu período no país como professor de história, grego antigo e filologia latina na Universidade Autônoma do México.[9][10] Em 1965, representou a Igreja Ortodoxa em assembleia do Concílio Mundial de Igrejas em San Juan.[11] Em 1966, fundou a Associação Cultural Santorini, a fim de difundir a cultura, a história e as artes através de conferências ministradas por especialistas nas áreas.[10] Foi nomeado no mesmo ano vigário arquidiocesano no México.[4] Em 1970, foi nomeado Bispo Titular de Nazianzo pelo Santo Sínodo presidido pelo Patriarca Atenágoras, após o antigo titular, Dionísio (Psiáchas), ser eleito Metropolita da Nova Zelândia.[12] Paulo foi consagrado ao episcopado no mesmo ano, em uma cerimônia em Nova Iorque presidida pelo Arcebispo Tiago da América.[13] As atividades culturais do Bispo prosseguiram com a fundação do Instituto Cultural Helênico na Cidade do México em 1973, com apoio de José López Portillo, então Secretário da Fazenda e Crédito Público, grande admirador da cultura grega.[14] O instituto foi fundado com o propósito de divulgar e fomentar a cultura helênica no México através de conferências, cursos, workshops, licenciatura e mestrado em artes, história, cultura e ciências humanas, bem como uma diversidade de atividades culturais, permanecendo em atividade.[15] Através do Instituto, o hierarca tornou-se um grande expoente do teatro clássico no país, tendo como uma de suas fiéis seguidoras a atriz Ofelia Guilmáin.[16] Em sua carreira acadêmica, chegou a ocupar a cátedra de grego clássico na Universidade Autônoma do México até sua morte. Sua amizade com Carmen Romano, esposa de José López Portillo e primeira-dama do México de 1976 a 1982, fez dele uma das personalidades mais influentes no âmbito cultural mexicano durante a incumbência da mesma, o que incluiu ampla participação do bispo no Sistema Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família, programa de assistência social presente em todos os estados do México.[16][17] MorteAs atividades do prolífico Bispo Paulo chegaram a seu fim em 22 de janeiro de 1984, depois de celebrar a Divina Liturgia dominical, quando foi alvejado quatro vezes por Rafael Román, ex-general mexicano mentalmente perturbado que morava na vizinhança, que depois atirou contra si próprio em uma aparente tentativa de suicídio frustrada. O hierarca não resistiu aos ferimentos, falecendo no dia 31 do mesmo mês. As autoridades não descartaram a possibilidade de que o assassino, que apresentava confusão mental, teria sido motivado por alguma espécie de fanatismo religioso.[13][16][18] LegadoO assassinato do hierarca teve repercussão mundial, ocupando a primeira página do jornal grego Kathimerini e rendendo-lhe elogios no espanhol El País.[16][18] Foi sepultado no Cemitério Espanhol do México no dia 2 de fevereiro, com ofício memorial celebrado pelo Arcebispo Tiago da América, primaz da Arquidiocese, e funeral atendido pelo Metropolita Silas de Nova Jérsei e o Bispo Genádio de Buenos Aires.[4] Estêvão (Charalambídis), protossincelo na Metrópole da Gália, foi consagrado o próximo Bispo Titular de Nazianzo em 1987.[19] Apesar de não ter sido formalmente canonizado, o Bispo Paulo é lembrado como um Neo-Hieromártir por alguns cristãos ortodoxos.[13][20] Em uma visita ao México em 2006, o Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla pediu ao Metropolita Atenágoras do México e América Central que transferisse suas relíquias para serem sepultadas na Catedral de Santa Sofia, em Naucalpan, onde há um monumento dedicado ao falecido bispo, que construiu ele mesmo a Catedral.[4][21][22] Ofícios memoriais permanecem sendo celebrados pelo clero local no aniversário de sua morte.[23] A Associação Cultural Santorini, fundada por Paulo em vida com finalidades gerais enquanto o mesmo ainda era apenas um arquimandrita, hoje se dedica exclusivamente a preservar e divulgar o legado intelectual que o erudito bispo deixou enquanto acadêmico helenista.[10] Obras enquanto autorPaulo de Nazianzo publicou em vida os seguintes livros:[24][25]
Ainda publicou traduções livres para o espanhol de Eurípides, Aristófanes e Sófocles, através do Instituto Cultural Helênico.[24] NotasReferências
Bibliografia
Ligações externas
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