Pat O'Callaghan
Patrick "Pat" O'Callaghan (Banteer, 28 de janeiro de 1906 - Clonmel, 1 de dezembro de 1991) foi um atleta e bicampeão olímpico irlandês, o primeiro de seu país a conquistar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos, lembrado como um dos maiores atletas irlandeses de todos os tempos. BiografiaNasceu no condado de Cork, no sudoeste da Irlanda, e aos 15 anos ganhou uma bolsa de estudos para a Academia Patrícia em Mallow, a capital do condado. Durante sua permanência na academia, ele pedalava cerca de 50 km diários para não perder as aulas.[1] Completando os estudos secundários, estudou medicina no Colégio Real de Cirurgiões em Dublin, formando-se com apenas 20 anos de idade.[2] Em 1926, juntou-se ao Corpo Médico da RAF. Depois de servir, começou a trabalhar como médico particular em Clonmel, no Condado de Tipperary, o que faria até sua aposentadoria em 1984. Conhecido por todos como "Dr. Pat", um tratamento especial que durante a vida deu aos meninos que consultava ou operava, era deixá-los ver suas medalhas de ouro olímpicas. Atleta de esportes variados na infância e adolescência, assim como seus dois irmãos, em 1926 ele começou a demonstrar interesse no lançamento do martelo, chegando a criar seu próprio martelo olímpico, fazendo um buraco de 1 cm num bola de ferro de 16 libras e enchendo-a com rolamentos de bicicleta.[1] Construiu também um círculo de lançamento num campo próximo à casa, em Duhallow, onde treinava desenvolvendo seu estilo único. Em 1927, voltou a Dublin onde venceu o campeonato irlandês da prova, com um lançamento de 43,28 m.[1] No ano seguinte, manteve seu título com um lançamento ainda maior, 49,37 m, o que o credenciou para defender a Irlanda nos Jogos de Amsterdã 1928. No mesmo dia, um de seus irmãos, Con, venceu o arremesso de peso e o decatlo também se qualificando para os Jogos.[1] Amsterdã 1928Em Amsterdã, aos 23 anos, O'Callaghan era considerado um novato e não se esperava muito dele. Entretanto, ele ficou em sexto lugar nas eliminatórias e fez um primeiro lançamento na final de 47,24 m. Isto o deixou um terceiro lugar, à frente do favorito britânico Malcolm Nokes. No segundo lançamento, ele usou o martelo do sueco Ossian Skiöld, líder até então, e o lançou a 51,20 m, marca inalcançável pelo sueco ou qualquer outro. Com o lançamento, O'Callaghan ganhou sua primeira medalha de ouro olímpica e também a primeira da Irlanda recém-independente. O pódio teve sua carga de emoção, com a primeira vez em que a bandeira irlandesa foi hasteada e o hino irlandês ouvido na história dos Jogos Olímpicos.[1] Carreira entre JogosDe volta ao país, O'Callaghan passou a ter muito mais sucesso na carreira do que tinha obtido nacionalmente até então, cimentando sua fama de grande atleta prolífico de campo, entre 1929 e 1932. No Campeonato Nacional de Atletismo de 1930, ele venceu as provas de lançamento de martelo, arremesso de peso, lançamento de disco e salto em altura, apenas alguns dos títulos que conquistou neste período.[1] No verão de 1930, ele tomou parte num torneio de exibição de dois dias em Estocolmo, onde o sueco Oissian Skiöld, a quem havia derrotado em Amsterdã, esperava-se tivesse sua revanche. No primeiro dia da competição, o sueco quebrou o recorde europeu da prova em seu primeiro lançamento. Logo em seguida, O'Callaghan fez seu lançamento e quebrou o recorde recém conquistado por Skiöld. No segundo dia, os dois fizeram lançamentos praticamente iguais até que o irlandês, em sua última tentativa, lançou o martelo a 54,25 m, vencendo o duelo com novo recorde europeu e provando que a vitória em Amsterdã não tinha sido fortuita.[1] Los Angeles 1932Na época dos Jogos de Los Angeles 1932, O'Callaghan estava lançando o martelo regularmente acima dos 51 metros. A equipe olímpica irlandesa estava muito melhor organizada então, e as despesas para a viagem aos Estados Unidos foram custeadas por um levantamento de fundos feito de porta em porta pela Igreja. Pouco antes do embarque, ele conquistou mais um título, o quinto, no martelo, nos campeonatos nacionais. Na chegada a Los Angeles, os treinamentos e preparações feitos para a defesa de seu título se mostraram inócuos. A superfície do círculo de onde se lançava o martelo sempre tinha sido de grama ou barro, e os atletas usavam sapatilhas com pinos de aço fixados no calcanhar e na sola para maior aderência. Entretanto, em Los Angeles uma superfície de cinzas duras foi acrescida ao círculo. Por alguma razão, o comitê olímpico da Irlanda não avisou a O'Callaghan da mudança e ele entrou a prova com sapatilhas utilizadas para um piso diferente e que não lhe davam a mesma aderência.[1] Ele tentou seu primeiro lançamento usando as sapatilhas com as travas menores, mas descobriu que elas travavam o impulso ao arranharem na superfície, no momento dele fazer seu movimento mais crucial, a terceira rotação. Mesmo assim, numa última tentativa de tudo-ou-nada, ele conseguiu se classificar para a final com um lançamento de 52,12 m. Na pista, a final dos 400 m c/ barreiras estava atrasada. O'Callaghan foi até o alojamento do zelador do estádio, apanhou um serrote e serrou fora os pinos da sola da sapatilha. Apesar do resultado não ser o ideal, ele sentiu uma maior aderência no calçado. Foi assim que voltou ao círculo de arremessos e na segunda tentativa, lançou o martelo a 53,92 m,[2] conquistando pela segunda vez a medalha de ouro, a terceira da Irlanda, já que, poucos minutos antes, disputando os 400 m c/ barreiras já então realizados, seu compatriota Bob Tisdall ganhou a segunda medalha de ouro da história do país.[1] AposentadoriaDevido às constantes celebrações de mais um sucesso olímpico, começando por ele e Tisdall sendo recebidos por multidões gigantescas em Dublin e em sua cidade natal de Kanturk,[1] O'Callaghan abriu mão de disputar o campeonato irlandês em 1933, concentrando-se apenas em treinamentos e em aprimorar uma quarta rotação do corpo para seu lançamento, o que o fez conseguir um lançamento de 54,25 m naquele ano, um novo recorde europeu.[1] Neste meio termo, uma grande controvérsia política surgiu entre a Associação Britânica de Atletismo Amador e a Associação Nacional de Atletismo e ciclismo da Irlanda, com a primeira exigindo jurisdição sobre a Irlanda do Norte e a segunda exigindo jurisdição sobre toda a Irlanda. O desentendimento veio a tona e chegou ao ápice durante os preparativos para Berlim 1936, quando a Federação Internacional de Atletismo finalmente desqualificou a Irlanda. O'Callaghan permaneceu leal a sua associação, uma decisão que levou ao fim de sua carreira internacional. Em Berlim, nenhum irlandês competiu e O'Callaghan compareceu aos Jogos apenas como espectador comum.[1] Depois de se retirar do atletismo, ele continuou a acompanhar o esporte e foi a todos os Jogos Olímpicos até Seul 1988. Morreu em 1991, aos 86 anos de idade. Ver tambémReferências
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