O Inferno É Fogo
O Inferno É Fogo é o sexto disco de estúdio do cantor Lobão, lançado em 1991[1]. Foi também o último álbum lançado sob o contrato pela BMG, encerrando nove anos de parceria com a companhia. Contexto e GravaçãoDiferentemente do que aconteceu com outros álbuns, que foram registrados pelo cantor em situações adversas (como prazos curtos de gravação ou problemas com a Justiça), O Inferno é Fogo foi produzido em circunstâncias tranquilas para Lobão, a despeito do artista ter se envolvido em pelo menos dois incidentes ocorridos no início de 1991: o conturbado episódio vivido na segunda edição do festival Rock In Rio (quando foi alvejado por diversos objetos atirados pelo público) em janeiro e um acidente de trânsito que veio a sofrer pouco tempo depois. Quando entrou em estúdio para a gravação do sétimo disco, em maio, o cantor ainda sentia dores oriundas das lesões provocadas pelo acidente. O disco a princípio se chamaria Sangue, Suor e Esperma, porém Lobão acabou descartando tal título, justificando que o mesmo era "exagerado, falsamente polêmico", em depoimento aos repórteres do Segundo Caderno do jornal O Globo, em 18 de Julho de 1991[2]. Na mesma reportagem, o cantor revelou que estava se autoproduzindo: "Resolvi produzir o disco eu mesmo porque produtor é sempre um chato. Veja o caso do Liminha (produtor do álbum anterior do músico, Sob o Sol de Parador, de 1989), por exemplo, que é um cara que ninguém aguenta. Eles sempre querem ser mais artistas que o artista, mas são poucos os que têm alguma sensibilidade."[2] Nem todo o repertório do LP estava pronto quando as gravações se iniciaram. "Foi o maior pau da minha vida. Fiz cerca de 15 shows por mês enquanto gravava o disco", disse à Folha de S. Paulo, em setembro do mesmo ano[3]. O disco teve participações do cantor e amigo Nelson Gonçalves, que gravou os versos da introdução da faixa-título, e de Jacques Morelenbaum, que elaborou os arranjos de cordas de "Perversa Distração" e de "Viver ou Não". Esta última canção também marcou o fim da parceria de Lobão com o poeta Bernardo Vilhena, autor das letras de vários sucessos do cantor na década de 1980. SucessosO Inferno é Fogo teve como principais sucessos a balada "Sem Você Não Dá", o rock "Presidente Mauricinho" (canção direcionada ao então Presidente da República Fernando Collor de Mello) e o funk-rock "Jesus não Tem Drogas no País dos Caretas", cujo título alude ao nome do quarto álbum dos Titãs, Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas, e com uma letra que sugere ser uma versão mais sarcástica de "O papa é pop", hit da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii (vide versos aliterativos como "e se o pop é pop mesmo/o pop te pega"). Na letra da mesma música há referências a três clássicos do rock: "Hit the Road Jack", sucesso na voz do cantor norte-americano Ray Charles, "(I Can't Get No) Satisfaction", dos Rolling Stones, e "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin. CapaA pintura que estampa a capa do álbum é do quadro Pecado original, do holandês Hugo van der Goes (c. 1475)[4]. Lançamento, recepção e showsO Inferno é Fogo foi originalmente programado para ser lançado em 25 de agosto de 1991[2], no entanto o disco só pôde ser terminado naquele mês por atrasos na produção. Somente no final de setembro o álbum chegou às lojas. Na primeira tiragem, com quarenta mil exemplares prensados, a capa do LP veio apenas com o nome do cantor impresso sobre a pintura de van der Goes, sem o título[5]. No que diz respeito à recepção, o álbum despertou menor interesse de público e mídia que os lançamentos anteriores de Lobão. Seu próprio autor o elogiou naquele período: "Fiz o disco mesmo com o braço todo arrebentado. Tem arranjos de cordas, música flamenca, castanholas, rock pesado, é bem diversificado", disse à Folha de S. Paulo em janeiro de 1992, quando todos os seus álbuns pela BMG ganharam edições em CD[6]. A crítica se dividiu em sua recepção. "O pessimismo de Lobão - rebelde cuja causa é a nadificação - torna-se exemplar no novo trabalho. Não finge. Corrói, envuduza o que encontra pela frente. [...] É um consolo em meio aos lançamentos medíocres de rock nacional das últimas semanas", elogiou Luís Antônio Giron na Folha[7]. Em O Globo, Mauro Ferreira considerou o LP apenas mediano: "Traz bons rocks e algumas baladas agradáveis, mas indica que a fórmula 'rebeldia + energia = boas músicas' já não faz efeito como antes. [...] Dias (ainda) melhores deverão vir para o talentoso 'Lobo'."[8] No entanto, a turnê do disco - cujos shows traziam em seu cenário diversas tochas espalhadas, em alusão à Idade Média - foi dando lugar a apresentações acústicas ainda no primeiro semestre de 1992. Àquela altura, Lobão completava 10 anos de carreira discográfica, estudava violão clássico e raramente tocava canções do lançamento mais recente. "[...], canções como 'Presidente Mauricinho' não me dizem mais nada. [...] Estava fazendo um protesto burro. Criticar por criticar, até Hebe Camargo faz", disse ao jornal O Globo em matéria de abril daquele ano[9]. Faixas
Referências
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