Mouta Liz
José Luis Martinho da Mouta Liz (Lisboa, 1 de agosto de 1939)[1] foi um quadro do Banco de Portugal e mais tarde fundador e dirigente da organização terrorista Forças Populares 25 de Abril (FP25) e do partido político Força de Unidade Popular (FUP), em conjunto com Otelo Saraiva de Carvalho e Pedro Goulart. Ambas, FP25 e FUP eram duas componentes do Projecto Global.[2][3] BiografiaViveu na Figueira da Foz, concluiu o curso geral dos liceus, trabalhou como recepcionista. Em 1960, fez o curso de sargentos milicianos e, entre 1961 e 1963, foi mobilizado para o Leste de Angola. Formou-se mais tarde em economia e começou a trabalhar no Banco de Portugal onde chegou a desempenhar o cargo de Tesoureiro. Foi o responsável pelos saneamentos ocorridos no Banco de Portugal no período do PREC, em 1975. Militou no Movimento de Esquerda Socialista (MES) e no Movimento Socialista Unificado (MSU), ambos partidos de esquerda radical. Apoia Otelo Saraiva de Carvalho na candidatura presidencial de 1976. Dois anos mais tarde, aparece como um dos dirigentes máximos da Organização Unitária dos Trabalhadores (OUT). Esta, criada em 1978, na Marinha Grande, congregava várias organizações da esquerda radical que defendiam a violência armada como método de acção politica.[4][5] Mouta Liz era um elemento essencial de ligação da Estrutura Civil Armada, onde se integravam as FP25 e a Organização Política de Massas onde se integrava a FUP, partido politico que fornecia suporte politico às FP25 em contrapartida do financiamentos, obtidos via assaltos a bancos e instituições públicas.[2] Era referido várias vezes nos cadernos de Otelo como «ML». É o responsável, no Projeto Global(FP-25 de Abril), encarregado de contabilizar o dinheiro proveniente de assaltos bem como a sua distribuição depois de aprovados os orçamentos. Como dirigente participou nas várias reuniões da Direção Politico Militar, nomeadamente a famosa reunião do Conclave, ocorrida na Serra da Estrela a 6 e 7 de Abril de 1984, onde todos os presentes estavam encapuçados. A reunião foi o mais importante encontro ocorrido no âmbito do Projecto Global e ocorre numa tentativa de resolver divergências sobre a estratégia a assumir, bem como o de travar um excessivo protagonismo de Otelo e dos seus apoiantes.[6][7][8][2] É um dos responsáveis pela intimidação a um agente da DINFO, destacado para vigiar, à paisana, uma reunião da FUP, a 5 e 6 de março de 1983, no Hotel do Vimeiro, onde, estiveram ali reunidas várias dezenas de operacionais das FP25.[9] É-lhe imputada responsabilidade directa no assalto a uma carrinha de transporte de valores, do Banco Fonsecas & Burnay, que transportava dinheiro entre um balcão deste banco e o Banco de Portugal. Nesta assalto, resultou no roubo de 108 mil contos em notas (cerca de 539 mil euros), e ocorreu na Rua Camilo Castelo Branco, perto do Marquês de Pombal, em Lisboa. Foi à data o maior assalto armado realizado em Portugal.[10][11] José Macedo Correia, que depois da sua detenção veio a colaborar com a justiça, o assalto só foi sido possível pelas informações transmitidas por José Mouta Liz, dirigente da organização e à data Director do Banco de Portugal. Em documentos posteriormente aprendidos, quando da prisão de um dirigente da organização, José Soares Neves, o dinheiro terá sido distribuído pelas várias componentes do Projecto Global: CNASPEL, FUP e IEP (que hoje dá pelo nome de Roteliz, com actividade em Angola, da qual Romeu Francês, Otelo Saraiva de Carvalho e José Mouta Liz são accionistas).[12][13][3][2] No âmbito da operação Orion, a 20 de Junho de 1984, Mouta Liz encontrava-se a trabalhar no Banco de Portugal, quando da execução do mandado de detenção. Por cortesia, a Polícia Judiciária apresenta-se à administração do Banco, presidido por Manuel Jacinto Nunes e tendo como vice-presidentes Rui Vilar, Vitor Constâncio e Alexandre Vaz Pinto. No entanto, Mouta Liz que se encontrava a trabalhar no banco é informado, pondo-se imediatamente em fuga, não voltando a aparecer porque, entretanto, recorreu a uma baixa médica. Só viria a ser preso uns meses mais tarde, a 18 de setembro de 1984, já depois de ter dado uma entrevista ao jornal Expresso, durante um almoço no restaurante Pabe, em Lisboa.[14] O seu advogado foi Salgado Zenha, histórico dirigente socialista.[8] Foi condenado pelo tribunal da 1.ª instância e 15 anos de prisão, pena agravada pelo Tribunal da Relação para 18 anos e depois reduzida pelo Supremo Tribunal de Justiça para 17 anos de pena de prisão efectiva.[15][16][1] Foi amnistiado pela Assembleia da Republica a pedido do mesmo Mário Soares. A lei amnistiava as infrações com motivações políticas cometidas entre junho de 1976 e 21 de julho de 1991. A votação feita nominalmente, a pedido do CDS, que votou contra. Entre os 220 deputados presentes, 123 votaram a favor, 94 contra e três abstiveram-se.[17] Posteriormente à sua libertação, por excesso de prisão preventiva, veio a trabalhar na discoteca “Banana Power”, pertencente ao arquitecto Tomás Taveira[18] e mais tarde, juntamente com Otelo e o seu advogado Romeu Francês, cria a Roteliz[19], evolução da EIP, que se tornou uma empresa de "trading" com particulares relações com o estado e o exército angolano.[20][21] Um dos seus filhos, Luís de Assunção Pedro da Mouta Liz[22] é o Vice-Procurador-Geral da República de Angola.[3] Ver tambémReferências
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