Mohammad Reza Pahlavi
Mohammad Rezā Shāh Pahlavi (em persa: محمد رضا شاه پهلوی; romaniz.: Mohammad Rezâ Šâhe Pahlevi) (Teerã, 26 de outubro de 1919 – Cairo, 27 de julho de 1980) foi o xá do Irã de 16 de Setembro de 1941 até sua derrubada pela Revolução Iraniana, em 11 de fevereiro de 1979. Segundo e último monarca da Pahlavi, ele assumiu o título de Shāhanshāh ("Imperador" ou "Rei dos Reis")[1][2] após sua coroação, em 26 de outubro de 1967. Mohammad Reza Pahlavi ostentou vários outros títulos, incluindo o de Āryāmehr ("Luz dos Arianos") e Bozorg Arteshtārān ("Líder dos Guerreiros").[3][4] Mohammad Reza Pahlavi chegou ao poder durante a Segunda Guerra Mundial depois que uma invasão anglo-soviética forçou a abdicação de seu pai, Reza Xá. Durante seu reinado, a indústria petrolífera iraniana foi estatizada por um breve período, sob o governo democraticamente eleito do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, derrubado por um golpe de Estado patrocinado pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, o que acabou por trazer de volta as empresas de petróleo estrangeiras.[5] O Irã comemorou o aniversário de 2500 anos de monarquia contínua desde a fundação do Império Persa por Ciro, o Grande durante o seu reinado, em Outubro de 1971. Nessa época ele também alterou o calendário iraniano da Hégira para o início do Império Persa, estabelecido a partir da coroação de Ciro, o Grande.[6] Como governante, ele deu início à Revolução Branca, uma série de reformas econômicas, sociais e políticas com a intenção declarada de transformar o Irã em uma potência global, modernizando a nação, privatizando determinadas indústrias e concedendo o direito de voto às mulheres.[7] Muçulmano secular, Mohammad Reza perdeu gradativamente o apoio dos clérigos xiitas do Irã, bem como da classe trabalhadora, em virtude especialmente de sua forte política de modernização e secularização, o conflito com a tradicional classe de comerciantes conhecidos como bazaari, as relações com Israel e os problemas de corrupção envolvendo a ele, sua família e a elite dominante. Várias outras políticas controversas foram aprovadas, incluindo a proibição do partido comunista Tudeh e a repressão aos dissidentes políticos por parte do serviço de inteligência iraniano, a SAVAK. Conforme estatísticas oficiais, o Irã tinha mais de 2 200 presos políticos em 1978, um número que se multiplicou rapidamente com a revolução.[8] Vários outros fatores contribuíram para a forte oposição ao Xá entre determinados grupos dentro do Irã, como o apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido ao seu regime, os confrontos com fundamentalistas e o aumento da atividade comunista. Em 1979, a agitação política culminou com uma revolução que, em 17 de janeiro, obrigou-o a deixar o Irã. Logo depois, a monarquia iraniana foi formalmente abolida e o Irã foi declarado uma república islâmica liderada por Ruhollah Khomeini. Diante do risco de ser executado caso retornasse ao Irã, Mohammad Reza morreu no exílio no Egito, onde o presidente Anwar Sadat concedeu-lhe asilo político. Devido ao seu status de último soberano de facto do Irã, ele é muitas vezes referido apenas como "o Xá". Seu filho mais velho, Reza Pahlavi, lidera atualmente o Conselho Nacional do Irã, um declarado governo no exílio. Primeiros anosNascido em Teerã, Mohammad Reza era o segundo filho (primeiro varão) de Reza Xá e sua segunda esposa, Tadj ol-Molouk.[9][a] Entretanto, como seu pai tornou-se Xá apenas em 1925, ele e seus irmãos não nasceram como membros da realeza. Descrito como uma criança fraca e doentia,[b] Mohammad Reza foi criado em quase total isolamento até os seis anos de idade, convivendo apenas com sua mãe, irmãos, servos e velhos oficiais militares. Porém, ao ser investido como príncipe herdeiro, seu pai decidiu que o futuro monarca deveria ter uma "educação mais viril". Assim, ele foi separado de sua mãe e irmãs, passou a ser criado por uma governanta francesa e a estudar em uma escola especialmente montada para recebê-lo, com colegas de classe "cuidadosamente selecionados" entre garotos da elite.[10][11] Quando Mohammad Reza completou 11 anos, Reza Xá, pretendendo isolá-lo da atmosfera incapacitante da corte, aceitou a recomendação de seu chefe de gabinete, Abdolhossein Teymourtash, de enviar o jovem para estudar no Instituto Le Rosey, um internato suíço. Ele foi o primeiro príncipe iraniano na linha de sucessão ao trono a estudar no exterior, permanecendo quatro anos na Suíça.[10] Retornou ao Irã em 1936 e ingressou na academia militar de Teerã, graduando-se dois anos depois como segundo-tenente de Infantaria e líder de sua turma.[10][12][13][14] Pouco depois, ele foi nomeado por seu pai inspetor das Forças Armadas Imperiais do Irã.[10][14] Início do reinadoDeposição de Reza XáPor muitas décadas, o Irã e o Império Alemão mantiveram laços de cooperação, em parte como uma reação às ambições do Reino Unido e do Império Russo (e mais tarde, a União Soviética) sobre a região.[15] Mesmo quando os nazistas chegaram ao poder na Alemanha em 1933, o comércio entre os dois países não foi seriamente afetado.[16] Ao contrário, a propaganda nazista, por vezes, mencionava e exaltava a ancestralidade ariana comum entre as duas nações.[17][18] Embora o Irã tivesse declarado sua neutralidade numa fase ainda precoce da Segunda Guerra Mundial e possuísse pouca afinidade com as políticas antissemitas da Alemanha Nazi,[18][c] os britânicos passaram a acusar o país de ser pró-alemão e apoiador do nazismo.[22] Essa postura parece ser justificada pela importância estratégica que o Irã passou a ter para o governo britânico, que temia que a refinaria de Abadã (pertencente à britânica Anglo-Iranian Oil Company) pudesse cair sob domínio alemão.[18] Responsável pela produção de oito milhões de toneladas de petróleo em 1940, a refinaria era uma parte crucial do esforço de guerra dos Aliados.[18][23][d] Além disso, quando em 21 de junho de 1941, a Alemanha rompeu unilateralmente o Pacto Molotov-Ribbentrop e invadiu a União Soviética — naquela que ficaria conhecida como "Operação Barbarossa" —,[25] os aliados passaram a considerar o chamado Corredor Persa, formado pela Ferrovia Trans-iraniana, como o caminho mais fácil e seguro para abastecer os soviéticos com os suprimentos do "Lend-Lease" norte-americano.[26][27] Estrategistas britânicos e soviéticos reconheciam a importância de controlar esse canal e, como pretexto para atingir esse fim, fizeram uma série de exigências ao Irã — a principal delas era a expulsão imediata de todos os cidadãos alemães de seu território —, ameaçando o governo com a "possibilidade de ação militar" e "ataques por ar e terra".[28] Apesar de Reza Xá aceitar as exigências, forças britânicas e soviéticas invadiram o território iraniano no dia 25 de agosto de 1941.[29][20][30][31] Nesse contexto, voltou ao cenário político iraniano o ex-primeiro-ministro Mohammad Ali Foroughi, um antigo desafeto de Reza Xá, que viria a se tornar um dos principais responsáveis pela transição suave entre os reinados.[32] Doente e afastado da política desde que fora demitido em 1935,[e] Foroughi — "claramente pró-britânico e pró-americano", segundo o embaixador americano em Teerã, Louis G. Dreyfus, Jr.[38] — foi nomeado imediatamente após a invasão aliada, numa tentativa de Reza Xá de manter seu trono ou, ao menos, a continuidade da dinastia Pahlavi.[39][40][38][f] Entretanto, 21 dias após a nomeação, Reza Xá foi forçado a abdicar e seguir para o exílio. Mohammad Reza prestou juramento perante o Majlis no dia seguinte, em 17 de setembro de 1941.[39][20][42][g] Alguns autores sugerem que Foroughi salvou a monarquia e a dinastia Pahlavi ao recusar a ideia britânica de tornar-se presidente de uma nova república iraniana.[44] Para outros, a atuação do primeiro-ministro foi preponderante para a abdicação de Reza Xá, ao convencer os britânicos de que sua deposição era a única solução para os problemas do país.[44] O fato, porém, é que ele teve um papel central na obtenção de um acordo com a Grã-Bretanha e a União Soviética que garantiu a independência do país ao final da guerra, bem como a retirada das forças de ocupação.[44] Tal acordo foi determinante para a retirada soviética em 1946. Sobre as divergências entre Foroughi e seu pai, Mohammad Reza confidenciou ao embaixador britânico que o primeiro-ministro "não esperava que qualquer filho de Reza Xá pudesse se tornar um ser humano civilizado".[44] Três dias após sua ascensão ao trono, em 19 de setembro de 1941, Mohammad Reza decretou uma anistia geral.[45][46][47] Todos os perseguidos políticos por Reza Xá foram reabilitados e a lei de 1935 que proibia o uso do véu pelas mulheres foi revogada.[46][48][49][50][51] Embora o jovem monarca tenha tomado decisões populares, o ministro britânico reportou a Londres que a "recepção deveras espontânea que o jovem Xá recebeu em sua primeira aparição pública seria, possivelmente, mais em virtude do alívio pelo desaparecimento de seu pai do que pela afeição do povo por ele.".[42] Nacionalização do petróleo e golpe de 1953No início dos anos 1950, a crise política no Irã dominava a atenção dos líderes políticos britânicos e americanos.[52] Nas eleições parlamentares de 1951, a Frente Nacional, uma coalizão de partidos de oposição a Mohammad Reza, alcançou maioria na Majlis e seu líder Mohammed Mossadegh, comprometido com a nacionalização da indústria petrolífera iraniana (controlada, à época, pela Anglo-Iranian Oil Company), foi apontado para o cargo de primeiro-ministro.[53] Sob sua liderança, o movimento nacionalista do parlamento aprovou por unanimidade a lei de nacionalização, encerrando as atividades da lucrativa AIOC, que foi um dos pilares da economia e da influência política britânica na região.[54][55] No início da disputa, o Irã contou com a simpatia política da administração norte-americana de Harry S. Truman, contrária às exigências britânicas.[56] Tentativas de assassinatoMohammad Reza Pahlavi foi alvo de pelo menos duas tentativas de assassinato sem sucesso. Em 4 de fevereiro de 1949, ele participou de uma cerimônia anual para comemorar a fundação da Universidade de Teerã.[57] Na cerimônia, Fakhr-Arai disparou cinco tiros contra ele a uma distância de 10 metros. Apenas um dos tiros atingiu o rei, pastando sua bochecha. Fakhr-Arai foi imediatamente baleado por policiais nas proximidades. Após uma investigação, pensava-se que Fakhr-Arai era um membro do Partido Tudeh,[58] que foi banido.[59] No entanto, há evidências de que o suposto assassino não era um membro do Tudeh, mas um fundamentalista religioso membro da sociedade secreta Fada'iyan-e Islam.[60][61] O Tudeh foi, no entanto, considerado culpado e perseguido.[62] O segundo atentado contra a vida do Xá ocorreu em 10 de abril de 1965.[63] Um soldado atirou em sua direção, no Palácio de Mármore. O assassino foi morto antes que ele alcançasse os aposentos reais. Dois guardas civis morreram protegendo o Xá.[64] De acordo com Vladimir Kuzichkin — um ex-oficial da KGB que desertou para o MI6 — o Xá foi também supostamente um alvo da União Soviética, que tentou usar um controle remoto da TV para detonar uma bomba em um Volkswagen Fusca/Volkswagen Carocha. O controle remoto da TV não funcionou.[65] Um desertor romeno do alto escalão, Ion Mihai Pacepa, também apoiou esta alegação, afirmando que ele havia sido alvo de várias tentativas de assassinato por agentes soviéticos por muitos anos. A 27 de julho de 1967 foi agraciado com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal.[66] Notas
Referências
Bibliografia
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