Mecanismo sincronizador

O mecanismo sincronizador de um Messerschmitt Bf 109E sendo ajustado – um disco de madeira preso à hélice é usado para indicar a trajetória das balas (Janeiro de 1941).

Mecanismo sincronizador, ou sincronizador de arma e algumas vezes interruptor, são as designações de um dispositivo que acoplado a aviões monomotores em configuração por tração, permite uma sincronização entre as revoluções da hélice e os tiros disparados, de forma que os tiros não atinjam as lâminas das hélices, passando através do arco que se forma quando a hélice está em movimento. A ideia pressupõe uma arma fixada ao corpo do avião que é direcionada apontando o avião para o alvo, em vez de apontar a arma de forma independente.

Histórico

Diagrama da patente de Euler de 1910 para uma metralhadora frontal fixa.

Já no final de 1913 e início de 1914, as metralhadoras eram vistas como a arma ideal para que os aviões pudessem combater e eventualmente abater aeronaves de reconhecimento inimigas.[1][2] O ponto de discordância na época era se a metralhadora deveria ficar fixa ou ter mobilidade e ser comandada por um artilheiro e não pelo piloto.[3]

Mesmo em 1916, pilotos do Airco DH.2 tinham dificuldade de convencer seus oficiais superiores de que as suas metralhadoras frontais seriam mais efetivas se fixadas ao corpo do avião.[4] Por outro lado, August Euler havia patenteado a ideia de uma arma fixa já em 1910 – muito antes da configuração de tração se tornar padrão, sua patente era ilustrada com um diagrama de um avião em configuração de impulsão armado com uma metralhadora.[3]

O mecanismo sincronizador preparado para testes de disparo em solo. O disco de madeira registrava os pontos do arco da hélice onde cada tiro passava. O diagrama à direita exibe um provável resultado de um desses testes. O grande número de variáveis envolvidas gerava um certo "espalhamento" dos tiros.

Um mecanismo que permita uma arma automática disparar entre as lâminas de uma hélice girando, é normalmente chamado de sincronizador ou interruptor. Ambos os termos não são precisos, mas explicam o que acontece quando o mecanismo funciona.[5]

O termo "interruptor" implica que o mecanismo interrompa os disparos no momento em que uma das lâminas passa na frente do cano da arma. A maior dificuldade em se obter esse resultado na época era o fato de as hélices giravam numa velocidade muito menor que a cadência de tiro das armas. Devido a isso, as armas deveriam ser "interrompidas" mais de quarenta vezes por segundo,[6] um enorme desafio para a tecnologia da época.[7]

Por outro lado, o termo "sincronização", em sua utilização natural, seria entre a taxa de disparos da metralhadora em modo automático e as revoluções por minuto de uma hélice girando, também é uma impossibilidade conceitual.[8] Enquanto uma arma automática atira numa frequência constante, o número de revoluções por minuto de uma hélice varia de acordo com uma série de fatores, principalmente quando em voo, fazendo da tarefa de "sincronia", uma impossibilidade prática.[9]

A solução para o problema foi encontrada de maneira relativamente simples. Era necessário que a arma disparasse no modo semiautomático.[10] A cada revolução da hélice um impulso era enviado para a arma que efetivamente "puxava o gatilho", para disparar um único tiro. A maioria desses impulsos chegava à arma quando ela estava num ciclo de tiro, ou seja, quando ela estava ejetando uma capsula deflagrada ou carregando um novo cartucho, e era "desperdiçado"; mas eventualmente o ciclo de tiro se completava, e a arma estava pronta para atirar, e precisava "esperar" pelo próximo impulso do mecanismo, e quando o recebia, disparava. Esse processo, inevitavelmente diminuía a cadência de tiro em comparação com uma arma de tiro liberado, que dispara assim que estiver pronta; mas desde que o dispositivo funcionasse corretamente a arma podia disparar rápido o suficiente através das lâminas da hélice em movimento sem atingi-las.[11]

Ficou estabelecido que para qualquer mecanismo que atingisse esse objetivo, sua ação poderia ser descrita como "interrompendo" os disparos da arma, e também como "sincronizando", ou "cadenciando" seus tiros para coincidir com as revoluções da hélice.[12]

Histórico

Ao longo do tempo várias patentes, diferentes versões e alternativas ao mecanismo sincronizador foram apresentadas.

Duas metralhadoras sincronizadas pelo dispositivo Zentralsteuerung num caça Fokker D.VIII.
Um Bristol Scout com metralhadora Vickers utilizando o dispositivo sincronizador Vickers-Challenger.
Um Nieuport 17 com metralhadora sincronizada pelo dispositivo Alkan-Hamy.
  • Patente Franz Schneider (1913-14)
  • Patente Raymond Saulnier (1914)
  • Armas não sincronizadas e o conceito de bordos defletores
  • Sincronizador Fokker e outros sincronizadores alemães
  • O dispositivo Fokker Stangensteuerung
  • O dispositivo Fokker Zentralsteuerung
  • Outros sincronizadores alemães
  • O dispositivo Schneider (1915)
  • Os dispositivos Albatros
  • Dispositivos elétricos
  • Dispositivos Austro-Húngaros
  • Zahnrad-Steuerung
  • Bernatzik-Steuerung
  • Priesel-Steuerung
  • Zap-Steuerung
  • Kralische Zentralsteuerung
  • Dispositivos britânicos
  • Vickers-Challenger
  • Scarff-Dibovski
  • Ross e outros
  • Sopwith-Kauper
  • Constantinesco
  • Dispositivos franceses
  • Alkan-Hamy
  • Birkigt
  • Dispositivos russos
  • Dispositivos italianos
  • Dispositivos Norte americanos
  • Nelson
  • E-4/E-8
  • Declínio e fim do uso de mecanismos sincronizadores

Ver também

Referências

  1. Cheesman 1960, p. 176.
  2. Kosin 1988, p. 13.
  3. a b Kosin 1988, p. 14.
  4. Goulding 1986, p. 11.
  5. Woodman 1989, pp. 171-172.
  6. Hegener 1961, p. 26.
  7. Volker 1992, pt. 2, pp. 80-81.
  8. Mixter and Edmonds 1919, p. 2.
  9. Kosin 1988, pp. 18-19.
  10. Volker 1992, pt. 2, p. 79
  11. Volker 1992, pt. 2, p. 78
  12. Woodman 1989, p. 172.

Bibliografia

  • Bruce, J. M. Sopwith 1½ Strutter. Leatherhead: Profile Publications, 1966.
  • Bureau of Aircraft Production. Handbook of Aircraft Armament. Washington: (U.S.) Government Printing Office, 1918.
  • Cheesman, E.F.(ed.). Fighter Aircraft of the 1914-1918 War. Letchworth: Harleyford, 1960.
  • Courtney, Frank T. The Eighth Sea. New York: Doubleday, 1972
  • Fokker, Anthony and Bruce Gould. Flying Dutchman: The Life of Anthony Fokker. London: George Routledge, 1931.
  • Galland, Adolf. The First and the Last. London: Methuen, 1956. (A translation of Die Ersten und die Letzten, Berlin: Franz Schneekluth, 1955)
  • Goulding, James. Interceptor: RAF Single Seat Multi-Gun Fighters. London: Ian Allen Ltd., 1986. ISBN 0-7110-1583-X.
  • Grosz, Peter M., Windsock Mini Datafile 7, Fokker E.IV, Albatros Publications, Ltd. 1996.
  • Grosz, Peter M., Windsock Datafile No. 91, Fokker E.I/II, Albatros Publications, Ltd. 2002. ISBN 1-902207-46-7
  • Guttman, Jon. The Origin of the Fighter Aircraft. Yardley: Westholme, 2009. ISBN 978-1-59416-083-7
  • Hare, Paul R. Mount of Aces - The Royal Aircraft Factory S.E.5a, UK: Fonthill Media, 2013. ISBN 978-1-78155-115-8
  • Hegener, Henri. Fokker - the Man and the Aircraft, Letchworth: Harleyford, 1961.
  • Jarrett, Phillip, "The Fokker Eindeckers", Aeroplane Monthly, December 2004
  • Kosin, Rudiger, The German Fighter since 1915, London: Putman, 1988. ISBN 0-85177-822-4 (original German edition 1986)
  • Kulikov, Victor, Russian Aces of World War 1. Oxford: Osprey, 2013. ISBN 978-1780960593
  • Mason, Francis K., The Hawker Hurricane, London: MacDonald, 1962.
  • Mixter, G.W. and H.H. Emmonds. United States Army Production Facts. Washington: Bureau of Aircraft Production, 1919.
  • Pengelly, Colin, Albert Ball V.C. The Fighter Pilot of World War I. Barnsley: Pen and Sword, 2010. ISBN 978-184415-904-8
  • VanWyngarden, Greg, Early German Aces of World War 1. Oxford: Osprey, 2006. ISBN 978-1-84176-997-4
  • Varriale, Paolo, Austro-Hungarian Albatros Aces of World War I. Oxford: Osprey, 2012. ISBN 978-1-84908-747-6
  • Volker, Hank. "Synchronizers Parts 1-6" in WORLD WAR I AERO. (1992–1996), World War I Aeroplanes, Inc.
  • Weyl, A. J., Fokker: The Creative Years. London: Putnam, 1965.
  • Williams, Anthony G & Dr. Emmanuel Guslin Flying Guns, World War I. Ramsbury, Wilts: Crowood Press, 2003. ISBN 978-1840373967
  • Woodman, Harry. Early Aircraft Armament. London: Arms and Armour, 1989 ISBN 0-85368-990-3
  • Woodman, Harry, "CC Gun Synchronization Gear", Aeroplane Monthly, September 2005

Ligações externas

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