Maria Erótica
Maria Erótica foi uma personagem de quadrinhos eróticos criada durante a Ditadura Militar por Cláudio Seto para a editora Edrel, em 1969. A Censura tentou prender Seto por suas histórias, mas ele não estava presente na editora e algumas edições da revista acabaram sendo apreendidas em seu lugar. Seto fugiu para São Paulo e voltou para Curitiba, onde voltou a publicar as histórias pela editora Grafipar em 1979. HistóriaA Ditadura Militar tinha um forte cunho conservador, e censurava a pornografia com base no Decreto Leila Diniz. Na época, a atriz havia escandalizado os militares por pregar o amor livre e dizer que tinha passado pelo teste do sofá.[1] As revistas pornográficas na época tentavam burlar a Censura ao tirar fotos de mulheres nuas com seios cobertos com seus cabelos, abusar da cor vermelha estourada, etc,[2] e a indústria pornográfica se tornou restrita a bordéis e pornochanchadas. A indústria dos quadrinhos também estava em crescimento, e Cláudio Seto havia se notabilizado por, em 1967, ter criado o personagem Flavo, se tornando um dos primeiros artistas a introduzir o mangá no Brasil. Ele também escrevia revistas como O Samurai e Ninja, o samurai mágico, o primeiro com conteúdo adulto, inspirado no movimento gekigá, sobretudo nas histórias de Sanpei Shirato (já mostradas em Ninja)[3] em uma época onde a maioria das histórias publicadas no país eram da Marvel ou Disney, apesar de histórias de terror já serem populares. O Samurai, em particular, já trazia doses de erotismo, mostrando seios e pelos pubianos na história.[4] Na época, a editora Grafipar havia publicado sua primeira revista erótica, Peteca.[5] Os quadrinhos eróticos anteriores eram os chamados catecismos produzidos por Carlos Zéfiro, Eduardo Barbosa e outros, contudo, eram publicados de forma clandestina.[6] Cláudio foi para Curitiba, uma das cidades brasileiras com o maior número de japoneses, para passar sua lua-de-mel, e decidiu se mudar para lá. A editora Edrel, onde Cláudio trabalhava, estava a beira da falência,[5] então ele criou a personagem em 1969, para a revista As mais quentes piadas, como coadjuvante das histórias Zero-Zero Pinga, que satirizava James Bond. Na história original, Beto Sonhador viajou para os Estados Unidos, onde conheceu a loira Mary Erotic, mas ele acorda e descobre que beijou seu colega de quarto. Nas histórias posteriores, ela virou morena teve o nome abrasileirado para Maria Erótica, uma repórter do jornal Taimes is Monis na megalópole Guaiçara, cidade onde Cláudio nasceu.[7][2] Depois, passou a ter histórias publicadas nas revistas Garotas & Piadas.[8] Ela se tornou um sucesso no Paraná.[4] O quadrinho, porém, escandalizou senhoras católicas de Lins, que o denunciaram para a polícia. No dia da apreensão, Cláudio estava em Guaiçara, mas os policiais levaram algumas edições da Maria Erótica para a delegacia junto com Paulo Fukue, editor da Edrel, para prestar depoimento.[2] Os quadrinhos foram postos em uma cela.[9] Anos mais tarde, o editor de Seto e ex-sócio da Edrel, Minami Keizi, foi editor da revista "Cinema em Close-Up" entre 1974 e 1979,[10] revista responsável pela divulgação do cinema Boca do Lixo.[11] Seto, então, fugiu para sua cidade natal, onde ficou escondido por um tempo. Ele voltou para Curitiba nos anos 70, onde voltou a publicar as histórias da personagem, agora para a editora Grafipar. Na época, Ernesto Geisel já havia iniciado o processo de abertura da Ditadura Militar, e as revistas pornográficas passaram por uma era de ouro.[4] Em 1979, a personagem voltou a ser loira e estreou na Revista Especial de Quadrinhos #4, que possuía 90 páginas, e teve histórias publicadas nas revistas Homo Sapiens e As Fêmeas.[2][12] Depois, ganhou revista homônima, sendo reformulada por Nelson Padrella[12] e perdendo seu traço nipônico. Também na revista, foram publicadas histórias escritas por Minami Keizi (assinando como Rose West) e desenhos de Julio Shimamoto,[13] que embora também tenha ascendência japonesa, não traz influências do mangá no seu estilo.[14][15] Seto criou a heroína de faroeste Katy Apache, a ideia inicial era publicar o faroeste italiano Swea Otanka,[16] sobre uma índia loira descendente de vikings.[17] Katy se parecia com a personagem de Raquel Welch no filme de faroeste Hannie Caulder de 1971, onde vestia apenas um poncho.[18] Na edição 14, Maria Erótica viaja no tempo e conhece Katy Apache.[19] Sua última edição provavelmente foi publicada em 1982, quando a Grafipar encerrou suas operações.[19] A revista durou 18 edições. Também foi publicado o especial O diário íntimo de Maria Erótica, que durou duas edições.[5] Outros quadrinhistas que trabalharam nas histórias, estão Mozart Couto, Carlos Magno, Fernando Bonini, Watson Portela.[2] ConteúdoA revista possuía conteúdo satírico e sadomasoquista, com ênfase na sexualidade e na contracultura. Entre os temas abordados estava a revolução sexual, com críticas ao casamento e trazendo elementos de repressão sexual tipicamente brasileiros. Maria segue o conceito sociológico de carnavalização. Ela teve criação religiosa e tentava preservar sua castidade, mas extravasava sua sexualidade de maneira excessiva e abrupta, que aparecia em forma de recalque.[2] Ela representava a moral brasileira da época, que vivia uma forte repressão à sexualidade. Assim como as outras histórias de Seto, a revista erótica tinha traços de mangá, e algumas edições tinham o dobro de uma história convencional, com 132 páginas.[8] As edições usuais, porém, possuíam 32 páginas.[5] As histórias originais da Edrel eram ilustradas no estilo gekiga, explorando, porém, o suspense ao invés da comédia, como é natural do estilo.[2] Seto pode ser comparado ao mangaká Go Nagai, visto que a sua obra Harenchi Gakuen também foi muito criticada pelo excesso de erotismo na década de 1960.[20] Entre os personagens que se destacam, estão os parceiros de Beto Sonhador, Zero Zero Pinga e o cientista Genildo Intelectantam, além de Zeux, um punk violento alucinado por sexo, e sua esposa, e personagens famosos como Namor (que aparecia como o Príncipe de Namonia), Drácula, Pinóquio, o coelho de Alice no País das Maravilhas, Pequeno Príncipe, Tarzan, Zorro, Tonto, Robin Hood e o Corcunda de Notre Dame.[4][5][8] Referências
Literatura complementar
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