Malanje (província)
Malanje (por vezes erroneamente grafada como Malange) é uma das 18 províncias de Angola, localizada na região norte do país. Sua capital está na cidade e município de Malanje. Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 1 108 264 habitantes e área territorial de 98 320 km².[1] É constituída por 14 municípios: Cacuso, Caombo, Calandula, Cambundi-Catembo, Cangandala, Cuaba Nzoji, Cunda-Dia-Baze, Luquembo, Malanje, Marimba, Massango, Mucari, Quela e Quirima. EtimologiaA palavra "Malanje", teria vindo da língua quimbunda antiga, e teria como significado o termo "as pedras" (ma-lanji), existindo porém várias versões sobre surgimento do nome Malanje.[2] A versão mais conhecida afirma que antes da colonização portuguesa o rio Malanje (ou rio Cadianga) foi atravessado por mercadores e, como na época não existiam pontes, as pessoas tinham que passar pelos rios em cima de pedras. Após atravessar o rio, os mercadores avistaram os moradores locais, os perguntando qual era nome do rio, a que os moradores responderam "Ma-lanji Ngana" (são pedras, Senhor).[2] Outra versão diz que uma expedição lusa, liderada por Rodrigues Graça (1843), chegou às margens no rio Malanje e encontraram 3 mulheres locais. Então os portugueses perguntaram o que as moradoras locais estava a fazer e elas responderam: "estamos moendo mandioca". Os europeus ficaram encantados com a quantidade de mulheres e perguntaram sobre os homens da região, então elas responderam em quimbundo: "Mala hanji", que significa: "Também há homens." Uma terceira versão diz que os portugueses enviaram emissários aos sobas (mwen'exi) locais com o objectivo de prevenir que eles tivessem que usar a força para ocupar a região. Quando um dos emissários foi dar a mensagem ao soba local, ele respondeu: "Malagi?", em português: "São malucos?". HistóriaAntes da chegada dos portugueses, a região de Malanje estava sob domínio do poderoso reino da Matamba, havendo também certa influência do reino do Congo. Outro reino que tinha presença na área era o reino de Cassange. Entre o Congo, a Matamba e CassangeNo período pré-formação política do reino da Matamba, as terras malanjinas estavam sob influência do reino do Congo, ao norte, e dos jagas-imbangalas ao leste e sul. Matamba, ora província, ora ducado e reino vassalo do Congo, foi nominalmente tributária deste até meados do século XVI. Rebelou-se contra o Congo e ampliou seu domínio sobre outras terras e vassalos, a partir de sua capital em Mocaria Camatamba (atualmente no Uíge), por volta de 1560.[3] Matamba tornou-se o berço da metalurgia angolana ainda no século XVI, utilizando ferramentas forjadas para vencer os exércitos do Congo e se impor sobre os vizinhos. Este domínio das técnicas de fundição do ferro, úteis também para forjar instrumentos agrícolas, bem como grandes minas de prata, tornou Matamba como centro econômico regional. A capital mudou-se para Santa Maria do Calaquesse (ou Matamba, no nordeste das terras malanjinas), para ficar mais próximos às minas de ferro, por volta de 1590-1600.[3] Em 1590, o governador colonial português Luís Serrão, com apoio dos reinos Congo, Dongo e Guindas, reuniu cerca de um milhão de homens para dominar Matamba. Temendo uma destruição iminente, Matamba cede a uma vassalagem ao Congo.[3] Com a aliança luso-dongolesa desfeita, Matamba ajudou o reino Dongo na batalha de Lucala, em 1590,[4] derrotando os portugueses na Guerra Preta. Este seria o primeiro grande movimento de uma forte aliança regional entre Dongo e Matamba.[3] Os portugueses invadiram Matamba no governo de Luís Mendes de Vasconcelos, no final da década de 1610, dando início à Guerra contra Dongo e Matamba, como forma de vingar-se da derrota na Guerra Preta. A guerra gerou grande destruição dos povoados e casas, inclusive a capital. O Dongo, reino aliado, também foi destruído.[3] Conflitos entre Portugal e o reino Dongo-MatambaApós a derrocada de Matamba e Dongo, surge a figura de Ana de Sousa Ginga, que viria assumir primeiramente o Dongo em 1624. Uma guerra civil no Dongo sucedeu-se entre 1626 e 1631, obrigando Ginga a aliar-se com os jagas-imbangalas que haviam acabado de declarar formado o reino de Cassange, a partir da separação do reino Lunda. Tal aliança foi fundamental para Ginga, que conseguiu derrotar os pretendentes ao trono Dongo e unificar a coroa com Matamba, formando o Reino Unido Dongo-Matamba.[3] Na influência da ocupação neerlandesa de Angola, em 1641, a rainha Ana de Sousa Ginga estabelece acordo militar com os neerlandeses,[3] constituíndo um exército poderoso com a aliança militar Congo-Cassange-Matamba.[3] Este período coincide com o ímpeto da rainha Ana de Sousa Ginga em fixar capital em Sengas de Cavanga (nas proximidades de Negage), para fazer frente ao posto lusitano do Forte de Ambaca, em Camabatela.[3] No contexto neerlandês em Angola, os portugueses tiveram embates diretos com Matamba e Cassange entre 1644 e 1648.[3] Neste, as forças portuguesas conseguiram arrasar a capital Sengas de Cavanga em 1646,[3] fazendo Matamba retroceder para as terras de Malanje,[3] com a capital voltando para Santa Maria do Calaquesse (em terras de Cunda-Dia-Baze). Como resposta militar ao Reino Unido Dongo-Matamba e ao processo de reconquista de Angola, em 1671 as autoridades coloniais lusitanas erguem a Fortaleza-Presídio de Pungo-Andongo, que tornou-se uma barreira definitiva ao expansionismo dongo-matambense.[3] A interferência militar dos portugueses no reino foi crescendo cada vez mais, até que estes conseguiram impor um rei à sua escolha ao trono de Dongo-Matamba, em 1763, subjugando a região ao distrito do Golungo Alto.[5] Guerras da Baixa de CassangeEm 1838 Portugal resolve construir o presídio de Calandula, transferindo, em 1843, um relevante contingente militar para a vila do Lombe, numa tentativa de manter os reinos de Matamba e Cassange sob vigilância e controle.[6] Em 1850 explode a primeira guerra do Cassange, entre reino de Portugal e o reino de Cassange, onde os portugueses conseguem empreender a queda do rei Bumba (1850), sem contudo derrotar as forças nativas, havendo necessidade de uma segunda campanha (1851). Menos de um ano depois, em 1852, explode a segunda guerra do Cassange, onde as forças nativas impõem severas derrotas aos contingentes coloniais, permitindo o regresso do rei Bumba. Para preservar seu trono, Bumba oferece vassalagem.[6] O chefe tribal da Passagem-Feira (ou Dembo) de Ma-lanji, ao ver os resultados da guerra de Baixa de Cassange ao sul e leste, se antecipa a alguma intervenção portuguesa e oferece estatuto de "moradores" aos comerciantes lusitanos, em 1852. As autoridades coloniais a transformam no povoado de Malanje e erguem a paróquia de Nossa Senhora de Assunção.[6] Após quase uma década de relativa tranquilidade, ocorre a terceira guerra do Cassange (1861-1862), após a recusa do rei Bumba em continuar a prestar vassalagem aos portugueses, declarando a independência do reino de Cassange. A resposta lusitana foi esmagadora, derrotando o reino sublevado.[6] Fundação do forte e do distrito de LundaEm 1862, após o fim da terceira guerra do Cassange, as autoridades colonias resolvem fundar o Forte de Malanje, e; em 1867/68 finalmente elevar a vila de Malanje como sede do Concelho.[6] Em 13 de julho de 1895 é criado o "distrito de Lunda", para administração portuguesa junto ao Protetorado Lunda-Chócue. A capital foi assentada em Saurimo e; preterida em 1896 para Malanje, permanecendo até o ano de 1921, quando volta novamente para Saurimo.[7] Na década de 1900 a região passa por um enorme processo de integração com o restante da colônia, quando a linha do Caminho de Ferro de Luanda, que liga Malanje a Luanda é concluída. Da criação do distrito de Malanje ao período das guerrasAté o início da década de 1920 a a região de Malanje estava conectada administrativamente com o distrito de Lunda (atual Lunda Sul) quando, em 1921, o governador colonial José Norton de Matos devolve a capital distrital de Lunda para a cidade de Saurimo, e; no ato seguinte cria o distrito de Malanje, fixando sede na cidade homônima. Em 1972 o distrito tornou-se província É em Malanje que estoura a guerra colonial numa revolta laboral que ocorre em 4 de janeiro de 1961, a Revolta da Baixa do Cassange ou "Guerra de Maria", onde se dá um levantamento grevista dos milhares de trabalhadores dos campos de algodão da companhia luso-belga Cotonang. As duras condições de trabalho e de vida,[8] a constante repressão aliada à influência da independência do Congo-Quinxassa em junho de 1960 (ao norte da região do Cassange viviam os congos que tinham origens comuns com povos do Congo-Quinxassa), foram os principais factores que deram origem à sublevação destes angolanos.[9] Os trabalhadores decidiram fazer greve e armaram-se de catanas e canhangulos (espingardas artesanais). Os revoltosos destroem plantações, pontes e casas. A resposta das forças portuguesas é dura e violenta, através de companhias de caçadores especiais e bombas incendiárias lançadas de aviões da Força Aérea Portuguesa (FAP), tendo provocado um número bastante elevado de mortos: entre 200 a 300, ou mesmo alguns milhares.[10] Todos estes acontecimentos são ocultados do público em geral.[11] Este dia é lembrado em Angola como o Dia dos Mártires da Baixa de Cassange,[12] e terá sido o acontecimento que "despertou consciência patriótica dos angolanos e de unidade dos angolanos em prol da sua liberdade".[13] Em 1968, o MPLA abre a "Frente Leste" fazendo de Malanje sua IV Região Militar, criando a "Rota Agostinho Neto", onde tiveram lugar os maiores combates entre o movimento e as forças portuguesas. Em 1973 Portugal retoma a região, que cai sob domínio da UNITA já em 1975, com pouquíssimas ações do FNLA ao norte. Em 1977 o MPLA começa a executar uma enorme ação militar na província, sendo que a mesma volta ao domínio do movimento na década de 1980. GeografiaMalanje limita-se ao norte pela província do Uíge, ao leste pelo Congo-Quinxassa, Lunda Norte e Lunda Sul, ao sul e sudoeste pela província do Bié e, ao oeste pelas províncias do Cuanza Sul e Cuanza Norte. RelevoA província situa-se no norte de Angola e a sua altura varia de 500 a 1500 metros em relação ao nível do mar, registrando alguns de seus maiores pontos culminantes em altitude no Planalto de Camabatela e na Serra de Tala Mungongo (ou Planalto do Malanje).[14] Outras formações rochosas importantes são as Pedras Negras de Pungo Andongo,[15] que na verdade são uma extensão do Planalto do Cacuso.[14] HidrografiaAs duas maiores bacias hidrográficas que irrigam a província são a bacia do Cuanza, assentada no rio Cuanza, e a bacia do Cuango, assentada no rio Cuango, uma sub-bacia da bacia do Congo.[16] Na Baixa de Cassanje, entre os rios Cuanza e Lui, encontram-se as "chanas" ou "anharas", áreas planas alagadiças formadora de uma série de lagos e lagoas como o Quibanze, Quipemba, Copalanga, Catete, Calonga, Ziba, Chicondo, Uhiazimbo, Lungoio, Quichica e Tembo, além das lagoas Dombo e Sagia, mais ao norte.[17] ClimaSegundo a classificação climática de Köppen-Geiger predomina, na maior parte da província, o clima tropical de savana (Aw/As) com uma temperatura média de 20°C à 25°C. Na porção sul da província registra-se o clima subtropical úmido (Cwa).[18] Vegetação e patrimônio naturalA sua vegetação é composta de florestas tropicais, savanas e o misto de floresta-savana com florestas úmidas,[17] sendo que suas áreas de cobertura vegetal intocada encontram-se no Parque Nacional da Cangandala,[19] na Reserva Especial do Milando,[17] na Reserva Florestal do Caminho de Ferro de Malanje,[17] na Reserva Florestal do Samba-Lucala[17] e na Reserva Natural Integral do Luando.[20] EconomiaMalanje é subdividida em três zonas geo-económicas, são elas: os planaltos de Malanje, a Baixa de Cassanje e a Zona do Luando. Agropecuária e extrativismoMalanje é uma província essencialmente agrícola, destacando-se pela produção das seguintes lavouras temporárias: mandioca, arroz, algodão, milho, batata-doce, ginguba, girassol, feijão, soja e hortícolas.[21] Na criação de animais, destaca-se a pecuária, para corte e leite, assentando os rebanhos no gado bovino, além de caprinos, suínos e ovinos. Outra criação de animais de relevo, para carne e ovos, está nos galináceos.[21] O extrativismo vegetal ainda encontra grande cadeia na extração madeireira,[21] e; o extrativismo animal na pesca fluvial, realizada particularmente nos rios Cuanza, Lui, Luando e Luaré.[22] Indústria e mineraçãoMalanje possui algumas plantas industriais, majoritariamente instaladas na zona da capital, no qual são fabricados materiais de construção,[21] produtos voltados para a alimentação[21] e tabacos,[21] além de unidades agroindustriais de transformação de matérias primas agrícolas e de origem animal. Outra planta industrial importante é produção energética na Central Hidroelétrica de Capanda.[23] A indústria mineral trabalha na extração e semi-beneficiamento de diamantes, calcário, urânio e fosfatos.[21] Comércio e serviçosO setor comercial têm grande importância na capital provincial, onde estão sedes de grupos atacadistas que fornecem produtos a toda população malanjina, servindo de ponto intermediário entre o centro-norte e o leste do país.[21] InfraestruturaTransportesAtendida por uma relativa rede rodoviária, a província malanjina é servida por três principais troncos: o primeiro de sentido norte-sul assenta-se na rodovia EN-160; o segundo de sentido oeste-leste assentado na rodovia EN-230, e; o terceiro, na rodovia EN-140, também de sentido norte-sul. Outras estradas importantes incluem a EN-322 e a EN-225.[24] Outra vital via de transporte é o Caminho de Ferro de Luanda, que liga a província ao porto de Luanda.[24] EducaçãoOs centros de referência de ensino, em todos os níveis estão na capital malanjina, que dispõe inclusive de uma universidade pública e institutos técnicos.[25] Nas demais localidades os sistemas de ensino concentram-se nos níveis primário e secundário. Cultura e lazerA província é conhecida principalmente por possuírem as grandes palancas negras, animais símbolo de Angola, encontradas principalmente no Parque Nacional de Cangandala.[17] Outros pontos importantes de Malanje são as famosas Pedras Negras de Pungo Andongo e as Quedas do Calandula, sendo que esta última, localizadas no município do Calandula, são as maiores cataratas de toda a África depois das Cataratas de Vitória.[17] Referências
Bibliografia
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