LunaraLuiz do Nascimento Ramos, mais conhecido como Lunara (Porto Alegre, 1864 — 1937) foi um comerciante, jornalista e fotógrafo brasileiro, um dos principais nomes da fotografia no estado do Rio Grande do Sul entre o fim do século XIX e o início do século XX. BiografiaIniciou sua vida pública muito jovem. Em 1883 já fazia parte da comissão editorial do jornal O Athleta, vinculado ao Club Caixeiral, onde publicou artigos e crônicas sob os pseudônimos Sancho e Bilú, versando sobre aspectos do cotidiano, ora carregados de crítica e humor, ora de poesia. Em 1896 associou-se a Adwaldo Franco e abriu a firma de importações Franco, Ramos & Cia., e também trabalhava como contabilista em outras empresas.[1][2] Teve sucesso como empresário; em 1901 era diretor da influente Associação Comercial, reeleito em 1905, em 1904 era membro do Conselho Fiscal da companhia de seguros Phenix, e no mesmo ano foi eleito para o Conselho Fiscal do Club Caixeiral.[2] Seu envolvimento com a fotografia se deu na qualidade de amador.[3] Os primeiros registros de sua atividade neste campo são do fim da década de 1890, assinando suas produções como Lunara. Ingressou no primeiro fotoclube da cidade, o Photo Club Helios, fundado em 1907. Fez exposições e publicou obras na Revista Kodak, na revista Máscara, na Revista da Semana e nas francesas Photo-Gazette e La Revue Photographie.[3][2] Foi casado com Maria Isabel Borges, deixando os filhos Áureo e Zaida.[2] ObraSão conhecidas 75 imagens de sua autoria.[4] Abordava cenas urbanas, observando as transformações da cidade e sua modernização, e também ambientes suburbanos e rurais, com uma ênfase nas paisagens e nos tipos humanos característicos, mas pouca atenção deu ao retrato propriamente dito, embora o gênero estivesse muito na moda. Foi influenciado pela obra de pintores como Pedro Weingärtner, de quem era amigo, percorrendo com ele cenários sugestivos nos arredores de Porto Alegre.[1][3] Outra influência em sua atividade foi o movimento fotoclubista, que buscava se afastar das práticas da fotografia profissional e ressaltar as possibilidades narrativas e interpretativas da realidade captada, e embora tenha se aproximado do movimento pictorialista da fotografia, ao contrário deste não manipulava as imagens a posteriori com retoques para dar-lhes um caráter mais pictórico, nem pretendeu equiparar a fotografia à pintura como os primeiros pictorialistas, mantendo a imagem tal qual foi captada e contribuindo para a legitimação da fotografia como uma arte autônoma.[5] Participou de várias exposições e no início do século XX já tinha diversos prêmios em sua bagagem,[1] incluindo a medalha de ouro na Mostra Grupal de Artes Plásticas promovida pela Gazeta do Comércio, e o prêmio da revista La Revue de Photographie, pela fotografia O Lago.[2] Em torno de 1900 publicou o importante álbum Vistas de Porto Alegre. Em 1901 documentou a Exposição Agropecuária e Industrial, resultando em um outro álbum, e participou do júri da seção de Artes Plásticas.[1] Foi elogiado por críticos como Athos Damasceno, Pinto da Rocha e Arquimedes Fortini como sendo um verdadeiro artista.[1] Sua produção fotográfica foi esquecida depois da sua morte, sendo redescoberta em 1976 pela jornalista e fotógrafa Eneida Serrano. Três anos depois ela organizou uma retrospectiva no Museu da Comunicação e em 2001 reuniu a produção no livro Lunara Amador 1900.[3] Desde então sua obra vem sendo objeto de diversos trabalhos acadêmicos.[1] Em 2001 vinte fotos suas foram expostas na 11ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Seu nome batiza a Galeria Lunara do centro cultural Usina do Gasômetro.[2] Segundo Boris Kossoy, "talvez o mais conhecido fotógrafo amador do Rio Grande do Sul no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, [...] tinha como principal motivo de inspiração cenas campestres, riachos, caminhos e casebres emoldurados pela natureza e também o elemento humano em atitudes posadas. [...] Lunara deixa transparecer em suas produções a influência pictorialista que marcou acentuadamente a fotografia amadorística dos salões praticada em todo o mundo".[6] Para Denise Stumvoll, Lunara é "uma peça importante nos quebra-cabeças da história entre arte e fotografia, pelo menos em nível local. [...] No processo de conformação do sujeito moderno, escutamos o ressoar de uma narrativa poética nas imagens de Lunara, como no 'olhar a história a contrapelo', de Walter Benjamin, estando aí a sua força e o seu enigma, pois a fotografia era um campo da linguagem artística incipiente. [...] Ele pôde experimentá-la como um campo aberto em diálogo constante com outras linguagens artísticas, como a pintura e até mesmo a escrita poética".[7] Ver tambémReferências
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