Luís de Figueiredo de Lemos
Luís de Figueiredo de Lemos (Vila do Porto, 21 de agosto de 1544 — Funchal, 26 de novembro de 1608) foi o 7.º bispo da Diocese do Funchal, que governou entre 1585 e 1608. BiografiaD. Luís de Figueiredo de Lemos foi filho de Miguel de Figueiredo de Lemos, natural da Tonda, em Tondela, onde nasceu c. 1510, e de sua mulher (c. 1535) Inês Nunes Velho, nascida c. 1517, um dos povoadores dos Açores e também o primeiro desta família na ilha de Santa Maria. Gaspar Frutuoso, em Saudades da Terra, refere: «Esteve Inês Nunes sem trabalhos de emprenhar os primeiros anos do casamento; devia ser poderosa causa natural que o impedisse, ou que as grandes e raras coisas costumam esperar acomodado tempo para vir ao mundo. Temerosas algumas suas parentas que com a idade corresse juntamente a ocasião do parto, respondia, movida de incógnita e não sabida influência, esperar na misericórdia do Sumo Deus ter filhos, e no número destes um que havia de ser bispo, verdadeiro pronóstico do que agora vemos». Gaspar Frutuoso referiu-se a D. Luís de Figueiredo como profundo estudioso e deixou para a posterioridade a discrição da vida de D. Luís:
Foi pelo seu parente em Lisboa, D. Luís Coutinho, tentado a não seguir as ordens sacras, no entanto acabou por receber as primeiras ordens em Portalegre, pelas mãos do bispo D. André de Noronha, e continuar a seguir a vida religiosa em Lisboa. Foi nomeado vigário da freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada, pelo bispo D. Gaspar de Faria, o 6.º bispo de Angra, e, ao mesmo tempo, ouvidor eclesiástico em toda a ilha de São Miguel. Gaspar Frutuoso diz que Luís de Figueiredo «vindo à Terceira para se ordenar e agradecer ao Bispo a vontade de lhe fazer mercê […]. No entrementes finou-se D. Gaspar de Faria, que ocupava a cátedra de Angra, o que levou Luís de Figueiredo novamente a Lisboa a receber Ordens de Evangelho e Missa, depois do que se diz tivera alguns tratos com o doutor Paulo Afonso, pessoa que se interessava pelo novel eclesiástico, em sequência do que saiu um despacho nomeando-o capelão do Rei, com o melhor foro e a maior moradia costumada, de mil réis por mês, um alqueire de cevada por dia e uma vestimenta cada ano. Foi a Coimbra, voltou a Lisboa, onde surgiu a hipótese de o mandarem como inquisidor para a Índia. Por ele se interessaram o mesmo Paulo Afonso e o licenciado Marcos Teixeira com cartas e pedidos ao Cardeal D. Henrique, inquisidor-mor do reino, então em Évora. Por fim, aceitou o moço nobre Luís de Figueiredo vir servir nas ilhas,
Depois que foi nomeado deão do cabido da Sé de Angra e de ter sido por estar nessa qualidade incumbido pelo bispo de organizar o processo da vida e das virtudes da venerável Margarida de Chaves, passou com D. Pedro de Castilho à ilha de São Miguel, como visitador, acabando por fazer o mesmo serviço na ilha de Santa Maria. Esteve assim impedido de voltar à Terceira onde D. Pedro de Castilho, devido às tendências políticas a favor de Filipe II de Espanha, não seria bem recebido. Durante este tempo foi também vigário geral e provisor do bispado. O bispo viu-se na necessidade de regressar ao reino na armada de Álvaro de Bazán, que finalmente submetera a Terceira à obediência de Filipe II. Em 1583, Luís de Figueiredo foi deixado pelo prelado como governador do bispado de Angra, sob aprovação régia e papal para que o governasse em condição de autoridade apostólica. Gaspar Frutuoso confirma a eficiência com que D. Luís de Figueiredo exerceu o ser cargo:
Filipe I de Portugal apresentou-o para bispo do Funchal em Março de 1585, obtendo confirmação do papa Sisto V a 5 de março de 1586. Foi sagrado em Lisboa, num Domingo da Rosa, o quarto do tempo da Quaresma, no Mosteiro da Trindade. Na altura tinha a idade de 41 anos. As cerimónias de consagração D. Luís de Figueiredo foram feitas pelo bispo deão da Capela Rreal, D. Manuel de Ciebra, que tinha sido bispo de Ceuta. Entre os convivas estavam D. Jerónimo Coutinho, que era o comendador da ilha de Santa Maria e que fora capitão-mor da armada da Índia, D. Afonso de Noronha, filho de João de Vilhena, neto de D. Filipe de Noronha e ainda os bispos D. Jerónimo Lobo e D. Manuel de Castro. Partiu de Lisboa num domingo, dia 27 de julho de 1586, viajando numa zabra de nome Júlio, preparada de propósito para ele e acompanhada de outro navio, o Santo António, aprestado para a guerra, caso esta fosse necessária para a defesa da primeira embarcação. Chegou à ilha da Madeira no dia 4 de agosto de 1586, tendo passado algum perigo na viagem principalmente devido à pirataria nos mares da Madeira. A sua chegada à ilha foi muito festejada. Recebeu ainda a bordo os comprimentos do capitão-geral da guerra, Tristão Vaz da Veiga, e de João de Aranha, capitão da fortaleza e da guarnição espanhola. A sua chegada ao Funchal foi tido como um acontecimento notável do último quartel do século XVI. Gaspar Frutuoso, na sua obra Saudades da Terra, descreve os acontecimentos:
Esteve no seu cargo durante 22 anos, período extenso em que fez aplicar diversas reformas no clero da sua jurisdição, interessando-lhe a administração das paróquias. Para isso, mandou criar ouvidorias, revitalizou as visitações, então com pouca frequência, e deu maior força e vitalidade à igreja do Funchal. Deu início a uma visita a todas as igrejas do seu bispado, atribuindo-lhe estatutos, e tratando do restauro das que se encontravam arruinadas. Tratou de mandar cuidar das capelas, sacristias, fábricas, retábulos, ornamentos e outros aprestos, reviu as côngruas. Conseguiu que fosse restauradas as igrejas de 24 freguesias. Mandou fazer casas aos vigários onde isso era preciso. Foi ainda durante a vigência deste bispo que a igreja de São Pedro, no Funchal, passou a colegiada, com quatro beneficiados, vigário e coadjutor, percebendo vinte mil réis anuais de ordenado. Aumentou os benefícios à colegiada do Calhau, que passou a dispor de seis beneficiados em vez de quatro. Foi ainda quem mandou edificar o antigo Paço Episcopal do Funchal e a capela anexa de São Luís, onde foi sepultado. Mandou ainda edificar o seminário da diocese. Convocou um sínodo, que se celebrou a 29 de junho de 1597 na Sé do Funchal, em que foram feitas e promulgadas novas constituições do bispado, a completarem as que foram decretadas pelo seu antecessor, D. Jerónimo Barreto, no ano de 1578. Estas constituições foram confirmadas por decreto episcopal de 15 de julho de 1597, o qual ordenou a sua impressão. Faleceu em 26 de novembro de 1608 e foi sepultado na capela de São Luís, junto do Paço Episcopal. Quando no ano de 1906, aquela capela foi profanada, os seus restos mortais foram exumados e trasladados, por ordem do então bispo D. Manuel Agostinho Barreto, para a Sé Catedral, onde foram depositados junto às portas do guarda-vento e recobertos com a lápide de mármore lavrado que ornamentava a sua sepultura primitiva na Capela de São Luís. Ver tambémReferências
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