Livro de Jeremias
O Livro de Jeremias é o segundo dos livros dos principais profetas da Bíblia, vem depois do Livro de Isaías e antes do Livro das Lamentações. Os capítulos 1 a 24 registram muitas das suas profecias. Os capítulos 24 a 44 relatam suas experiências. Os remanescentes contém Profecias contra as nações. É provável que seu auxiliar, Baruque, tenha reunido e organizado grande parte do livro. Na história de Babel, foi usado o método Atbash de criptografia. O autorJeremias (em hebraico: יִרְמְיָהוּ, Yirməyāhū) foi um profeta hebreu conhecido por sua integridade e discursos duros contra o pecado. Filho do sacerdote Hilquias (ou Helcias), da Tribo de Benjamim[1][2], nasceu entre 650 a.C. e 640 AC[3] em Anadote da Tribo de Benjamim[3], um pequeno povoado a nordeste de Jerusalém, e morreu no Egito, em 580 a.C.. Foi sacerdote[4] do povoado de Anadote e previu, segundo a Bíblia,[5][6] entre outras coisas, a invasão babilônica - Nabucodonosor atacou Israel em 597 a.C. e novamente em 586 a.C. (ou 607 a.C., segundo a cronologia das Testemunhas de Jeová), quando os caldeus destruíram Jerusalém e queimaram o Templo. O significado do nome é incerto, existindo três teses aceitáveis: "Yehowah exalta", "Yehowah é sublime" ou "Yehowah abre (=faz nascer)", era um nome bastante comum nos tempos bíblicos, são conhecidos pelo menos sete personagens com este nome[3] que é empregado 158 vezes na Bíblia[7]. Embora de família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte, principalmente a Oseias[3], e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Como Miqueias, ele pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos camponeses sobre a situação do país[1]. AtividadeAcredita-se que o livro tenha começado a ser escrito por volta de 605 a.C., quando Jeremias, preso, começa a ditá-lo a seu secretário Baruc (36:1.2.4)[8], no quarto ano do reinado de Jeoaquim, quando iniciou-se efetivamente o ministério do profeta, e Deus teria lhe ordenado que escrevesse suas experiências num rolo. Contudo, a obra só foi completada após a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor II, sendo que os acontecimentos narrados não se acham em ordem cronológica no livro. Por outro lado, a Edição Pastoral da Bíblia sustenta que a atividade profética de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 AC[3] (1:2; 25:3), quando ele ainda era jovem (1:6)[9] e prosseguiu até 586 AC, e pode ser dividida em quatro períodos[1][3]: Primeiro período: durante o reinado de Josias (627 a 609 AC)Com apenas oito anos de idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra", expressão que indica a camada rural da sociedade[1]. No início deste reinado, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por causa de sua infidelidade a Jeová e sua adesão a outros deuses (idolatria), especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalim[3]. No âmbito internacional, a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande potência da época, se enfraquece cada vez mais. Josias, já maior de idade, aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e procura tomar o território que antes era do Reino de Israel Setentrional, e que pertencia à Assíria desde a queda de Samaria em 722 AC[1]. Josias deixa de pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa (cf. 2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer novo relacionamento social centrado na Lei[1]. Estranhamente Jeremias não faz nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa[3]. Foi um período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom conceito sobre Josias (Jr 22,15-16)[1]. Foram escritos neste período: 2:1-4:4 e 30:1-31:37[3]. Segundo período: durante o reinado de Jeoaquim (609 a 598 AC)Com a decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 AC[10]), outros povos entram no cenário: citas, medos, babilônios e também os egípcios que tentam ressurgir depois de um período decadente. Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas políticas e militares. Josias morre em Megido[10], em 609 AC (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Neco, que procura deter o avanço da Babilônia. Neco depõe Jeoacaz, que sucedera Josias, e coloca no trono de Judá o despótico Jeoaquim. O povo detestava Jeoaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19). É dessa época o famoso Discurso sobre o Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do profeta[1].
No começo de seu governo, Jeoaquim preocupa-se em construir um novo palácio, exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois Judá estava obrigado a pagar tributos ao Egito. Jeremias denuncia o governo de Jeoaquim como ganancioso, assassino e violento (22:13-19), pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e de proteger os mais fracos, e vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Jeoaquim "não conhece Jeová". A Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor II. Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país (4:5-6:30; 5:15-17; 8:13-17). Possivelmente por volta de 605 AC, quando Nabucodonosor II venceu o Faraó Neco II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém (19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur, chefe da guarda do Templo, surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida (36,5), a entrada no Templo[3]. Assim mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais. E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes)[1], para isso convoca o escriba Baruc e dita-lhe as profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no quarto ano do governo de Jeoaquim, em 605 AC. Em dezembro de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o livro, em um momento em que Nabucodonosor II atacava a cidade filisteia de Ascalão, vizinha de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do norte" está às portas, ou a conversão ou a destruição. Jeoaquim mandou queimar o escrito e prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se esconderam e não foram achados. Posteriormente, Jeremias manda que Baruc escrever tudo de novo e ainda acrescenta ao livro outras palavras (36,27-32). Jeremias também luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que, segundo o profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos perversos, para que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh[3]. O profeta estava com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 AC, o exército babilônio estava às portas de Jerusalém. Nessa época, o rei Jeoaquim morreu, provavelmente assassinado. Seu filho e substituto Jeconias, também chamado Joaquim,, não teve tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida. Então o profeta, juntamente com parte da elite judaica, foi levado para o Exílio na Babilônia em 597 AC. anteriormente chamado Metanias, tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor II, para reinar em Jerusalém[1]. Jeremias apregoara que este castigo seria decorrente ruptura da aliança. Em Judá, Jeremias só via rebeldia contra Jeová, levando o povo a maldades e crimes sem conta. Não havia o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza e não há paz. A mentira domina, desde o ensinamento dos profetas à lei dos sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias. Jeremias constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5). Quanto mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: 'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14). Em 5:26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e escravizá-lo impunemente[3]. Terceiro período: durante o reinado de Sedecias (597 a 586 AC)Sedecias assume o trono com 21 anos de idade, para dirigir um Judá arruinado, com várias cidades destruídas e uma economia desorganizada[3], se submete aos babilônios e se mostra indeciso. Nesse momento surge uma disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que foram para o Exílio na Babilônia e aqueles que ficaram em Judá[1]. O profeta se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre. Por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição. Essa ideia leva Jeremias novamente para a prisão[1]. Pressionado por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia, que, fracassa, conforme previsto por Jeremias. Jerusalém é sitiada pelos babilônios, nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15). Em 587 AC ocorre a segunda deportação[1]. Quarto período: depois da queda de Jerusalém (a partir de 586 AC)Em 586 AC, Nabucodonosor II resolve destruir Jerusalém totalmente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas permite que Jeremias fique no país, então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judeia[1]. Nesse mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Esse grupo passa a residir na cidade de Táfnis, cidade situada a leste do Delta do Nilo, onde passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos ali praticavam (40,7-44,30). Segundo o apócrifo Vida dos Profetas, escrito por um judeu da Palestina no século I DC Jeremias foi apedrejado e morto por seus conterrâneos quando residia no Egito[3]. BalançoPode-se dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Deus. Ele se tornou uma espécie de Moisés fracassado, que viu seu povo perder suas instituições e a própria terra[1]. Se apresenta como um grande solitário (15:17), incompreendido e perseguido até pelos membros de sua família (12:6; 20:10; 16:5-9), nunca chegou a ser pai (16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade para o Egito, nenhum vestígio restará de sua tumba[11]. No entanto, sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de mostrar, ao povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco, sem precisar de instituições mediadoras (31,31-34)[1]. Ao colocar em primeiro plano os valores espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma deve ter com Deus, ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de sofrimentos a serviço de Deus, pode ter inspirado o Segundo Isaías na construção da Imagem do Servo (Isaías 53)[10]. Características literáriasHá quatro tipos de textos no livro de Jeremias[3]:
As longas seções em prosa que ora estão na forma de diálogo e em outras ocasiões como narrativa, embora grande parte da obra esteja esteticamente formatada com forte presença das então denominadas metáforas vivas, utilizando-se com muita habilidade o idioma hebraico. Segundo alguns estudiosos, o simbolismo utilizado pelo profeta serviria para personificar a sua mensagem, conforme se vê em várias passagens, como a do cinto estragado[13] ou na aquisição de uma propriedade em Anatote.[14] Adições
Plano da Obra[15]
Processo de ComposiçãoO livro de Jeremias passou por um longo e complicado processo de formação. Profecias (palavras proféticas) isoladas foram sendo reunidos ao longo dos anos, de modo que temos hoje uma antologia da pregação de Jeremias e não uma obra perfeitamente planejada. Mais precisamente, pode-se dizer que temos uma antologia de antologias, em um processo que começou ainda durante a vida de Jeremias e prosseguiu ao longo da época pós-exílica[3]. A Septuaginta tem um texto de Jeremias bem mais curto do que o Texto Massorético, além de colocar várias profecias noutra ordem. Isso permite supor que existiram dois textos independentes de Jeremias: um mais antigo e mais curto, que se perdeu, e que serviu de base para a Septuaginta; outro, mais recente, que recolheu vários acréscimos, e que nos foi transmitido pelos massoretas (= os rabinos "transmissores" do texto hebraico)[3]. Confissões de Jeremias [3]As "confissões" são diálogos com Jeová, lamentos, orações, disputas, que ocorreram durante o governo de Joaquim, quando que Jeremias mais sentiu o peso de sua missão. Obrigado a ser do contra, a pregar a desgraça para o seu povo, a remar contra a corrente, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado, ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu. É possível que tenham sido escritos em 605 AC como um desabafo, podem ser lidos como uma síntese das crises vividas pelo profeta desde o começo de sua atividade. São 5 trechos:
Referências
Ligações externas
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