Língua protocéltica
O protocélticoAO 1990 ou protoceltaAO 1990, também chamado de celta comum, é o suposto ancestral de todas as línguas celtas conhecidas. Falado provavelmente por volta de 800 a.C., seu léxico pode ser seguramente reconstruído com base no método comparativo da linguística histórica. O protocelta é uma língua descendente direta do protoindo-europeu e é amplamente considerada como a primeira das línguas indo-europeias a se espalhar na Europa norte-ocidental e atlântica. A área onde a língua parece ter primeiro se tornado perceptivelmente o protocelta, em oposição ao dialeto centum anterior, corresponde à cultura de Hallstatt, nas extremidades ocidentais do "Campo de Urnas". A partir de aproximadamente 800 a.C., essa cultura por influência de elementos trácio-cimérios introduziu a Idade do Ferro na Europa. Os contemporâneos cimérios são de maneira diversa indicados como os ancestrais dos címbrios, dos sicambros e de Cymru, apesar de outras etimologias explicarem melhor o último termo. A reconstrução do protocelta está atualmente sendo feita. Embora o céltico continental apresente muitas evidências fonológicas e algumas morfológicas, o material catalogado é ainda muito escasso para permitir uma reconstrução segura da sintaxe. Apesar de algumas sentenças completas estarem escritas em gaulês e celtibero, a literatura celta substancialmente mais antiga é encontrada no irlandês antigo, a mais antiga língua céltica insular registrada. Reconstrução fonológicaConsoantesAs mudanças fonológicas das consoantes do PIE para o protocelta podem ser resumidas como segue. (Um asterisco [*] antes de uma letra ou palavra designa que o fonema ou lexema não é atestado e sim hipotético, uma forma reconstruída).
Em contraste com a língua da qual se originou, o protocelta não usava a aspiração como caracterísitica para diferenciar os fonemas. Então, as consoantes sonoras aspiradas do protoindo-europeu *bʰ, *dʰ, *gʰ/ǵʰ fundiram-se com *b, *d, *g/ǵ. A consoante aspirada labiovelar *gʷʰ não se fundiu com *gʷ, apesar de *gʷ ter se tornado *b no protocelta, enquanto a aspirada *gʷʰ se tornou *gʷ. Assim, enquanto o PIE *gʷen- 'mulher' se transformou em ben no irlandês antigo e em benyw no galês, o PIE *gʷʰn̥- 'matar, ferir' é a origem do irlandês antigo gonaid e do galês gwanu. O *p protoindo-europeu perdeu-se no protocelta, aparentemente atravessando os estágios *φ (como na tabela acima) e *h (talvez confirmado pelo topônimo Hercynia, se este for de origem céltica) antes de sumir completamente no início das palavras e entre vogais. Ao lado de consoantes, o *φ protocelta experimentou diferentes mudanças: os grupos consonantais *φs e *φt transformaram-se em *xs e *xt respectivamente no protocelta. O *sp- PIE tornou-se o s irlandês antigo e o britônico f; enquanto Schrijver (1995, 348) argumenta que havia um estágio intermediário *sφ- (onde *φ permaneceu um fonema independente até depois do celta protoinsular ter se dividido no goidélico e no britônico), McCone (1996, 44–45) acha mais econômico acreditar que *sp- permaneceu imutável no protocelta, isto é, a mudança *p para *φ não acontece quando precedido por *s. (Similarmente, a lei de Grimm não se aplica a *p, t, k após *s nas línguas protogermânicas).
Em gaulês e nas línguas britônicas, um novo som *p apareceu como reflexo do fonema protoindo-europeu *kʷ. Conseqüentemente uns julgam o gaulês petuar[ios] e o galês pedwar 'quatro', comparáveis ao irlandês antigo *cethair e ao latim quattuor. Até que este novo /p/ preencha o espaço no conjunto de fonemas que havia sido deixado vazio pelo desaparecimento do equivalente no PIE, nós podemos pensar numa mudança em cadeia. Os termos céltico-P e céltico-Q são úteis quando se deseja agrupar as línguas célticas de acordo com o caminho que elas tomaram neste fonema. Porém uma simples divisão em céltico P e Q pode não ser rígida, e não fazer justiça às evidências das línguas célticas continentais antigas. O grande número de raras inovações comuns entre as línguas célticas insulares são muitas vezes apresentados como evidência em oposição à divisão céltico-P versus céltico-Q, mas eles podem em vez disso refletir uma influência do substrato comum a partir de línguas pré-célticas das Ilhas Britânicas, e neste caso seriam irrelevantes à classificação das línguas célticas. As línguas célticas-Q talvez podem também ter /p/ nas palavras estrangeiras incorporadas, apesar de em alguns empréstimos do galês para o irlandês o /k/ foi usado para substituir o som, como no gaélico Cothrige, uma forma antiga de "Padraig". O gaélico póg, 'beijo', foi um empréstimo posterior (da segunda palavra da frase latina osculum pacis, 'beijo de paz') em um estágio onde o p foi tomado emprestado diretamente como p, sem a substituição por c. VogaisO sistema vocálico protocéltico é muito parecido àquele reconstruído para o protoindo-europeu por Antoine Meillet. As diferenças incluem a incidência do celta *ī no lugar do PIE *ē (por exemplo, o gaulês rix e o irlandês rí, 'rei'; comparado ao latim rēx) e *ā em vez de *ō.
A vogal *ə é o chamado "schwa indo-germânico", agora interpretada como uma vogal laringeal entre duas consoantes. Transição para o galêsAs mudanças fonéticas regulares consonantais do protocelta para o galês pode ser resumido na tabela seguinte. Onde os grafemas galeses têm um valor diferente dos símbolos correspondentes do AFI, o valor equivalente do AFI é indicado entre barras. V representa uma vogal; C representa uma consoante.
MorfologiaA morfologia (estrutura) dos substantivos e adjetivos demonstra não carregar as mudanças da língua da qual se originou. Por outro lado, os verbos célticos insulares mostram uma característica peculiar desconhecida em qualquer outra língua indo-europeia conhecida: os verbos têm diferentes formas de conjugação dependendo se eles aparecem na posição inicial absoluta da sentença (o céltico insular tem a ordem das palavras na sentença verbo-sujeito-objeto) ou se são precedidos por um adjunto adverbial. A situação é mais firmemente confirmada no irlandês antigo, mas aparece de certa forma no gaélico escocês e alguns traços estão também presentes no galês médio. As formas que aparecem na posição inicial da sentença são chamadas absolutas, e aquelas que aparecem após um adjunto conjuntas. O paradigma do presente do indicativo na voz ativa do verbo irlandês antigo beirid 'carregar' é indicado a seguir; as formas conjuntas são exemplificadas com o adjunto ní 'não'.
No gaélico escocês esta distinção é ainda encontrada no futuro:
No galês médio, a distinção é vista mais claramente nos provérbios seguindo a fórmula "X acontece, Y não acontece" (Evans 1964: 119):
Antigas análises da distinção, como registrado por Thurneysen (1946, 360 ff.), afirmam que as terminações absolutas derivam das "terminações primárias" do protoindo-europeu (usadas nos tempos presente e futuro) enquanto as terminações conjuntas derivam das "terminações secundárias" (usadas no tempo passado). Assim, o irlandês antigo beirid 'ele/ela carrega' deve ter evoluído a partir de *bʰereti (similar ao sânscrito bharati 'ele/ela carrega'), enquanto a forma conjunta beir deve ter evoluído a partir de *bʰeret (similar ao sânscrito a-bharat 'ele/ela estava carregando'). Atualmente, no entanto, muitos estudiosos do celta concordam que Cowgill (1975), seguindo uma ideia já apresentada por Pedersen (1913, 340 ff.), encontrou a solução correta para a origem da distinção absoluta/conjunta: uma partícula enclítica, reconstruída como *es após consoantes e *s após vogais, viria na sentença na segunda posição. Se a primeira palavra na sentença fosse um outro adjunto, *(e)s viria em seguida e assim antes do verbo. Mas se o verbo fosse a primeira palavra na sentença, *(e)s seria adicionado a ele. Sob essa teoria, então, o irlandês antigo absoluto beirid originou-se do protocelta *bereti-s, enquanto a conjunta ní beir originou-se de *nī-s bereti. A origem de *(e)s permanece desconhecida. Cowgill sugere que ela talvez seja uma forma semanticamente reduzida de *esti 'é', enquanto Schrijver (1994) argumenta que *(e)s é derivada da partícula eti 'e então', que é verificada no gaulês. As línguas célticas continentais não possuem qualquer distinção absoluta/conjunta. No entanto, elas parecem apresentar apenas as ordens das palavras na sentença sujeito-verbo-objeto e sojeito-objeto-verbo, como nas outras línguas indo-europeias. A distinção absoluta/conjunta deve assim ser um instrumento da ordem de palavras verbo-sujeito-objeto que apareceu no céltico insular. Ver tambémReferências gerais
Ligações externasUma fonte de pesquisa do vocabulário protocelta é fornecida pela Universidade de Gales nos seguintes sítios: Alternativamente, a Universidade de Leiden fornece um dicionário protocelta: |