José Vilhena

José Vilhena

José Vilhena com cerca de 50 anos
Nascimento 7 de julho de 1927
Freixedas, Portugal
Morte 3 de outubro de 2015 (88 anos)
Lisboa, Portugal
Nacionalidade Português
Ocupação Escritor, pintor, cartoonista e humorista
Website www.josevilhenahumorista.com

José Alfredo de Vilhena Rodrigues (Reigada, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, 7 de julho de 1927 - Lisboa, 3 de outubro de 2015), foi um escritor e pintor português, que.marcou várias gerações de portugueses antes e depois do 25 de Abril, com mais de cem títulos de humor e sátira político-social.[1]

Biografia

José Vilhena com cerca de 80 anos

Filho duma professora primária e dum proprietário agrícola, passou a infância na aldeia de Freixedas, concelho de Pinhel. «Eu costumo dizer que sou das Freixedas mas, de facto, isso não corresponde à verdade, porque não nasci aí. Fui para lá com uns 15 dias, nasci foi numa aldeia perto de Castelo Rodrigo chamada Reigada, aonde nunca mais voltei nem me dei à curiosidade de conhecer mais tarde.» (Vilhena a Luís Guimarães: 2006)

Vilhena começou a frequentar a escola ao colo da mãe, que era professora em Freixedas, e viveu «num edifício muito grande mandado construir por um mecenas local, que albergava tanto a escola como as casas dos professores, onde vivíamos então.» Era a Escola Primária Masculina Pe. José Gonçalves Machadinho, inaugurada em 1913; o edifício foi reabilitado em 2017, para sede da Junta de Freguesia, pavilhão multiusos e posto da GNR.)[2]

Aos dez anos de idade foi estudar para Lisboa, indo no meio da adolescência para o Porto, onde realizou um ano de tropa. Cursa arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto, mas fica pelo quarto ano, já que começa a desenhar para jornais.

Na década de 1940, por encomenda do pároco de Pinhel, pintou o quadro “A Assunção de Nossa Senhora”, que encimou o portal do altar-mor da igreja-matriz de Pinhel, até que depois do concílio Vaticano II Concílio Vaticano II, a estrutura da cerimónia religiosa foi alterada e o quadro ficou em lugar menos visível. Em Fevereiro de 2000, José Vilhena considerou aquele trabalho «uma brincadeira» da sua juventude: «A mocidade é muito atrevida. Eu fiz uma coisa daquelas sem grandes bases e felizmente que ]agora] está lá para trás. (…) Se me tivessem pedido para pintar o tecto da capela Sistina não teria hesitado,», garantiu, no meio de uma gargalhada. Em 1948, Já nas Freixedas, em 1948, pintou em madeira uma tela que representa a figura teatral da Tragédia, para o salão paroquial das Freixedas, onde passou parte da infância e juventude.[3]

Fixa-se em Lisboa, na zona do Bairro Alto, onde desenha cartoons para os jornais "Diário de Lisboa", "Cara Alegre" e "O Mundo Ri" (de que foi co-fundador) durante os anos 50.[4] Publica em 1956 Este Mundo e o Outro, a sua primeira colectânea de cartoons, e em 1959 Manual de Etiqueta, livro de textos humorísticos.[5]

Durante os anos 60 a sua actividade de escritor desenvolve-se. Com o fim da revista "O Mundo Ri", publica uma grande quantidade de livros com textos humorísticos.[6] Esses seus mesmos livros e desenhos, muitos deles usando a Censura como tema de paródia, provocaram-lhe problemas com a polícia, mais concretamente com a PIDE, que lhe apreendeu constantemente escritos e lhe causou três estadias na prisão, em 1962, 1964 e 1966. Isso tornou-o muito popular na época. Até ao 25 de Abril de 1974 Vilhena redigiu cerca de 70 livros.[6]

Em 1973, Vilhena inicia a publicação, em fascículos, da Grande Enciclopédia Vilhena, que virá a interromper após a Revolução dos Cravos, em 1974, para dar início à publicação da revista Gaiola Aberta[7][4], cujo primeiro número sai logo a 15 de Maio desse ano. Esta revista de textos e cartoons humorísticos foi mantida por ele durante vários anos, satirizando a sociedade da época o que o levou a ser perseguido e a responder várias vezes em tribunal tendo ficado quase na bancarrota.[5]

Um interregno de quatro anos ocorreu depois devido a uma fotomontagem que envolvia a princesa Carolina Grimaldi, da qual foi alvo de processo de que se defendeu com sucesso, pelo advogado José Hermano Saraiva.

Vilhena volta assim com O Fala Barato, numa primeira edição em forma de jornal e mais tarde em revista (de Julho de 1987 a 1994)[4]. Depois de deixar de ser publicada seguiu-se «O Cavaco: revista do Humor Possível» (de Outubro de 1994 a Outubro de 1995) e mais recentemente O Moralista ( de Abril de 1996 a Abril de 2003).[4]

Faleceu a 3 de outubro de 2015, aos 88 anos de idade, no Hospital de S. Francisco Xavier, vítima de doença prolongada.[8]

Homenagens

Em 14-10-2004, prémio “O Inimigo Público” atribuído a Vilhena pelo suplemento humorístico semanal do jornal "Público".

Em Outubro de 2015 atribuído a Vilhena, a título póstumo, o estatuto de membro honorário do forum erótico-generalista “Chupa-mos.com”, pelo mérito da sua obra, vivência e legado social.

Votos de Pesar pela morte de José Vilhena:


Obras

Colecção Bom-Humor de Algibeira

  1. Este Mundo e o Outro: anedotas ilustradas de Vilhena. 1956
  2. Pascoal. 1957
  3. A Olho Nu: anedotas ilustradas de Vilhena. 1958
  4. Manual de Etiqueta: regras fundamentais para se possuir uma razoável má educação., 1959[9]
  5. Humor sem Palavras com um prefácio de Vilhena. Autores Vários, 1960
  6. Copofonia ou sinfonia do copo ou o garrafão é o melhor amigo do homem, 1960
  7. Pré-História. 1960 (História universal da pulhice humana – Tomo I)
  8. Stuart e os seus bonecos. Stuart Carvalhais. Prefácio de Aquilino Ribeiro. 1962
  9. Humor sem palavras. Autores Vários. 1961
  10. O Egito. 1961 (História universal da pulhice humana – Tomo II)
  11. Elogio da Nobreza: Com licença da Santíssima Inquisição & Real Mesa Censória. Primeira edição – Ano de MCMLXII. 1962
  12. Branca de Neve e os 700 anões, 1962[7]
  13. Histórias Francesas. Desenhos e textos de autores franceses. 1962
  14. Um Baú de Gozo. Álvaro de Laiglesia. 1962
  15. Humor Russo. Autores Vários. 1963
  16. A Criação do Mundo, Jean Effel. 1963[10]
  17. Humor Francês. Autores Vários. 1963
  18. Proibido Buzinar. Autores Vários. 1963
  19. Dicionário Cómico: Coligido por J. Vilhena. Autores Vários. 1963
  20. Canal Zero: modesta contribuição para o estudo da idiotia em Portugal. 1964
  21. Humor Parisiense, Autores Vários. 1965 [11]
  22. Os Judeus: e como brinde ao leitor, uma tradução livre de O Cântico dos Cânticos. Primeira edição impressa na Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa no ano de desgraça de MCMLXV. 1965 (História universal da pulhice humana – Tomo III)
  23. O Beijo, como aperitivo para outras comidas, 1966
  24. Tenha Maneiras, 1966[10]
  25. A Menina do Chapéuzinho Vermelho e o Lobo Relativamente Mau, 1966[10]
  26. A Liga dos Fósforos Queimados e outros contos de Alphonse Allais. 1966[1]
  27. Mademoiselle Fifi e outros contos de Guy Maupassant. 1967
  28. Humor Negro. Autores Vários. 1967
  29. Os infiéis defuntos, comédia em 3 actos. 1967 (Adaptada e levada à cena em 17-11-1977 com o título "Calcinhas amarelas"),
  30. Cheques sem Cobertura: antologia. Autores Vários. 1968[1]
  31. Dói-me aqui, Autores Vários. 1968[1]
  32. O Guerra e o Paz: cenas da vida lisboeta, 1968[1]
  33. O Batoteiro. Sacha Guitry. 1968[1]
  34. Como Apanhar um Marido e outras histórias. João Bethencourt. 1968
  35. O Atraso de Vida e outras histórias de humor. Autores Vários. 1968[10]
  36. O Diabo e a carne. Braulio de Siguenza. 1969
  37. As Broncas do Nicolau. René Goscinny (texto), Jean-Jacques Sempé (ilustrações). 1969
  38. Diz-me com quem Dormes,1969
  39. Aqui Jaz André Ruellan Texto), André Topor (ilustrações). 1969
  40. O Naufrágio. 1969
  41. Oh, sorte malvada ou Rapsódia portuguesa em dó menor. 1969 (Diálogos, 1)
  42. Férias de Verão. 1969 (Diálogos 2)
  43. Gente Bem. 1970
  44. A Grande Tourada,1970[1]
  45. A Pílula, 1970
  46. A Hora da Verdade,1970[1]
  47. O Amor e a Lei. 1970 (formato oblongo)
  48. Julieta das Minhocas,1970[10]
  49. O Furúnculo,1970[1]
  50. Mesa pé-de-galo,1970[1]
  51. Avelina. 1971 (Avelina 1)
  52. O Trivial. 1971[10] (Avelina 2)
  53. Criada para todo o çerviço ou Avelina em Lisboa. [sic] 1971 (Avelina 3)
  54. O filho da mãe. 1971
  55. O filho da mãe volta a atacar. 1971
  56. A Cama. 19721
  57. Estou desgaraçada. 1971
  58. Marmelada,1971[1]
  59. Love Story à portuguesa. 1971
  60. Coscuvilhices ou As Coscuvilhices da Berta Langona, 1972[1]
  61. As Gatas Atacam ao Anoitecer,1972[1]
  62. As misses ou um negócio da china ou um negócio da chicha, 1972
  63. A vingança do filho da mãe. 1972
  64. Arre Burro ou Elogio da Nobreza, Com licença da Santíssima Inquisição & Real Mesa Censória. 1972
  65. A Vaca Borralheira, 1972[12]
  66. A Caneta dos Amantes: manual para namorados, chulos e outros mamíferos. 1972
  67. A Boa Viúva: ou a triste história dos condes assassinos,1973[1]
  68. Os Palitos. 1973 [1]
  69. As noites quentes do cruzado D. Egas: um episódio da escória trágico-marítima, 1973
  70. Os Mamíferos e outros vertebrados: compêndio de indecências naturais. 1973
  71. O Cinto de Castidade: Escória trágico-marítima, 1973
  72. Se bem me lembro... por Etelvino Damásio. Evocação de um passado rico de personagens e acontecimentos típicos pela pena do insigne barão. Respeitosamente comentada e ilustrada por José Vilhena. 1973
  73. O depoimento de Américo Thomaz. 1975 (fotomontagens a preto e branco na cobtracapa e no interior)

Colecções de postais ilustrados

  • Cenas da Vida Portuguesa: Personagens e costumes da 2.ª metade do século XX. 1964 (numerados de 1 a 9)
  • Quadras Deturpadas. 1970 (10 desenhos a partir de originais de épocas diversas)
  • Monumentos de Portugal. 1973 ("Os Jerónimos", "A Torre de Belém", "O Castelo de S.Jorge"... como fundo de ilustrações eróticas)

Álbuns

  • A Grande Gaita: Compilação noticiosa científica, literária e artística, Profusamente ilustrada & indecentemente plagiada de jornais diários, hebdomadários, revistas, boletins, pasquins, diários das sessões, folhas de couve e outras publicações nacionais e estrangeiras de todas as tendências ideológicas, políticas, religiosas e morais. Tomo I. 1973[10]
  • Jesus Cristo Super Star, Tomo II. 1974
  • Grande Enciclopédia Vilhena.(publicação em fascículos, incompleta, nº 1, Novembro 1973, a nº 6, Abril 1974)[1]
  • A Tragédia da Rua das Flores: edição ilustrada. Eça de Queiroz. Seguido de “A Lisboa Queiroseana em 1980 ou o que resta do cenário da 'Tragédia'” - introdução de Vilhena e fotografias de Lisboa, de página inteira, a preto e branco, legendadas com extractos do romance. 1980
  • Um Ano com a Gaiola Aberta. (compilação das revistas de Maio 1974 a Abril 1975, encadernação editorial) 1975
  • Outro Ano com a Gaiola Aberta. (compilação das revistas de Abril 1975 a Abril de 1976, encadernação editorial) 1976

Jornais e revistas editados por José Vilhena

  • Gaiola Aberta – Quinzenário de Mau Humor. 121 números, de 15-05-1974 a 1-08-1993
  • Vida Lisboeta: revista mensal para homens adultos e mulheres emancipadas. 5 números, de 1-09-1978 a 1-02-1979
  • Paródia: comédia portuguesa - revista de humor e caricatura, 2 números, de 1-09-1980 a 1-10-1980
  • Fala Barato: jornal de humor num país de tristes. 9 números de 1-07-1987 a 1-03-1988
  • Fala Barato: jornal satírico. 77 números, de 1-04-1988 a 1-07-1994 (formato revista)
  • O Cavaco – Pasquim Abjecto. 17 números, de Outubro 1994 a Fevereiro 1996
  • O Marginal. Nº 1 e único. Março 1996
  • O Moralista - Revista de humor pagão. 71 números, de Abril 1996 a Abril 2003
  • Gaiola Aberta – Quinzenário de Mau Humor. (2ª série) 30 números, de Maio 2003 a Dezembro 2005

Outros livros de Vilhena e JVL Edições

  • 1985, Terramoto em Lisboa. 1979
  • Na palheta com Mário Soares: 1990 a 1993. 1997
  • Os Reis de Portugal: suas taras e pulhices, 1998
  • O Discreto Charme do Adultério. 1998 (formato oblongo)
  • O Evangelho segundo José Vilhena. 1999
  • Sexo, Mentiras e Televisão. 1999
  • Criada para todo o serviço. 2000 [2ª edição revista de O Trivial]
  • Antiga profissão: seguindo-se uma paródia à comédia em verso «A ceia dos Cardeais» de Júlio Dantas. A Ceia Das Velhas Prostitutas. 2001
  • Etiqueta e magia negra. 2001 [2ª edição]
  • Viagem de núpcias. 2001
  • Escritos pouco religiosos. 2002
  • Um sacana como há muitos. 2002
  • Estórias infantis para adultos: Branca de Neve e os 700 Anões, seguido de A Menina do Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. 2003
  • Textos Obscenos. 2004
  • A Viúva: ou A História dos Condes Assassinos. 2004 [2ª edição de A Boa Viúva. Seguido de Ensaio sobre a pílula, pp.71-150]
  • A virgindade de Odete. 2004

Outras edições

  • O beijo como aperitivo para outras comidas. Dom Quixote, 2005 [2ª edição de O Beijo]
  • Gente Fina, Dom Quixote, 2005 [2ª edição]
  • História Universal da Pulhice Humana. Introdução dos Editores [Hugo Xavier]. E-primatur, 2015 [edição fac simile de Pré-História, O Egito, Os Judeus.]
  • Avelina. Prefácio de Rui Zink. E-primatur, 2016. [edição fac simile de Avelina, O Trivial, Criada para Todo o Çerviço]
  • Manual de Etiqueta. E-Primatur, 2017 [2ª edição fac simile]
  • Filho da Mãe. E-primatur, 2016 [edição fac simile de O Filho da Mãe, O Filho da Mãe volta a Atacar, A Vingança do Filho da Mãe]
  • Manual de Etiqueta. E-Primatur, 2024 [3ª edição fac simile]
  • José Vilhena: pintura e desenho. Rui Zink. Editorial Notícias, 2002

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p Correia, Rita (2015). «José Vilhena (1927-2015) na colecção da Hemeroteca». Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 12 de novembro de 2024 
  2. https://beira.pt/portal/noticias/sociedade/nova-sede-da-junta-freguesia-freixedas-novo-posto-da-gnr-inaugurados-domingo/
  3. Luís Martins, in "O Interior", 8-10-2015
  4. a b c d «Efemérides | José Vilhena (1927-2015) na coleção da Hemeroteca». hemerotecadigital.cm-lisboa.pt. Consultado em 23 de maio de 2021 
  5. a b «O humor de José Vilhena, em tempos de censura, foi "um ato de coragem"». Jornal Expresso. Consultado em 23 de maio de 2021 
  6. a b Franco, Hugo. «José Vilhena» (PDF). Correio da Manhã. Magazine Domingo: 6-9. Consultado em 23 de maio de 2021 
  7. a b Lopes, Mário. «Morreu José Vilhena, o sátiro cartoonista da "Gaiola Aberta"». PÚBLICO. Consultado em 23 de maio de 2021 
  8. http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-jose-vilhena-o-satiro-cartoonista-de-gaiola-aberta-1709982
  9. Cipriano, Rita. «Quer ser uma pessoa de bem? Aprenda com o Vilhena». Observador. Consultado em 23 de maio de 2021 
  10. a b c d e f g Rosa, Vasco. «O Vilhena por descobrir». Observador. Consultado em 23 de maio de 2021 
  11. Vilhena, José (1965). Humor Parisiense. Lisboa: Specil. 141 páginas 
  12. «Vilhena: a malandrice ilustrada». www.cmjornal.pt. Consultado em 23 de maio de 2021 

Ligações externas

 

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