Filho duma professora primária e dum proprietário agrícola, passou a infância na aldeia de Freixedas, concelho de Pinhel. «Eu costumo dizer que sou das Freixedas mas, de facto, isso não corresponde à verdade, porque não nasci aí. Fui para lá com uns 15 dias, nasci foi numa aldeia perto de Castelo Rodrigo chamada Reigada, aonde nunca mais voltei nem me dei à curiosidade de conhecer mais tarde.» (Vilhena a Luís Guimarães: 2006)
Vilhena começou a frequentar a escola ao colo da mãe, que era professora em Freixedas, e viveu «num edifício muito grande mandado construir por um mecenas local, que albergava tanto a escola como as casas dos professores, onde vivíamos então.» Era a Escola Primária Masculina Pe. José Gonçalves Machadinho, inaugurada em 1913; o edifício foi reabilitado em 2017, para sede da Junta de Freguesia, pavilhão multiusos e posto da GNR.)[2]
Aos dez anos de idade foi estudar para Lisboa, indo no meio da adolescência para o Porto, onde realizou um ano de tropa. Cursa arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto, mas fica pelo quarto ano, já que começa a desenhar para jornais.
Na década de 1940, por encomenda do pároco de Pinhel, pintou o quadro “A Assunção de Nossa Senhora”, que encimou o portal do altar-mor da igreja-matriz de Pinhel, até que depois do concílio Vaticano II Concílio Vaticano II, a estrutura da cerimónia religiosa foi alterada e o quadro ficou em lugar menos visível. Em Fevereiro de 2000, José Vilhena considerou aquele trabalho «uma brincadeira» da sua juventude: «A mocidade é muito atrevida. Eu fiz uma coisa daquelas sem grandes bases e felizmente que ]agora] está lá para trás. (…) Se me tivessem pedido para pintar o tecto da capela Sistina não teria hesitado,», garantiu, no meio de uma gargalhada. Em 1948, Já nas Freixedas, em 1948, pintou em madeira uma tela que representa a figura teatral da Tragédia, para o salão paroquial das Freixedas, onde passou parte da infância e juventude.[3]
Fixa-se em Lisboa, na zona do Bairro Alto, onde desenha cartoons para os jornais "Diário de Lisboa", "Cara Alegre" e "O Mundo Ri" (de que foi co-fundador) durante os anos 50.[4] Publica em 1956Este Mundo e o Outro, a sua primeira colectânea de cartoons, e em 1959 Manual de Etiqueta, livro de textos humorísticos.[5]
Durante os anos 60 a sua actividade de escritor desenvolve-se. Com o fim da revista "O Mundo Ri", publica uma grande quantidade de livros com textos humorísticos.[6] Esses seus mesmos livros e desenhos, muitos deles usando a Censura como tema de paródia, provocaram-lhe problemas com a polícia, mais concretamente com a PIDE, que lhe apreendeu constantemente escritos e lhe causou três estadias na prisão, em 1962, 1964 e 1966. Isso tornou-o muito popular na época. Até ao 25 de Abril de 1974 Vilhena redigiu cerca de 70 livros.[6]
Em 1973, Vilhena inicia a publicação, em fascículos, da Grande Enciclopédia Vilhena, que virá a interromper após a Revolução dos Cravos, em 1974, para dar início à publicação da revista Gaiola Aberta[7][4], cujo primeiro número sai logo a 15 de Maio desse ano. Esta revista de textos e cartoons humorísticos foi mantida por ele durante vários anos, satirizando a sociedade da época o que o levou a ser perseguido e a responder várias vezes em tribunal tendo ficado quase na bancarrota.[5]
Um interregno de quatro anos ocorreu depois devido a uma fotomontagem que envolvia a princesa Carolina Grimaldi, da qual foi alvo de processo de que se defendeu com sucesso, pelo advogado José Hermano Saraiva.
Vilhena volta assim com O Fala Barato, numa primeira edição em forma de jornal e mais tarde em revista (de Julho de 1987 a 1994)[4]. Depois de deixar de ser publicada seguiu-se «O Cavaco: revista do Humor Possível» (de Outubro de 1994 a Outubro de 1995) e mais recentemente O Moralista ( de Abril de 1996 a Abril de 2003).[4]
Faleceu a 3 de outubro de 2015, aos 88 anos de idade, no Hospital de S. Francisco Xavier, vítima de doença prolongada.[8]
Homenagens
Em 14-10-2004, prémio “O Inimigo Público” atribuído a Vilhena pelo suplemento humorístico semanal do jornal "Público".
Em Outubro de 2015 atribuído a Vilhena, a título póstumo, o estatuto de membro honorário do forum erótico-generalista “Chupa-mos.com”, pelo mérito da sua obra, vivência e legado social.
Votos de Pesar pela morte de José Vilhena:
Em 7-10-2015, apresentado pelo Grupo Parlamentar do PSD e aprovado por unanimidade pela Assembleia Municipal de Odivelas.Boletim da CM Odivelas
Em 14-10-2015, apresentado pela Vereadora da Cultura (PS) [Vaz Pinto] aprovado por unanimidade da Câmara Municipal de Lisboa.Boletim CM Lisboa
Os Judeus: e como brinde ao leitor, uma tradução livre de O Cântico dos Cânticos. Primeira edição impressa na Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa no ano de desgraça de MCMLXV. 1965 (História universal da pulhice humana – Tomo III)
As noites quentes do cruzado D. Egas: um episódio da escória trágico-marítima, 1973
Os Mamíferos e outros vertebrados: compêndio de indecências naturais. 1973
O Cinto de Castidade: Escória trágico-marítima, 1973
Se bem me lembro... por Etelvino Damásio. Evocação de um passado rico de personagens e acontecimentos típicos pela pena do insigne barão. Respeitosamente comentada e ilustrada por José Vilhena. 1973
O depoimento de Américo Thomaz. 1975 (fotomontagens a preto e branco na cobtracapa e no interior)
Colecções de postais ilustrados
Cenas da Vida Portuguesa: Personagens e costumes da 2.ª metade do século XX. 1964 (numerados de 1 a 9)
Quadras Deturpadas. 1970 (10 desenhos a partir de originais de épocas diversas)
Monumentos de Portugal. 1973 ("Os Jerónimos", "A Torre de Belém", "O Castelo de S.Jorge"... como fundo de ilustrações eróticas)
Álbuns
A Grande Gaita: Compilação noticiosa científica, literária e artística, Profusamente ilustrada & indecentemente plagiada de jornais diários, hebdomadários, revistas, boletins, pasquins, diários das sessões, folhas de couve e outras publicações nacionais e estrangeiras de todas as tendências ideológicas, políticas, religiosas e morais. Tomo I. 1973[10]
Jesus Cristo Super Star, Tomo II. 1974
Grande Enciclopédia Vilhena.(publicação em fascículos, incompleta, nº 1, Novembro 1973, a nº 6, Abril 1974)[1]
A Tragédia da Rua das Flores: edição ilustrada. Eça de Queiroz. Seguido de “A Lisboa Queiroseana em 1980 ou o que resta do cenário da 'Tragédia'” - introdução de Vilhena e fotografias de Lisboa, de página inteira, a preto e branco, legendadas com extractos do romance. 1980
Um Ano com a Gaiola Aberta. (compilação das revistas de Maio 1974 a Abril 1975, encadernação editorial) 1975
Outro Ano com a Gaiola Aberta. (compilação das revistas de Abril 1975 a Abril de 1976, encadernação editorial) 1976
Jornais e revistas editados por José Vilhena
Gaiola Aberta – Quinzenário de Mau Humor. 121 números, de 15-05-1974 a 1-08-1993
Vida Lisboeta: revista mensal para homens adultos e mulheres emancipadas. 5 números, de 1-09-1978 a 1-02-1979
Paródia: comédia portuguesa - revista de humor e caricatura, 2 números, de 1-09-1980 a 1-10-1980
Fala Barato: jornal de humor num país de tristes. 9 números de 1-07-1987 a 1-03-1988
Fala Barato: jornal satírico. 77 números, de 1-04-1988 a 1-07-1994 (formato revista)
O Cavaco – Pasquim Abjecto. 17 números, de Outubro 1994 a Fevereiro 1996
O Marginal. Nº 1 e único. Março 1996
O Moralista - Revista de humor pagão. 71 números, de Abril 1996 a Abril 2003
Gaiola Aberta – Quinzenário de Mau Humor. (2ª série) 30 números, de Maio 2003 a Dezembro 2005
Outros livros de Vilhena e JVL Edições
1985, Terramoto em Lisboa. 1979
Na palheta com Mário Soares: 1990 a 1993. 1997
Os Reis de Portugal: suas taras e pulhices, 1998
O Discreto Charme do Adultério. 1998 (formato oblongo)
O Evangelho segundo José Vilhena. 1999
Sexo, Mentiras e Televisão. 1999
Criada para todo o serviço. 2000 [2ª edição revista de O Trivial]
Antiga profissão: seguindo-se uma paródia à comédia em verso «A ceia dos Cardeais» de Júlio Dantas. A Ceia Das Velhas Prostitutas. 2001
Etiqueta e magia negra. 2001 [2ª edição]
Viagem de núpcias. 2001
Escritos pouco religiosos. 2002
Um sacana como há muitos. 2002
Estórias infantis para adultos: Branca de Neve e os 700 Anões, seguido de A Menina do Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. 2003
Textos Obscenos. 2004
A Viúva: ou A História dos Condes Assassinos. 2004 [2ª edição de A Boa Viúva. Seguido de Ensaio sobre a pílula, pp.71-150]
A virgindade de Odete. 2004
Outras edições
O beijo como aperitivo para outras comidas. Dom Quixote, 2005 [2ª edição de O Beijo]
Gente Fina, Dom Quixote, 2005 [2ª edição]
História Universal da Pulhice Humana. Introdução dos Editores [Hugo Xavier]. E-primatur, 2015 [edição fac simile de Pré-História, O Egito, Os Judeus.]
Avelina. Prefácio de Rui Zink. E-primatur, 2016. [edição fac simile de Avelina, O Trivial, Criada para Todo o Çerviço]
Manual de Etiqueta. E-Primatur, 2017 [2ª edição fac simile]
Filho da Mãe. E-primatur, 2016 [edição fac simile de O Filho da Mãe, O Filho da Mãe volta a Atacar, A Vingança do Filho da Mãe]
Manual de Etiqueta. E-Primatur, 2024 [3ª edição fac simile]
José Vilhena: pintura e desenho. Rui Zink. Editorial Notícias, 2002