Júlio Botelho Moniz
Júlio Carlos Alves Dias Botelho Moniz ComC • GCC • CvA • OA • ComA • GOA • ComSE • GCIH (Lisboa, 12 de Outubro de 1900 — Lisboa, 30 de setembro de 1970) foi um militar e político.[1][2] Atingiu o posto de general do Exército Português durante o Estado Novo e foi responsável pelo golpe de estado denominado Golpe Botelho Moniz ou Abrilada de 1961.[3] Apoiante da Revolução Nacional, foi observador do Exército Português na Alemanha Nazi no princípio da Segunda Guerra Mundial, Ministro do Interior (1944-1947), adido militar em Madrid e Washington (1949-1951), procurador à Câmara Corporativa, 3.º Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Portugal (3 de Março de 1955-13 de Agosto de 1958) e Ministro da Defesa Nacional (1958-1961). Desencantado com a política de intransigência de António de Oliveira Salazar em relação à autodeterminação dos territórios ultramarinos, nas funções de Ministro da Defesa Nacional liderou em Abril de 1961 uma tentativa fracassada de impor uma mudança reformista a partir do próprio regime, forçando a exoneração do ditador e a reforma do Estado Novo.[4] BiografiaEra filho segundo varão de José Carlos Botelho Moniz (Lisboa, 28 de Março de 1869 - Lisboa, 1941), Militar, e de sua mulher Maria Carlota Alves Dias (15 de Maio de 1872 - 28 de Julho de 1977) e irmão de Jorge Augusto Alves Dias Botelho Moniz, também Militar e Deputado em 1918 e de 1945 a 1961.[2] Frequentou o Colégio Militar. Casou com Maria Gabriela Rodrigues Deslandes[2] (Lisboa, Carnide, 20 de Janeiro de 1907 - 15 de Outubro de 2003), irmã de Venâncio Augusto Deslandes, da qual teve três filhas e um filho. Concluiu o curso de Artilharia de Campanha na Escola de Guerra em 1918, e em 1938, depois de terminar o curso do Estado-Maior, ingressa no Corpo do Estado-Maior.[2] Durante a fase inicial da Segunda Guerra Mundial foi observador do Exército Português na Alemanha e, durante a mesma Guerra, participou numa missão de observação do Exército à Frente Leste e nas negociações que conduziram ao Acordo dos Açores.[2] Foi Professor dos Cursos do Estado-Maior de 1940 a 1943, e da Escola do Exército de 1940 a 1941.[2] Em 1944, por indicação do Subsecretário de Estado da Guerra, Fernando dos Santos Costa, do qual Botelho Moniz, à altura Tenente-Coronel, era muito amigo, seria nomeado Ministro do Interior,[1] tendo sido o primeiro militar a ocupar este cargo depois da entrada em vigor da Constituição de 1933,[5] entre 6 de Setembro de 1944 e 4 de Fevereiro de 1947. Foi demitido três anos mais tarde, quer em virtude do descontentamento gerado por ter substituído quase todos os Governadores Civis à revelia dos interesses locais e da União Nacional, quer por ter afirmado que o Regime teria perdido as Eleições Legislativas de 1945 se estas tivessem decorrido sem ilegalidades. Salazar oferece-lhe, em troca, a pasta de Ministro das Colónias, mas Botelho Moniz recusa.[2] Entre 1947 e 1950 e entre 1950 e 1951 foi adido militar em Madrid e Washington, DC, respectivamente.[1][2][6] Foi Inspector da 1.ª Inspecção de Artilharia em 1952, Secretário Adjunto da Defesa Nacional em 1953 e Vogal do Conselho Ultramarino em 1953.[2] A 3 de Fevereiro de 1953[2] foi promovido ao posto de General do Exército, ocupando ainda nesse ano os cargos de Secretário-adjunto da Defesa Nacional e Vogal do Conselho Ultramarino.[1] Depois de ascender ao posto de General, integra como Procurador a Câmara Corporativa, entre 1953 e 1957, por designação do Conselho Corporativo, durante a VI Legislatura,[1] onde é Membro do Conselho da Presidência, da XII Secção - Interesses de Ordem Administrativa, 2.ª Subsecção - Defesa Nacional, e Assessor da XI Secção - Autarquias Locais. Nesta qualidade, subscreveu o Parecer sobre a jurisdição dos Tribunais Militares (Arquivo da Câmara Corporativa, N.º 38, 28 de Fevereiro de 1955).[2] A 3 de Março de 1955 foi nomeado 3.º Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Portugal, lugar que ocuparia até 13 de Agosto de 1958.[1][2] Neste último ano foi sondado para ser candidato a Presidente da República, em substituição de Francisco Craveiro Lopes. Face à sua recusa, assente em razões de saúde, Botelho Moniz acabaria nomeado, em 1958, Ministro da Defesa,[1] funções que exerceu entre 14 de Agosto de 1958 e 13 de Abril de 1961, substituindo no cargo Fernando dos Santos Costa, sendo responsável pela criação duma nova divisão territorial, pelo restabelecimento do Governo Militar de Lisboa e pela revogação da Lei dos Casamentos dos Oficiais.[2] Teve como Subsecretários de Estado os mais tarde generais Afonso de Magalhães de Almeida Fernandes e Francisco da Costa Gomes. Foi demitido em 1961 por ter ensaiado, sem sucesso, uma tentativa de deposição de Salazar.[2] Apesar das importantes funções que exercia no seio do Estado Novo, mantinha ligações com elementos da União Liberal Republicana e da oposição ao regime corporativista, entre os quais o tenente Moreira Lopes, Mário Pessoa, David Neto e Carvalho da Silva. Escreveu:
Júlio Botelho Moniz morreu a 30 de Setembro de 1970 em Lisboa, a sua cidade natal.[1] O Golpe Botelho MonizEm Abril de 1961,[1] Júlio Botelho Moniz liderou uma tentativa de golpe de estado, depois designada por Abrilada de 1961[3] ou golpe Botelho Moniz, no qual conjuntamente com Craveiro Lopes e outras personalidades ligadas aos círculos do poder, intentou forçar a demissão de Salazar no âmbito da legalidade do regime. Na origem do incidente, na realidade o extremar de uma dissidência interna no seio da elite político-militar do regime, esteve o repúdio sentido por parte da elite governativa, particularmente a mais aberta à influência americana, pela posição de intransigência assumida pelo Governo português em relação à questão da descolonização. A causa próxima da tentativa foram as exigências das potências aliadas, em particular dos Estados Unidos da América, para que Portugal aceitasse o direito à autodeterminação dos seus territórios ultramarinos, no contexto do movimento global de autodeterminação dos povos submetidos a regime colonial que então ganhava ímpeto. Botelho Moniz, como aliás parte importante da inteligentsia do regime na fase posterior à vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial repudiava a posição oficial sobre a descolonização e a falta de evolução democrática do regime, que contribuíra para as dificuldade de admissão de Portugal na Organização das Nações Unidas, que apenas ocorrera em 1955 e ainda assim ensombrada pela crítica generalizada dos aliados naturais do País e pelo levantamento do veto da URSS apenas conseguido por conveniência conjuntural no âmbito das negociações entre as superpotências. Esta posição de isolamento fora acentuada pelo apoio que desde 1959 o então senador John F. Kennedy publicamente concedera a Holden Roberto, o líder da UPA/FNLA, tornado mais evidente em 1961 quando aquele senador ascendeu à presidência dos Estados Unidos da América. Obras publicadasBotelho Moniz foi autor de um conjunto de obras sobre estratégia e questões coloniais, de que são exemplo:[6] [7]
CondecoraçõesEm termos de Ordens portuguesas General Botelho Moniz foi feito:[8]
Em termos de Ordens estrangeiras:[9]
Ver tambémReferências
Ligações externas
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