Instituto Cristóvão Colombo
O Instituto Cristóvão Colombo foi criado em 1895, e era conhecido inicialmente como Orfanato Cristóvão Colombo. Foi criado e administrado pelo padre italiano José Marchetti, que era considerado o “pai dos órfãos”.[1][2] O terreno onde foi construído o instituto, foi doado pelo Conde José Vicente de Azevedo, conhecido pela série de doações de terreno no bairro do Ipiranga para a construção de instituições beneficentes, como o Instituto de Cegos Padre Chico e o Hospital e Maternidade Dom Antonio Alvarenga.[1][2] O Instituto oferece as crianças acolhidas saúde (com parceria do Projeto Alegria da Clinica Infantil do Ipiranga), alimentação (tendo 5 refeições por dia), lazer (nos amplos espaços que o instituto possui) e criação de valores (como aprender a respeitar o próximo e exercer cidadania).[3] HistóriaCriado em 1895, o Orfanato Cristóvão Colombo se tratava de uma iniciativa do padre José Marchetti para abrigar os filhos de imigrantes italianos que sofriam com a pobreza no Brasil, que então mais tarde, passou abrigando também órfãos brasileiros, espanhóis, alemães e portugueses.[2] O Orfanato seria inicialmente construído no Largo das Perdizes, concedido pelo Monsenhor Fergo O'Connor de Camargo Duarte, Vigário Geral da Diocese de São Paulo. No entanto, após o início da construção do orfanato, um funcionário público visitou o local e informou Marchetti que o terreno era de propriedade do município e não era permitida a edificação de um prédio particular no local.[2] No dia seguinte, o Padre foi ao encontro do Conde Vicente de Azevedo, que ofereceu outro terreno ao saber do embargo da obra. O novo terreno estava localizado no bairro do Ipiranga e inicialmente iria abrigar o Liceu de Artes e Ofícios de São José e no local já haviam sido construídos parte do edifício anexo e a capela. A obra do Liceu iniciou-se e em 1891, e havia sido interrompida devido a morte do responsável, Dom Luís Lasagna, em um acidente ferroviário em Juiz de Fora.[2] O padre celebrou a primeira missa na capela em fevereiro de 1895. Para a construção da obra, que se iniciou no dia 8 de fevereiro, Marchetti conseguiu a ajuda de vários homens, mesmo sem um pagamento mensal e também conseguiu doação de tijolos e ferramentas do Conde Vicente de Azevedo. Para conseguir mais auxílio financeiro para a obra, o padre visitou fazendas de café, pedindo doações aos fazendeiros e colonos e também pediu doações para senhoras mais abastadas da sociedade paulistana.[2] O apoio do Bispo de São Paulo, Monsenhor Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, foi de grande ajuda para que a obra recebesse mais doações. Em março, o padre já cogitava a construção de outro prédio no bairro da Vila Prudente, para que os espaços destinados a meninos e a meninas fossem distinto, como exigiam as convenções do período. Assim, Marchetti optou que edifício na Vila Prudente seria destinado à seção masculina.[2] Orfanato Cristóvão ColomboO Orfanato Cristóvão Colombo foi oficialmente inaugurado no dia 8 de dezembro de 1895. A edificação ainda estava incompleta, mas foi inaugurada devido a crescente necessidade de abrigar crianças órfãs.[2] Além de acolher os órfãos, o orfanato também tinha o objetivo de instruir as crianças.[4] O local dispunha do ensino escolar primário e também de diversas oficinas de carpintaria, marcenaria, serralheria, alfaiataria, sapataria, padaria e tipografia. O padre José Marchetti também foi responsável por criar a Banda do Orfanato Cristóvão Colombo, cujas atuações foram destaques em diversos eventos de São Paulo. Um deles foi a visita do ex-presidente Prudente de Morais ao bairro Vila Prudente em 1898. Entre 1896 e 1897, o orfanato encontrou uma série de dificuldades. A primeira foi o afastamento e morte do padre José Marchetti por causa do ao tifo. No mesmo período, o orfanato encontrava-se com um déficit de 80 mil liras, devido às grandes obras nos edifícios. Além disso, foi em 1896 que surgiram os primeiros indícios do desequilíbrio entre oferta e demanda do café, devido a superprodução do produto, o que afetou as doações ao orfanato, visto que a maior ajuda financeira que o orfanato tinha era proveniente de colônias italianas e de fazendeiros de café.[2] O Padre Fausto Consoni, que ficou então responsável pelo orfanato depois da morte do padre José Marchetti, escreveu uma carta de apelo direcionada à Associação Nacional para Auxílio dos Missionários Católicos Italianos, frisando a importância do orfanato na educação de filhos de imigrantes. Das visitas às fazendas, Consoni teve bons resultados, à exemplo de 300 mil liras doadas pela Baronesa de Tatuí.[2] O prédio da Vila Prudente foi inaugurado no dia 5 de agosto de 1904, com a bênção do Beato Scalabrini, que estava no Brasil pela primeira vez. Esse edifício, no final, acabou acolhendo as meninas, contrariando os desejos do Padre Marchetti.[2] O Padre Consoni foi o primeiro diretor do Orfanato Cristóvão colombo e permaneceu na função por 22 anos.[2] Em 1953, o Orfanato Cristóvão Colombo então tornou-se Instituto Cristóvão Colombo. A terceirização do ensino profissionalizante foi o que demarcou a mudança.[2] Padre José MarchettiO padre José Marchetti nasceu no dia 3 de outubro de 1869, em Lombrici di Camaiore, na Itália. De origem humilde, ele foi ordenado sacerdote em 3 de abril de 1892 e foi nomeado professor de matemática e francês no Seminário Diocesano de Lucca.[2] No mesmo ano de sua ordenação, o padre teve seu primeiro contato com o Santo Dom João Batista Scalabrini, idealizador do projeto pastoral, assistencial e educacional da Congregação de São Carlos Borromeu, que viria a ser instituído no Orfanato Cristóvão Colombo. O padre já tinha interesse de ser missionário dos imigrantes e se identificou com o projeto do beato, cujo foco era justamente de amparo aos imigrantes italianos.[2] Os Scalabrinianos, como eram chamados os que seguiam o projeto de Dom Scalabrini, foram enviados para os Estados Unidos e para o Brasil, principalmente para São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro.[4] Além das funções educacionais, suas atividades se estendia ao amparo de doentes. Depois da fundação do Orfanato, Scalabrini o considerou a missão mais importante da Congregação.[2] A primeira viagem de Marchetti ao Brasil foi em outubro de 1894. Nomeado capelão, ele partiu no navio Maranhão com destino ao Rio de Janeiro.[5] Para a viagem, ele estava encarregado de realizar ofícios religiosos durante o percurso marítimo e de entregar duas cartas, uma para o Bispo de São Paulo e uma para o Bispo do Rio de Janeiro, cujo principal tema era autonomia dos missionários.[2] Em dezembro, Marchetti viajou novamente ao Brasil como capelão de bordo, dessa vez diretamente para São Paulo. Na ocasião, uma epidemia se espalhará pelo navio, causando muitas mortes e deixando também um grande número de órfãos. Marchetti levou um dos meninos sob sua guarda e se deparou com a dificuldade de encontrar um abrigo para a criança, o que o motivou à construção do Orfanato Cristóvão Colombo, ao procurar pelo Monsenhor Fergo O'Connor de Camargo Duarte e mais tarde pelo Conde José Vicente de Azevedo.[2] O padre buscava auxílio financeiro para a construção do orfanato entre os fazendeiros e colonos, mas voltou para a Itália em outubro de 1895 para conseguir mais sacerdotes e freiras para ajudar nas atividades do orfanato. Em Piacenza, Marchetti reuniu um grupo de missionárias intituladas "Servas dos Órfãos e Abandonados", mas chamadas pelo sacerdote de "Irmãs Colombianas". Neste grupo estavam a mãe do padre José Marchetti, Carolina Marchetti e também sua irmã, Assunta Marchetti, e mais duas jovens que haviam sido educadas pelo padre enquanto ele ainda estava na Itália.[2] Na terceira e última viagem que Marchetti fez à Itália em busca de auxílio humano, ele voltou com mais pessoas de sua família. Entre elas, quatro irmãs, um cunhado, seu avô e seu tio.[2] O padre também realizava diversas viagens para o interior do estado de São Paulo para conseguir recursos para os edifícios e para amparo dos órfãos e migrantes. Durantes as viagens, ele acolhia órfãos e os encaminha ao orfanato no bairro do Ipiranga.[2] Em 1896, ele viajou para a cidade de Jaú, que na época estava sofrendo com uma epidemia de tifo. Por atender muitas pessoas contaminadas, o padre acabou contraindo a doença e foi afastado do seu cargo como diretor do orfanato, pela necessidade de permanecer em repouso. Com a saúde fragilizada, ele veio a falecer no dia 14 de dezembro de 1896.[2] Conde José Vicente de AzevedoEm 1889, o Conde José Vicente de Azevedo adquiriu do Governo Central 16 hectares de terra do Governo Geral. Nos locais, ele tinha a intenção de construir o Asilo Nossa Senhora Auxiliadora, o Liceu de Artes e Ofícios de São José e obras Pias de Religião e instrução para famílias pobres. Com as obras do Liceu de Artes e Ofícios, o Conde mais tarde viria a propor o terreno para o padre José Marchetti construir o Orfanato Cristóvão Colombo.[2] José Vicente era descendente de portugueses e nasceu em Lorena, no interior de São Paulo, em 7 de julho de 1859. Em 1876, ele se mudou para a capital paulista, formou-se em direito no Largo São Francisco e ingressou na política. Chegou a integrar a Câmara e o Senado do Vale do Paraíba e em 1885 ele elaborou um projeto sugerindo a criação do que seria a primeira universidade do Brasil. A universidade deveria ser instalada no que hoje é o Museu do Ipiranga, mas o projeto não foi para frente.[6] Nos terrenos doados por José Vincente, no bairro do Ipiranga, foram criados a Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga, o Santuário Sagrada Família, o Seminário das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, o Instituto de Cegos Padre Chico, o Hospital e Maternidade Dom Antonio Alvarenga, o Colégio São Francisco Xavier, entre outras.[6] Ele recebeu o título de Conde Romano em 1935, do Papa Pio XI, em reconhecimento a suas várias benfeitorias. Faleceu em 3 de março de 1944, aos 85 anos.[6] Em sua homenagem foi criado o Museu Vicente de Azevedo, no bairro do Ipiranga[1][7] e uma Escola estadual com o nome em sua homenagem, a Escola Estadual Conde José Vicente de Azevedo.[8] ArquiteturaO Instituto Cristóvão Colombo é composto por um prédio em linhas modernas, revestimento cerâmico colorido e uma igreja em linhas marcantes. A técnica de construção é de alvenaria de tijolos e os materiais são tijolos cerâmicos.[1] Ele foi construído em estilo arquitetônico neogótico, que era geralmente utilizado pelas congregações religiosas. Esse era o estilo predominante na arquitetura religiosa católica de São Paulo.[2] Significado histórico e culturalO Instituto Cristóvão Colombo foi de grande relevância no bairro do Ipiranga e na cidade de São Paulo principalmente por causa do acolhimento de órfãos filhos de imigrantes que ou viviam na pobreza e com dificuldades ou viriam a viver se não fosse a existência do Orfanato Cristóvão Colombo. Com o acolhimento, os órfãos recebiam cuidados médicos, alimentação e educação.[1][2][9] A criação do instituto também foi importante para propagar o projeto pastoral do Dom João Batista Scalabrini, que tinha como objetivo principal o auxílio aos imigrantes italianos.[2] TombamentoO Instituto Cristóvão Colombo foi tombado em maio de 2007 junto de mais 11 instituições assistenciais e de ensino do bairro do Ipiranga. O tombamento foi realizado pelo Conselho Municipal de Conversação do Patrimônio Histórico (Conpresp) e publicado no Diário Oficial da Cidade no dia 11 de maio de 2007. Com essa resolução, os 12 imóveis não podem ser demolidos, destruídos ou mutilados.[1][9][10] Estado atualAtualmente, o Instituto Cristóvão Colombo mantém parcerias com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e com a Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga. Ele se mantém uma entidade sem fins lucrativos que é mantida com recursos próprios e com doações. No entanto, o instituto agora não é mais voltado para o acolhimento de crianças órfãs, mas sim de qualquer criança com idades entre 5,5 e 11 anos, necessitando cadastro para avaliar as condições de matrícula da criança. O local dispõe de sala de informática, biblioteca e ainda realiza oficinas como horta, comunicação, reciclagem, iniciação esportiva, pintura e artesanato.[1][11] O orfanato passou para condição de instituto ao terceirizar o ensino.[2] Galeria
Ver também
Referências
Ligações externas |