Ifrane Atlas Saghir Nota: Este artigo é sobre a localidade do sul de Marrocos. Para a cidade do norte, no Médio Atlas, veja Ifrane.
Ifrane Atlas Saghir, Ifrane Antiatlas ou Ifrane do Antiatlas (em árabe: جماعة إفران الأطلس الصغير) é uma localidade do sul de Marrocos, situada na cordilheira do Antiatlas, 23 km a leste de Bouizakarne e 180 km a sul de Agadir, que faz parte da província de Guelmim e da região de Guelmim-Es Semara. Em 2004 tinha 11 950 habitantes,[1] praticamente todos de etnia berbere. Foi um dos primeiros locais habitados no sul de Marrocos e até meados do século XX teve uma forte presença judaica que, segundo a lenda remonta ao século VI a.C.[2] Os judeus chamavam ao lugar Oufrane. DescriçãoIfrane (singular: ifri) significa "grutas" em tamazight (berbere), e tem origem nas numerosas grutas que existem na região.[nt 1] Outra teoria sobre a origem do nome é que este teria derivado de Bene Efraim (filhos de Efraim), o clã judaico que se estabeleceu no local.[3] Na realidade, Ifrane é um conjunto de três duares (aldeias) que rodeiam um núcleo central designado soco (mercado), que funciona como centro comercial e administrativo. O conjunto estende-se ao longo do vale do uádi (rio) Assife n Ifrane, situado a uma altitude entre 750 e 850 m e que se abre a sul depois de percorrer as montanhas com cerca de 1 200 m que rodeiam a localidade a norte. Cada duar tem o seu próprio casbá[2] e é ocupado por um clã tribal e a proximidade entre eles é mais geográfica do que cultural.[nt 1] Além daqueles douars (Idaouchkera, Amsra, Rba n Tuzzunt e Tankert),[nt 1] existe ainda a mellah, o bairro dos judeus, atualmente semi-arruinada e onde já não vivem quaisquer judeus,[2] embora algumas casas tenham sido ocupadas por famílias locais após a saída dos judeus. A sinagoga da mellah foi restaurada em 1999[4] por iniciativa conjunta do Ministério da Cultura marroquino e da Fundação do Património da comunidade judaica de Marrocos.[2] Nas inúmeras grutas da região há vestígios arqueológicos, muitos deles inexplorados. Ifrane é também conhecida pela sua prestigiada escola alcorânica, célebre pelo seu nível académico no estudo aprofundado do árabe e teologia islâmica e por ter acolhido Mokhtar El-Soussi como estudante durante quatro anos.[nt 1]
Judeus de Ifrane Atlas SaghirSegundo a tradição oral, Ifrane Antiatlas foi o local de Marrocos onde existiram judeus em tempos mais remotos. Segundo essa tradição, alguns israelitas abandonaram a Palestina no tempo de Nabucodonosor, rei da Babilónia, depois da primeira destruição do Templo de Jerusalém, em 587 a.C., e foram-se deslocando cada vez mais para ocidente, atravessando o Egito e a orla setentrional do Saara, acabando por chegar aos limites do Antiatlas em 361 a.C., tendo começado por instalar-se nas grutas das margens do assif Ifrane após terem pago aos amazigues autóctones para que os autorizassem a fazê-lo.[nt 1] Segundo outra versão da lenda, os judeus teriam chegado a Ifrane logo no século VI a.C.[2] e Oufrane foi a capital de um reino judaico fundado ainda antes da destruição do segundo templo de Jerusalém.[3] Os judeus continuaram a habitar a região depois do reino ter desaparecido e nos séculos seguintes a população judia foi aumentou com a chegada de mais judeus durante o período romano e após a chegada dos árabes.[5] Embora esteja por esclarecer a veracidade destas histórias, há indícios de que a presença judaica em Ifrane seja anterior ao Islão e a área foi uma das últimas do sul de Marrocos a ser convertida ao islamismo.[2] No século XVI também se instalaram em Oufrane alguns sefarditas ibéricos fugidos à perseguições da Inquisição.[5] Os judeus da região eram chamados Ait Yussouf. Viviam não só em Ifrane, onde residia o seu patrono sagrado, mas por toda a parte inferior do vale do Drá, entre Akka e a costa atlântica. Mantinham boas relações com as tribos berberes locais.[5] Devido à sua localização estratégica nas rotas comerciais das caravanas que atravessavam o Saara, nomeadamente as do Sudão, a mellah prosperou entre os séculos XVII e XIX. As principais mercadorias das caravanas eram goma, incenso, plumas de avestruz, marfim, ouro e peles. Sob a proteção do reis de Tazeroualt, os judeus de Ifrane transacionavam nos mercados regionais e no porto de Tassourt (Essaouira, Mogador para os portugueses), onde outros judeus tinham um papel importante no comércio de exportação.[5] Ifrane perdeu grande parte da sua importância económica no século XIX, à medida que o transporte comercial feito por caravanas foi substituído pelo transporte marítimo. Apesar disso,[5] a comunidade judaica de Ifrane persistiu até à década de 1950, quando se iniciou a debandada dos judeus de Ifrane para Israel e, em menor escala, para Casablanca e Rabate.[2] Em 1958, os últimos judeus emigraram em grupo para Israel,[4] mas ainda hoje os mais velhos se recordam dos penosos adeus, apesar das diferenças religiosas, pois esses judeus berberes faziam parte da história e da cultura de Ifrane e sempre viveram em paz e fraternidade com os seus vizinhos muçulmanos.[nt 1] O rabino Iúçufe ibne Almumine (Youssef ben Mimoun; supostamente morto em 5 a.C.) foi um dos santos judeus mais venerados e a sua reputação ainda hoje atrai alguns turistas judeus a Ifrane vindos de todas as partes do mundo, que também vão ao cemitério de Ifrane para venerar os túmulos de outros santos aí enterrados,[nt 1] apesar do cemitério estar de tal forma arruinado que mal se distinguem as lápides funerárias.[6] Outro dos santos judeus sepultados em Ifrane é Ed Mrara.[5] Os Cinquenta MártiresEm 1790, o sultão alauita Mulei Iázide iniciou o seu reinado tirânico, que foi marcado por pogroms contras os judeus por todo o Marrocos. Em Ifrane 50 judeus foram executados na fogueira, provocando a fuga do resto da população até ao fim do reinado de Iázide em 1792.[3] O acontecimento tornou-se uma lenda e é relatado por Pierre Flamand no seu livro Diaspora en Terre d'Islam, Les Communautés Israelites du Sud ("Diáspora em Terra do Islão, As Comunidades Israelitas do Sul"):[5]
Segundo outra versão do martírio, a decisão de se lançarem para a fogueira foi do líder da comunidade, Yehuda Ben-Nathan Effiat, que, dando o exemplo se atirou para o fogo. As cinzas dos mártires foram enterrados numa gruta que ainda hoje existe, afastada cerca de 1 km da mellah. Os descendentes de Yehuda Effiat emigraram depois para Londres, onde se tornaram mercadores de sucesso.[3] NotasReferências
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