Homer's Phobia
Homer's Phobia (em português: A fobia de Homer) é o décimo quinto episódio da oitava temporada do seriado de animação The Simpsons. Foi exibido originalmente em 16 de fevereiro de 1997 na Fox nos Estados Unidos.[2] No episódio, o patriarca Homer se distancia de John, o novo amigo da família, após descobrir que ele é gay. Ele teme que John seja uma influência negativa para Bart e decide assegurar a heterossexualidade do filho levando-o para caçar veados. Dirigido por Mike B. Anderson, este foi o primeiro episódio do seriado escrito por Ron Hauge. George Meyer, que trabalhou como roteirista e produtor da série de 1989 a 2004, deu a ideia inicial para um episódio com o tema Bart, o gay, enquanto que os então produtores executivos Bill Oakley e Josh Weinstein estavam planejando um episódio no qual Lisa "descobriria os prazeres da cultura camp". Oakley e Weinstein combinaram as duas ideias, que originaram Homer's Phobia. Inicialmente, devido ao tema controverso, a Fox censurou o episódio, mas esta decisão foi revertida após uma troca na diretoria da emissora. O cineasta John Waters fez uma participação especial no episódio, dublando o personagem inédito John. Homer's Phobia foi o primeiro episódio do seriado dedicado inteiramente ao tema da homossexualidade, com o título original sendo um trocadilho do nome de Homer com a palavra homofobia. Na versão brasileira, o trocadilho foi feito entre as palavras humor e homofobia. Já em Portugal, o episódio recebeu o título de Homer Contra a Homossexualidade.[carece de fontes] Aclamado pela crítica tanto por seu humor quanto por sua mensagem anti-homofobia, o episódio recebeu quatro prêmios, incluindo o Emmy de Melhor Programa de Animação de Menos de Uma Hora e o GLAAD Media Award de Melhor Programa de Televisão - Episódio Individual. ProduçãoO conceito original do episódio veio de algumas ideias para o seriado escritas num caderno de George Meyer. Uma delas dizia Bart, o gay, e Ron Hauge foi escolhido para desenvolvê-la.[3] A ideia de convidar John Waters para uma participação especial já estava sendo considerada por algum tempo. Os produtores executivos Bill Oakley e Josh Weinstein haviam planejado utilizá-lo num episódio chamado Lisa and Camp, onde Lisa "descobriria os prazeres da cultura camp".[4] A ideia deles foi combinada à de Meyer, dando origem a este episódio. O episódio foi originalmente intitulado como Bart Goes to Camp (em português: Bart Vai ao Camp), mas foi renomeado porque o título estava muito indireto.[3] Mike B. Anderson, que foi escolhido para dirigir o episódio, disse ao The Gold Coast Bulletin que ficou "encantado" quando leu o roteiro, "não só por causa das possibilidades visuais, mas também porque a história me pareceu muito sólida. Foi surpreendente e cativante e eu realmente coloquei meu coração naquele episódio".[5] John Waters aceitou o convite para fazer uma participação especial na série instantaneamente, dizendo que se foi bom o suficiente para Elizabeth Taylor, que participou dos episódios da quarta temporada Lisa's First Word e Krusty Gets Kancelled, era bom o suficiente para ele. Ele, entretanto, brincou que teria reagido negativamente contra o seriado caso seu personagem tivesse se parecido com Richard Simmons.[6] Como agradecimento por sua participação, a equipe do seriado enviou a Waters um celulóide do episódio, que ele pendurou em seu escritório.[7] Antes do episódio ser dublado, a equipe perguntou a Waters se ele achava que a comunidade gay iria achar o episódio ofensivo. Ele se opôs apenas à utilização da palavra fag (em português: viado) por Homer para insultar John. Os escritores então trocaram-na por queer, considerada menos ofensiva.[8] De acordo com Oakley, o departamento de censura interna da Fox se opôs à exibição de Homer's Phobia. O procedimento normal é que o roteiro de um episódio seja enviado aos censores e depois enviado de volta aos produtores, via fax, com a lista de frases e palavras que devem ser substituídas. No entanto, o roteiro deste episódio foi enviado de volta aos produtores com duas páginas em anexo com objeções a quase todas suas frases. Os censores declararam que não gostaram do uso da palavra "gay" e nem da discussão da homossexualidade como um todo, concluindo que "o tema e o conteúdo deste episódio são inaceitáveis para transmissão". Normalmente, as observações dos censores são ignoradas, uma vez que as frases ofensivas e outros problemas são resolvidos na pós-produção, quando o episódio já tenha sido animado. Neste caso, o episódio inteiro foi considerado um problema e, por isso, não teria como os produtores resolverem suas inadequações durante a pós-produção. O problema dos produtores com o departamento de censura interna da emissora, entretanto, se dissolveu assim que o episódio voltou da animação na Coreia do Sul, uma vez que o então presidente da Fox tinha acabado de ser demitido e substituído, assim como os censores. Os novos censores enviaram o roteiro de volta aos produtores com apenas uma frase em anexo: "aceitável para transmissão".[4] A cena da "usina siderúrgica gay" foi escrita por Steve Tompkins. A ideia original dele era que Homer e Bart encontrassem estivadores gays, mas era muito trabalhoso animar o embarque de navios, então uma usina siderúrgica foi usada ao invés disso.[9] Tompkins também escreveu um terceiro bloco diferente para o episódio, que acabou sendo substituído na versão final do episódio. Nele, ao invés de Homer, Bart, Barney e Moe irem caçar veados e terminarem na Aldeia do Papai Noel, eles iriam voltar à usina siderúrgica. Lá, Homer iria tentar provar sua heterossexualidade numa competição de puxar tratores com o corpo contra os trabalhadores da usina. Foi decidido que este final "não ajudava realmente a história".[10] EnredoPrecisando de dinheiro para pagar a conta do conserto da tubulação de gás de casa, a família Simpson visita a Cockamamie's, uma inconvencional loja de itens de colecionadores, na esperança de conseguir vender uma herança da família, um boneco da Guerra Civil Americana que era da avó de Marge.[11] Homer conhece John, o vendedor de antiguidades, que lhe explica que muito da mercadoria da loja está ali por causa de seu valor camp.[11] Bart e Lisa ficam impressionados com John, e Homer o convida para visitar a casa dos Simpsons, com o intuito de conhecer as coisas que a família possui.[11] Na manhã seguinte à visita de John, Homer diz a Marge que gostou de John e sugere que convidem ele e "sua esposa" para um passeio de casais.[11] Marge sugere repetidamente para Homer que John é gay, e quando Homer finalmente entende o que ela está dizendo, fica horrorizado.[11] O comportamento de Homer para com John muda completamente; Homer se volta contra ele, recusando participar de seu passeio com a família Simpson por Springfield.[12] O resto da família, entretanto, se diverte bastante com a companhia de John, em especial Bart, que começa a vestir camisas havaianas e a dançar usando uma peruca feminina.[11] Isto deixa Homer bastante inquieto, e ele começa a temer que Bart também seja gay. Homer se esforça para tornar Bart mais masculino, forçando-o a olhar para um outdoor de cigarro com mulheres seminuas por duas horas, na esperança de que Bart se sinta atraído por garotas, mas Bart fica apenas com o desejo de fumar "qualquer coisa fina".[11] Homer então o leva para ver os trabalhadores musculosos de uma usina siderúrgica em ação, apenas para descobrir que a fábrica em questão funciona de noite como A Bigorna, uma boate gay.[11][13] Desesperado, Homer insiste em levar Bart para caçar veados com Moe e Barney.[12] Depois que eles não conseguem achar nenhum veado, eles decidem ir até a Vila do Papai Noel e atirar nas renas no curral.[11] Este plano, entretanto, vai por água abaixo quando as renas começam a atacá-los.[11] John, com a ajuda de Lisa e Marge, usa um robô japonês do Papai Noel para assustar as renas e salvar os pretensos caçadores. Homer passa a aceitar John e diz a Bart, que ainda não sabe das preocupações do pai, que vai aceitá-lo independentemente da maneira como ele decida viver sua vida. Depois de Lisa explicar para Bart que Homer acha que ele é gay, Bart fica estupefato.[11] O episódio acaba com todos voltando para Springfield no carro de John.[11] Um pouco antes dos créditos finais, aparece uma dedicação aos siderúrgicos da América, que são incentivados a "Continuarem alcançando aquele arco-íris!".[11] Referências culturaisO episódio faz várias referências à cultura popular. A canção "Gonna Make You Sweat (Everybody Dance Now)" do C+C Music Factory pode ser ouvida duas vezes durante o episódio: primeiro quando a usina siderúrgica se transforma numa discoteca e depois nos créditos finais.[1] A coleção de discos de Homer inclui os artistas New Christy Minstrels e The Wedding of Lynda Bird Johnson, além dos álbuns Loony Luau e Ballads of the Green Berets do sargento transformado em cantor Barry Sadler.[1][2] A canção que Homer dança com John é "I Love the Nightlife" de Alicia Bridges, e a canção que Bart dança usando peruca é a versão de Cher de "The Shoop Shoop Song (It's in His Kiss)", originalmente interpretada por Betty Everett.[1] Na primeira cena de John há um flamingo rosa de plástico no fundo, uma referência a Pink Flamingos, filme de John Waters.[2] RepercussãoAudiência e prêmiosEm sua exibição original nos Estados Unidos, Homer's Phobia foi o 47o programa mais assistido da semana de 10 a 16 de fevereiro de 1997, atingindo 8,7 pontos no Nielsen. Foi o quarto programa mais assistido da emissora Fox naquela semana.[14] O episódio venceu o Emmy de Melhor Programa de Animação de Menos de Uma Hora em 1997.[15] Mike Anderson venceu o Annie Award de Melhor Direção em uma Produção Televisiva[16] e o WAC Award de Melhor Diretor de uma Série do Horário Nobre no World Animation Celebration de 1998.[5][17] A Gay and Lesbian Alliance Against Defamation disse que o episódio era "um exemplo brilhante de como trazer representações inteligentes, honestas e engraçadas da nossa comunidade para a televisão";[18] e o premiou com o GLAAD Media Award de Melhor Programa de Televisão - Episódio Individual.[19] Quando o episódio foi ao ar, o time de produção da série recebeu "muito poucas" reclamações sobre seu conteúdo, com a maioria das reações sendo positivas.[10] Vários celulóides do episódio foram selecionados para exposição na Silver K Gallery em Melbourne, na Austrália em 2001.[5] Análise da críticaHomer's Phobia é parte significativa da exploração de temas LGBTs por The Simpsons.[20] O seriado havia feito várias referências à homossexualidade mesmo antes do episódio ir ao ar.[21] No episódio da segunda temporada "Simpson e Dalila", o personagem de Karl (voz de Harvey Fierstein), um secretário gay, beija Homer,[22] enquanto que o personagem recorrente de Waylon Smithers é frequentemente mostrado como apaixonado por seu chefe, Montgomery Burns, inicialmente sugestivamente e depois mais explicitamente.[23][24][25] Entretanto, Homer's Phobia foi o primeiro episódio a girar inteiramente em torno de temas homossexuais. Outros dois episódios posteriores, Three Gays of the Condo e There's Something About Marrying, também exploraram questões LGBT.[26] De acordo com Warren Martyn e Adrian Wood, autores do livro I Can't Believe It's a Bigger and Better Updated Unofficial Simpsons Guide, "apenas The Simpsons poderia fazer isto tão de brincadeira que ninguém poderia entrar em um estado de confusão sobre isso. Muito bem mesmo".[2] John Alberti louvou a crítica do episódio ao "equívoco mais comum sobre a homossexualidade: ou seja, que homossexualidade é algo contagioso".[19] Em sua avaliação sobre o DVD da oitava temporada do seriado, Todd Gilchrist disse que Homer's Phobia certamente se "classifica como um dos melhores episódios de todos os tempos".[27] Catharine Lumby da Universidade de Sydney citou o episódio como exemplo de sátira positiva, uma vez que "conseguiu explorar um monte de questões [homossexuais] de maneira bastante profunda [...] sem ser evidentemente político" o que, de acordo com ela, junto com o humor do episódio fez a sua mensagem anti-homofobia mais bem sucedida do que outros programas de temática gay como Queer as Folk.[28] Homer's Phobia foi considerado o quinto melhor episódio de The Simpsons pela Entertainment Weekly.[29] Em 2003, o USA Today publicou a lista dos dez melhores episódios da série conforme escolha do fã-site The Simpsons Archive; Homer's Phobia foi eleito o décimo melhor.[30] O episódio também foi eleito o décimo melhor da série de acordo com a lista do AskMen.com.[31] O IGN escolheu John Waters como o nono melhor convidado especial da série,[32] enquanto que o TV Guide nomeou sua participação como a terceira melhor de uma estrela de cinema.[33] Num artigo de 2008, a Entertainment Weekly escolheu Waters como uma das dezesseis melhores participações especiais de The Simpsons.[34] John Patterson do The Guardian escreveu que a participação de Waters "pareceu para mim como uma reunião de cúpula entre as figuras mais influentes da cultura popular dos últimos 25 anos".[35] Entretanto, Homer's Phobia não recebeu apenas críticas positivas. Em 2002, Steve Williams e Ian Jones, escritores da revista britânica Off the Telly, escolheram o episódio como um dos cinco piores de toda a série, declarando que ele "deixa um gosto muito nojento na boca", e que Homer é "simplesmente um canalha" ao longo do episódio. A dupla concluiu que "este é um lado do seriado que não vimos antes, nem particularmente queríamos ver".[36] Em junho de 2003, o advogado russo Igor Smykov abriu um processo contra a REN TV, emissora de televisão de seu país, sob acusações de que The Simpsons, assim como Family Guy, era "moralmente degenerado e promovia as drogas, a violência e a homossexualidade".[37] Como indício em sua defesa, Smykov exibiu Homer's Phobia ao juiz para provar que The Simpsons promove a homossexualidade. O caso, entretanto, foi anulado após o primeiro dia de julgamento.[38] Referências
Ligações externas
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