Herrmann Rudolf WendrothHerrmann Rudolf Wendroth foi um mercenário e artista plástico amador alemão que veio para o Brasil em 1851 e deixou importante documentação visual sobre a província do Rio Grande do Sul. BiografiaSabe-se muito pouco sobre sua vida. Nasceu em Mainz, e em 1851 foi contratado pelo governo brasileiro para lutar na Guerra contra Rosas, chegando ao Rio de Janeiro no navio Hamburg e sendo incorporado à Legião Alemã que serviu no sul, cujos integrantes eram conhecidos pela alcunha de brummers (os "resmungadores"). Devido às premências militares, sua transferência para o Rio Grande do Sul foi imediata, chegando em torno de 8 de agosto a Rio Grande, onde conheceu Carlos von Koseritz e foi preso por embriaguez,[1] logo seguindo para Pelotas, onde foi preso novamente por arruaças.[2] Por sua falta de disciplina, não seguiu com a tropa para o teatro de guerra no Uruguai,[1] mas pelas suas ilustrações parece ter acompanhado parte do itinerário da Legião Alemã pelo menos até Porto Alegre e Rio Pardo,[3] mas em 20 de setembro de 1851 já havia se desligado da Legião, passando a uma vida de aventureiro errante.[4] Depois esteve em Lavras do Sul, onde demorou-se explorando ouro nas minas da região.[5] Ali elaborou um memorial sobre a geologia e mineralogia dos terrenos, que encaminhou ao presidente da província.[6] Dali seguiu em viagem por diversas partes do interior, vivenciando uma série de aventuras e dificuldades.[2] Desde sua chegada fixou em esboços, aquarelas e desenhos os tipos humanos locais, a paisagem urbana e o ambiente natural com seus cenários, plantas e animais característicos,[1][3] produzindo o mais importante conjunto de documentação visual da província de meados do século XIX. Faleceu em data e local desconhecidos.[5] ObraWendroth havia se dirigido ao Brasil na esperança de fazer fortuna, e neste sentido é que a coleção de imagens deve ter sido produzida, pois aparentemente tencionava publicá-las para venda ao voltar para a Europa, estando em voga naquela época publicações de álbuns e gravuras divulgando lugares exóticos, pitorescos e distantes.[2][3] Isso não aconteceu. Suas obras acabaram na Argentina e em 1857 estavam em posse de um certo F. A. Buhlmann, que em 1863 enviou-as de Buenos Aires para o imperador D. Pedro II junto com uma carta, onde se fez passar como o autor, pediu-lhe que as comprasse ao preço que melhor lhe conviesse, e disse que originalmente foram pretendidas para serem editadas na Alemanha mas a ideia não pudera ser realizada por falta de recursos. É possível que Wendroth tenha falecido em Buenos Aires em torno desses anos.[1] As obras foram efetivamente adquiridas pela família imperial brasileira, permanecendo inacessíveis por muitos anos.[7] Em 1939 o Inventário de Documentos da Casa Imperial do Brasil publicado pela Biblioteca Nacional acusou a existência no Castelo d'Eu, na França, de um álbum encadernado de aquarelas catalogado erroneamente como de autoria de Carlos Emil Buhlmann. A obra foi herdada pelo príncipe D. Pedro Gastão de Orléans e Bragança, estabelecido no Brasil depois da II Guerra Mundial, e em 1963 seu secretário Guilherme Auler, ao trabalhar sobre documentação referente à princesa Isabel, encontrou a carta de Buhlmann e o álbum e notificou Augusto Meyer, que ficou encantado com o material e convocou uma comissão para estudá-lo e providenciar sua publicação. Neste processo, verificou-se, com o auxílio do Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro, que a assinatura de Wendroth havia sido raspada e Buhlmann havia colocado a sua por cima, estabelecendo-se a verdadeira autoria das imagens. O general Bertoldo Klinger encarregou-se da catalogação, realizando também a tradução das legendas das imagens e de alguns pequenos textos e poemas anexos.[1] A publicação, no entanto, não ocorreu. Em 1971, em artigo na Revista Brasileira de Cultura, Hélio Vianna disse que o príncipe D. Pedro Gastão emprestara a coleção para Jaime Bastian Pinto organizar a publicação, que também não veio à luz. Finalmente, em 1982 a empresa Riocell fez uma publicação parcial com uma apresentação de Abeillard Barreto, produzida como presente de fim de ano aos seus funcionários,[1] e no ano seguinte o governo do estado publicou a coleção completa no álbum O Rio Grande do Sul em 1852: aquarelas de Herrmann Rudolf Wendroth. A edição foi lançada ao público em 8 de março de 1983, junto com uma exposição dos originais, sendo o evento que inaugurou a Casa de Cultura Mário Quintana.[7] Desde então suas imagens tiveram uma grande circulação, aparecendo em livros, trabalhos acadêmicos e sites da internet.[8] Em 2020 uma edição foi publicada pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas da Universidade de Lisboa em cooperação com a Biblioteca Rio-Grandense, com texto crítico de Francisco das Neves Alves e Luiz Henrique Torres. Para os autores, "a obra de Wendroth trazia um elemento constitutivo fundamental para um melhor entendimento do passado sul-rio-grandense — a imagem. [...] Assim como a natureza e as edificações humanas faziam parte da obra de Wendroth, as variadas facetas da formação social sulina também estavam presentes, aparecendo os diversificados tipos humanos que compunham tal sociedade",[2] como o típico gaúcho, os estancieiros, os tropeiros e viajantes, os soldados, os indígenas, os escravos e a variada população urbana.[1] Na opinião de Maria Angélica Zubaran, é "uma coleção iconográfica de raro valor cultural e documental sobre a paisagem natural e urbana e sobre os usos e costumes dos rio-grandenses no século XIX, e sobretudo porque constitui-se num dos raros registros visuais do Rio Grande do Sul da segunda metade do século XIX".[3] Para Júlio Bittencourt Francisco, é "o mais vasto registro visual do Rio Grande do Sul no século XIX".[9] Suas ilustrações muitas vezes revelam uma veia satírica e jocosa que se aproxima da caricatura, mas não deixou de retratar aspectos conflituosos da sociedade, como a distância entre as classes sociais, mostrando os trajes, habitações e costumes diferenciados da elite e do povo comum, e a escravidão, mostrando os negros em seus trabalhos pesados e os castigos que recebiam. Evidenciou ainda alguns problemas infraestruturais da província, como as más condições do porto do Rio Grande e a precariedade dos meios de transporte e dos caminhos. Em muitas imagens o autor vira protagonista das cenas, ilustrando as situações por que passou, como as temporadas na cadeia, a caça, a bebida, as incursões no mato, a discussão com um padre, a atividade como garimpeiro, os galanteios amorosos.[10] Para Luciana da Costa Oliveira,
Ver tambémReferências
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