A família Hepialidae constituem, de longe, o grupo mais diversificado e primitivo de Lepidoptera da subordem Exoporia, dentro da superfamília Hepialoidea. Há 60 gêneros e pelo menos 587 espécies atualmente reconhecidas dessas mariposas primitivas registradas em todo o mundo. No Brasil, conta com cerca de 300 espécies conhecidas [1] distribuídas por 16 gêneros[2].
Os gêneros Fraus (endêmica da Austrália), Gazoryctra (nos continentes boreais), Afrotheora (África do Sul), e Antihepialus (África) são também consideradas como sendo um dos mais primitivos, contendo quatro gêneros e cerca de 51 espécies, na qual, são oriundas do sul de Gondwana e são distintas do grupo Hepialidae.[3] Os gêneros mais diversos são Oxycanus, com 73 espécies, Endoclita com 60 espécies, Thitarodes com 51 espécies e o gênero Cibyra com 50 espécies, seguindo a relação dos gêneros Exoporia.[3][3] Muitos das relações entre os gêneros, ainda não estão bem estabelecidos; veja abaixo, uma lista ordenada por sinônimos, e da caixa taxonômica.
Morfologia e identificação
A família Hepialidae é considerado primitiva, possuindo um certo número de diferenças estruturais, que as diferenciam de outras mariposas, que são, as antenas muito curtas e a falta de uma probóscide (espirotromba) funcional.[4] Como outros do gênero Exoporia, o esperma é transferido para o ovo por um canal externo entre o "ostium" e o ovipório. Outros tipos de mariposas possuem uma cloaca comum.[3] Estas mariposas são "homoneurous", ou seja, possuem as asas dianteiras similares com as asas traseiras, sendo assim, classificadas como filogeneticamente basais.
São mariposas de porte mediano a grande, variando de 1 a 15 cm ou mais de largura das asas, tipicamente exibindo coloração amarela, parda ou marrom; algumas espécies são mais coloridas[5]. As lagartas são cilíndricas e alogadas, com falsas pernas abdominais dotadas de crochets. Muitas espécies exibem um forte dimorfismo sexual, apresentando os machos menores, o que é mais comum do que nas fêmeas, mas nas grandes altitudes, foram encontradas fêmeas de mariposas do gênero Pharmacis e Aoraia que tinham asas atrofiadas (condição braquíptera).[6]
Distribuição
As mariposas da família das Hepialidae, estão distribuídas em grandes áreas em todo o mundo, exceto na Antártida, sendo particularmente diversas na África e Oceania[7]. Surpreendentemente não são encontradas na ilha de Madagáscar e nas ilhas do Caribe e nem nas ilhas da Oceania, com a exceção do gênero Phassodes no Fiji e Samoa Ocidental; talvez por falta de estudos especializados, pois recentemente foram descobertas mariposas Aenetus cohici na Nova Caledónia.[8] Nas regiões orientais e Neotropicais, as hepialidaes diversificaram nas florestas tropicais, mas isso não parece o caso na Região afro-tropical.[3] O tipo nomenclatural da espécie Eudalaca sanctahelena é derivada da remota ilha de Santa Helena[3].
Comportamento
As mariposas Phymatopus hecta são crepusculares, formando leks (aglomeração de machos para disputarem fêmeas) e apresentando convergência evolutiva com o gênero Ogygioses (Palaeosetidae).[4] Na maioria dos gêneros, os machos voam rapidamente para as fêmeas virgens que os estão chamando através de seu feromônio. Em outros gêneros, são as fêmeas virgens que "montam" nas asa posteriores dos machos,[9] emitindo um almiscarado feromônio através das escamas de seu metatórax.
Biologia
As fêmea não põe seus ovos em um local específico, mas dispersa eles durante o voo, às vezes em grande número (29.000 foram registrados de uma única fêmea do gênero Trictena,[10] que é provavelmente um recorde para um inseto Lepidóptera). As larvas[1] se alimentam de diversas maneiras. Provavelmente, todos do gênero Exoporia, ocultam as larvas, fazendo túneis de seda em todos os tipos de substratos. Algumas espécies se alimentam de folhas jovens, fungos[2], musgos, vegetação em decomposição, samambaias, Gimnospérmica e plantas monocotiledôneas e Dicotiledôneas.[3][11] Existe muito pouca evidência do uso de plantas hospedeiras, ao passo que uma espécie sul-africana, a Leto venus, está restrita à árvoreVirgilia capensis, podendo ser um caso de espécies generalistas e especialista.[3] A maioria se alimentam de raizes finas subterrâneas, pelo menos nos estágios iniciais, alimentam-se também, em túneis feitos nos caules ou tronco de suas plantas hospedeiras. As pupa s tem espinhas dorsais nos segmentos abdominais e no membros inferiores de algumas subordem de mariposas, as Heteroneuras.[4]
Incluem algumas espécies notáveis, como uma das maiores mariposas conhecidas, a espécie Trichophassus giganteus no Brasil, que pode passar de 160 mm de envergadura, que rivaliza com Leto stacyi pelo status de maior da família [1]. A primeira mencionada espécie curiosamente parece mimetizar aranhas caranguejeiras, inclusive elevando as patas dianteiras quando ameaçada, e resistindo contra reagir ao ser tocada . A segunda foi hipotetizada de mimetizar um outro animal ameaçador, um réptil predador de aves, como forma de escapar de seus inimigos naturais [12].
Importância econômica
A Medicina chinesa faz uso considerável de "múmias" de lagartas atacadas pelo fungoCordyceps, produzindo um ingredientes caros[3][13][14] . Os Witchetty grub (o que às vezes são lavas hepialidae), é uma fontes de alimentos popular, especialmente entre os aborígenes australianos. Na América do Sul e América Central,[15] quase 50 espécies de larvas das mariposas da família Hepialidae são consideradas comestíveis[16].
Espécies dos gêneros Wiseana, Oncopera, Oxycanus, Fraus, Hepialus e Dalaca são consideradas pestes de plantações na Australia, Nova Zelândia e na América do Sul.[3] No Brasil, a lagarta de Trichophassus giganteus é considerada séria praga brocadora de Eucalyptus[17].
↑«Lista do Brasil». fauna.jbrj.gov.br. Consultado em 20 de agosto de 2023
↑ abcdefghijNielsen, E.S., Robinson, G.S. and Wagner, D.L. 2000. Ghost-moths of the world: a global inventory and bibliography of the Exoporia (Mnesarchaeoidea and Hepialoidea) (Lepidoptera) Journal of Natural History, 34(6): 823-878.Abstract
↑ abcKristensen, N.P., (1999). The non-Glossatan Moths. Ch. 4, pp. 41-62 in Kristensen, N.P. (Ed.). Lepidoptera, Moths and Butterflies. Volume 1: Evolution, Systematics, and Biogeography. Handbook of Zoology. A Natural History of the phyla of the Animal Kingdom. Band / Volume IV Arthropoda: Insecta Teilband / Part 35: 491 pp. Walter de Gruyter, Berlin, New York.
↑Mallet, J. 1984. Sex roles in the ghost moth Hepialus humuli (L.) with a review of mating in the Hepialidae (Lepidoptera). Zoological Journal of the Linnean Society, 79: 67-82.
↑Tindale, N.B. (1932). Revision of the Australian ghost moths (Lepidoptera Homoneura, family Hepialidae). part 1, Records of the South Australian Museum, 4: 497-536.
↑Grehan, J.R. 1989. Larval feeding habits of the Hepialidae (Lepidoptera)
Journal of Natural History, 23(4): 803-824.
↑Chinery, M. (1986). Collins Guide to the Insects of Britain and Western Europe. (Reprinted 1991)
↑Skinner, B. (1984). Colour Identification Guide to Moths of the British Isles
Referências
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