Quando a peça inicia, Hedda e Jørgen acabam de voltar de sua lua de mel, que teve seis meses de duração. Jørgen passou seu tempo estudando e trabalhando, enquanto Hedda confidencia ao seu amigo, Juiz Brack, ter ficado entediada.
Hedda Tesman é filha do falecido general Gabler, que morreu sem lhe deixar herança. Perto dos trinta anos, acabou se casando com Jørgen Tesman, que tem uma bolsa de estudos em história da arte. Jörgen foi educado pelas suas tias, Julle e Rina, e agora está esperando por uma cadeira na Universidade.
Hedda está grávida, fato que ela esconde de todos; logo que chegam de viagem, Jørgen descobre que precisará competir pela cadeira na Universidade, justamente com um dos antigos admiradores de Hedda, Eilert Løvborg, conhecido por ser um boêmio, talentoso, mas propenso a beber demais. Apesar disso, ele tem vivido sobriamente, e está escrevendo duas teses em colaboração com Thea Elvsted, que está apaixonada por ele, tendo inclusive deixado o marido para segui-lo.
No curso de apenas dois dias, Hedda participa de uma série de acontecimentos com consequências dramáticas. Ela consegue embebedar Lovborg e ele perde o manuscrito de seu novo livro. Jørgen Tesman o encontra e dá a Hedda para cuidar, mas Hedda não conta a Løvborg, queima o manuscrito e lhe dá uma das pistolas de seu pai, dizendo-lhe para atirar em si mesmo. Løvborg leva porém um tiro acidental em um bordel, e Brack, que sabe de onde a pistola veio, usa esse conhecimento para chantagear Hedda, para que ela se torne sua amante. Thea e Tesman se ajudam num trabalho de reconstrução do manuscrito de Løvborg através da anotações que Thea manteve. Quando Hedda percebe que ela está no poder de Brack e não tem mais nada para viver, ela se suicida com a segunda pistola do General.
Otto Maria Carpeaux defende que, em Hedda Gabler, Ibsen “conseguiu uma de suas criações mais perfeitas, que se considera e é considerada genial por ser caprichosa, inadaptada, histérica, é uma figura extraordinária, irradiando a sua vitalidade nervosa e irritante por toda a peça; em particular, sobre aqueles dois homens que ela arruína, o marido Tesman e o amante Løvborg”. Carpeaux considera que “no pensamento de Ibsen aproxima-se a hora dum grande dia de julgamento. Nesse julgamento o réu será o ‘homem superior’, que começara como fanático da ‘exigência ideal’, continuou como anarquista ideal, e fica vencido como gênio malogrado. Contra ele, o último produto da civilização intelectual, revoltam-se as forças da natureza elementar, encarnadas em mulheres histéricas”.[9]
Graça Aranha considera que “Hedda Gabler é um destino trágico. A sua tragédia é quase animal, a tragédia da sensibilidade, a tragédia da dominação. Hedda Gabler é uma vontade que necessita vencer as forças humanas. (...) O gênio de Ibsen nos afirma nesse drama magistral que só há tragédia no que é insolúvel para o destino humano. (...) Em Hedda Gabler há alguma coisa de insolúvel, portanto uma tragédia eterna, como não há solução humana possível para Prometeu e Hamlet”.[10]
Histórico
Hedda Gabler foi a última das peças de Ibsen a ser publicada enquanto ele estava vivendo no exterior, e foi escrita em Munique, em 1890.[11]
Durante o verão de 1889, quando estava em Gossensass, pequena aldeia alpina do Tirol, Ibsen conheceu a vienense Emilie Bardach, de 27 anos, por quem se apaixonou. Emilie Bardach voltou a Viena, e os dois se corresponderam durante algum tempo. No entanto, não há indicação clara de que Hedda Gabler estava em processo já nessa época.[11] De acordo com uma carta enviada a August Larsen, da Gyldendal, em Copenhague, a peça estava pronta em 16 de novembro de 1890.
Ao longo da realização da peça, Ibsen alterou o título de "Hedda" para "Hedda Gabler". Em uma carta datada de 4 de dezembro para Moritz Prozor em 1890, que traduziu a peça para o francês, Ibsen explicou que havia escolhido "Gabler" em vez de "Tesman", para indicar que uma personalidade como ela deve ser considerada "mais como filha de seu pai, do que esposa de seu marido".
Primeira edição
A edição Gyldendal
Hedda Gabler foi publicada pela Gyldendalske Boghandels Forlag (F. Hegel & Son), em Copenhague e Christiania, em 16 de dezembro de 1890, com uma tiragem de 10000 exemplares.
A reação ao livro foi negativa, e os críticos definiram Hedda apenas como uma personagem feminina "enigmática" e "incompreensível". Não havia qualquer sugestão de reforma social ou simbolismo óbvio.[11]
A edição Heinemann
Na verdade, Gyldendal não foi o primeiro a publicar Hedda Gabler. Em 11 de dezembro de 1890, o editor inglês William Heinemann publicou a peça em Londres, em norueguês, com uma tiragem de apenas 12 cópias. Ele fez o mesmo com todas as peças subsequentes de Ibsen.
O motivo de Heinemann ter feito tal publicação foi ter notado a crescente popularidade de Ibsen na Inglaterra. O autor se tornara um sucesso, após sua introdução na Inglaterra pelo crítico literário Edmund Gosse. A produção de “A Doll House” no Novelty Theatre, em Camden, marcou sua descoberta no teatro. A peça foi dirigida pelo irlandês Charles Charrington, e o papel de Nora foi interpretado por Janet Achurch. A primeira noite foi em 7 de junho de 1889, e foi de enorme importância para estabelecer a reputação de Ibsen em Inglaterra. Em conjunto com a publicação, William Archer estava trabalhando em sua edição inglesa das peças completas de Ibsen, cujo primeiro volume saiu em novembro de 1890.
Heinemann estava interessado em garantir os direitos do autor para a publicação de Hedda Gabler, na Inglaterra. Ele ofereceu £ 150 para Ibsen, e que a oferta foi aceita. A fim de garantir seus direitos, Heinemann publicou pela primeira vez a peça no original e depois, a 20 de janeiro de 1891, a tradução para o inglês de Edmund Gosse.[11]
Estreia
Hedda Gabler teve sua primeira apresentação no Residenztheater, em Munique, a 31 de janeiro de 1891. Ibsen estava presente na primeira noite, e parece ter ficado descontente com a atriz que interpretou Hedda, Clare Heese, pois sua atuação foi muito declamatória. Os críticos também foram reservados em seu julgamento. A recepção pelo público foi mista, com aplausos e vaias.
Cinema e televisão
Hedda Gabler – filme mudo inglês feito em 1917, sob direção de Frank Powell, com Nance O’Neal no papel título.
Hedda Gabler – filme italiano produzido em 1920, sob direção de Gero Zambuto e Giovanni Pastrone, e Hedda foi interpretada por Italia Almirante –Manzini.
Hedda Gabler – filme alemão produzido em 1925, com Asta Nielsen no papel título, sob direção de Franz Eckstein.
Hedda Gabler – filme iugoslavo de 1961, feito para TV, sob direção de Marko Fotez e com Marija Crnobori no papel título.
Luiz Leite Vidal. “Hedda Gabler”. Tradução feita nos anos 1960, MEC,[13] Rio de Janeiro (Coleção Teatro Universal).
José Correia Alves. “Hedda Gabler”. Porto: Círculo de Cultura Teatral, 1962.[12]
Clarice Lispector e Tati de Moraes. “Hedda Gabler”. Tradução com data provável de 1965, para a peça homônima sob direção de Walmor Chagas, em São Paulo, 1965. A peça recebeu o prêmio de Melhor Tradução de 1966, pela APCT.[14]
Millôr Fernandes. “Hedda Gabler”. Tradução de 1980, utilizada na peça homônima sob direção de Gilles Gwizdeck, em Curitiba, 1982.
Teatro: Estreia no Teatro Guaíra (Curitiba), em julho de 1982. Levada para o Teatro Gláucio Gil, Rio de Janeiro, em agosto de 1982; para o Teatro A Hebraica, São Paulo, em março de 1983; para o Teatro Nacional (Brasília), Teatro Francisco Nunes (Belo Horizonte), Teatro Castro Alves (Salvador), Teatro Santa Isabel (Recife) e Teatro José de Alencar (Fortaleza) em junho de 1983.
Produção: Sfat Empreendimentos Culturais e Artísticos. A peça recebeu o Prêmio Mambembe de 1982, de melhor produção
Direção: Gilles Gwizdeck
Elenco: Dina Sfat, Cláudio Marzo, Otávio Augusto, Edney Giovenazzi, Xuxa Lopes, Norma Geraldy, Gilda Sarmento. No fim da temporada carioca, a personagem Théa Elvsted, interpretada por Xuxa Lopes, passa a ser interpretada por Miriam Lins. Na temporada pulistana, as personagens Juiz Brack (interpretada por Cláudio Marzo), Juliana Tesman (interpretada por Norma Geraldy) e Théa Elvsted passam a ser interpretadas, respectivamente, por Francisco Cuoco, Estelita Bell e Sura Berditchevsky.
Figurino: Kalma Murtinho, que por essa peça recebeu o Prêmio Mambembe 1982 de figurinista.
↑Provavelmente em 1965, Clarice Lispector e Tati de Moraes a traduziram para a peça “Hedda Gabler”, realizada em 1965, porém não foi edição em livro. Apud SILVA, Jane Pessoa, 2007, p. 441
↑”O Primeiro Centenário de Ibsen: a obra e a vida do genial escandinavo”. Correio Paulistano, São Paulo, 20 março de 1928. In: SILVA, Jane Pessoa, 2007. p. 547
↑Essa produção foi noticiada no Correio Paulistano de 20 de março de 1928, portanto, presume-se ter sido uma produção realizada naquela cidade, assim como a data, mediante tal notícia, aventa-se ter sido nos anos 20.
↑DORIA, Gustavo A. Moderno Teatro Brasileiro. Crônica de suas raízes. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1975, p. 39. In: SILVA, Jane Pessoa, 2007. p. 548
Referências bibliográficas
CARPEAUX, Otto Maria (1984). Estudo Crítico. [S.l.]: Rio de Janeiro: Editora Globo. In: IBSEN, H. O Pato Selvagem.
OLIVEIRA, Vidal de (1984). Biografia e comentários sobre a obra de Ibsen. [S.l.]: Rio de Janeiro: Editora Globo. In: IBSEN, H. O Pato Selvagem.
SILVA, Jane Pessoa da (2007). Ibsen no Brasil. Historiografia, Seleção de textos Críticos e Catálogo Bibliográfico. [S.l.]: São Paulo: USP. Tese