Guerreiro Ramos
Alberto Guerreiro Ramos (Santo Amaro da Purificação, 13 de setembro de 1915 — Los Angeles, 6 de abril de 1982) foi um sociólogo e político brasileiro. Negro, foi figura de grande relevo da ciência social no Brasil, e suas ideias influenciaram intelectuais de todo o mundo na sociologia e na política. Em 1956, Pitirim Sorokin, analisando a situação da sociologia na segunda metade do século XX, incluiu Guerreiro Ramos entre os autores que mais contribuíram para o progresso da disciplina.[1] Trajetória intelectualEm 1942 diplomou-se em ciências pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro, no então Distrito Federal, bacharelando-se um ano depois pela Faculdade de Direito, na mesma cidade. Foi professor visitante da Universidade Federal de Santa Catarina, professor da Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP) da FGV e dos cursos de sociologia e problemas econômicos e sociais do Brasil promovidos pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Pronunciou conferências em Pequim, Belgrado e na Academia de Ciências da União Soviética. Em 1955, foi conferencista visitante da Universidade de Paris. Nos anos de 1972 e 1973 foi "visiting fellow" da Yale University e professor visitante da Wesleyan University. Ao ser expulso do país pelo Regime Militar, foi convidado a lecionar na University of Southern California (USC) a partir de 1966, radicando-se nos Estados Unidos. Em 1980, de volta ao Brasil sem romper seus laços com a USC, ele leciona na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde organiza um mestrado em Planejamento Governamental, baseado em sua teoria da delimitação de sistemas sociais. Ao voltar aos Estados Unidos em abril de 1982, recebe o prêmio Phi Kappa Phi uma semana antes de falecer devido a um câncer. Jornalista, colaborou em O Imparcial, da Bahia, O Diário, de Belo Horizonte, e Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias, do Rio de Janeiro. A Universidade de Toronto publicou em 1981 a edição inglesa de sua última obra, escrita em inglês e traduzida para o português, The New Science of Organizations: a reconceptualization of the wealth of nations (A nova ciência das Organizações, uma reconceituação da riqueza das nações). É autor de dez livros e de numerosos artigos, muitos dos quais têm sido publicados em inglês, francês, espanhol e japonês. Entre outros assuntos, estudou a questão racial.[2] Seu reconhecimento internacional está registrado em depoimentos de norte-americanos e brasileiros, em uma obra bilíngue (português-inglês): Guerreiro Ramos: Collection of Testimonials (2014). Trajetória políticaDurante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951–1954), trabalhou na Assessoria Econômica da Casa Civil. Durante esse período, juntou-se à Escola Brasileira de Administração Pública, criada no âmbito da Fundação Getulio Vargas. Em seguida, atuou como diretor do departamento de sociologia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Ingressou na política partidária em 1960, quando se filiou ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), a cujo diretório nacional pertenceu. Na eleição de outubro de 1962 candidatou-se a deputado federal pelo Estado da Guanabara, na legenda da Aliança Socialista Trabalhista, formada pelo PTB e o Partido Socialista Brasileiro (PSB), obtendo apenas a segunda suplência de Leonel Brizola. Ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados de agosto de 1963 a abril de 1964, quando teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 1.[3] Guerreiro Ramos defendeu o monopólio estatal do petróleo, a nacionalização da indústria farmacêutica e dos depósitos bancários. Para promover a reforma agrária, defendia o pagamento das desapropriações em títulos da dívida pública. Defendeu também as reformas eleitoral (voto para os analfabetos e soldados e elegibilidade de todos os eleitores), bancária e administrativa. Também foi Secretário do Grupo Executivo de Amparo à Pequena e Média Indústrias do BNDES, assessor da Secretaria de Educação da Bahia, técnico de administração do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e do Departamento Nacional da Criança. Atuou também como delegado do Brasil junto à Organização das Nações Unidas. Em 2010, em sua homenagem, o Conselho Federal de Administração instituiu o "Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública", cuja finalidade é a divulgação e a valorização dos estudos e ações de gestores públicos.[4] IdeiasEsforços de teorização da realidade nacional politicamente orientadosEm seu livro Introdução Crítica à Sociologia Brasileira (1957), o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos faz algumas considerações sobre a sociologia no Brasil e sobre a área de estudo como um todo, fazendo distinções e orientando reflexões e metodologias que foram e são retomadas por diversos autores contemporâneos e ulteriores. Numa das partes do livro, Guerreiro faz uma análise dos mais influentes esforços de teorização da realidade nacional politicamente orientados, desde 1870 até o seu presente (circa 1957):[5] Republicanos de 1870Reunidos em torno do Manifesto Republicano de 1870, os ditos republicanos foram uma expressão da oportuna ascenção dos setores intermediários, aspirantes a maior participação da sua classe e de demais cidadãos livres em um Estado imperial dominado por latifundiários, em associação com uma secundária burguesia comercial, que se via cada vez mais e mais forçado a adaptar-se ao crescente número de cidadãos livres na sociedade. Reclamavam o fim do Poder Moderador, da transmissão hereditária do poder, dos senadores vitalícios e de uma série de privilégios institucionais que asseguravam a hegemonia dos interesses da elite agrária nas questões de Estado, assim como "um Brasil assentado na independência mútua das províncias". Não obstante, não buscavam qualquer alteração na ordem econômica-social além disso, o que não poderia ser diferente em um contexto onde a burguesia industrial apenas começava a surgir e nada havia como um proletariado no país. A economia de base agrária não incomodava os republicanos de 1870. Guerreiro defende que nem mesmo com os princípios do Manifesto cumpriam totalmente, na prática, contentavam-se com acordos pragmáticos, acobertados por toda uma retórica copiada das prestigiadas filosofias alemã e francesa, definitivamente não tendo qualquer compromisso com o restante da sociedade. Das figuras representativas desse esforço de teorização, destacam-se os assinantes do Manifesto de 1870, quase todos profissionais liberais. Movimento PositivistaConcentrados no Exército Brasileiro, os seguidores de Augusto Comte instauraram de maneira pioneira o ensino formal de Sociologia no país e prescreveram medidas que supostamente aproximariam o Brasil de suas utopias. Foram os primeiros influentes a apontarem a necessidade da teoria fundamentar a ação política. Partindo da assunção de que existiam "sociedades normais", a que a Europa os servia de paradigma, os positivistas apontaram inúmeras inadequações da sociedade brasileira com suas idealizações e lutaram para revertê-las, para que, assim, contribuíssem para a concretização de suas utopias religiosas de um mundo "normal", pacífico e harmonioso. Fizeram pouco além da transplantação integral da sociologia comtiana, surgida em um contexto onde arrefeciam os movimentos revolucionários europeus, e, por conseguinte, de todos os seus vícios e eurocentrismos, acentuados pela não adaptação do positivismo a um contexto sócio-histórico diferente, mas ao darem um fundamento teórico para uma série de ações políticas, aceleraram, indiretamente, a identificação e o sanar de algumas necessidades sociais do momento. Foram fundamentais para a supressão da hereditariedade monárquica, a descentralização e a secularização do Estado, a consolidação de instituições e mecanismos jurídicos que asseguravam a liberdade de expressão, e a abolição da escravatura. Não porque fizeram profunda análise dos problemas de sua sociedade utilizando o melhor de que dispunham, mas porque essas coisas eram necessárias para torná-la uma "sociedade normal". Das figuras representativas desse esforço de teorização, destacam-se Francisco José Brandão, Aníbal Falcão e Teixeira Mendes. Sylvio RomeroDefensor de ideias por vezes paralelas e mesmo conflitantes, Sylvio Romero foi um dos primeiros a tentar relacionar as ideologias, os discursos e os partidos políticos do Brasil como um todo com o contexto histórico-social em que surgiram. Também defendia ser necessário que a teoria fundamentasse a ação política, no entanto, nunca formulou um arranjo teórico-conceitual que o servisse de bússola, sendo extremamente fragmentária a disposição de suas ideias. Romero apontou que, na sua época, de incipiente desenvolvimiento de uma burguesia industrial e de população majoritariamente rural, as teorizações acerca de um "partido proletário" pouco podiam acrescentar à compreensão do Brasil. Ademais, ressaltava a importância de se levar em conta o maior número possível de fatos e fenômenos conhecidos nos esforços teóricos, tanto para buscar visões holísticas quanto para explicativas do passado e, em alguma medida, preditivas. A sua defesa do parlamentarismo e crítica do presidencialismo são apontadas por Guerreiro como positivas à época, pois teriam ajudado a identificar a hiperconcentração do poder no presidente nas principais propostas constitucionais de então, como a de Ruy Barbosa. NativistasPré-1930Pós-1930ComunistasIntegralistasBurocratasTécnicosMorteFaleceu em 6 de abril de 1982, em Los Angeles, aos 66 anos, vitimado por um câncer. Livros publicados
Referências
Bibliografia
Ligações externas
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