Grito de Dolores
O Grito de Dolores foi uma proclamação pública que ocorreu na cidade homônima na madrugada de 16 de setembro de 1810 quando o padre católico Miguel Hidalgo y Costilla soou os sinos da igreja local e convocou os colonos mexicanos a lutarem contra as forças metropolitanas no que viria ser a Guerra da Independência do país.[1][2][3] Este ato histórico, considerado um divisor de águas na história do México revolucionário, é relembrado anualmente nas celebrações da Independência mexicana.[4][5] No ápice do evento, o presidente do México sobe à sacada principal do Palácio Nacional e simula o Grito de Dolores além de soar o mesmo sino que foi utilizado por Hidalgo.[5] HistóriaNa década de 1810, o que viria a ser o México ainda era parte da Nova Espanha e pertencia à Coroa espanhola. O movimento separatista começou a ganhar forma quando José Bernardo Gutiérrez de Lara chegou à pequena cidade de Dolores (atual Dolores Hidalgo) e pediu a adesão do padre local Miguel Hidalgo ao movimento.[6][7] Gutiérrez de Lara viajou até Washington, D.C. buscando apoio militar para uma provável guerra de independência. Hidalgo, por sua vez, permaneceu em Dolores mas temendo ser preso por forças leais à Coroa. Por volta de 2:30 da manhã de 16 de setembro de 1810, Hidalgo soou os sinos da igreja e reuniu sua congregação local. Ladeado pelos militares Ignacio Allende e Juan Aldama, o padre discursou brevemente aos fiéis presentes e os incentivou a apoiar o movimento independentista.[6][7] A subsequente guerra de independência mexicana se estendeu por mais de uma década até o país ser reconhecido através da Declaração de Independência do Império Mexicano, emitida em 28 de setembro de 1821. Apesar de ter sido capturado e executado por forças espanholas antes do desfecho do conflito, Hidalgo é oficialmente considerado o "pai da pátria" pelos mexicanos.[7] DiscursoCom o soar dos sinos, Hidalgo convocou os habitantes locais para as cercanias da igreja e proferiu um discurso que contra a Coroa espanhola, porém a favor do reinado de Fernando VII. No entanto, não há um consenso sobre as palavras exatas que teriam sido proferidas na ocasião e que compõem o "Grito de Dolores" propriamente dito.[8] As versões mais reproduzidas são:
Os escassos documentos históricos sobre a ocasião levam a crer que o discurso original pode ter sido alterado para atender aos interesses de respectivos governos, com a adição das frases: "Viva a América espanhola" (uma reivindicação posterior), "Morram os gachupines!" (uma expressão de rivalidade que só apareceria mais tarde por parte de Miguel Hidalgo) ou "Viva o México!". Como não há relação literal direta com o Grito de Dolores, o que se sabe sobre o ocorrido é relatado por segunda via. A carta oficial publicada por Manuel Abad y Queipo, bispo de Michoacán, na Gazeta Extraordinária do Governo do México em 28 de setembro de 1810 descreve o Grito como: "Viva a Nossa Senhora de Guadalupe! Viva Fernando VII! Viva a América! E morte ao mau governo!" Festa cívicaEmbora seja considerada a principal data do calendário cívico mexicano, a cerimônia do Grito de Dolores não possui um protocolo oficial. No entanto, ocorre em meio a um clima solene atrelado às disposições legais sobre o uso de símbolos nacionais, com base em uma forte tradição que se fortaleceu ao longo das décadas seguintes à Independência. Para lembrar esse fato, todos os anos, às 23h do dia 15 de setembro, os chefes do Poder Executivo nos diferentes níveis de governo — presidentes municipais, governadores e o Presidente da República — portando a bandeira nacional mexicana, se dirigem à população local reunida com o seguinte discurso:
Imediatamente em seguida, o orador toca um sino e agita a bandeira mexicana. Em seguida, todos os participantes cantam solenemente o Hino Nacional mexicano que antecedo uma eventual festividade popular. Na maioria das regiões do México, esta festividade solene é seguida de um desfile militar na manhã do dia seguinte, sendo a principal celebração do calendário cívico no México.[9] A ausência de um protocolo oficial permite que o orador inclua frases a gosto pessoal no Grito de Dolores. A maioria das variações costuma incluir menções a outras figuras heroicas da Independência, como Mariano Matamoros, Hermenegildo Galeana, Francisco Xavier Mina, Vicente Guerrero ou Guadalupe Victoria; e até mesmo figuras de outros períodos históricos, como os Niños Héroes, Benito Juárez, Francisco Madero e Emiliano Zapata. Em 2011, o então governador de Jalisco Emilio González Márquez mencionou os heróis locais José Antonio Torres, Pedro Moreno, Marcos Castellanos e Rita Pérez de Moreno.[10] É comum o governante particularizar o discurso do Grito de Dolores, acrescentando frases circunstanciais, o que nem sempre é bem visto e têm gerado polêmica. Por exemplo, o presidente Lázaro Cárdenas citou a "revolução social", Adolfo López Mateos a Revolução Mexicana, Luis Echeverría os "países do terceiro mundo" e Ernesto Zedillo citou "nossa liberdade, justiça, democracia e a unidade de todos os mexicanos". Entretanto, Vicente Fox foi o presidente mexicano que mais modificou o discurso ao distinguir gramaticalmente "mexicanos e mexicanas".[11] Festa nacionalA cerimônia anual do Grito de Dolores é encenada com maior relevância na Praça da Constituição da Cidade do México, onde é assistida por milhares de cidadãos mexicanos e transmitida nacional e internacionalmente. De modo geral, o presidente do México mantém o costume tradicional de aparecer à sacada principal do Palácio Nacional pouco antes das onze horas da noite de 15 de setembro. O mandatário, então, recebe a faixa presidencial e uma bandeira mexicana das mãos de cadetes do Exército Mexicano ali posicionados. Em seguida, o presidente se dirige ao público na praça com o tradicional discurso do Grito de Dolores.[12] É costumeiro que os presidentes mexicanos em seu quinto ano de governo realizem o ato histórico na cidade de Dolores Hidalgo. Tal tradição foi iniciada por Lázaro Cárdenas e mantida por todos os sucessores, com exceção de Carlos Salinas e Vicente Fox (que o fizeram no sexto ano de seus respectivos governos) e Ernesto Zedillo e Enrique Peña Nieto (que dispensaram a tradição e se mantiveram no Palácio Nacional). Uma exceção foi Felipe Calderón que realizou o Grito de Dolores tanto no Palácio Nacional quanto na cidade histórica de Dolores durante as comemorações do Bicentenário da Independência Mexicana em 2010.[13][14] Em 15 de setembro de 2020, durante o 210º aniversário da Independência, o Grito de Dolores foi realizado sem público devido à pandemia de COVID-19, contando apenas com membros do Exército mexicano e o presidente Andrés Manuel López Obrador.[15][16] Referências
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