Resultados do Grande Prêmio da França de Fórmula 1 realizado em Paul Ricard em 3 de julho de 1988.[2] Sétima etapa do campeonato, foi vencido pelo francês Alain Prost, que subiu ao pódio junto a Ayrton Senna numa dobradinha da McLaren-Honda, com Michele Alboreto em terceiro pela Ferrari.[3]
Resumo
Alain Prost em primeiro
O carro de Alain Prost sofreu um princípio de incêndio nos treinos de sexta-feira enquanto a válvula "pop-off" (limitadora do turbo) de Ayrton Senna abria antes da hora fazendo seu motor perder potência, mas nada que abalasse a McLaren, dona dos melhores tempos ao final da sessão, com o francês em primeiro e seu companheiro de equipe vindo a seguir,[4] situação onde a vantagem do time vermelho e branco de Woking segue inalterável, mesmo em seus piores momentos. Fora da pista repercutiu o anúncio da Renault como fornecedora de motores para a Williams durante três anos.[5]
No dia seguinte, Ayrton Senna foi à pista antes do rival e marcou o melhor tempo aos quatorze minutos de treino, obrigando Alain Prost a sair da inércia e superar a outra McLaren após quatro voltas, recolhendo-se aos boxes em seguida.[6] De volta ao asfalto, Senna foi traído quando a válvula limitadora do turbo abriu em plena reta Mistral sendo obrigado a abortar a volta e retornar aos boxes onde os mecânicos corrigiriam o defeito numa espera de quase vinte minutos e quando estava em seu melhor momento, o brasileiro foi atrapalhado quando René Arnoux diminuiu a velocidade da Ligier na Mistral por falha no motor e uma fileira de carros pôs por terra o esforço de Senna, novamente vítima do tráfego na tentativa seguinte.[6] Findo o combate, Alain Prost confirmou a décima sétima pole position de sua carreira[7] ao melhorar a marca obtida na véspera deixando Ayrton Senna na segunda posição a quase meio segundo de distância. Aliás, o piloto francês não largava na posição de honra desde o Grande Prêmio de Mônaco de 1986, prova na qual ele foi o vencedor em dobradinha com Keke Rosberg, então seu companheiro na McLaren.[8][9]
Ao comentar seu desempenho no treino, Alain Prost soou didáticoː "Se você está com o espírito de vencer uma corrida, conquistar a pole é apenas parte do conjunto, uma consequência natural. Estar em meu país não teve nada a ver com isso. Me empenhei tanto quanto nas outras corridas do ano, só que desta vez fui mais bem-sucedido",[10] disse ele ao marcar a 200ª (ducentésima) pole position da Goodyear,[1] embora a sua ânsia em subir nas zebras e derrapar nas curvas do Circuito de Paul Ricard fosse uma exceção ao seu estilo cauteloso de pilotar. Por outro lado, Ayrton Senna esperava quebrar o recorde compartilhado com Niki Lauda de seis pole positions consecutivas numa mesma temporada,[nota 1] "Como todo mundo, eu estava esperando esta sétima pole position", disse o vice-líder do certame. "Mas não deu e tudo bem. Seis já está bom".[10][nota 2] Simétrico, o grid francês terá quatro equipes nas quatro primeiras filasː McLaren com Alain Prost e Ayrton Senna, Ferrari com Gerhard Berger e Michele Alboreto, Benetton com Thierry Boutsen e Alessandro Nanini e Lotus com Nelson Piquet e Satoru Nakajima.[11] Em nono lugar parte Nigel Mansell, cuja Williams venceu na França em 1986 e 1987.[12][13] O vexame do dia ficou por conta de René Arnoux e Stefan Johansson, os quais não classificaram nenhuma Ligier para a etapa francesa pela primeira vez na história.[11]
Vitória diante da torcida
Mesmo agraciado com o primeiro lugar, Alain Prost não foi triunfalista em seu discurso para o domingo. "O lado da pista onde larga o segundo colocado está mais limpo".[14] Tão logo soube disso, Ayrton Senna discordou com fleumaː "Pode até ser que o meu lado esteja mais limpo, mas a primeira curva está a favor dele".[14] Na largada, o carro de Prost manteve a liderança enquanto Senna largou mal e teve de superar a Ferrari de Gerhard Berger no começo da prova a fim de manter-se em segundo lugar. Eliminados os contratempos, o dueto da McLaren acelerou e abriu uma diferença confortável em relação a Berger. Após quinze voltas os retardatários surgem pelo caminho e Prost viu a outra McLaren próxima de si,[15] mas um defeito no câmbio de Senna nos giros seguintes impedia o brasileiro de frear como deveria aumentando assim o risco de derrapagens. Tal fato mudaria a dinâmica da corrida, pois Senna foi aos boxes na volta trinta e quatro. Duas passagens depois foi a vez de Prost, mas quando ele voltou ao asfalto, a liderança estava nas mãos de Senna, cujo pit stop foi três segundos mais rápido.[16]
Sem jamais ter vencido na França,[17] Ayrton Senna não teria um domingo fácil em Paul Ricard, afinal sua vantagem em relação a Alain Prost esvaia-se na mesma proporção dos seus problemas de câmbio, obrigando-o a desgastar os freios para controlar a velocidade do carro nas curvas e na aproximação aos retardatários. Na volta quarenta e seis os pneus do bólido de Senna soltaram fumaça, tal a dificuldade em manter-se atrás da Lola de Yannick Dalmas antes de ultrapassá-la no fim da reta dos boxes. Onze giros mais tarde uma nova freada brusca prejudicou o brasileiro, mas o pior estava por virː quando viu os carros vermelho e branco atrás de si na volta sessenta e um, Nelson Piquet os deixou passar sem criar problemas e Alex Caffi agiu da mesma forma, mas quando Ayrton Senna saiu da reta Mistral encostou na Minardi de Pierluigi Martini e permaneceu atrás do piloto italiano na curva Signes temendo perder o carro caso "freasse muito em cima" da Minardi para superá-la e quando chegaram à curva Beausset o bólido de Alain Prost estava em melhores condições e assim o francês reassumiu a liderança.[15]
Posicionado atrás de seu maior rival, Ayrton Senna tentou utilizar os retardatários a seu favor, mas sempre que forçava seu ritmo o carro tornava-se ainda mais instável e além disso Alain Prost tinha uma vantagem nítida quando freava. Restou a Senna torcer por uma pane seca de Prost (após a corrida o brasileiro revelou que seu adversário tinha menos combustível no tanque) dado o ritmo forte imprimido pelo líder do campeonato.[18] A essa altura a cúpula da McLaren temia perder a corrida por falta de combustível nos dois carros, pois uma falha momentânea no envio de dados para os boxes deixou o time às cegas e para piorar, os pilotos desligaram o rádio interrompendo a comunicação com a equipe, agindo na base do "cada um por si".[19] Lívidos, Ron Dennis, Jo Ramírez e Creighton Brown torciam para que o pior não acontecesse e foi com grande alívio que eles celebraram mais uma dobradinha da McLaren graças à vitória de Alain Prost e o segundo lugar de Ayrton Senna,[3] com a Ferrari de Michele Alboreto cruzando a linha de chegada a mais de um minuto do vencedor enquanto, com uma volta de atraso, Gerhard Berger, com a outra Ferrari, Nelson Piquet, extraindo o máximo da Lotus, e Alessandro Nannini, da Benetton, completaram a zona de pontuação.[11] Da primeira a última volta, a terceira posição esteve ao alcance dos carros italianos e nisso Alboreto levou a melhor ao duelar com o austríaco, sendo que Berger esteve ao alcance de Piquet, mas a perda de uma das marchas deixou o tricampeão em quinto, felizmente o poderio do motor Honda garantiu-lhe o quinto lugar à frente de Nanini.[20]
Combativo durante todo o fim de semana, Alain Prost celebrou sua quarta vitória no campeonato e a liderança da competição com 54 pontos ante os 39 pontos de Ayrton Senna, contagem que mantém a McLaren no topo do mundial de construtores com 93 pontos.[1] O significado dos números, contudo, pode ser medido em atitudes, pois enquanto Prost agia como a euforia em pessoa, Senna espraiava resignação com o seu melhor resultado em solo francês, pois inquietava-se com a hipótese de não terminar a corrida e lamentava o peso de seus erros ao longo do anoː a desclassificação no Grande Prêmio do Brasil e a parvoíce que custou-lhe uma vitória certa no Grande Prêmio de Mônaco.[21][22] Em sentido inverso, Alain Prost subiu ao pódio nas sete provas realizadas até aqui exibindo 86% de aproveitamento na pontuação. Sob esse ponto de vista, o tricampeonato do francês é apenas uma questão de tempo.
Classificação da prova
Pré-classificação
Treinos oficiais
Corrida
Tabela do campeonato após a corrida
- Classificação do mundial de pilotos
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- Classificação do mundial de construtores
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- Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Entre 1981 e 1990 cada piloto podia computar onze resultados válidos por temporada não havendo descartes no mundial de construtores.
Notas
- ↑ Durante muitos anos o britânico Stirling Moss foi apontado como mais um detentor desse recorde, mas na verdade ele marcou apenas cinco pole positions consecutivas no intervalo entre o Grande Prêmio de Portugal de 1959 e o Grande Prêmio de Mônaco de 1960, pois o norte-americano Eddie Sachs foi pole na etapa seguinte, as 500 Milhas de Indianápolis de 1960. Parte do calendário da Fórmula 1 até aquele ano, a prova nos Estados Unidos antecedeu ao Grande Prêmio dos Países Baixos de 1960, onde Moss saiu em primeiro lugar no grid mais uma vez e nesse ponto um erro grosseiro dos mass media, sob o silêncio da FIA, ignorou a existência de Indianápolis, uma prova cujo renome ajudou a estabelecer a Fórmula 1 como suprassumo do automobilismo e evento de alcance mundial.
- ↑ Niki Lauda estabeleceu esse recorde a bordo da Ferrari entre o Grande Prêmio dos Países Baixos e o Grande Prêmio da Itália em 1974, já Ayrton Senna igualou tal número na McLaren numa contagem iniciada no Grande Prêmio do Brasil e encerrada no Grande Prêmio de Detroit, em 1988.
- ↑ a b Piercarlo Ghinzani foi excluído da prova ao ignorar as luzes vermelhas e a sinalização dos fiscais indicando a obrigatoriedade da pesagem de sua Zakspeed. Ele alegou não ter visto o alerta luminoso ou os gestos dos comissários, mesmo assim sua punição não foi revogada.
- ↑ Voltas na liderança: Alain Prost 56 voltas (1-36; 61-80), Ayrton Senna 24 voltas (37-60).
Referências
- ↑ a b c d e «1988 French GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 29 de dezembro de 2021
- ↑ a b c «1988 French Grand Prix - race result». Consultado em 12 de setembro de 2018
- ↑ a b Fred Sabino (2 de maio de 2020). «Senna x Prost: em 1988, rivais venceram 15 das 16 corridas e esmagaram concorrência na F1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 2 de maio de 2020
- ↑ Sérgio Rodrigues (2 de julho de 1988). «Prost supera Senna pela segunda vez no ano. Primeiro Caderno, Automobilismo – p. 18». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 31 de dezembro de 2021
- ↑ Luís Antonio Guerrero (2 de julho de 1988). «Prost faz o melhor tempo na França. Esportes, p. 27». acervo.estadao.com.br. O Estado de S. Paulo. Consultado em 31 de dezembro de 2021
- ↑ a b Milton Coelho da Graça (3 de julho de 1988). «Alain Prost impede recorde de Senna. Matutina – Esportes, p. 50». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 31 de dezembro de 2021
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- ↑ Mário Andrada e Silva (3 de julho de 1988). «Pela primeira vez, Prost larga na frente de Senna. Esportes, p. A-41». acervo.folha.com.br. Folha de S.Paulo. Consultado em 31 de dezembro de 2021
- ↑ Fred Sabino (24 de fevereiro de 2020). «Alain Prost faz 65 anos; relembre dez atuações marcantes do rival de Ayrton Senna e Nelson Piquet». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 24 de fevereiro de 2020
- ↑ a b Sérgio Rodrigues (3 de julho de 1988). «Prost desafia perigo e tira "pole" de Senna. Primeiro Caderno, Automobilismo – p. 42». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 31 de dezembro de 2021
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- ↑ a b Sérgio Rodrigues (3 de julho de 1988). «Francês não se vê em vantagem. Primeiro Caderno, Automobilismo – p. 42». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 31 de dezembro de 2021
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- ↑ Milton Coelho da Graça (4 de julho de 1988). «Problema no câmbio e muita tensão. Matutina – Esportes, p. 08». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 4 de janeiro de 2002
- ↑ Sérgio Rodrigues (4 de julho de 1988). «Prost derrota Senna na melhor corrida do ano. Esportes – p. 18». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 12 de setembro de 2018
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- ↑ Fred Sabino (9 de maio de 2020). «Até a consagradora vitória de 1991, Ayrton Senna enfrentou incômodo tabu no GP do Brasil». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 4 de janeiro de 2022
- ↑ Fred Sabino (15 de maio de 2018). «Há exatos 30 anos, em Mônaco, o maior erro da carreira de Ayrton Senna». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 4 de janeiro de 2022
- ↑ a b Milton Coelho da Graça (3 de julho de 1988). «Ghinzani é desclassificado. Matutina – Esportes, p. 50». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 31 de dezembro de 2021