Furacão Guillermo (1997) Nota: Se procura outros ciclones tropicais de mesmo nome, veja Furacão Guillermo.
O furacão Guillermo foi o nono furacão de maior intensidade alguma vez registrado no Pacífico, atingindo ventos máximos de 260 km/h e uma pressão barométrica de 919 milibares. Formado a partir de uma onda tropical em 30 de julho de 1997, cerca de 555 km ao sul de Salina Cruz, no México, o fenômeno seguiu uma trajetória sobre o oceano em sentido oeste-noroeste enquanto ganhava força. Alcançou o status de furacão em 1º de agosto e no dia seguinte sofreu uma nova e rápida intensificação. No final deste processo, a tempestade atingiu o seu pico de intensidade como um poderoso furacão de categoria 5, a mais elevada na escala de Saffir-Simpson. O fenômeno começou a se enfraquecer durante a tarde de 5 de agosto, e três dias depois foi rebaixado a tempestade tropical pelos especialistas do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos. Após cruzar a longitude 140º oeste, entrando assim na área de responsabilidade do Centro de Furacões do Pacífico Central, Guillermo perdeu ainda mais força. Assumiu status de depressão tropical, mas logo voltou a ser classificado como tempestade tropical. Em 15 de agosto, o sistema atingiu a latitude incomumente elevada de 41,8°N antes de fazer a transição para um ciclone extratropical. Seus remanescentes persistiram por mais de uma semana e seguiram caminho para o nordeste, e depois sul e leste, antes de serem absorvidos por um sistema extratropical maior na costa da Califórnia, em 24 de agosto. Apesar de sua longa trajetória, Guillermo nunca ameaçou qualquer região continental e por isso provocou poucos danos materiais. No entanto, devido à sua intensidade extrema, produziu grandes ondas através do Oceano Pacífico, afetando áreas litorâneas no México e no Havaí. Na costa oeste da América do Norte, três pessoas morreram afogadas devido às ressacas e ondas de mais de dois metros de altura; uma na Califórnia e duas no estado mexicano da Baixa Califórnia. Na época, Guillermo foi o segundo mais forte furacão do Pacífico já registrado, no entanto, foi superado posteriormente por outras sete tempestades, incluindo o furacão Linda naquela mesma temporada. Apesar das mortes, o fenômeno não foi considerado destrutivo o suficiente para justificar a retirada do nome "Guillermo" dentre os possíveis termos para batizar ciclones tropicais. História meteorológicaO furacão Guillermo se formou a partir de uma onda tropical que se afastou da costa oeste da África em 16 de julho de 1997. Inicialmente fraco e desorganizado, o sistema se moveu em direção ao continente americano, sobre o Oceano Atlântico, durante várias semanas. O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (em inglês: National Hurricane Center, NHC) afirmou que teve dificuldades para monitorar o fenômeno enquanto este percorria o Caribe, no entanto, os especialistas chegaram à conclusão, através de dados de satélite, que a onda cruzou a América Central e entrou no Oceano Pacífico entre os dias 27 e 28 de julho daquele ano. Uma vez no Pacífico, começaram a se formar áreas de convecção e de atividade de tempestade. Além disso, um sistema de baixa pressão desenvolveu-se no interior do fenômeno em 29 de julho. No dia seguinte, já estava organizado o suficiente para o NHC classificá-lo como "depressão tropical Nove-E"; neste momento situava-se a cerca de 555 km ao sul de Salina Cruz, no México. Devido a uma crista ao norte, a formação seguiu um ritmo constante em direção a oeste-noroeste, e este movimento persistiu até a primeira semana de agosto. Apenas um dia após ser classificado como depressão, houve uma nova intensificação e passou a se chamar "tempestade tropical Guillermo", tornando-se o sétimo ciclone a ser batizado durante a temporada de 1997.[1] Na tarde de 1º de agosto, começaram a se desenvolver no sistema um centro nublado e denso, uma área de alta de pressão e muitas nuvens espessas, levando o NHC a elevar a sua classificação de tempestade tropical para furacão de categoria 1, a mais baixa na escala de furacões de Saffir-Simpson. Ao longo do dia seguinte, o sistema desenvolveu gradualmente um olho em seu centro denso e nublado, fazendo com que ganhasse ainda mais força.[1] Perante os dados recolhidos durante o evento, acreditou-se que Guillermo tinha tido sua intensidade estabilizada brevemente no dia 2 de agosto;[2] no entanto, com estudos posteriores, o NHC descobriu que ocorreu um período de rápida e constante intensificação.[1] Diferente do que costuma acontecer com a maioria dos furacões no Pacífico Oriental, Guillermo foi investigado por um avião caçador de furacões durante a sua fase de rápida intensificação. A aeronave lançou vários dropsondes na tempestade para coletar dados meteorológicos.[3] Esta missão marcou a primeira vez que aviões desse tipo registraram dados de alta precisão sobre o vento em altitude de voo, muitos metros acima da superfície do oceano, no interior da parede do olho de um grande furacão.[4] Através de aferições feitas por radar, o tamanho do olho do furacão foi estimado em cerca de 20 km de diâmetro,[3] seguido de um decréscimo de 10 km devido ao fortalecimento do fenômeno.[5] O leve cisalhamento do vento em torno do furacão permitiu que ele se fortalecesse ainda mais.[3] Durante a noite de 2 de agosto, o sistema produziu ventos de 215 km/h, tornando-se uma tempestade de categoria 4. Durante a tarde de 3 de agosto, Guillermo quase alcançou a intensidade de categoria 5 ao atingir seu pico de intensidade até então, com ventos de 250 km/h, juntamente com uma pressão barométrica estimada em 925 mbar (hPa; 27,32 inHg). Mais tarde naquele dia, ocorreu um breve período de enfraquecimento antes de um novo reforço. Na noite de 4 de agosto, Guillermo finalmente intensificou-se ao nível de um furacão de categoria 5, atingindo ventos máximos de 260 km/h.[1] A análise das informações de satélite durante o evento apontou uma pressão mínima de 921 mbar (hPa; 27,2 inHg),[2] no entanto, estudos pós-tempestade indicaram que era mais provável que o valor da pressão fosse de apenas 919 mbar (hPa; 27,14 inHg).[1] No pico de intensidade, as temperaturas das nuvens no interior da parede do olho foram estimadas em cerca de -79°C. Usando a técnica de Dvorak, um método utilizado para estimar a intensidade de ciclones tropicais, obteve-se o valor de 7,6 para Guillermo. Isto indica que os ventos máximos na superfície podem ter sido extremamente fortes, chegando a 291 km/h. No entanto, este parâmetro não foi utilizado no relatório de intensidade e sim as médias de velocidade em 6 e 12 horas, que indicavam ventos de cerca de 260 km/h.[6] Depois de manter essa intensidade por cerca de 18 horas, o sistema começou a enfraquecer, já que agora se movia num ambiente menos favorável, com ventos de cisalhamento moderados.[1][3] A temperatura no interior das nuvens da parede do olho também começou a aumentar, o que indica que o furacão estava perdendo intensidade.[1] Nos dias seguintes, verificou-se um enfraquecimento constante do fenômeno, o que fez com que o sistema fosse rebaixado de seu status de grande furacão em 6 de agosto. Dois dias depois, Guillermo moveu-se sobre águas mais frias, perdeu força e foi reclassificado como tempestade tropical. Neste momento seus ventos sustentados caíram abaixo de 120 km/h. Durante este processo, a tempestade começou a se mover ao longo da borda ocidental da crista, o que fez com que sua direção mudasse de oeste-noroeste para noroeste. Em 9 de agosto, a tempestade cruzou a longitude 140º oeste, o que implica que a partir daí não era mais responsabilidade do NHC e sim do Centro de Furacões do Pacífico Central (em inglês: Central Pacific Hurricane Center, CPHC).[1] Não muito tempo depois de cruzar para a área de supervisão da CPHC, a tempestade se enfraqueceu para uma depressão tropical enquanto se movia sobre águas com temperatura de 24 °C.[7] Embora a maioria dos ciclones tropicais enfraqueça à medida que sobe de latitude, as águas quentes de 26 °C permitiram que Guillermo voltasse a se intensificar em uma tempestade tropical em 11 de agosto. Aos poucos, o sistema atingiu ventos de 100 km/h antes de sucumbir às águas mais frias mais ao norte. A tempestade enfraqueceu para uma depressão tropical, mais uma vez, em 15 de agosto, já bastante ao norte das ilhas havaianas.[7] Ainda naquele dia, Guillermo se transformou num ciclone extratropical na latitude incomumente elevada de 41,8°N,[1] a cerca de 1 370 km a sul-sudeste da cidade de Unalaska, no Alasca.[8] Nos dias seguintes, os restos do furacão viraram para nordeste em direção à costa do Pacífico da América do Norte. Em 19 de agosto, o sistema percorreu 925 km sobre a ilha de Vancouver, na Colúmbia Britânica, antes de seguir para o sul. Ao longo dos dias seguintes, o sistema estava significativamente mais lento e mudou a rota para o leste.[1] Em 20 de agosto, a umidade dos restos da tempestade tropical Ignacio foi arrastada para a parte oriental da circulação de Guillermo.[9] Em 24 de agosto, o fenômeno foi finalmente absorvido por um sistema extratropical maior enquanto estava situado a cerca de 555 km da costa norte da Califórnia.[1] Impacto
As ondas de 3,7 metros produzidas pelo furacão Guillermo atingiram diversas praias na costa do Pacífico do México. De Cabo San Lucas a San José del Cabo, a tempestade provocou ressacas no Mar de Cortez que afetaram vários resorts no litoral. Houve inundações de residências costeiras e turistas tiveram que deixar algumas das praias mais populares do Cabo. Dois deles morreram afogados depois de serem arrastados mar adentro.[11] Graças às previsões precisas, as autoridades da Califórnia conseguiram fechar as zonas balneares e alertar a tempo a população sobre as perigosas correntes de retorno.[12] Guillermo provocou ondas fortes nas praias do sul do estado, com altura média entre 1,8 e 2,4 m, passando de três metros em alguns locais,[13] o que ajudou os 500 surfistas que participavam de uma competição anual em Huntington Beach.[14] De acordo com o Los Angeles Times, algumas ondas atingiram alturas de 4,6 a 5,5 metros.[15] Os salva-vidas locais reportaram mais de 100 salvamentos.[13] O Condado de Orange foi também atingido por ondas variando de 1,8 a 3,7 m. Centenas de pessoas conseguiram ser resgatadas, mas as correntes de retorno foram responsáveis por três feridos e uma morte. Em 5 de agosto, cerca de um quilômetro ao norte do molhe de Huntington Beach, um homem de 19 anos foi arrastado. Seu corpo foi recuperado dias depois. Em 6 de agosto, um adolescente e uma menina ficaram feridos numa praia em Corona Del Mar, enquanto que uma jovem de 18 anos foi arrastada para a terra e enviada para o hospital com ferimentos no pescoço. Em Newport Beach, os salva-vidas fizeram quase 300 salvamentos somente em 5 e 6 de agosto.[16] Além dos transtornos causados na região costeira, o fenômeno trouxe uma onda de ar quente e úmido para o sul da Califórnia, elevando a temperatura em algumas áreas a um máximo de 43 °C.[17] Entre 15 e 17 de agosto, grandes ondas surgiram no momento em que Guillermo atingia seu pico de intensidade. Elas chegaram na costa leste do Havaí medindo até três metros de altura, mas não provocaram danos.[7] A pressão central do furacão Guillermo chegou ao valor mínimo de 919 milibares (hPa; 27,14 inHg), tornado-o o segundo mais intenso furacão do Pacífico já registrado até então, atrás apenas do Furacão Ava de 1973. No entanto, mais tarde naquela mesma temporada de 1997, o furacão Linda estabeleceu um novo recorde de intensidade, e nos anos subsequentes os furacões Kenna (2002), Ioke (2006), Rick (2009), Odile (2014), Marie (2014) e Patricia (2015) alcançaram pressões mais baixas que a de Guillermo, deixando-o em nono lugar nessa estatística. Guillermo permanece o mais forte furacão do Pacífico durante o mês de agosto. E como manteve-se organizado durante 16,5 dias, a partir de sua classificação como depressão tropical até sua transição para tempestade extratropical, é a sexta tempestade mais duradoura na bacia.[8] Referências
Bibliografia
Ligações externas
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