Fora do Eixo
O Circuito Fora do Eixo é uma rede de coletivos culturais surgida no final de 2005[1] que se destaca pelo seu contínuo crescimento, e que, em 2012, totalizava mais de 200 espaços culturais no Brasil, 2000 agentes culturais, 2800 parceiros e 20000 pessoas indiretamente, estando presente em 27 estados e mais 15 países da América Latina.[2] Iniciada por produtores e artistas de estados brasileiros fora do eixo Rio-São Paulo, inicialmente focava no intercâmbio solidário de atrações musicais e conhecimento sobre produção de eventos, mas cresceu para abranger outras formas de expressão como o audiovisual, o teatro e as artes visuais, ainda que a música siga tendo uma maior participação na rede.[1] Tem sido criticado por, ao mesmo tempo em que busca autonomia para seus processos, utilizar editais públicos e privados para suas realizações.[1] HistóriaO Circuito Fora do Eixo teve origem no compartilhamento de experiências entre coletivos de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR).[2] Em Cuiabá, quatro produtores culturais que frequentavam festivais de música independente e participavam ativamente de coletivos, Pablo Capilé, Talles Lopes, Daniel Zen e Marcelo Domingues, criaram o Espaço Cubo em 2002, um dos precursores do Fora do Eixo.[1] Seu planejamento era coletivo e suas atividades, colaborativas.[1] No fim deste ano, os participantes já tinham à sua disposição um estúdio de gravação, um núcleo de comunicação e divulgação de eventos, um ambiente para os shows e um selo de distribuição de discos.[1] O uso de mídias eletrônicas, permitindo a produção e difusão de trabalhos em rede, foi o que tornou isso possível, juntamente com a criação do cubo card.[1] Essa moeda complementar permitiu o regresso ao escambo, e, circulando, tornava as parcerias com empresas de diversos segmentos em uma cadeia produtiva funcional.[1] Passados mais de dez anos desde esse ocorrido, os gestores do Fora do Eixo fazem bem mais do quê apenas a manutenção das engrenagens: o Circuito, apropriando-se das novas tecnologias e reunindo diferentes coletivos culturais no país, expandiu suas atividades para além das artes cênicas, design, audiovisual e similares: criou a "rede das redes virtuais", fazendo com que surgisse uma reorganização social com a fundação das Casas Fora do Eixo a partir de 2011.[1] FestivaisAlguns festivais organizados pelos coletivos do circuito são o Festival Calango,[3] o Grito Rock, organizado simultaneamente em mais de cem cidades da América Latina,[4] e o Festival Fora do Eixo.[5] Casa Fora do EixoCom o crescimento da rede, surgiu a iniciativa de constituir espaços coletivos permanentes em alguns pontos estratégicos, chamados Casas Fora do Eixo. A primeira destas surgiu em São Paulo, marcando a investida do circuito em direção ao eixo.[6] Cada Casa Fora do Eixo contém um grupo de moradores que ali também trabalham nos projetos do Circuito, criando comunidades que vivenciam modos alternativos de organização social.[1] Os agentes dessa rede vêm ressignificando a realidade social atual através da produção de cultura, criando debates abertos a todos em favor de novas políticas públicas e, entre outras coisas, requisitando acesso à educação e democratização da mídia.[1] Imagens
OrganizaçãoAs Casas Fora do Eixo se organizam em torno de quatro núcleos principais: Universidade Fora do Eixo (sistema de ensino informal), Banco Fora do Eixo (sistema econômico autônomo), Partido Fora do Eixo e Mídia (sistema de comunicação exclusivo).[1] Estas são as frentes mediadoras.[1] As frentes de organização, por outro lado, são:[1]
De acordo com o Circuito, os quatro núcleos principais objetivam disputar o modelo de sociedade em que as pessoas vivem, apresentando propostas concretas de reorganização das estruturas sociais, políticas e econômicas.[1] Universidade LivreO compartilhamento e democratização das informações entre os coletivos gerou um acervo de metodologias de desenvolvimento de ações culturais, suscitando a criação então da UniFdE.[1] Essa organização, favorável ao livre saber do aprendizado informal propiciado pela cibercultura, conta com patrocínio da Petrobrás por meio do Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal.[1] A UniFdE tem, como uma de suas ações, a abertura de espaços a parceiros e produtores que queiram fazer parte do corpo docente, ou ter uma vivência em um dos campi, que podem ser temporários ou permanentes.[1] Há 150 campi permanentes, sendo eles as casas regionais e sub-regionais, além dos coletivos parceiros. Os mais de 300 temporários, por sua vez, são os eventos da rede.[1] PartidoO Partido trata-se de um laboratório de formulações de políticas de redes. Foi inspirado no Partido da Cultura (PCult), que preocupava-se com as políticas públicas para cultura.[1] O Partido Fora do Eixo foca-se em formalizar e consolidar as políticas de gestão do FdE e fortalecer o movimento junto à opinião pública.[1] BancoO Banco Fora do Eixo, através do Fora do Eixo Card, atua articulando a captação de recursos para os projetos das Casas e na gerência dos movimentos financeiros do Circuito.[1] Segundo o FdE, o Circuito movimentou, de 2011 para 2013, 30 moedas complementares, e, de 2006 a 2012, mais de 88 milhões em recursos, sendo 15% (13 milhões) em Reais e 85% (75 milhões) em moedas próprias.[1] CongressosAnualmente, os coletivos da rede reúnem-se para discutir seus projetos, reforçar os laços e pensar os rumos do circuito, num encontro chamado Congresso Fora do Eixo. O quarto encontro realizou-se em dezembro de 2011 e reuniu mais de mil artistas de coletivos de todos os estados brasileiros mais dez países da América Latina, ocupando o Auditório Ibirapuera e o Paço das Artes.[7] De acordo com o site do congresso, sua realização em 2011, além do investimento dos coletivos participantes da rede, contou com o apoio e parceria de diversas instituições, tanto privadas quanto estatais.[8]
PolêmicaA revista Carta Capital publicou uma reportagem baseada nas denúncias de ex-integrantes. Entre as denúncias destacam-se exploração do trabalho alheio, apropriação do trabalho individual, desprezo pela autoria individual, utilização indevida dos bens dos integrantes sem o devido ressarcimento, exploração sexual através de um sistema por eles definidos como Catar e Cooptar.[9] Pesquisadores acadêmicos analisaram as dinâmicas de cooptação interna[10], assim como as contradições no relacionamento com o cenário alternativo[11] e com o mercado musical.[12] Ver tambémLigações externas
Referências
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