Filmes de Guerra, Canções de Amor
Filmes de Guerra, Canções de Amor é o segundo álbum ao vivo da banda brasileira de rock Engenheiros do Hawaii. O disco foi gravado ao vivo nos dias 5, 6 e 7 de julho, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e no mesmo mês nos estúdios BMG, localizados na mesma cidade. O álbum foi lançado em outubro de 1993, pela gravadora BMG, através do selo RCA-Victor. Após três discos de estúdio autoproduzidos, a banda lançava um álbum ao vivo apontando em uma direção completamente oposta: saíam as guitarras distorcidas e os teclados e entravam as guitarras semiacústicas. Ainda, o disco conta com uma produção minimalista de Mayrton Bahia, que privilegiava o tratamento acústico dos arranjos. Embora o álbum mostre caminhos para a banda continuar, o grupo acabou implodindo ainda no início da turnê, em dezembro de 1993, quando pouquíssimos shows haviam sido feitos - afora uma pequena turnê internacional e participações em programas de TV. O álbum contou com a rotação de 5 videoclipes na MTV Brasil: "Mapas do Acaso", "Quanto Vale a Vida?", "Crônica", "Às Vezes Nunca" e "Realidade Virtual". Ainda assim, este disco não conseguiu repetir o sucesso dos álbuns anteriores, não atingindo a marca de 100 mil cópias vendidas no prazo de 1 ano de seu lançamento e não rendendo à banda a sua sexta certificação em sequência. AntecedentesApós o lançamento do último álbum de estúdio, Gessinger, Licks & Maltz, o clima de isolamento dos membros dentro da banda era cada vez mais patente. Além disso, a turnê aconteceu com um clima pesado em que a equipe estava sempre preocupada com o futuro do grupo e, ao mesmo tempo, procurava passar a impressão de que tudo ia bem, especialmente para Augusto que se sentia cada vez mais deixado de lado das questões e decisões principais. Como Humberto vivia cada vez mais um momento egoísta e solipsista, as parcerias haviam diminuído fortemente no último disco. Ainda, o baixista estava privilegiando arranjos para as músicas em que ele tocasse teclados ou piano - instrumentos que eram tocados, nos primeiros discos, por Augusto - o que diminuía bastante o espaço das guitarras que ficavam limitadas a solos e pequenos riffs.[1][2] Em meados de 1993, Humberto estava descansando em Gramado - o cantor sempre ia para lá passar as férias - quando viu uma edição importada da revista Guitar Player com uma grande reportagem sobre a aparelhagem do guitarrista Tuck Andress, do duo de jazz Tuck & Patti. O cantor e compositor ficou interessado e comprou alguns discos do duo para ouvir o som do guitarrista. Ouvindo aquele som, Gessinger encontrou a sonoridade que queria para o próximo álbum dos Engenheiros. Assim, saiu de madrugada atrás do telefone público mais próximo - ele não tinha telefone em casa - e ligou para Augusto falando sobre o guitarrista Tuck Andress. O guitarrista imediatamente arrumou sua mala e partiu para Nova Iorque, comprar a aparelhagem necessária. Licks foi para a mesma loja da Gibson em que comprava suas guitarras Steinberger e conversou bastante com o gerente, explicando a sonoridade que pretendia fazer e a necessidade de tocar com guitarras semiacústicas. Assim, ele comprou duas guitarras para Humberto - uma ES-335 e uma ES-350 - e outra para ele próprio - uma L-4 CES. Além disso, Augusto comprou uma série de microfones profissionais para captar o som das percussões, das vozes e do ambiente.[3][4] Gravação e produçãoOs ensaios para o disco foram realizados no apartamento de Maltz, em Ipanema. Contrário ao clima da turnê anterior, os ensaios correram muito bem: Humberto chegou até a filmar alguns ensaios com uma câmara em um tripé. O líder da banda chegou com o repertório e o projeto artístico já prontos: a ideia era ter um disco recheado de "lados B", com arranjos diferentes dos originais e passando por todos os discos da banda. Ainda, uma orquestra seria utilizada em algumas músicas. Nos ensaios, a canção "Manuel, o Audaz", de Toninho Horta, entrou no repertório. Quando escolheram o produtor, Mayrton Bahia, que havia trabalhado com a Legião Urbana, este, ao ver a canção de Horta no repertório, sugeriu que chamassem Wagner Tiso para fazer os arranjos e a regência da orquestra. Licks chegou a ir a um show de Horta atrás da autorização para gravar a canção - que foi concedida, mas ela acabou saindo do repertório do show na última hora, tendo sido tocada pelo grupo apenas em um programa Ensaio, da TV Cultura, naquele ano.[5][6] Os shows foram realizados na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, nos dias 5, 6 e 7 de julho. Em vez de vender ingressos, a banda optou por distribuir convites para os diversos fã-clubes do trio. Entretanto, o bom clima dos ensaios se perdeu completamente nos shows. Havia uma tensão no ar e uma fofoca entre a equipe de que o grupo estava com os dias contados: muitos estranhavam a presença da empresária da banda, Carmela Forsin, nas gravações. Augusto se sentia alijado das conversas sobre cenografia, luz e som, ficando concentrado em configurar o seu equipamento sozinho. As músicas que contavam com orquestra foram gravadas ao vivo, mas sem a presença de público. E outras duas canções foram gravadas nos estúdios BMG, também no Rio de Janeiro. Para a capa, foi tirada uma foto da porta do estúdio e acrescentado um "f-hole", muito utilizado em violinos e guitarras semiacústicas. Na contracapa, mais uma vez fotos dos integrantes separados, como no disco anterior. Ainda, há novamente um ouroboros - como no Várias Variáveis - contendo as engrenagens símbolos de todos os discos anteriores, o que parecia simbolizar mais uma vez o fim de um ciclo.[5][6] Resenha musical"Mapas do Acaso" abre o disco com uma seção da Orquestra Sinfônica Brasileira acompanhando Humberto e Augusto nas guitarras semiacústicas e Carlos na percussão. Inicialmente, Licks trabalha com o volume nas suas inserções durante a introdução. Quando a voz entra, ele passa a fazer contrapontos à guitarra de Gessinger e à orquestra até chegar ao solo, sempre acompanhando o sentimento da música que começa bem suave e vai crescendo até terminar com bastante emoção. Em seguida, "Além dos Outdoors" e "Pra Entender" iniciam a sessão com plateia. Ambas as músicas ganharam arranjos misturando blues e jazz, com a guitarra de Licks fazendo contrapontos o tempo todo e com o guitarrista fazendo "scats" imitando o som da guitarra enquanto sola. Também, Gessinger modificou as letras em alguns pontos para fazer com que as canções façam referências a acontecimentos da época. "Quanto Vale a Vida?" é a segunda inédita: ela estava presente na demo do disco anterior e, aqui, ganhou um arranjo de folk rock, acentuado pela harmônica de Licks. No final, Humberto ficou sozinho na guitarra enquanto Augusto e Carlos tocavam percussão e o cantor aproveitou para emendar trechos de "Piano Bar" e "Perfeita Simetria". "Crônica" inicia com um dedilhado feito por Humberto enquanto Augusto faz acordes utilizando-se de um efeito de eco e Carlos utiliza um apito. No final, Augusto provoca gritos na plateia com o seu solo.[7] Em seguida, "Pra Ser Sincero" é o primeiro sucesso que faz parte do repertório do disco, contando com um arranjo bem diferente, com Gessinger no acordeão, Licks na guitarra e Maltz na percussão. "Muros e Grades", a segunda parceria do disco, como a música anterior, conta com Humberto fazendo uma base em estilo bem bossa nova e Augusto utiliza um EBow na introdução e durante a música, produzindo linhas melódicas alternativas. No final, Augusto improvisa arpejos enquanto Humberto canta repetidamente: "é um absurdo". Na sequência, "Alívio Imediato" vem em continuidade com a música anterior. Enquanto Humberto toca a base, Augusto vai solando a música inteira. Também, o compositor fez alterações na letra para atualizar a música. "Ando Só" e "O Exército de um Homem Só I e II" (as duas partes da música são tocadas em sequência) retornam ao arranjo da primeira música só que com Humberto no piano de cauda. Estas duas músicas contam com a seção da orquestra também, mas com a adição de uma trompa. "Às Vezes Nunca" é a primeira canção gravada em estúdio. Ela começa com uma espécie de bossa nova, mas mais "jazzy", com Humberto na base e Augusto solando. Na segunda parte, a canção vira quase um xote e finaliza como um hard rock, com Licks na guitarra distorcida, Humberto no baixo e Carlos na bateria. Nesta música, há as participações de Wagner Tiso, na sanfona, e Paulo Moura, no saxofone. Finalizando o disco, "Realidade Virtual" foi a primeira música de trabalho. Ela é uma espécie de country rock com acentuação gospel e conta com coro dos Golden Boys e mais quatro vocalistas femininas. Ela foi composta no acordeão e, na gravação, Augusto toca guitarra de doze cordas, guitarra slide e violão; Humberto toca acordeão, teclado e baixo; e Maltz na bateria.[7] RecepçãoLançamentoO álbum foi lançado em outubro de 1993 pela gravadora BMG através do selo RCA-Victor. Foram lançados cinco videoclipes para promover o disco: "Mapas do Acaso", "Quanto Vale a Vida?", "Crônica", "Às Vezes Nunca" e "Realidade Virtual". Este álbum foi o segundo disco em formato acústico a ser lançado por uma banda de rock nacional, após Blackout, álbum de 1991 do cantor e compositor Marcelo Nova. Entretanto, foi o quarto a ser gravado, já que, além do citado disco do roqueiro baiano, o Barão Vermelho havia gravado o seu acústico pela MTV Brasil no mesmo ano de 1991 (e que só seria lançado em 2006) e a Legião Urbana havia feito o mesmo em 1992 (o disco seria lançado apenas em 1999). Este disco não contou com uma turnê de promoção - a banda apenas fez uma excursão por Japão e Estados Unidos, além de algumas datas para programas de TV - e nem atingiu vendagem suficiente para render mais um disco de ouro, devido à saída de Augusto Licks da banda, no final do ano.[4][8] Fortuna crítica
A recepção ao disco pela crítica especializada foi bem diversificada, embora tendendo do razoável ao positivo. Hélio Gomes, para a Folha de S.Paulo, critica fortemente o disco, especialmente a voz e as letras de Humberto, elogiando apenas, de passagem, o timbre da guitarra de Augusto.[9] Na Bizz, Alexandre Rossi procurou manter a tradição da revista de falar mal dos discos da banda, embora tenha escrito uma crítica curta e que teve dificuldades de se fundamentar, chegando a criticar, também, o trabalho de Wagner Tiso.[10] Celso Fonseca, em crítica para o Jornal da Tarde, elogia o disco por surpreender pela sonoridade e pelos arranjos, criticando apenas a voz - que classifica como "chata" - e a poesia de Gessinger - que classifica como "colegial e indigente". No final, dá uma cotação regular ao trabalho.[11] No Globo, Antônio Carlos Miguel chamou o disco de vazio e pretensioso, dando uma nota regular.[12] Fabian Chacur, no Diário Popular, elogiou bastante o disco, dizendo que ele simbolizava uma recuperação do grupo após os três últimos trabalhos autoproduzidos. Ele finaliza dizendo que o álbum deve ser "ouvido de cabo a rabo" e que é um "forte candidato ao prêmio de melhor LP de rock nacional de 93".[13] Luiz Paulo Santos, em crítica para o Zero Hora, elogia bastante o trabalho, especialmente os arranjos de Wagner Tiso.[14] Walter Sebastião, no Estado de Minas, chama o disco de o melhor trabalho do grupo, elogiando muito a sua brasilidade e a união de sonoridades interioranas brasileiras que pouco conversam na música popular: a mineira e a gaúcha.[15] Finalmente, Pedro Só, para a Revista General, elogia muito o álbum, embora veja defeitos nas duas canções gravadas em estúdio. O crítico elogia os arranjos das novas canções e a nova roupagem que as regravações ganharam, tecendo loas, também, às letras de Humberto.[16] FaixasLista de faixas dadas pelo Spotify[17] e pela obra citada.[18] Todas as faixas escritas e compostas por Humberto Gessinger, exceto onde indicado.
Álbum de vídeo
Filmes de Guerra, Canções de Amor é o primeiro álbum de vídeo da banda brasileira de rock Engenheiros do Hawaii. O disco foi gravado ao vivo nos dias 5, 6 e 7 de julho, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e no mesmo mês nos estúdios BMG, localizados na mesma cidade. O álbum foi lançado em novembro de 1993, pela gravadora BMG, através do selo BMG-Vídeo.[4][8] Resenha musicalApenas duas músicas que estavam no show não entraram no álbum ao vivo, entrando apenas no álbum de vídeo. Em "Refrão de Bolero", Humberto toca piano e Maltz percussão, enquanto Augusto faz contrapontos com a guitarra por toda a música. Na hora do solo, o público grita o nome dele repetidas vezes. "Todo Mundo É uma Ilha" foi tocada com Humberto e Carlos na percussão, com Augusto utilizando "slide", "fast tremolo"[nota 1] e "reverb". Ainda, outras três canções entraram no álbum de vídeo como videoclipes, embora não fizessem parte do setlist do show: "Parabólica", "Ninguém = Ninguém" e "Até Quando Você Vai Ficar?".[7] Relançamento em DVDO álbum de vídeo foi relançado em DVD no ano de 2002. O crítico de cinema Rubens Ewald Filho avaliou que o resultado do tratamento das imagens para lançamento no novo formato ficou muito ruim, deixando a imagem granulada. Segundo o jornalista, isto provavelmente se deveu ao fato de ter sido feita uma remasterização do VHS para o DVD, em vez de se utilizarem as filmagens originais.[19] FaixasLista de faixas dadas pela obra citada.[18] Todas as faixas escritas e compostas por Humberto Gessinger, exceto onde indicado.
CréditosCréditos dados pelas obras consultadas.[7] MúsicosA Banda
Convidados
Seção da Orquestra Sinfônica Brasileira
Ficha técnica
Notas
Referências
Bibliografia
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