Foi sucedido enquanto guarda-mor da Torre do Tombo por Damião de Góis, em virtude da sua prisão no castelo da Alcáçova de Lisboa[3], pela Inquisição, em 1548[7] e da respectivo auto-da-fé de 31 de Março de 1550, e depois por António Pinheiro, enquanto cronista-mor, em 1550[2], em virtude da sua condenação, pela Inquisição[8].
Vida
O cronista, vivendo na cidade da Guarda e exercendo o ofício pago pelo Almoxarifado dessa comarca, só passou a residir oficialmente na corte em 1536[3].
Era homem “envolto de carnes”, “maldisposto do baço” e visitado com frequência por “febres quartãs”, talvez de personalidade difícil e até de alguma sobranceria intelectual[3].
Aos cinquenta anos de idade detinha um vasto património pessoal distribuído pela sua terra natal, casas de morada sobre a Porta do Sol em Lisboa e, “Acima de Sacavém”, uma quintã do Alião em Unhos. Vivia, aliás, do seu ordenado com visível desafogo e algum alarde fidalgo, como o próprio revelação ao mencionar que caçava com dois cavalos e dois açores. Era letrado em grego e latim, conhecedor da língua hebraica e dono de uma vasta livraria com “Livros de humanidade”[3].
Processo da Inquisição
Fernão de Pina, posto que acusado de se confessar poucas vezes e de descrer no Santíssimo Sacramento, nunca deixou de cumprir as suas obrigações religiosas[3].
Mesmo assim, foi acusado de heresia e sujeito a um processo que ditou o seu afastamento do cargo de cronista-mor, onde seria sucedido por António Pinheiro.
Uma longa desatenção por parte dos estudiosos tem caracterizado o processo inquisitorial contra Fernão de Pina, cronista-mor do reino, e guarda-mor do arquivo da Torre do Tombo desde 1523, cargo já ocupado pelo seu pai, Rui de Pina. Julgado culpado de nutrir crenças e «dizer palavras outras muitas sospectas na fé escandalosas», Pina abjurou de forma privada à frente dos inquisidores de Lisboa a 31 de Março de 1550.
O acesso privilegiado à documentação faziam dele um «homem perigoso»:[8]
Em data imprecisa desse ano de 1546 (certamente depois da Páscoa) a Inquisição procedeu à prisão de Pina. Tratava-se de «pessoa poderosa», conforme escreveram os juízes nas actas. Apesar disso, ou talvez mesmo por isso, o cronista régio sofreu um longo abandono.
Assim, já antes tinha sido afastado do cargo de guarda-mor da Torre do Tombo, tendo sido apontado em seu lugar Damião de Góis:[8]
O seu destino já estava escrito antes da sentença. Demonstra-o, de igual modo a atribuição em 1548 do cargo de guarda-mor da Torre do Tombo a Damião de Góis «em quamto Fernão de Pina não for livre dos casos per que ora he preso e acusado».
Dados genealógicos
Filho de Rui de Pina e de Catarina Vaz de Gouveia, filha do Dr. Pedro de Gouveia do Conselho do Rei D. Manuel I e seu Desembargador do Paço.
↑ abcMarcocci, Giuseppe (2012). A consciência de um império: Portugal e o seu mundo (Séc. XV- Séc. XVI). [S.l.]: Imprensa da Universidade de Coimbra. ISBN978-989-26-0132-8