O título simbólico de Campeão do Gelo foi um episódio na história do Atlético em que o time mineiro jogou uma série de partidas amistosas na Europa, tornando-se o primeiro clube de Minas Gerais e um dos primeiros do Brasil a competir no continente europeu.
Os resultados do Atlético, muitos dos quais obtidos sob condições climáticas adversas, foram vistos pela mídia esportiva nacional da época como uma conquista histórica para o futebol brasileiro, tendo em vista o trauma do Maracanazo (a partida que decidiu a Copa de 1950 a favor dos uruguaios, deixando os brasileiros desolados).
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A campanha que o Atlético Mineiro acaba de empreender em gramados europeus, há de ficar, sem dúvida, na história como mais um feito do futebol brasileiro. Disputar dez partidas em países e em cidades diferentes, e sob climas inegavelmente adversos, com um resultado de seis vitórias e dois empates, constitui um feito glorioso. Um acontecimento digno de figurar nos arquivos de glórias do feito dos nossos craques.
Em 1950, uma comissão formada sob a chancela da Federação Alemã (DFB) viajou ao Brasil para escolher um clube de futebol para realizar uma série de amistosos na Alemanha contra algumas das principais esquipes daquele país. O trauma do Maracanazo e a proximidade com a Segunda Guerra Mundial (em que Brasil e Alemanha estiveram em lados opostos) pode ter feito com que os clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo — historicamente os centros futebolísticos do país — recusassem a participação nessa turnê abrindo espaço para um convite oficial ao Atlético, que por aquele tempo possuía um grande plantel dirigido pelo técnico Ricardo Díez e que contava com craques de renome como Kafunga,[2]Barbatana,[3] Zé do Monte,[4]Nívio Gabrich, Alvinho, Vaguinho e Lucas Miranda.[5]
A delegação atleticana chegou em Frankfurt em 27 de outubro onde foi recebida pela mídia esportiva alemã com entusiasmo, uma vez que o time mineiro era o primeiro clube brasileiro a jogar naquele país.[6] O Atlético seguiu para Munique onde realizou sua primeira partida em solo europeu: o time brasileiro enfrentou o TSV 1860 München da Oberliga Süd, e venceu pelo placar de 4x3 diante de 35.000 espectadores no Grünwalder Stadion.[6]Hamburgo foi a segunda parada, onde jogou contra o Hamburger SV da Oberliga Nord, que tinha em seu time nomes como Fritz Laband e Josef Posipal: o jogo terminou 4x0 para o Atlético diante de 20.000 pessoas no Rothenbaum, foi a primeira vez que o time alemão perdeu em casa para uma equipe estrangeira.[6]
Apenas 24 horas depois do jogo em Hamburgo e o time viajou para Bremen para jogar no mesmo dia contra o Werder Bremen, e com a presença de 26.000 pessoas no Weserstadion o Atlético foi derrotado por 3x1.[6] Após uma semana de repouso, a equipe viajou para Gelsenkirchen para enfrentar o FC Schalke 04 de Bernhard Klodt, Hermann Eppenhoff e Paul Matzkowski, entre outros grandes jogadores. O jogo também marcou a despedida de Ernst Kuzorra e Fritz Szepan. Aos vinte minutos do primeiro tempo a partida foi paralisada para que essas duas lendas do futebol alemão fossem homenageadas pelos mais de 30.000 torcedores presentes no Glückauf-Kampfbahn.[7] Reiniciada a partida o Atlético venceu por 3x1.[6] O time partiu para Viena e enfrentou o Rapid Viena diante de 60.000 pessoas no Pfarrwiese, a partida terminou 3x0 a favor dos austríacos.[8] Cabe ressaltar que o clube vienense possuía a base da Seleção Austríaca, em outras palavras, um grande time com nomes como Walter Zeman, Gerhard Hanappi, Alfred Körner, Robert Körner, Robert Dienst, Erich Probst e Ernst Happel.
Nota: Bandeiras indicam equipe nacional, conforme definido pelas regras de elegibilidade da FIFA. Os jogadores podem ter mais de uma nacionalidade não-FIFA.