Estação Ferroviária de Alcácer do Sal

Alcácer do Sal
Estação Ferroviária de Alcácer do Sal
frontão da estação de Alcácer do Sal:
«Caminhos de Ferro do Sul e Sueste»

Identificação: 92338 ASA (Alcácer)[1]
Denominação: Estação de Concentração de Alcácer do Sal
Administração: Infraestruturas de Portugal (sul)[2]
Classificação: EC (estação de concentração)[1]
Tipologia: (0,97 €)[3]
Linha(s): Linha do Sul (PK 78+247)
Altitude: 14 m (a.n.m)
Coordenadas: 38°22′22.34″N × 8°31′29.8″W

(=+38.37287;−8.52494)

Mapa

(mais mapas: 38° 22′ 22,34″ N, 8° 31′ 29,8″ O; IGeoE)
Município: Alcácer do SalAlcácer do Sal
Serviços: mercadorias
Equipamentos: Acesso para pessoas de mobilidade reduzida
Inauguração: 25 de maio de 1920 (há 104 anos)
Encerramento: 1 de dezembro de 2011 (há 13 anos) (passageiros)
Website:
 Nota: Para outras interfaces ferroviárias com nomes semelhantes ou relacionados, veja Estação Ferroviária de Carregal do Sal.

A Estação Ferroviária de Alcácer do Sal é uma interface encerrada da Linha do Sul, que servia a localidade de Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal, em Portugal. Entrou ao serviço em 25 de Maio de 1920[4] e foi encerrada aos serviços de passageiros no dia 1 de Dezembro de 2011.[5]

Descrição

Vista de rua da estação.

Localização e acessos

A gare está situada no limite ocidental da malha urbana de Alcácer do Sal, com acesso pelo Largo da Estação Ferroviária, distando pouco menos de um quilómetro da Escola Secundária local[6] e a pouco menos de dois do centro da cidade (Turismo).[7]

Infraestrutura

O edifício de passageiros situa-se do lado sulsudoeste da via da Linha do Sul (lado direito do sentido ascendente, para Funcheira).[8][9] Esta interface apresenta duas vias de circulação, identificadas como I e II, com comprimentos de 602 e 563 m, respetivamente, e acessíveis por plataformas de 127 e 120 m de comprimento e alturas de 55 e 50 cm; existem ainda três vias secundárias, não eletrificadas, numeradas de III a V, com comprimentos entre 217 e 81 m.[2]

História

Vista da estação em 2009, com a torre de água.
Ver artigo principal: Linha do Sul § História

Antecedentes

Até cerca de meados do século XIX, o transporte rodoviário em Portugal foi muito deficiente, sendo preferencialmente utilizados os transportes marítimo e fluvial, quando era possível.[10] Até ao desenvolvimento da rede ferroviária no Sul do país, Alcácer do Sal era um dos principais portos na região e um ponto de convergência das estradas, sendo o local onde se fazia o transbordo de passageiros e mercadorias para os barcos com destino e origem em Lisboa.[10][11] Por exemplo, a chamada Rota do Trigo ligava Évora a Alcácer do Sal, sendo o transporte de cereais feito por carros a tracção animal, que no entanto eram muito lentos.[10] Em 1844, o Ministro da Fazenda, João Gualberto de Oliveira, sugeriu que o traçado por terra deste eixo comercial, desde o Alentejo até Alcácer, fosse substituído por um caminho de ferro,[10] defendendo que seria a única linha em Portugal que poderia ter algum lucro.[12][13] Em 1894, existia uma carreira de diligências desde Santiago do Cacém até à Estação de Poceirão, que passava por Alcácer do Sal.[14]

Planeamento, construção e inauguração

Comboio Alfa Pendular na Estação de Alcácer, em 2008.

No Plano da Rêde ao Sul do Tejo, documento de 6 de Outubro de 1898 que devia organizar todos as linhas férreas já existentes ou planeadas nesta região, estava prevista a construção da Linha do Vale do Sado, com uma estação para servir Alcácer do Sal.[15] Nessa altura, foi organizado um inquérito administrativo, para a apreciação do público sobre os linhas cuja construção estava planeada no âmbito dos Planos das Redes Complementares ao Norte do Mondego e Sul do Tejo, incluindo, estava a Linha do Valle do Sado, ligando Setúbal a Garvão, passando por Grândola e Alcácer do Sal.[16] Em Junho de 1918, previa-se que a linha entre Grândola e Alcácer do Sal seria aberto ainda nesse ano.[17] Com efeito, este lanço abriu no dia 14 de Julho de 1918, tendo a primeira estação a servir Alcácer do Sal sido um edifício provisório na margem Sul do Rio Sado,[4] denominado de Alcácer - Sul.[18]

O concurso público para a estação definitiva foi aberto em 16 de Janeiro de 1917, pelos Caminhos de Ferro do Estado,[19] tendo sido inaugurada em 25 de Maio de 1920, junto com o troço até Setúbal.[4] Porém, a ligação entre as duas margens do Sado era feita através de uma ponte provisória, com grandes restrições à passagem dos comboios, tendo a ponte definitiva sido inaugurada em 1 de Junho de 1925, completando a Linha do Sado.[4][20]

Estação de Alcácer durante a noite, em 2010

Ligações propostas a Vendas Novas e Casa Branca

No Plano Geral da Rede Ferroviária, publicado pelo Decreto n.º 18.190, de 28 de Março de 1930, estavam previstas duas novas linhas férreas até Alcácer do Sal; a primeira, denominada de Transversal de Santa Susana, devia começar em Casa Branca, e servir as minas de carvão de Santa Susana ao longo do percurso.[21][22][23] A segunda linha, com o nome de Transversal de Vendas Novas, seria uma continuação da Linha de Vendas Novas até Alcácer do Sal.[23] Este caminho de ferro, proposto em 1928 pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, possibilitaria a ligação directa entre o Algarve e a Linha do Norte.[21]

Estação de Alcácer do Sal em 2008, mostrando à esquerda os antigos armazéns de cereais

Expansão da estação

Em finais de 1926, a comissão administrativa da Câmara Municipal de Alcácer do Sal pediu ao Conselho de Administração dos Caminhos de Ferro do Estado para que esta lhe entregasse a estrada de acesso à estação.[24]

Em 1933, a Comissão Administrativa do Fundo Especial de Caminhos de Ferro aprovou a realização de obras para o abastecimento de água da estação,[25] e a instalação de uma báscula de 40 t.[26] Um diploma do Ministério das Obras Públicas e Comunicações, publicado no Diário do Governo n.º 270, II Série, de 18 de Novembro de 1937, ordenou que o condutor Caetano Alberto da Cruz Jorge Alberto, da Direcção-Geral de Caminhos de Ferro, outorgasse em nome do ministro na escritura de venda de uma parcela de terreno no interior da estação de Alcácer do Sal, para ser utilizada pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo.[27]

Século XXI

Estação de Alcácer do Sal, em 2001.

Abertura da Variante de Alcácer

Em 19 de Dezembro de 2010, foi inaugurada a Variante de Alcácer,[28] um desvio no traçado da Linha do Sul que melhorou as ligações ferroviárias ao Porto de Sines e permitiu um aumento da velocidade dos comboios.[29] Este troço já tinha sido aberto provisoriamente em 28 de Outubro,[30] devido a um descarrilamento que provocou a interrupção do tráfego em Alcácer do Sal.[28] Os comboios de passageiros regionais e Intercidades iriam continuar a utilizar o antigo troço, de forma a servir as mesmas paragens, incluindo a estação de Alcácer do Sal.[30]

Em Janeiro de 2011, a estação ferroviária de Alcácer do Sal dispunha de duas vias de circulação, com 621 e 586 m de comprimento; as plataformas tinham ambas 120 m de extensão, e apresentavam 40 e 35 cm de altura[31] — valores mais tarde[quando?] ajustados para os atuais.[2]

Comboio Intercidades na Estação de Alcácer, em 2010

Suspensão dos serviços

Em 1 de Dezembro de 2011, a empresa Comboios de Portugal suspendeu os comboios Regionais entre Setúbal e Tunes, e retirou as paragens dos comboios Intercidades em Alcácer do Sal, alegando que esta medida iria «gerar condições de atractividade e sustentabilidade do transporte ferroviário».[32] Desta forma, a estação de Alcácer do Sal deixou de ser utilizada por serviços de passageiros, forçando os habitantes a se deslocar até às estações de Grândola ou Setúbal para ter acesso aos comboios,[5] tendo sido uma de várias a ficar sem comboios de passageiros no distrito de Setúbal, num quadro de concentração dos serviços que a operadora Comboios de Portugal iniciou após a modernização da Linha do Sul.[32]

Esta medida foi criticada pela oposição, que a apontou como um exemplo da falta de interesse por falta do governo no desenvolvimento da região.[32] Com efeito, em Janeiro de 2012 o Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República um projecto de resolução para que fossem repostos os serviços regionais, e anuladas as alterações no percurso dos comboios Intercidades.[32] A Câmara Municipal de Alcácer do Sal também protestou contra esta decisão, tendo enviado em Março um baixo-assinado ao ao secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, exigindo que a cidade voltasse a ser servida pelos comboios.[5][33] Nesta altura, a estação tinha sofrido recentemente obras de remodelação e modernização, que tinham custado um valor superior a 12 milhões de Euros.[34]

Estação de Alcácer do Sal, em 2011.

Ver também

Referências

  1. a b (I.E.T. 50/56) 56.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50 : Rede Ferroviária Nacional. IMTT, 2011.10.20
  2. a b c Diretório da Rede 2025. I.P.: 2023.11.29
  3. Directório da Rede 2012. Refer: 2011.01.06
  4. a b c d TORRES, Carlos Manitto (16 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1684). Lisboa. p. 91-95. Consultado em 4 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  5. a b c «Serviço ferroviário de passageiros - Município de Alcácer do Sal entrega abaixo-assinado». Diário Online. 6 de Março de 2012. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015. Arquivado do original em 24 de Setembro de 2015 
  6. «Cálculo de distância pedonal (38,37273; −8,52513 → 38,37294; −8,51790)». OpenStreetMaps / GraphHopper. Consultado em 21 de março de 2024 : 986 m: desnível acumulado de +37−5 m
  7. «Cálculo de distância pedonal (38,37273; −8,52513 → 38,37033; −8,50635)». OpenStreetMaps / GraphHopper. Consultado em 21 de março de 2024 : 1860 m: desnível acumulado de +14−33 m
  8. (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
  9. Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1988), C.P.: Direcção de Transportes: Serviço de Regulamentação e Segurança, 1988
  10. a b c d SERRÃO, 1985:447-449
  11. SANTOS, 1995:47-48
  12. AGUILAR, Busquets de (1 de Junho de 1949). «A Evolução História dos Transportes Terrestres em Portugal» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 62 (1475). Lisboa. p. 383-393. Consultado em 23 de Outubro de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  13. ABRAGÃO, Frederico (1 de Janeiro de 1953). «A ligação de Lisboa com o Porto por Caminho de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 65 (1561). Lisboa. p. 393-400. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  14. SILVA, 1992:164
  15. SOUSA, José Fernando de (16 de Outubro de 1903). «A Linha do Sado» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (380). Lisboa. p. 345. Consultado em 16 de Julho de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  16. «Há 50 anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 61 (1466). Lisboa. 16 de Janeiro de 1949. p. 112. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  17. «Efemérides» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1232). Lisboa. 16 de Abril de 1939. p. 221-223. Consultado em 4 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  18. «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 69 (1652). Lisboa. 16 de Outubro de 1956. p. 528-530. Consultado em 4 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  19. «Arrematações» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 30 (698). Lisboa. 16 de Janeiro de 1917. p. 31. Consultado em 4 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  20. REIS et al, 2006:62
  21. a b «Efemérides» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1235). Lisboa. 1 de Junho de 1939. p. 281-284. Consultado em 4 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  22. «Os caminhos de ferro e a camionagem» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 52 (1249). Lisboa. 1 de Janeiro de 1940. p. 33-34. Consultado em 26 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  23. a b PORTUGAL. Decreto n.º 18.190, de 28 de Março de 1930. Ministério do Comércio e Comunicações - Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos - Secção de Expediente, Publicado no Diário do Governo n.º 83, Série I, de 10 de Abril de 1930.
  24. «Linhas Portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 39 (934). Lisboa. 16 de Novembro de 1926. p. 335. Consultado em 16 de Julho de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  25. «Direcção Geral de Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1102). Lisboa. 16 de Novembro de 1933. p. 602. Consultado em 16 de Julho de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  26. «Direcção Geral de Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1105). Lisboa. 1 de Janeiro de 1934. p. 29. Consultado em 16 de Julho de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  27. «Parte Oficial» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1199). Lisboa. 1 de Dezembro de 1937. p. 568. Consultado em 1 de Setembro de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  28. a b CIPRIANO, Carlos (21 de Dezembro de 2010). «Comboio vazio para inauguração de variante ferroviária». Público. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015 
  29. PALMA - FERREIRA, J. F. (17 de Setembro de 2010). «Nova ponte ferroviária no Sado aproxima Sines e Madrid». Expresso. Consultado em 9 de Maio de 2021 
  30. a b LINO, Mário (17 de Novembro de 2010). «Alfa Pendular mais rápido para o Algarve». Expresso. Consultado em 9 de Maio de 2021 
  31. «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2012. Rede Ferroviária Nacional. 6 de Janeiro de 2011. p. 71-85 
  32. a b c d «BE exige reposição das paragens do Intercidades em Setúbal e Alcácer do Sal». Rostos. 5 de Janeiro de 2012. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015 
  33. «Município de Alcácer do Sal Resiste na luta pelo serviço ferroviário de passageiros». Rostos. 9 de Abril de 2012. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015 
  34. «Comboios intercidades em Setúbal e Alcácer do Sal: ação pública de protesto». Rostos. 9 de Fevereiro de 2012. Consultado em 10 de Fevereiro de 2015 

Bibliografia

  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP - Comboios de Portugal e Público - Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
  • SANTOS, Luís Filipe Rosa (1995). Os Acessos a Faro e aos Concelhos Limítrofes na Segunda Metade do Séc. XIX. Faro: Câmara Municipal de Faro. 213 páginas 
  • SERRÃO, Joel (1985). Dicionário de História de Portugal. Volume 1. Porto: Livraria Figueirinhas. 520 páginas 
  • SILVA, Manuel João da (1992). Toponímia das Ruas de Santiago do Cacém. Breve História. Santiago do Cacém: Câmara Municipal. 207 páginas. ISBN 972-95159-4-8 

Leitura recomendada

  • MEDEIROS, Carlos Russo; et al. (2010). Variante de Alcácer. Lisboa: Rede Ferroviária Nacional. 191 páginas. ISBN 978-972-98557-8-8 
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Ligações externas

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