Espelho nos Olhos
Espelho nos Olhos é o álbum de estreia da Banda Azul, lançado em 31 de maio de 1988. Foi produzido por Janires, vocalista e principal compositor do grupo e ex-integrante do Rebanhão. É o único disco da banda com a participação do cantor, que morreria em janeiro de 1988 num acidente automobilístico, meses depois das gravações do registro e, assim, também foi o mais conhecido trabalho do conjunto. O disco contém a forte influência criativa de Janires no repertório, autor de quase todas as faixas, exceto "Amigo Poeta", de autoria do tecladista Guilherme Praxedes. Musicalmente, mescla gêneros como o rock progressivo, pop rock e art rock com outros estilos, notadamente mais regionais, como o baião em "Baião Eletrônico" e a música popular brasileira em "Veleiro". Toda a parte de gravação foi realizada sem a participação de músicos externos. Espelho nos Olhos é considerado um dos clássicos do rock cristão no Brasil, numa época em que o gênero era altamente incipiente no país.[2][3] Foi o álbum que registrou a maior parte das últimas composições de Janires. Está presente em várias listas religiosas de melhores álbuns: Em 2015 foi considerado o 12º maior álbum da música cristã brasileira, em uma publicação encabeçada pelo portal Super Gospel,[4][5] e em 2019 foi eleito o 5º melhor álbum da década de 1980 pelo mesmo veículo.[6] Antecedentes e gravaçãoO músico Janires Magalhães Manso, fundador do grupo Rebanhão deixa-o com alguns discos e obras produzidas. Do Rio de Janeiro, muda-se para Belo Horizonte com seu violão com objetivo evangelístico,[7] onde fez parte da Mocidade para Cristo, pregando e cantando nos eventos, além de apresentar um programa na rádio, chamado Ponto de Encontro, tendo lançado um LP de nome homônimo em carreira solo e dois compactos com o Quarteto Vida.[8] Na mesma época, Moisés di Souza, Dudu Batera e Guilherme Praxedes, após participarem e ganharem um festival de música, o Festsêmani em 1986, passaram a frequentar o "clubão" da Mocidade para Cristo e conheceram Dudu Guita, que se tornou o guitarrista da banda. Finalmente, conheceram Janires e este tornou-se o vocalista do grupo, que na época ainda se chamava MPC.[9] Durante um acampamento realizado pela MPC na cidade de Passos em novembro de 1986, com Moisés di Souza, Dudu Guita, Dudu Batera e Guilherme Praxedes surgiam as primeiras canções do primeiro disco da Banda Azul. Entusiasmados, seus membros se reuniam cerca de três a quatro vezes por semana para ensaiar, definir arranjos, unir e comentar as letras que vinham surgindo. Segundo um dos membros do grupo, a evolução musical a cada ensaio era notável.[8] Em abril de 1987, o grupo iria fazer seu primeiro show, indo para o Rio de Janeiro. No Terminal Rodoviário de Belo Horizonte, Janires e Moisés comiam num restaurante, quando os dois olharam para uma o rótulo de uma bebida europeia, intitulada Banda Azul. Aquele nome agradou de Janires, que disse a Moisés que esse deveria ser o nome da banda.[8] Ainda durante a viagem, os dois relembravam e riam do ocorrido na rodoviária, pois achavam o nome estranho. Ao usar o nome MPC, a situação era inviável, pois a cada evento seus membros tinham que explicar a sigla, e pior, tal nome pertencia à instituição religiosa a qual eram ligados. O primeiro evento com o nome "Banda Azul" foi realizado na capital fluminense, onde a banda se apresentou ao lado de Sinal de Alerta, Paulo César Graça e Paz e Cristina Mel. O produtor do evento ainda perguntou à banda o por quê daquele nome, e Janires respondeu: "É que entre nós não existe racismo. É azul claro pra um lado, e azul escuro pra outro."[8] A banda Azul começava a divulgar "Canção das Estrelas", e com o Som do Céu, um evento que reuniu quinze mil jovens na Praça do Papa em Belo Horizonte, o grupo se tornava notório na cidade e aos poucos no Brasil. A banda já recebia uma série de convites que enchiam a agenda do conjunto.[8] Segundo o cantor Carlinhos Veiga, só em Goiânia a Banda Azul havia se apresentado seis vezes naquele ano.[10] Com a popularidade da banda, surgiu então a vontade de gravar o primeiro trabalho do conjunto. Ao voltar de uma viagem nos Estados Unidos, Janires estava feliz e se sentia inspirado para um novo projeto, e desde então o grupo se dedicou à gravação de Espelho nos Olhos.[8] Em julho daquele ano, a banda estava no Rio de Janeiro, gravando a obra no Estúdio 464.[10] Segundo Moisés di Souza, com os cuidados e o carinho em cada detalhe do disco já era possível prever a qualidade do trabalho.[8] Antes da finalização do projeto, na madrugada de 11 de janeiro de 1988, em Três Rios, município do Rio de Janeiro, o ônibus em que Janires estava se envolve em um acidente. O cantor estava partindo da capital fluminense em direção a um culto, e morreu. Quase mil pessoas estavam esperando por sua chegada na MPC, mas Janires não apareceu. O cantor também não teve a oportunidade de ter em suas mãos seu último disco finalizado e sequer conferir o projeto gráfico. Com sua morte, Moisés di Souza declarou que Espelho nos Olhos "já era histórico antes mesmo de ser lançado".[8][10][9] Janires foi sepultado em Brasília, no Cemitério Campo da Esperança, onde todos os integrantes da Banda Azul estiveram reunidos com familiares de Janires e outros músicos, como Carlinhos Felix, na época vocalista do Rebanhão. Sobre a repercussão da morte do músico, Carlinhos Veiga declarou:[8][10]
Estilo e influências musicais
—Moisés di Souza, 2012.[9] Em seus trabalhos anteriores, Janires apresentou, como compositor, um material altamente poético e que musicalmente deriva de vários gêneros do rock. O mesmo aconteceu com o álbum de estreia da Banda Azul. Segundo o baixista da banda, a união criativa e as influências musicais de cada um gerou um trabalho rico, que viria a agradar muito bem a juventude da época.[9][8] A faixa-título, "Espelho nos Olhos" é uma canção autobiográfica de Janires, versando sobre seus sonhos, sua conversão religiosa, suas viagens pelo país e os amigos que fazia. Um dos versos da composição dá a entender que o músico sabia que em breve morreria. A única canção cantada e escrita por Guilherme Praxedes, "Amigo Poeta", é uma homenagem ao vocalista da banda. Em "Veleiro" e "Meninos da Rua", a poesia encontra-se forte, principalmente com as influências da música popular brasileira na primeira citada. "Coração Azul" faz uma referência ao fim do regime militar no Brasil e "Trem da Amizade" a vários artistas e músicos cristãos da época. A introdução psicodélica de "Canção das Estrelas", com um solo de guitarra e tons de teclado se tornou um dos destaques da obra.[11][12] Lançamento e legado
Mesmo com a morte de Janires, o grupo decidiu continuar e Guilherme Praxedes assumiu a posição de vocalista.[14][15] O disco foi lançado oficialmente em 31 de maio de 1988, no Palácio das Artes, e seu lançamento foi noticiado pela mídia local de Belo Horizonte.[1][15] A partir daí, o grupo passou a se apresentar em todo o Brasil, fazendo vários shows na Bolívia, participando num programa televisivo, até que em 1989 a banda gravou seu segundo disco, Final do Túnel.[15] Espelho nos Olhos foi aclamado pelo público cristão jovem em sua época[16] e acabou se tornando um marco para seu nicho, e o principal dos motivos se deve à morte de Janires. Em 2004, o músico foi homenageado numa gravação ao vivo no Som do Céu, onde participaram amigos e pessoas próximas ao músico. Houve participações de Vencedores em Cristo, Carlinhos Veiga, Paulinho Marotta, além de outros cantores e a Banda Azul, que cantou três canções na voz de Guilherme Praxedes, sendo uma com participação de Marotta e uma na de Dudu Guita.[17] O trabalho foi intitulado Tributo a Janires, e reuniu as principais canções do álbum, como "Espelho nos Olhos", "Amigo Poeta", "Foi por Você", "Coração Azul", "Veleiro" e "Canção das Estrelas". Todas essas canções foram incluídas no repertório.[18] Em dezembro de 2012, o cantor Carlinhos Felix lançou o álbum ao vivo Lindo Senhor cujo repertório trouxe a canção "Baião Eletrônico", desta vez regravada com um arranjo pop e rock. A faixa se tornou a música de trabalho do disco, cujo lançamento fora feito pela gravadora Sony Music Brasil.[19][20] Sobre a regravação, o cantor disse: "'Baião Eletrônico' é um clássico, se vocês observarem, fiz um arranjo caprichado, para uma música de alto nível."[21] Na ocasião de seu lançamento, Espelho nos Olhos não recebeu avaliações da mídia especializada. Com os anos, análises retrospectivas aclamaram o seu conteúdo. A Lagoinha, por meio de Atilano Muradas, chegou a definir o álbum como "antológico".[22] Em 31 de maio de 2018, por meio de uma crítica retrospectiva do Super Gospel, Thiago Junio declarou que o projeto é "uma produção contextualizada, de sua época, e ao mesmo tempo, à frente de seu tempo, tanto pela criatividade de Janires como por se orientar pela fé em Cristo para a qual ele se devotou até o fim".[13] Três anos antes, em 2015, uma publicação, envolvendo vários portais notórios do segmento protestante, como o Super Gospel, Arquivo Gospel, O Propagador, Casa Gospel e outros, colocaram a obra em 12º lugar dentre os maiores álbuns da música cristã brasileira,[4] considerando que o disco foi "o canto do cisne de Janires" e "um dos trabalhos mais ricos, musicalmente falando, dos anos 80".[5] O projeto foi novamente contemplado em 2019 pelo mesmo veículo, ganhando o título de 5º melhor álbum da década de 1980.[6] Em 12 de outubro de 2023, a banda promoveu o relançamento de Espelho nos Olhos nas plataformas digitais.[23] FaixasAbaixo listam-se as faixas, compositores e vocais do disco.[24]
Ficha técnicaAbaixo listam-se os músicos envolvidos na produção e gravação do disco.[12]
Referências
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